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Análise ergonômica do trabalho: estudo junto a cozinheiras de uma escola estadual do Rio de Janeiro

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO: ESTUDO JUNTO A COZINHEIRAS DE UMA ESCOLA

ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

ADAILSON GUILHERME TEÓFILO ORIENTADOR: MARCELO GONÇALVES FIGUEIREDO

COORIENTADOR: ELISABETH FLÁVIA ROBERTA OLIVEIRA DA MOTTA

NITERÓI DEZEMBRO / 2017

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ADAILSON GUILHERME TEÓFILO

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO: ESTUDO JUNTO A COZINHEIRAS DE UMA ESCOLA ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

Projeto final apresentado ao curso de Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a aquisição do Grau de Engenheiro de Produção.

ORIENTADOR:

Prof. Marcelo Gonçalves Figueiredo COORIENTADOR:

Profª Elisabeth Flávia Roberta Oliveira da Motta

Niterói, RJ 2017

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ADAILSON GUILHERME TEÓFILO

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO: ESTUDO JUNTO A COZINHEIRAS DE UMA ESCOLA ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO

Projeto final apresentado ao curso de Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a aquisição do Grau de Engenheiro de Produção.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Prof. Marcelo Gonçalves Figueiredo – UFF ____________________________________________

Prof. Elisabeth Flávia Roberta Oliveira da Motta ___________________________________________

Prof. Fernando Oliveira de Araujo

Niterói 2017

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Às cozinheiras da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, que preparam com muito sacrifício a refeição dos alunos, sendo profissionais importantes na formação educacional dos mesmos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida.

Aos espíritos, por terem me protegido e fornecido energia para superar as dificuldades. À minha mãe, que me apoiou na decisão de cursar uma segunda graduação em universidade federal e acreditou em mim em todos os momentos.

À minha tia Rosângela, que foi fundamental na minha infância, aconselhando a minha mãe a tomar as melhores decisões para a minha vida.

Ao meu tio Edmilson, por todos os conselhos e auxílios dados.

Aos meus amigos, Camilla Cordeiro, Carol Carvalho, Daniel Vila Real, Douglas Xavier, Isabela Antunes, Karina Wigande, Lorraine Rodrigues, Thaís Calife e Thays Maudonet pela sinceridade e pelo companheirismo.

À tia Beth, pela colaboração na formatação deste trabalho.

Aos amigos, Adilson Marron, Débora Sader, Leandro Leiroz e Maria Alcântara pela revisão do abstract e do résumé.

Aos professores Marcelo Figueiredo e Elisabeth Motta, pelas orientações no desenvolvimento deste projeto.

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“Un homme qui a du génie, du courage, une volonté ferme et de la persévérance, doit toujours réussir. Il est dans sa destinée de triompher de tout.”

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RESUMO

O presente estudo investiga as condições de trabalho das cozinheiras de uma escola estadual do Rio de Janeiro, através da Análise Ergonômica do Trabalho. Considerando que a merenda escolar é um direito dos alunos da educação pública e uma obrigação do Estado, as cozinheiras representam um componente indispensável ao ambiente escolar. Todavia, o governo estadual enfrenta um momento de crise financeira, obrigando-o a reduzir custos e, em consequência, a situação de trabalho das cozinheiras é mais precária. Os principais procedimentos realizados para analisar as condições de trabalho das cozinheiras foram entrevistas, mensuração das características físicas do ambiente de trabalho e antropométricas das cozinheiras e também a aplicação de uma técnica de apoio à decisão, a matriz GUTFI, para priorizar a resolução dos problemas detectados. Os resultados obtidos evidenciaram que a jornada de trabalho das cozinheiras possui distintos problemas ergonômicos, com destaque para as dores ocasionadas pela falta de equipamentos para o preparo de comida e para a falta de água filtrada. Por fim, concluiu-se que o governo estadual não cria medidas de proteção na área da Saúde e Segurança do Trabalho para as cozinheiras e que uma fiscalização e um fortalecimento do sindicato das cozinheiras é importante na luta pela garantia de melhores condições de trabalho.

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ABSTRACT

This study investigates the working conditions of the cooks of a State School of Rio de Janeiro, through an Ergonomic Analysis of Work. Since the school meal constitutes a right of the students from the public education system and an obligation of the State, the cooks are an essential component to the school environment. However, the State Government goes through a time of financial crisis, forcing it to reduce costs and, as a result, the work situation of the cooks is precarious. The main procedures performed to analyze the working conditions of the cooks comprised interviews, measurement of the physical characteristics of the work environment and of the anthropometric characteristics of the cooks, and also the implementation of a decision support technique towards prioritisation in the resolution of the detected problems, the GUTFI matrix. The outcomes obtained showed that the routine of the cooks has distinct ergonomic problems, with particular attention to the pains caused by the lack of equipment for the preparation of food and the lack of filtered water. Finally, it was concluded that the State Government does not create protective measures in the field of occupational Health and Safety at Work for the cooks and that a monitoring and a strengthening of the cooks’union are indeed important in the struggle to guarantee better working conditions.

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RÉSUMÉ

La présente étude examine les conditions de travail des cuisinières d’une école de l’État de Rio de Janeiro, à travers de l’Analyse Ergonomique du Travail. Alors que le déjeuner scolaire est un droit des étudiants des écoles publiques et une obligation de l’État, les cuisinières sont un composant essentiel de l’environnement scolaire. Néanmoins, le gouvernement de l’État fait face à une période de crise financière, l'obligeant à réduire les coûts et, par conséquent, la situation de travail des cuisinières est plus précaire.. Les principales procédures effectuées pour analyser les conditions de travail des cuisinières ont été des interviews, des mesures des caractéristiques physiques de l’environnement de travail et anthropométriques des cuisinières et aussi l'application d'une technique d'aide à la décision, la matrice GUTFI, pour hiérarchiser la résolution des problèmes détectés. Les résultats obtenus ont montré que la journée de travail des cuisinières a plusieurs problèmes ergonomiques, avec une attention particulière à les douleurs causées par le manque d'équipement pour la préparation des aliments et le manque d'eau filtrée. Donc, il a été conclu que le gouvernement de l’État ne crée pas des mesures de protection dans le domaine de la Santé et la Sécurité au Travail pour les cuisinières et il faut une surveillance et un renforcement du syndicat des cuisinières afin que de meilleures conditions de travail soient garanties.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Decreto de estado de calamidade pública financeira do Estado do

Rio de Janeiro... 23

Figura 02 Classificação Nacional da Atividade Econômica (CNAE)... 29

Figura 03 Conteúdo programático de conhecimentos específicos da prova objeti- va para o cargo de Merendeiro... 32

