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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.5 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Ao longo de sua existência, o ser humano vem procurando satisfazer suas necessidades, ao consumir produtos e utilizar serviços oferecidos por pessoas e/ou organizações. A fabricação desses produtos e a prestação desses serviços requerem a realização de processos de trabalho. Um processo de trabalho pode ser definido como a dimensão material e concreta do sistema de produção. Ele se compõe de uma variável física (tecnologia do processo produtivo) e de uma variável humana (atividade dos trabalhadores). O mecanismo elementar do processo de trabalho é a combinação dessas duas variáveis, cujo resultado é a obtenção de produtos ou serviços ( Vidal, 1989 ).

Segundo IIDA (p. 5), “ao contrário de muitas outras ciências cujas origens se perdem no tempo e no espaço, a ergonomia tem uma data "oficial" de nascimento: 12 de julho de 1949”. Nesse dia, reuniu-se, pela primeira vez, na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores interessados em discutir e formalizar a existência desse novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência. Na segunda reunião desse mesmo grupo, ocorrida em 16 de fevereiro de 1950, foi proposto por Murrell o neologismo ergonomia, formado pelos termos gregos ergon, que significa trabalho, e nomos, que significa regras, leis naturais (apud IIDA, 2005, p. 5).

Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), “a Ergonomia trata-se de uma disciplina orientada para uma abordagem sistêmica de todos os aspectos da atividade humana.” Para darem conta da amplitude dessa dimensão e poderem intervir nas atividades do trabalho é preciso que os ergonomistas tenham uma abordagem holística de todo o campo de ação da disciplina, tanto em seus aspectos físicos e cognitivos, como sociais, organizacionais, ambientais, etc.

Em agosto de 2000, a IEA - Associação Internacional de Ergonomia adotou a definição oficial apresentada a seguir:

A Ergonomia (ou Fatores Humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Os ergonomistas contribuem para o planejamento, projeto e a avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas.

Para Wisner (1987), “Ergonomia é o conjunto dos conhecimentos científicos relacionados ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficiência.”

O corpo e o funcionamento humanos têm propriedades que são descritas por diversas disciplinas (fisiologia, psicologia, etc.) e o funcionamento dos coletivos humanos obedece também a leis, que são estudadas por outras disciplinas (sociologia, antropologia, psicologia social, etc.). Nesse contexto, a atividade dos trabalhadores é influenciada por fatores como as características da situação de trabalho, história da pessoa, funcionamento dos coletivos, cultura da empresa, etc.

Todo indivíduo chega ao trabalho com seu capital genético, remontando o conjunto de sua história e as marcas acumuladas na vida. Traz seu modo de vida, seus costumes pessoais, seus aprendizados. Este conjunto de fatores influencia a forma como são abordadas as situações de trabalho com as quais este indivíduo é cotejado.

Quando os seres humanos são expostos a situações que não são compatíveis com suas propriedades individuais ou coletivas:

➢ Diminui-se sua capacidade de detecção e o desempenho de suas ações. ➢ Aumenta-se a possibilidade de erros não recuperados.

➢ Pode-se gerar um risco para a saúde.

A integração do conceito de atividade nos projetos de situações de trabalho implica em reconhecer que estas devem ser concebidas considerando a diversidade da população de trabalhadores, bem como as características a ela inerentes, ou seja, a variabilidade.

Ao considerar a diversidade da formação, da aprendizagem e da experiência contribuí-se para a implantação de suportes que favorecem o desenvolvimento continuado das competências, possibilitando assim, atender às necessidades da reestruturação do trabalho que exigem do trabalhador de qualquer idade, em diferentes níveis de formação, conhecimentos e habilidades para acompanhar estas mudanças, evitando a exclusão de pessoas portadoras de experiências valiosas no desenvolvimento do processo de reestruturação do trabalho. A existência da variabilidade nos processos acarreta uma diferença entre o que é previsto e o que é realizado, entre o desejável e o real. Por exemplo, na perspectiva da organização do

trabalho, devem ser incluídos desde os materiais, os equipamentos e os procedimentos, até a gestão dos incidentes. Com relação às características do trabalhador, a literatura aponta as fontes de variabilidade do indivíduo como as de natureza inter e intra individuais, levando-se em conta os aspectos físicos, psíquicos e cognitivos, neles inseridos, a experiência como história das representações mentais, o envelhecimento como história biológica e outras intrinsecamente ligadas à história do trabalho. É neste contexto do real que a atividade realmente ocorre e não naqueles previstos, apesar dos esforços da organização na tentativa de estabilização dos processos.

As contribuições da ergonomia, na introdução de melhorias nas situações de trabalho, se dão pela via da ação ergonômica que busca compreender as atividades dos indivíduos em diferentes situações de trabalho com vistas à sua transformação. Assim, o foco de ação é a situação de trabalho inserida em um contexto sociotécnico, a fim de desvendar as lógicas de funcionamento e suas consequências, tanto para a qualidade de vida no trabalho, quanto para o desempenho da produção.

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) permite identificar, por intermédio da observação do contexto real de trabalho, quais são as variáveis que o operador busca para compreender e os problemas aos quais ele é confrontado e, desta forma, associar os processos cognitivos que ele mobiliza na execução do seu trabalho. Estes dados são fundamentais para a melhoria do dispositivo técnico, da organização e da formação.

“A situação de trabalho não é um laboratório”, dizia Duraffourg (apud Ferreira, 2015, p. 9) em seu curso. Para ele, cada situação de trabalho deve ser analisada individualmente, devido às variabilidades não só humanas, mas também da organização do trabalho.

Segundo o MTE, a Norma Regulamentadora 17 (NR-17) visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente e que a aplicação dessa norma é uma obrigação dos empregadores.

“Cabe aos empregadores realizar a análise ergonômica do trabalho”. Trata-se da Norma Regulamentadora de Ergonomia 17, ou NR 17, do Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 1990)

As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. Para avaliar a adaptação das condições de

trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.

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