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6. CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES

6.2. CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO

Por ser uma importante fonte de novos conhecimentos, qualquer investigação tem como pre- tensão básica oferecer uma contribuição válida em termos dos desenvolvimentos teóricos na

área estudada, no caso as urgências e emergências. Assim como no âmbito dos profissionais do setor, os médicos. Esta seção responde a esta pretensão. Assim, as contribuições deste es- tudo podem ser agrupadas de acordo com os benefícios resultantes para a teoria (área de atua- ção) e para a prática (médicos que atuam nas CRUE).

6.2.1. Contribuições para a teoria

Nesta investigação, pretendeu-se dar um contributo importante para o desenvolvimento teóri- co da disciplina de urgências/emergências. De fato, considera-se que este desafio foi alcança- do quando se conseguiu integrar as condições da organização e estruturação dos serviços de saúde, em particular os de urgências/emergências com o pleno exercício da regulação médica nas CRUE. Também ao demonstrar empiricamente a conexão entre os atributos/competência da regulação com a organização dos serviços e com a atividade de regulação. Dada a impor- tância destas conexões e de como elas interferem no desempenho da saúde, estratégias de ação podem ser desenhadas e geridas para apoiar esta orientação e despertar o interesse, tanto da academia como dos gestores. Além disso, ao se considerar que a implementação de medi- das para a melhoria das urgências/emergências podem vir dos dados encontrados nesta pes- quisa, reflete também, uma contribuição academica, na medida em que a literatura é concor- dante à insuficiência de estudos que abordam o tema pesquisado.

Outra contribuição refere-se aos perfis dos MR e quais as suas relações com a atividade de regulação. De acordo com os resultados dos questionários foi possível identificar a carência de critérios na admissão dos profissionais e a falta de conhecimentos da maioria deles, no processo de trabalho da CRUE. Apesar destes dados não estarem nesta tese, relacionados dire- tamente com o desempenho na função, sugere - se um estudo adicional para um maior conhe- cimento destes profissionais. Por outro lado, esta pesquisa forneceu conhecimentos suplemen- tares sobre as reais condições dos serviços públicos e privados, evidenciando que estes últi- mos, contrariamente ao que se esperava não são tão melhores do que os públicos. Além ainda de abordar o segmento das emergências privadas (APH e serviços emergenciais), tema não encontrado na literatura pesquisada. Esta tarefa é complexa e desafiante, pois, trata-se de um setor lucrativo, em que as relações de trabalho são muito diferentes das praticadas na área pública. Desde a forma de contratação dos profissionais até a forma de operacionalizar os serviços, perpassando pela intrínseca relação dos clientes com os planos. Onde por participa-

rem diretamente com os recursos financeiros na aquisição do direito ao uso do serviço, influ- enciam na melhoria das condições organizacionais, exigindo maior qualidade.

Mais uma outra contribuição importante foi constatar que o clientelismo e o nepotismo ainda é uma realidade e que apesar do município ser um dos mais desenvolvidos do país, ainda tem pessoas na sua sociedade, cujo maior interesse é atender suas necessidades pessoais sem pen- sar no coletivo. Com certeza uma melhor compreeensão das consequências desta cultura, no gerenciamento das urgências foi conseguida e poderá servir de objeto de reflexão para mudar este status quo.

Como visto na seção 4.1, a confirmação de todos os pressupostos, no contexto da saúde na cidade do Rio de Janeiro tanto nas CRUE pública, como nas privadas é uma das principais contribuições para o desenvolvimento da teoria. Estudos anteriores sobre a regulação das ur- gências/emergências têm sido, principalmente, desenvolvidos no âmbito do setor público. Contudo, tem sido reconhecida a importância e a necessidade de realização de mais pesquisas sobre a organização/estrutura dos serviços de saúde e seus efeitos/consequências em diferen- tes cenários, e tipos de organizações. Portanto, ao se fornecerem evidências empíricas sobre o tema, além da gestão médica no setor privado pode-se concorrer de forma útil, para a literatu- ra existente sobre a regulação das urgências na área pública. Por outro lado, a aplicação espe- cífica da regulação médica nas Centrais é uma área emergente na qual pesquisas adicionais são reconhecidamente necessárias. Assim, os conceitos investigados são úteis e a relação pro- posta tem capacidade explicativa da realidade no gerenciamento de demandas pelas CRUE.