Figura 04 Projeto de Lei nº 2055/2013... 34

Figura 05 Fluxograma do preparo do café da manhã/lanche... 46

Figura 06 Fluxograma do preparo do almoço/janta... 47

Figura 07 Fluxograma da limpeza do refeitório... 48

Figura 08 Fluxograma do recebimento dos materiais de limpeza... 49

Figura 09 Layout do refeitório... 50

Figura 10 Organograma da SEEDUC... 54

Figura 11 Socador de alho e faca não amolada... 58

Figura 12 Panelas pesadas (10 a 40kg)... 59

Figura 13 Lâmpadas da cozinha... 59

Figura 14 Balcão de atendimento aos alunos... 60

Figura 15 Exaustor... 61

Figura 16 Tabuleiro com 5kg de beterraba... 61

Figura 17 Cadeira da cozinha... 62

Figura 18 Mesa da cozinha... 63

Figura 19 Sistema OWAS: Classificação das posturas pela combinação das vari- áveis... 64

Figura 20 Panela de bucho com batata e cenoura (40kg)... 66

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Tributos federais... 19

Tabela 02 Royalties de maiores cidades produtoras, em R$... 22

Tabela 03 Receita de estados com royalties e participações especiais, em R$... 22

Tabela 04 Quantidade de acidentes de trabalho, por situação de registro e motivo, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), no Brasil – 2010/2012... 30

Tabela 05 Quantidade de acidentes de trabalho, por situação de registro e motivo, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), no Brasil – 2013/2015... 30

Tabela 06 Orientações e instruções preliminares para a prova prática... 33

Tabela 07 Principais atribuições das merendeiras... 35

Tabela 08 Etapas da AET... 41

Tabela 09 Regras de Higiene Pessoal... 53

Tabela 10 Instrução de trabalho de Higiene de Instalações... 53

Tabela 11 Cozinheiras do Colégio X... 54

Tabela 12 Escala da tabela GUTFI... 56

Tabela 13 Priorização dos problemas das cozinheiras do CEAL, usando a GUTFI. 56 Tabela 14 Sistema OWAS (identificação das posturas e sua classificação pela com- binação das variáveis e de acordo com a duração)... 65

Tabela 15 Problemas validados e seus diagnósticos... 68

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 Arrecadação com royalties e participações especiais (em R$ bilhões)... 21 Gráfico 02 Taxa de rotatividade descontada em atividades tipicamente terceiriza-

das e tipicamente contratantes Brasil – 2007-2014 (em %)... 25 Gráfico 03 Participação dos vínculos formais de emprego com jornada contratada

de 41 a 44 horas semanais, por faixa de remuneração, em atividades ti- picamente terceirizadas e tipicamente contratantes Brasil, 2014 (% em relação ao total dos vínculos no setor)... 25 Gráfico 04 Participação percentual dos afastamentos por acidente de trabalho tí-

picos, por faixa salarial, em atividades tipicamente terceirizadas e tipi- camente contratantes Brasil, 2014 (em % em relação ao total de afasta- mentos)... 26 Gráfico 05 Diferença salarial média acumulada por faixa salarial, segundo tama –

nho da empresa, entre atividades tipicamente terceirizadas e tipica –

mente contratantes Brasil, 2014 (em %)... 26 Gráfico 06 Quantidade de acidentes no setor da Educação, no Brasil... 31

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABERGO Associação Brasileira de Ergonomia

AEAT Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho AET Análise Ergonômica do Trabalho

ALERJ Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro ANP Agência Nacional de Petróleo

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária CBIE Centro Brasileiro de Infraestrutura

CF/88 Constituição Federal de 1988 CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CNAE Classificação Nacional das Atividades de Trabalho COFINS Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

CONDECINE Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica COSEAC-UFF Coordenação de Seleção Acadêmica Da Universidade Federal Fluminense CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido

CUT Central Única dos Trabalhadores

DDTHA-SP Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar de São Paulo DIEESE Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos FME Fundação Municipal de Educação

GUTFI Gravidade, urgência, tendência, facilidade e investimento IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBUTG Índice de bulbo úmido e termômetro de globo IEA Associação Internacional de Ergonomia IOF Imposto sobre Operações Financeiras IPI Imposto sobre Produtos Industrializados IRPJ Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRRF Imposto de Renda Retido na Fonte LER Lesão por esforço repetitivo MTE Ministério do Trabalho e Emprego

NR-17 Norma Regulamentadora 17

OWAS Ovako Working Posture Analysing System

PASEP Programa de Formação do Patrimônio do Servidor PETROBRAS Petróleo Brasil S/A

PIS Contribuição para o Programa de Integração Social PNAE Programa Nacional de Alimentação escolar

RAIS Relação anual de Informações Sociais

SEEDUC-MS Secretaria de Estado e Educação do Mato Grosso do Sul SEEDUC-RJ Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro SST Saúde e Segurança do Trabalho

TRT Tribunal Regional do Trabalho TST Tribunal Superior do Trabalho

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 14

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO... 14

1.2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA... 14

1.3 OBJETIVOS, DELIMITAÇÃO E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO... 15

1.4 QUESTÕES DA PESQUISA... 16

1.5 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO... 16

1.6 MOTIVAÇÃO PESSOAL... 17

2 REVISÃO DE LITERATURA... 19

2.1 CRISE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO EM 2016... 19

2.2 TERCEIRIZAÇÃO... 24

2.3 SAÚDE E TRABALHO NAS ESCOLAS PÚBLICAS... 28

2.4 A ATIVIDADE DE COZINHEIRAS... 31

2.5 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO... 36

3 METODOLOGIA... 40

4 A ATIVIDADE DAS COZINHEIRAS DO COLÉGIO INVESTIGADO... 44

4.1 EXPLICITAÇÃO, ANÁLISE E REFORMULAÇÃO DA DEMANDA... 44

4.2 ANÁLISE GLOBAL DA EMPRESA E DA POPULAÇÃO... 45

4.3 DADOS GERAIS SOBRE A POPULAÇÃO DE TRABALHO... 54

4.4 DEFINIÇÃO DA SITUAÇÃO CRÍTICA (OU DEMANDA)... 55

4.5 ANÁLISE DA ATIVIDADE NA SITUAÇÃO CRÍTICA... 57

4.5.1 Dores ocasionadas pela falta de equipamentos para o preparo de comida... 57

4.5.2 Falta de água filtrada... 57

4.6 PRÉ-DIAGNÓSTICO... 58

4.7 OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA... 62

4.8 DIAGNÓSTICO E RECOMENDAÇÕES... 68

5 CONCLUSÃO... 70

(16)

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

As organizações buscam cada vez mais aumentar a sua produtividade para acelerar a economia e reduzir custos e, para isso, contratam empresas terceirizadas. Em particular, o governo estadual do Rio de Janeiro utiliza serviço terceirizado para o cargo de cozinheiro das suas escolas e, considerando a história da educação pública brasileira, a crise estadual e a importância da saúde e segurança no trabalho, este estudo auxiliará a descoberta das dificuldades enfrentadas, como dores ocasionadas pela falta de equipamento para o preparo de comida, falta de água filtrada e outros problemas, pelas cozinheiras de uma escola estadual, localizada em Niterói-RJ e, a partir da identificação desses problemas, recomendar mudanças para melhorar as condições de trabalho das cozinheiras.

