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5. RESULTADOS DA PESQUISA

5.3. ANÁLISE DOS RESULTADOS DO GRUPO FOCAL

5.3.1. Escolha da atividade

5.3.1.1. Subcategoria – opção de trabalho

Esta subcategoria abarca os profissionais que optaram ou não pela atividade. A maioria dos MR (05 profissionais) informou ter optado por trabalhar como regulador na CRUE e que aguardou por uma oportunidade ou mesmo por um convite. Apesar de todos os entrevistados atualmente se sentirem plenamente identificados com a atividade, três deles inicialmente não optaram espontaneamente por este tipo de trabalho, tendo sido, de certa forma, obrigados a aceitá – lo, num primeiro momento. Apesar disso todos mostravam – se satisfeitos pela abor- dagem do tema, por conta, da oportunidade de pesquisar uma atividade ainda desconhecida pelos colegas e pela população em geral, porém muito importante para a organização da aten- ção de emergências. Alguns chegaram a comentar que era uma chance única de serem ouvi- dos sobre a sua atividade e que tinham esperanças de que esta escuta repercutisse positiva- mente nos órgãos competentes, no sentido de provocar mudanças no setor das urgên- cias/emergências.

[...] eu também não sabia o que era trabalhar com isso, mas me ofereceram um salário muito bom, como eu tinha comprado a minha casa e queria fazer obras, um dinheirinho as- sim... Eu não poderia recusar de jeito nenhum. Estamos sempre querendo ganhar um a mais... Faz parte! (MR5)

A oportunidade de ganhar um “dinheirinho assim”, ou melhor uma complementação salarial (um bico) para cobrir despesas extras, foi o que motivou o MR5. Este fenômeno é muito ob- servado entre os profissionais que atuam na área da saúde, principalmente nas emergências. Um servidor público foi “convidado”, muito a contragôsto a atuar na Central que estava inau- gurando e o outro, médico intervencionista, por questões de saúde, não podia atuar em campo, então foi readaptado temporariamente na função. Apesar de tudo, com o passar do tempo,

estes profissionais se identificaram com o processo de trabalho e permaneceram na Central de Regulação, fazendo desta atividade mais uma especialidade, em suas carreiras.

[...] como eu tinha vínculo com a prefeitura, eu fui colocada na parede: ou você vai para lá [Central de Regulação], ou você vai para a Emergência do Pedro II em Santa Cruz. Este hospital fica há pelo menos 70 km da minha residência [...], sem saída, eu fui trabalhar, mesmo infeliz (MR 3).

Eu sofri um acidente [...] fiquei algum tempo de licença médica [...] voltei e eles me disse- ram que eu teria que trabalhar na nova Central de Regulação do Estado [...] tentei recu- sar, mas sou concursado [...] aceitei (MR1).

Como se pode perceber, os casos acima revelam critérios autoritários na seleção dos MR. Esta forma de escolha pode ser um elemento de desmotivação e comprometer o desempenho da regulação médica.

5.3.1.2. Subcategoria – convite

Esta subcategoria envolve os médicos que além de verem o serviço espontaneamente como uma opção de trabalho, também foram convidados, pelos gestores municipais por possuírem as competências necessárias para o desenvolvimento da tarefa. Dos cinco profissionais que escolheram a função, quatro foram convidados por terem uma grande experiência na APH (médicos intervencionistas) e por demonstrarem perfil de gestor ou de (co) mando e o quinto, por ter trabalhado com auditoria médica e na área de gestão de uma unidade de urgência e emergência.

[...] depois de trabalhar nas ambulâncias, eles me fizeram um convite para ficar na regula- ção, não pensei duas vezes [...] esta é a minha verdadeira especialidade [...] me senti hon- rado (MR2).

[...] sou emergencista/intervencionista, fazer parte da regulação foi um convite muito espe- rado [...] ver os bastidores das emergências é uma experiência e tanto, não tem grana que pague (MR7).

Para os profissionais que entendem a emergência como especialidade, e se autodenominam emergencistas/intervencionistas, atuar em todos os setores da assistência, além de acrescentar experiências ao currículo, gera motivação e satisfação que muitas das vezes extrapolam os limites da remuneração.

[...] finalmente fui convidado [...] fiquei no campo de batalhas muitos anos, me mandavam para baixo e para cima, já era hora de mandar também um pouquinho (MR8).

A regulação é percebida por alguns como um posto alto na hierarquia da APH. Esta forma de pensar é totalmente coerente com as diretrizes ministeriais que denominam o regulador de gestor sanitário. Porém, foi percebido por um dos entrevistados, como uma função de “man- do”, poder, o que muito se distancia da verdadeira proposta da regulação.

Na fala seguinte observa-se que a escolha do profissional se deu por conta de experiência na área de auditoria e gestão médica, este perfil, não é suficiente e muito menos é citado nas atri- buições/competências dos MR, definidos nas Portarias ministeriais.

[...] trabalhei muito tempo com auditoria médica [...] depois gestão de unidades de emer- gência [...] isto foi o que levou o serviço a me chamar para a Central [...] uma hora eu ia parar lá (MR6).

5.3.1.3. Subcategoria – perfil/preferência

Eu fiquei muito tempo nas ruas, ficaram com dó de mim (sorrindo de forma, satisfeito) [...] todo diziam que eu tinha perfil de gestor [...] e me chamaram para a Central, foi um pre- sente (MR4).

Assim como o MR2, MR7, MR8, o MR4 já tinha uma larga experiência de campo. Atuava como intervencionista igual aos demais colegas, nas “ruas”, ”campo de batalha”, “nas ambu- lâncias”. Esta característica parece ser um facilitador para a escolha da função do MR. Porém não é definida na legislação (Portaria nº 814 (2001) como obrigatória. É interessante ressaltar que os médicos emergencistas/intervencionistas, principalmente os que atuam em unidades móveis, na APH, vêm o trabalho na CRUE como uma evolução natural da sua atividade. Nes- te caso, deve – se levar em conta, a natureza desgastante dos serviços de urgên-

cias/emergências, principalmente os realizados fora do ambiente hospitalar. Estes exigem além do empenho mental, muito esforço físico66, o que pode levar o profissional a preferir migrar para uma atividade dentro da sua área de atuação, mas, sem intervir diretamente no atendimento do paciente.

Em linhas gerais, a metade parece ter sido escolhida por apresentar as competências necessá- rias para a atuação na CRUE. Porém, não basta ter a competência clássica (conhecimento, habilidade e atitude) sugerida por alguns autores (Depresbiteris, 2001; Gallard & Jacinto, 1995) é necessário também: uma boa preparação física, controle emocional, agilidade, equilí- brio, criatividade e outras características importantes para quem opera em situações de crise e fora do ambiente hospitalar.

5.3.2. Rede de atenção às urgências/emergências (privada e pública) no Rio de