6.2.2. Implicações para os gestores públicos e privados

Os resultados desta tese detêm implicações importantes para os gestores que atuam tanto no setor público como no privado e para os decisores políticos. Em primeiro lugar, devido a am- bientes conflituosos, complexos e em constante mudança, como as organizações públicas que em todos os níveis (especialmente a saúde) estão de forma progressiva sendo pressionadas a reexaminarem as suas operações. No sentido de se focarem na eficiência e eficácia, com aten- ção à transparência e a consciência das necessidades e procuras dos clientes/cidadãos. Estes fatos aproximaram o Estado da saúde através de um Decreto que aborda de modo mais explí- cito a organização e o planejamento do SUS, com o objetivo de colocar o cliente/usuário no centro das suas atividades (Decreto nº 7508, 2011). Nesta mesma linha, o setor privado, tam-

bém está revendo as suas ações e reformando a sua operação. Porém, é importante ressaltar que os seus clientes parecem exercer uma pressão maior sobre os gestores, porque as soluções aparecem mais rapidamente. Talvez porque pagam diretamente pelo serviço ou acessam os orgãos de defesa do consumidor com mais frequência, ou mesmo porque o setor é regulado pela ANS que preve sanções ao descumprimento de qualquer clausula nos contratos privados de saúde.

A presente investigação mostrou a relevância da organização e estrutura dos serviços no tra- balho de regulação médica, no que tange, ao acesso aos serviços, a autonomia médica e a efe- tividade do processo. De fato, a organização e estruturação da saúde para a prestação de servi- ços é útil para os gestores, públicos ou privados. No intuito, de dirigirem os seus esforços para implementar ou mesmo implantar ações e atividades direcionadas para as reais necessidades dos clientes, definindo políticas efetivas para a solução dos problemas. E promover compor- tamentos solidários e responsáveis para com os cidadãos. Neste contexto, os municípios inte- ressados em melhorar o seu desempenho na saúde como um todo, devem instituir as medidas adequadas para as melhorias em suas instituições ou empresas. Os gestores devem reconhecer a importância de dedicar recursos que assegurem as melhores condições da saúde em geral, e no caso das urgências, nas suas fases: pré – hospitalar e hospitalar.

Em segundo lugar, dado que os resultados deste estudo demonstram uma relação direta entre a organização/estrutura com a regulação médica, é crucial que os gestores reconheçam a nature- za complementar destes dois elementos. Para a concretização de objetivos devem apreciar a importância da adoção de uma rede articulada e hierarquizada de serviços. Principalmente reforçando a AP e enfatizando a sua importância como porta de entrada do Sistema. Em últi- ma análise, apoiando de forma especial as CRUE, para reconhecer seu papel de observatório da saúde e ordenador da atenção. Desta forma, garantindo o acesso, valorizando a autonomia médica e colaborando para a efetividade do trabalho na Central.

Por último, dado que as condições dos serviços implicam na solução ou não das demandas e estas influenciam diretamente na satisfação dos profissionais e dos clientes/usuários. Os ges- tores poderão elaborar estratégias para uma melhor gestão, com vistas a alcançar o bem-estar e o comprometimento dos seus membros e também satisfazer de forma plena e justa os cida- dãos atendidos. Este é um tema especialmente relevante para o setor privado que tem clientes com um nível maior de cobrança e exigência, proporcionais à percepção de qualidade dos

serviços.

Em síntese, do ponto de vista dos gestores, este trabalho pretendeu fornecer uma maior com- preensão das condições organizacionais dos serviços de saúde, em particular, os de urgência. Principalmente no que diz respeito, as CRUE, seu processo de trabalho, seus profissionais com as suas atribuições/competências, bem como estes se interrelacionam. A compreensão ou domínio deste processo fornece importantes informações práticas de gestão para este tipo de cuidado.