Segundo o inciso XXII art. 7º da Constituição Federal de 1988 (CF/88), “é um direito de todos os trabalhadores rurais e urbanos a redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.” Todavia, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2017), a precarização das situações de trabalho dos terceirizados é um fato recorrente no Brasil e que possui como principais características salários mais baixos, jornada de trabalho mais longa, ausência de assistências médica e odontológica, e a não promoção da saúde e da segurança do trabalho, seja por falta de programas laborais, seja pelo descumprimento das normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). De acordo com a Central Única dos Trabalhadores (CUT, 2015), 80% dos acidentes de trabalho ocorrem com funcionários terceirizados.

Ao passo que as empresas terceirizam mão de obra para diminuir seus custos, há uma falta de investimento na melhoria das condições de trabalho dos terceirizados, agravando progressivamente as integridades física e psíquica dos mesmos. Neste cenário, seriam adequadas as condições de trabalho das merendeiras de um colégio estadual situado em Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro?

1.2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA

A terceirização modificou as relações de trabalho, impactando de forma negativa a vida dos trabalhadores submetidos a essa nova dinâmica. Segundo a CUT (2009), a

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terceirização aumentou o número de acidentes e doenças, fatores provenientes da falta de tratamento digno e da desigualdade de direitos dos funcionários terceirizados.

Apesar de a terceirização ser uma prática regulamentada e realizada por empresas tanto do setor privado quanto do público, é de conhecimento que a empresa tomadora dos serviços terceirizados possui a obrigação de zelar pelas boas condições de trabalho dos terceirizados, visto que estes fornecerão sua força de trabalho em instalações da empresa tomadora. Todavia, estudos sobre as condições de trabalho e remuneração dos terceirizados foram realizados pelo DIEESE, juntamente com a CUT, entre 2007 e 2014 e mostraram que os terceirizados ocupam postos de trabalho mais arriscados e precários e têm uma maior jornada de trabalho (ver gráficos 2, 3 e 4).

Considerando a realidade de crise financeira no Estado do Rio de Janeiro e a terceirização das cozinheiras, analisar-se-ão os impactos da terceirização no ambiente de trabalho das cozinheiras do colégio investigado, comprovando-se, ou não, a ausência das obrigações trabalhistas por parte do governo estadual.

1.3 OBJETIVOS, DELIMITAÇÃO E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

O objetivo deste estudo é avaliar, ergonomicamente, as condições de trabalho das cozinheiras do colégio investigado, relacionando-as com a terceirização.

A importância deste trabalho se reflete em avaliar a situação de trabalho desse segmento de profissionais importantes na educação pública. As cozinheiras são essenciais na formação dos alunos, pois promovem um melhor rendimento escolar aos alunos, não somente por meio da merenda escolar, mas também pelo papel de educadores.

Através da ergonomia, as condições de trabalho das cozinheiras do colégio investigado serão avaliadas e propostas de melhorias serão fornecidas, levando em consideração os recursos financeiros, físicos e materiais disponíveis.

A pesquisa pode interessar aos profissionais que estudam a dinâmica da relação de trabalho entre empregador e empregado, visando uma melhoria das condições de trabalho, através de conhecimentos do campo ergonômico, da engenharia de segurança do trabalho, do direito do trabalho, da psicologia, etc.

Atualmente, nota-se uma tendência pela terceirização do trabalho tendo como principal finalidade a redução de custos e a destituição de direitos. Não por acaso, entrou em vigor a Lei 13.467/17 no dia 11 de novembro de 2017, permitindo a contratação de

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funcionários terceirizados para a atividade-fim (atividade principal da empresa). De acordo com o Art. 4º - A da Lei 13.467/17,

Considera-se prestação de serviços a terceiros a transferência feita pela contratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua capacidade econômica compatível com a sua execução.

Desta forma, percebe-se uma precarização do trabalho cada vez mais intensa e, por este motivo, o estudo ganha importância, pois tem a intenção de proporcionar melhorias no ambiente de trabalho das cozinheiras do colégio investigado, frente aos descasos com um segmento importante da classe trabalhadora.

1.4 QUESTÕES DA PESQUISA

O trabalho busca responder às seguintes questões:

i – Quais são as dificuldades de caráter ergonômico vivenciadas no ambiente de trabalho das cozinheiras do colégio investigado?

ii - O governo estadual tem criado medidas de proteção na área de SST para as merendeiras do colégio investigado?

1.5 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

O presente estudo é subdividido em cinco capítulos, sendo o primeiro deles acerca dos aspectos introdutórios: contextualização, formulação da situação-problema, objetivos, delimitação e importância do estudo. Apresentam-se também no primeiro capítulo as questões da pesquisa, a organização do estudo e a motivação pessoal.

O segundo capítulo oferece uma revisão da literatura para situar os leitores sobre as discussões e resultados levantados por órgãos públicos e pesquisadores da área de SST e para estimulá-los a prosseguir seus estudos em áreas relacionadas à SST.

No terceiro capítulo estão descritos os procedimentos metodológicos adotados para a realização do estudo de campo, além de indicados os procedimentos de coleta e análise dos dados provenientes da pesquisa in loco.

(19)

No quarto capítulo evidenciam-se as principais características das condições de trabalho das cozinheiras do colégio investigado, a fim de responder às questões do estudo, mostrando as dificuldades enfrentadas pelas cozinheiras e a ausência do Estado na criação de políticas de SST para os terceirizados.

No quinto capítulo são apresentadas as conclusões e sugestões de estudos futuros.

1.6 MOTIVAÇÃO PESSOAL

A precarização das condições de trabalho, em qualquer dimensão, sempre me causou um sentimento de tristeza, revolta e indignação e, por isto, senti o desejo de realizar um estudo que pudesse trazer uma melhoria nas condições de trabalho de um determinado grupo de trabalhadores.

Atualmente, sou professor de Matemática da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) e possuo matrícula em Niterói, município pertencente à regional Baixadas Litorâneas, exercendo a minha função em duas escolas da rede estadual.

A corrupção e a falta de investimentos nos setores públicos afetam de forma negativa esses setores e, por esse motivo, senti o desejo de dar um retorno para a sociedade, projetando melhorias em uma escola pública.

A educação pública brasileira é conhecida pela alta precarização em distintos aspectos, como baixo salário dos professores e extensa jornada de trabalho, baixo rendimento dos alunos, conteúdo programático pequeno (existência do Currículo Mínimo), a infraestrutura das escolas é ruim e também a precarização dos trabalhadores terceirizados. Considerando este último ponto, observei alguns problemas enfrentados pelas cozinheiras, funcionárias terceirizadas, das duas escolas onde trabalho, e percebi que eu poderia aplicar conhecimentos de engenharia para modificar tal realidade.

Segundo Antunes (2000), um dos fatores contribuintes para o surgimento da terceirização é o mundo neoliberal, onde se prevalece o capital sobre a força humana de trabalho que é considerada somente na exata medida em que é imprescindível para a reprodução deste mesmo capital. Isso porque o capital pode diminuir o trabalho vivo, mas não eliminá-lo. Pode intensificar sua utilização, pode precarizá-lo e mesmo desempregar parcelas imensas, mas não pode extingui-lo. Portanto, a mão de obra continua sendo necessária no sistema produtivo atual, porém a redução de custos é intrínseca ao capitalismo e, neste sentido, os empresários buscam cada vez mais aumentar seus lucros, todavia sem dar atenção aos aspectos ergonômicos nos postos de trabalho de seus funcionários, reduzindo a segurança

(20)

no trabalho e a saúde destes. Entretanto, é preciso compreender que as pessoas trabalham com o objetivo de satisfazerem suas necessidades e serem felizes. A exploração excessiva dos trabalhadores está destituindo progressivamente o direito à vida, uma garantia fundamental da Constituição Federal de 1988, à medida que expõe os trabalhadores em situações de risco cada vez maiores.

Como dizia o filósofo francês Michel de Montaigne (1533-1592), “quem não se dá lazer, não dá o verdadeiro prazer”. Em outras palavras, o conceito defendido por Montaigne era que as pessoas deveriam trabalhar para viver, mas não viver para trabalhar. Atualmente, a sociedade vive sob alta pressão para cumprir metas no trabalho ou para atender às demandas que aparecem de modo praticamente instantâneo, esquecendo-se dos cuidados com a saúde.

Ao longo da faculdade, fui percebendo que eu tinha grande interesse pelas disciplinas relacionadas ao estudo das características/condições de trabalho, como: fundamentos de engenharia do trabalho, organização do trabalho, ergonomia, psicologia do trabalho e higiene e segurança industrial, e tal interesse me levou a descobrir que a minha área de preferência na engenharia de produção é engenharia do trabalho.

(21)

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 CRISE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO EM 2016

O ano de 2016 foi um ano muito esperado não somente pelos cariocas, mas pelo mundo inteiro, pois o município do Rio de Janeiro sediaria os Jogos Olímpicos, um evento internacional que promoveria a competição de diversas categorias do esporte entre distintas nacionalidades (207 países participariam em 2016). Todavia, com o intuito de incentivar o desenvolvimento em infraestrutura do município do Rio de Janeiro, a ex-presidente Dilma Rousseff decretou a Lei 12.780 de 9 de janeiro de 2013 que dispunha sobre medidas tributárias aplicáveis às operações diretamente relacionadas à organização ou realização dos eventos referentes à realização dos Jogos Olímpicos de 2016. De acordo com o Art. 10º dessa lei, o Rio de Janeiro ficaria isento dos seguintes tributos federais:

Tabela 01 - Tributos federais Imposto de Renda Pessoa Jurídica ( IRPJ ) Imposto de Renda Retido na Fonte ( IRRF ) Imposto sobre Operações Financeiras ( IOF ) Imposto sobre Produtos Industrializados ( IPI ) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido ( CSLL )

Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS ) / Programa de Formação do Patrimônio do Servidor ( PASEP )

Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social ( COFINS )

Contribuição para o Programa de Estímulo à Universidade-Empresa para o Apoio à Inovação Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica ( CONDECINE )

Fonte: Art 10º da Lei 12.780 de 9 de janeiro de 2013.

Em seguida, o Art. 23º da Lei 12.780/13 concede o direito da isenção dos tributos listados acima do dia 1º de janeiro de 2013 ao dia 31 de dezembro de 2017. Segundo a Receita Federal, a renúncia fiscal será de R$ 3, 832 bilhões ao longo desses anos por conta da realização dos Jogos Olímpicos.

Além da renúncia fiscal, um outro fator agravante para a situação de crise do governo do estado do Rio de Janeiro foi a crise da empresa estatal de economia mista Petróleo Brasil S/A, mais conhecida como Petrobras.

(22)

De acordo com a Constituição Federal de 1988 ( CF/88 ), uma empresa estatal anômala deve se submeter ao regime de licitação em todos as contratações de empresas prestadoras de serviço.

Segundo o Art. 37º, inciso XXI da CF/88, tem-se:

A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

Em particular, a Petrobras tinha a obrigação de realizar licitação para empresa prestadora de serviços e venceria, em um cenário normal, a empresa que cobrasse o menor preço. Todavia, a operação Lava-Jato, investigação de corrupção e lavagem de dinheiro da Petrobras, revelou que a Petrobras e empresas interessadas em realizar os projetos da estatal criaram um cartel, definiram preços para os projetos e constituíram até mesmo um regulamento, para garantir que somente as empresas do cartel fossem convidadas para as licitações. Nesse esquema, os diretores da Petrobras, agentes políticos, operadores financeiros e empreiteiras desviaram recursos financeiros públicos que, de acordo com o banco americano Morgan Stanley, foram estimados em 21 bilhões de reais.

Segundo o jornal de economia Correio Braziliense, os principais aspectos que demonstram a importância da Petrobras para a economia brasileira são:

• O setor de petróleo e gás é responsável por 13% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional;

• A cada R$ 1 investido pela petroleira são movimentados outros R$ 3 na economia;

• Uma queda de 10% nos investimentos da Petrobras pode tirar entre 0,1 e 0,5 ponto percentual no PIB ao ano;

• Dos investimentos no Brasil, correspondentes a 16,5% do PIB, a estatal é responsável por quase um quarto (24,2%) do total;

• As importações e exportações da petroleira são os primeiros itens nas pautas de comércio exterior;

• O número de fornecedores da Petrobras dobrou de 1,8 mil, no fim da década de 1990, para 3,4 mil, em bases anuais;

• As empresas que fornecem para a estatal empregam, em média, 535 pessoas, enquanto a média das não fornecedoras é de 176 trabalhadores;

• O salário mensal pago pelos fornecedores da petroleira a seus funcionários é 80% maior que a média de mercado;

(23)

• Os fornecedores da Petrobras são responsáveis por 30,4% das exportações do país e 25,3% das importações. No caso de importações de bens de capital, garantem 35,5% do total.

Devido aos problemas financeiros da Petrobras, os royalties (valores em dinheiro pagos pelas petroleiras à União e aos governos estaduais e municipais dos locais produtores para ter direito à exploração do petróleo) e as participações especiais (compensações adicionais cobradas no caso de grandes volumes de produção ou de grande rentabilidade), tiveram uma queda no ano de 2016.

Gráfico 01 – Arrecadação com royalties e participações especiais ( em R$ bilhões )

Fonte: Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), 2017.

De acordo com a Agência Nacional de Petróleo ( ANP ), os municípios que mais arrecadam royalties são Campos dos Goytacazes, Macaé, Maricá, Niterói, Rio das Ostras, Cabo Frio e São João da Barra, todos localizados no Estado do Rio de Janeiro.

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Tabela 02 – Royalties de maiores cidades produtoras, em R$

Fonte : ANP, 2016.

Segundo a tabela 2, a queda na arrecadação de royalties entre janeiro e outubro de 2015 e o mesmo período em 2016 pelos municípios de maior arrecadação no Estado do Rio de Janeiro foi de R$ 188.599.850,83.

Tabela 03 - Receita de estados com royalties e participações especiais, em R$

(25)

Analisando a tabela 3, conclui-se que a queda da arrecadação com royalties e participação especial do estado do Rio de Janeiro foi a maior entre os estados mencionados e seu valor foi de R$ 1.280.430.760,00, prejudicando os cofres públicos.

Evidenciados os fatos, percebe-se que a crise da Petrobras e a isenção dos tributos federais relativos à realização dos Jogos Olímpicos impulsionaram o governo estadual do Rio de Janeiro a decretar uma situação de calamidade, conforme o decreto abaixo:

Figura 01 - Decreto de estado de calamidade pública financeira do Estado do Rio de Janeiro

(26)

O decreto mencionado na figura 1 afirma que a crise vem acarretando dificuldades na prestação de serviços públicos, como, por exemplo, a educação. Consequentemente, as condições de trabalho dos funcionários nas instituições públicas são afetadas também, por não haver recursos financeiros para o investimento necessário.

2.2 TERCEIRIZAÇÃO

Embora a terceirização seja uma realidade do capitalismo desde os idos mais distantes da primeira Revolução Industrial na Inglaterra (século XVIII), a terceirização no Brasil, como prática econômica e gerencial corrente nas empresas e organizações em geral, expande-se de fato a partir dos anos de 1990. Este foi o período do avanço do projeto neoliberal no país, que levou à abertura econômica veloz e indiscriminada e ao aumento da competição entre as empresas, concomitantemente ao desmonte da regulação do trabalho e das políticas públicas (CUT, 2009).

Segundo DELGADO (2015, p. 473),

a terceirização é o fenômeno pelo qual se dissocia a relação econômica de trabalho da relação justrabalhista que lhe seria correspondente. É o mecanismo jurídico que permite a um sujeito de direito tomar serviços no mercado de trabalho sem responder, diretamente, pela relação empregatícia estabelecida com o respectivo trabalhador.

Para a professora, escritora e desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) BONFIM (2014, p. 515),

a terceirização é a relação trilateral formada entre trabalhador, intermediador de mão de obra (empregador aparente, formal ou dissimulado) e o tomador de serviços (empregador real ou natural), caracterizada pela não coincidência do empregador real com o formal.

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) em março de 2017, as condições de trabalho nas atividades tipicamente terceirizadas são mais precárias do que nas atividades tipicamente contratantes (não terceirizadas).

De acordo com o Gráfico 2, as atividades tipicamente terceirizadas possuem uma taxa de rotatividade superior às atividades tipicamente contratantes em todos os anos mostrados no gráfico.

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Gráfico 02 - Taxa de rotatividade descontada em atividades tipicamente terceirizadas e tipicamente contratantes Brasil - 2007-2014 (em %)

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 2017.

De acordo com o Gráfico 3, em atividades tipicamente contratantes, 61,6% dos trabalhadores possuem uma jornada de trabalho de 41 a 44 horas semanais, taxa 24,3% inferior comparada às atividades tipicamente terceirizadas.

Gráfico 03 - Participação dos vínculos formais de emprego com jornada contratada de 41 a 44 horas semanais, por faixa de remuneração, em atividades tipicamente terceirizadas e tipicamente contratantes Brasil, 2014 (% em relação ao total dos vínculos

do setor)

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Segundo o Gráfico 4, em 2014 os índices de afastamento por acidente de trabalho típico foram maiores em atividades tipicamente terceirizadas.

Gráfico 04 - Participação percentual dos afastamentos por acidente de trabalho típicos, por faixa salarial, em atividades tipicamente terceirizadas e tipicamente contratantes

Brasil, 2014 (em % em relação ao total de afastamentos)

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 2017.

De acordo com o Gráfico 5, empresas com 1000 funcionários ou mais apresentam uma diferença salarial maior entre os terceirizados e não terceirizados.

Gráfico 05 - Diferença salarial média acumulada por faixa salarial, segundo tamanho da empresa, entre atividades tipicamente terceirizadas e tipicamente contratantes Brasil,

2014 (em %)

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Através dos gráficos 2, 3, 4 e 5, nota-se que os trabalhadores terceirizados têm uma jornada de trabalho mais intensa e sofrem mais acidentes de trabalho, indicando uma maior exposição a situações de risco e contribuindo também para uma maior rotatividade da mão de obra. Entretanto, mesmo com as adversidades citadas, os terceirizados ainda recebem salários mais baixos.

• A taxa de rotatividade descontada é duas vezes maior nas atividades tipicamente terceirizadas (57,7%, contra 28,8% nas atividades tipicamente contratantes)

• 85,9% dos vínculos nas atividades tipicamente terceirizadas tinham jornada contratada entre 41 e 44 horas semanais. Já nos setores tipicamente contratantes, a proporção era de 61,6%

• O percentual de afastamentos por acidentes de trabalho típicos nas atividades tipicamente terceirizadas é maior do que nas atividades tipicamente contratantes - 9,6% contra 6,1%.

• Os salários nas atividades tipicamente terceirizadas eram, em média, 23,4% menor do que nas atividades tipicamente contratantes (R$ 2.011 contra R$ 2.639).

De acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Art. 2º, considera-se “empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.”

No § 2º desse mesmo artigo,

sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa principal e cada uma das subordinadas.

Dessa forma, o funcionário terceirizado pode exigir seus direitos trabalhistas tanto para a empresa tomadora de serviços (a que utiliza a mão de obra) quanto para a empresa intermediadora da mão de obra (a empresa que fornece o trabalhador). Apesar de a CLT explicitar a responsabilidade solidária das empresas contratante (tomadora de serviços) e contratada, os gráficos acima contribuem para evidenciar a precarização vivenciada pelos terceirizados.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT), por exemplo, é contra a terceirização, pois afirma que a terceirização implica a redução dos salários e benefícios; o trabalho sem registro em carteira profissional; o incremento de jornada; a redução de postos de trabalho; a

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ausência de responsabilidade subsidiária e solidária da empresa contratante; a quebra de solidariedade entre os trabalhadores, entre tantos outros efeitos.

2.3 SAÚDE E TRABALHO NAS ESCOLAS PÚBLICAS

De acordo com o Art. 6º, Cap. II da CF/88, a educação e a saúde são consideradas direitos sociais. Desta forma, tais direitos são obrigação do Estado, como meio de assegurar uma justiça distributiva, diminuindo as desigualdades sociais e, por esse motivo, tendem a possuir um custo excessivamente alto. Contudo, a educação nas escolas e, em particular, nas públicas sempre se mostrou deficiente e é o que afirma um estudo realizado sobre formação em saúde, gênero e trabalho nas escolas.

Segundo ATHAYDE, BRITO e NEVES (2003),

as condições de trabalho nas escolas públicas brasileiras (instalações, materiais, salários, etc.) – que nunca foram boas – vêm sendo, em geral, precarizadas, o que aumenta em muito as adversidades a serem enfrentadas pelos (as) trabalhadores(as).

No dia-a-dia de uma escola pública, diversos imprevistos podem aparecer, como a falta d’água e de materiais e de infraestrutura, problemas originados dentro da escola, mas fatores externos, como a violência urbana e o transporte coletivo deficiente. Além disso, há situações em que os funcionários são mobilizados por questões e problemas trazidos pelos alunos. Essas variabilidades afetam o trabalho dos funcionários da escola, pois o trabalho prescrito é modificado e, consequentemente, há um impacto na eficiência produtiva da escola. A falta de infraestrutura nas escolas públicas, decorrente da falta de investimento do governo, contribui para o crescimento dos acidentes de trabalho.

Anualmente, a Previdência Social faz um estudo sobre os índices de acidente com trabalhadores, denominado Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho (AEAT) para avaliar se está ocorrendo um aumento ou uma diminuição dos acidentes de trabalho. Para auxiliar pesquisadores, existe a Classificação Nacional das Atividades Econômicas, (CNAE), criada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que determina a origem de cada acidente de trabalho. De acordo com a CNAE, o âmbito da seção P indica acidentes relacionados a trabalhos no setor da Educação e foi ampliada para incluir explicitamente o ensino especializado de esporte, cultura e outras áreas e também os serviços de apoio às atividades de educação.

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Segundo a Figura 2, as atividades econômicas na área de Educação possuem o código inicial 85 e há grupos nessa área.

Figura 02 - Classificação Nacional da Atividade Econômica (CNAE)

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As Tabelas 4 e 5 mostram a quantidade de acidentes de trabalho nos grupos da Educação, conforme o CNAE.

TABELA 04 – Quantidade de acidentes de trabalho, por situação de registro e motivo, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), no Brasil –

2010/2012

Fonte: Ministério da Previdência Social, 2012.

TABELA 05 – Quantidade de acidentes de trabalho, por situação de registro e motivo, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), no Brasil –

2013/2015

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O gráfico 6 ilustra o quantitativo de acidentes no setor da Educação no Brasil do período de 2010 a 2014, indicando menor índice em 2010.

Gráfico 06 – Quantidade de acidentes no setor da Educação, no Brasil

Fonte: Elaboração do próprio autor com base nos dados das tabelas 4 e 5.

O gráfico 6 ilustra que a incidência de acidentes de trabalho não é um fato raro no setor da Educação no Brasil e, por esse motivo, em 16 de maio de 2012 foi criada a Lei Federal nº 12.645, instituindo o dia 10 de outubro como o Dia Nacional da Segurança e Saúde nas Escolas. Nesse dia, entidades governamentais e não governamentais podem, em parceria com as secretarias municipais e estaduais, desenvolver atividades como palestras, concursos de frase ou redação, eleição de cipeiro escolar e visitação em empresas. Portanto, evidencia-se a importância e a necessidade de uma análise das condições de trabalho dos profissionais da área educacional, para que melhorias sejam projetadas e implementadas, reduzindo o risco de acidentes.

2.4 A ATIVIDADE DE COZINHEIRAS

De acordo com o Art. 208 da CF/88, o dever do Estado com a educação deve ser efetivado mediante a garantia de atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. Havendo as informações dispostas no Art. 208 da CF/88, foi aprovada pelo Governo

8425 8827 8650 9638 12504 11690 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 2010 2011 2012 2013 2014 2015

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Federal a Lei da Merenda Escolar, Lei 11.947, de 16 de junho de 2009, que prevê em seu Art. 3 a alimentação escolar como direito dos alunos da educação básica pública e dever do Estado e que será promovida e incentivada com vistas no atendimento das diretrizes estabelecidas nesta lei. Portanto, evidencia-se a obrigatoriedade da merenda nas escolas públicas e, consequentemente, de cozinheiras para prepararem a alimentação dos alunos.

Há dois tipos de ingresso no mercado de trabalho para o cargo de cozinheiro em escolas: concurso e terceirização. Inicialmente, vale ressaltar que outra designação é atribuída ao cargo de cozinheiro é o nome merendeiro, não havendo distinção. De acordo com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a partir de 1994, o governo passou a enviar verbas para que os alimentos fossem preparados com ingredientes frescos ao invés de enviar os alimentos praticamente prontos. Com isto, as merendeiras precisaram começar a cozinhar toda a refeição, dando origem ao cargo de cozinheiro, porém são utilizados os termos cozinheiro e merendeiro para se referir ao mesmo profissional. No município de Niterói, por exemplo, a Coordenação de Seleção Acadêmica da Universidade Federal Fluminense (COSEAC-UFF) foi a organizadora do concurso para merendeiro da Fundação Municipal de Educação (FME) no ano de 2016 e o requisito para a participação no processo seletivo era ter o Ensino Fundamental concluído. Na primeira etapa, o candidato realizava uma prova com 10 questões de Língua Portuguesa, 10 questões de Matemática e 20 questões de Conhecimentos Específicos. O conteúdo da prova de Conhecimentos Específicos abordava a importância da alimentação, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), dentre outros assuntos, como na figura 3.

Figura 03 – Conteúdo programático de conhecimentos específicos da prova objetiva para o cargo de Merendeiro

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De acordo com a figura 3, os candidatos precisavam ter noções básicas do PNAE, de boas práticas para a preparação e distribuição dos alimentos e outros conhecimentos, o que demandava dos candidatos um curso de capacitação, para que os mesmos estivessem bem preparados para o exame de qualificação.

Após a aprovação na primeira etapa, o candidato era submetido à realização de uma prova prática.

A Tabela 6 ilustra as instruções preliminares às quais os candidatos ao cargo de merendeiro são submetidos para a prova prática.

Tabela 06 - Orientações e instruções preliminares para a prova prática

Fonte: COSEAC – UFF, 2016.

Por fim, os candidatos aprovados na segunda etapa deveriam aguardar a classificação final do concurso e a convocação para realizar os trâmites de admissão.

Considerando que o salário dos terceirizados é mais baixo do que o salário dos não terceirizados, como mostra o gráfico 5, torna-se mais barato para a administração pública contratar merendeiras como profissionais terceirizados.

Conforme a figura 4, foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) o Projeto de Lei nº 2055/2013, permitindo o regime de contratação de terceirização para o cargo de merendeiras. Portanto, a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) começou a ter o serviço prestado dos merendeiros de forma terceirizada, com o objetivo de reduzir os gastos públicos.

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Figura 04 - Projeto de Lei nº 2055/2013

Fonte: ALERJ, 2013.

No PNAE, as merendeiras desempenham não somente o papel de colaboradora para a melhoria da aprendizagem dos alunos, porém também como agente condutora de técnicas adequadas para o preparo de merenda e de informações sobre bons hábitos alimentares.

De acordo com o manual da merendeira criado pela Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso do Sul (SEEDUC-MS), as principais responsabilidades das merendeiras são :

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Tabela 07 – Principais atribuições das merendeiras Controlar a entrada e saída dos alimentos com registro diário na ficha de controle;

Observar os aspectos dos alimentos antes e depois de sua preparação, quanto ao cheiro, cor e sabor;

Abrir apenas as embalagens para o consumo do dia;

Guardar bem fechadas as embalagens que não forem utilizadas totalmente; Verificar o cardápio do dia;

Providenciar com antecedência a merenda, segundo as técnicas de preparo para que esteja pronta no

horário estabelecido e na temperatura adequada;

Lavar os utensílios de distribuição antes e depois de usá-los;

Quando necessário, colocar os gêneros alimentícios de molho na véspera de seu uso; Controlar o consumo de gás, material de limpeza, entre outros;

Cuidar da conservação do fogão, bem como controle das panelas, pratos, canecas, tigela e todos os

outros utensílios de cozinha;

Manter a mais rigorosa higiene nas dependências de armazenamento, cantina, preparo e distribuição

da merenda;

Usar a criatividade, procurando tornar a merenda saborosa e nutritiva;

Manter um bom relacionamento com o (a) diretor (a), professores, alunos e demais funcionários;

Tratar com delicadeza as crianças;

Apresentar-se sempre limpa, com touca e avental, com as unhas limpas e aparadas; Toda vez que fizer uma atividade diferente ou fora da cozinha, lave as mãos antes de retornar e manipular

os alimentos;

Nunca mexer nos alimentos com feridas ou cortes;

Tampe as panelas e nunca deixe os alimentos expostos a moscas e mosquitos; A cozinha deve estar limpa antes e após a preparação dos alimentos;

Fazer exames de saúde regularmente;

Manter-se sempre informada, participando de capacitações em sua área profissional ; Participar no planejamento das compras.

Fonte: SEEDUC-MS, 2012.

A tabela 7 ilustra que a tarefa das merendeiras não se refere somente ao preparo das refeições diárias, mas também em receber os alimentos dos fornecedores e anotar os produtos recebidos em uma ficha, analisar o estoque dos produtos para planejar a solicitação de uma nova compra, considerando o cardápio da semana, usar a criatividade para elaborar as refeições, manter a cozinha e seus componentes limpos e também manter um bom relacionamento com a direção, com os professores e com os alunos.

Segundo ATHAYDE et al (2003, p. 54), a não aceitação e a falta de respeito que as merendeiras sofrem por parte dos profissionais da escola que passaram por espaços formais de qualificação desconsideram o trabalho real vivenciado por elas. As merendeiras identificam um desacordo da alimentação oferecida com a realidade cultural das crianças e, apesar das

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adversidades, elas se esforçam para tornar a refeição saborosa e visualmente atraente para incentivar as crianças a consumirem os alimentos oferecidos pela escola. Além disso, as merendeiras informam aos alunos a importância dos alimentos para a saúde, e, dessa forma, estimulam o comportamento social dos estudantes e asseguram o atendimento de suas necessidades nutricionais. As merendeiras são também ouvintes e conselheiras, conhecem os alunos-problema, os estudiosos, os que não estão bem de notas e identificam problemas existentes na vida familiar.

2.5 ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Ao longo de sua existência, o ser humano vem procurando satisfazer suas necessidades, ao consumir produtos e utilizar serviços oferecidos por pessoas e/ou organizações. A fabricação desses produtos e a prestação desses serviços requerem a realização de processos de trabalho. Um processo de trabalho pode ser definido como a dimensão material e concreta do sistema de produção. Ele se compõe de uma variável física (tecnologia do processo produtivo) e de uma variável humana (atividade dos trabalhadores). O mecanismo elementar do processo de trabalho é a combinação dessas duas variáveis, cujo resultado é a obtenção de produtos ou serviços ( Vidal, 1989 ).

Segundo IIDA (p. 5), “ao contrário de muitas outras ciências cujas origens se perdem no tempo e no espaço, a ergonomia tem uma data "oficial" de nascimento: 12 de julho de 1949”. Nesse dia, reuniu-se, pela primeira vez, na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores interessados em discutir e formalizar a existência desse novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência. Na segunda reunião desse mesmo grupo, ocorrida em 16 de fevereiro de 1950, foi proposto por Murrell o neologismo ergonomia, formado pelos termos gregos ergon, que significa trabalho, e nomos, que significa regras, leis naturais (apud IIDA, 2005, p. 5).

Segundo a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), “a Ergonomia trata-se de uma disciplina orientada para uma abordagem sistêmica de todos os aspectos da atividade humana.” Para darem conta da amplitude dessa dimensão e poderem intervir nas atividades do trabalho é preciso que os ergonomistas tenham uma abordagem holística de todo o campo de ação da disciplina, tanto em seus aspectos físicos e cognitivos, como sociais, organizacionais, ambientais, etc.

Em agosto de 2000, a IEA - Associação Internacional de Ergonomia adotou a definição oficial apresentada a seguir:

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A Ergonomia (ou Fatores Humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema. Os ergonomistas contribuem para o planejamento, projeto e a avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas.

Para Wisner (1987), “Ergonomia é o conjunto dos conhecimentos científicos relacionados ao homem e necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficiência.”

O corpo e o funcionamento humanos têm propriedades que são descritas por diversas disciplinas (fisiologia, psicologia, etc.) e o funcionamento dos coletivos humanos obedece também a leis, que são estudadas por outras disciplinas (sociologia, antropologia, psicologia social, etc.). Nesse contexto, a atividade dos trabalhadores é influenciada por fatores como as características da situação de trabalho, história da pessoa, funcionamento dos coletivos, cultura da empresa, etc.

Todo indivíduo chega ao trabalho com seu capital genético, remontando o conjunto de sua história e as marcas acumuladas na vida. Traz seu modo de vida, seus costumes pessoais, seus aprendizados. Este conjunto de fatores influencia a forma como são abordadas as situações de trabalho com as quais este indivíduo é cotejado.

Quando os seres humanos são expostos a situações que não são compatíveis com suas propriedades individuais ou coletivas:

➢ Diminui-se sua capacidade de detecção e o desempenho de suas ações. ➢ Aumenta-se a possibilidade de erros não recuperados.

➢ Pode-se gerar um risco para a saúde.

A integração do conceito de atividade nos projetos de situações de trabalho implica em reconhecer que estas devem ser concebidas considerando a diversidade da população de trabalhadores, bem como as características a ela inerentes, ou seja, a variabilidade.

Ao considerar a diversidade da formação, da aprendizagem e da experiência contribuí-se para a implantação de suportes que favorecem o desenvolvimento continuado das competências, possibilitando assim, atender às necessidades da reestruturação do trabalho que exigem do trabalhador de qualquer idade, em diferentes níveis de formação, conhecimentos e habilidades para acompanhar estas mudanças, evitando a exclusão de pessoas portadoras de experiências valiosas no desenvolvimento do processo de reestruturação do trabalho. A existência da variabilidade nos processos acarreta uma diferença entre o que é previsto e o que é realizado, entre o desejável e o real. Por exemplo, na perspectiva da organização do

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trabalho, devem ser incluídos desde os materiais, os equipamentos e os procedimentos, até a gestão dos incidentes. Com relação às características do trabalhador, a literatura aponta as fontes de variabilidade do indivíduo como as de natureza inter e intra individuais, levando-se em conta os aspectos físicos, psíquicos e cognitivos, neles inseridos, a experiência como história das representações mentais, o envelhecimento como história biológica e outras intrinsecamente ligadas à história do trabalho. É neste contexto do real que a atividade realmente ocorre e não naqueles previstos, apesar dos esforços da organização na tentativa de estabilização dos processos.

As contribuições da ergonomia, na introdução de melhorias nas situações de trabalho, se dão pela via da ação ergonômica que busca compreender as atividades dos indivíduos em diferentes situações de trabalho com vistas à sua transformação. Assim, o foco de ação é a situação de trabalho inserida em um contexto sociotécnico, a fim de desvendar as lógicas de funcionamento e suas consequências, tanto para a qualidade de vida no trabalho, quanto para o desempenho da produção.

A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) permite identificar, por intermédio da observação do contexto real de trabalho, quais são as variáveis que o operador busca para compreender e os problemas aos quais ele é confrontado e, desta forma, associar os processos cognitivos que ele mobiliza na execução do seu trabalho. Estes dados são fundamentais para a melhoria do dispositivo técnico, da organização e da formação.

“A situação de trabalho não é um laboratório”, dizia Duraffourg (apud Ferreira, 2015, p. 9) em seu curso. Para ele, cada situação de trabalho deve ser analisada individualmente, devido às variabilidades não só humanas, mas também da organização do trabalho.

Segundo o MTE, a Norma Regulamentadora 17 (NR-17) visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente e que a aplicação dessa norma é uma obrigação dos empregadores.

“Cabe aos empregadores realizar a análise ergonômica do trabalho”. Trata-se da Norma Regulamentadora de Ergonomia 17, ou NR 17, do Ministério do Trabalho e Emprego (BRASIL, 1990)

As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho. Para avaliar a adaptação das condições de

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trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.

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3 METODOLOGIA

Metodologicamente, este trabalho adotou o estudo de caso e os procedimentos realizados foram os de observação, registro de fatos, coleta de dados, entrevistas, depoimentos, questionários e aplicação de técnicas para mensurar as características do ambiente de trabalho das merendeiras.

A presente pesquisa pode ser classificada como aplicada, explicativa, qualitativa e é um estudo de caso.

Segundo McBride (2013),

o fato de a pesquisa aplicada investigar problemas reais faz com que os pesquisadores estejam preocupados com a validade externa de seus estudos, e isto significa que os pesquisadores tentam observar os comportamentos que podem ser aplicados a situações reais.

Isto é importante porque esses pesquisadores têm o intuito de aplicar seus resultados em problemas que envolvem indivíduos que sejam ou não participantes de seu estudo. Portanto, esta pesquisa é aplicada, pois possui como objetivo projetar e implementar melhorias no posto de trabalho das cozinheiras.

Trata-se também de uma pesquisa explicativa, uma vez que busca identificar os fatores que contribuem para a ocorrência das más condições de trabalho das merendeiras.

Quanto à natureza das variáveis da pesquisa, esta pode ser classificada como qualitativa, porque serão realizados questionários e entrevistas, numa perspectiva qualitativa, para entender as principais demandas dos trabalhadores.

Os procedimentos técnicos permitem caracterizar o trabalho como um estudo de caso, visto que consiste no estudo profundo e exaustivo de um objeto, de modo a permitir seu amplo e detalhado conhecimento.

Eu trabalho em duas escolas da rede estadual e decidi fazer a pesquisa de campo no colégio com maior porte, objetivando resultados mais impactantes. Por exemplo, o colégio selecionado para a realização da pesquisa possui 1494 alunos e o outro possui 636 alunos.

Antes de iniciar esta pesquisa no colégio selecionado, solicitou-se uma autorização do diretor-geral da escola e este permitiu a realização do trabalho, elogiando a iniciativa em buscar entender as principais dificuldades das cozinheiras e projetar melhorias em suas condições de trabalho, visto que o governo estadual não investe em saúde e segurança no trabalho delas.

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Após a permissão do diretor-geral, conversas com as cozinheiras da escola foram realizadas para saber se elas aceitariam e gostariam de participar da pesquisa em seu ambiente de trabalho e, rapidamente, recebeu-se um retorno positivo, e elas começaram a comentar problemas enfrentados no dia-a-dia, como dores na coluna por ficarem durante muito tempo em pé e também o calor excessivo na cozinha. Segundo as cozinheiras, o ambiente de trabalho delas é bem quente e não possui uma ventilação adequada.

Nos dias 5, 19 e 26 de outubro, observou-se a jornada de trabalho das cozinheiras e fotos, entrevistas, questionários, consultas a manuais de trabalho, anotações, entre outras técnicas foram realizadas para auxiliar na identificação da situação crítica. Nesses dias e ao decorrer do tempo, referências bibliográficas foram pesquisadas para embasar o estudo, levantaram-se hipóteses, aplicaram-se instrumentos de avaliação das condições de trabalho, como questionários, entrevistas, luxímetro (instrumento para medir a intensidade da iluminação de um ambiente), monitor de IBUTG (índice de bulbo úmido e termômetro de globo) e, por fim, foram validados os problemas identificados. Além disso, as cozinheiras da escola sempre foram atenciosas e dispostas a ajudar, para que os resultados obtidos exprimissem com maior precisão as características do ambiente de trabalho delas. E mesmo que numa linguagem simples, as palavras ditas pareceram claras e sinceras o suficiente para identificar alguns problemas enfrentados no dia-a-dia e para facilitar a análise ergonômica da atividade.

De acordo com o Manual de Aplicação da NR-17, as etapas da AET são: Tabela 08 – Etapas da AET

1 Explicitação, análise e reformulação da demanda; 2 Análise global da empresa;

3 A análise da população de trabalhadores; 4 Definição das situações de trabalho a analisar;

5 A descrição das tarefas prescritas, das tarefas reais e das atividades

desenvolvidas para executá-las;

6 Estabelecimento de um pré-diagnóstico;

7 Observação sistemática da atividade, bem como dos meios disponíveis para realizar a tarefa;

8 Diagnóstico;

9 Validação do diagnóstico;

10 Projeto das modificações;

11 O cronograma de implementação das modificações;

12 Acompanhamento das transformações.

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Na primeira etapa, busca-se situar o problema a ser analisado.

Na segunda etapa, é necessário saber o grau de evolução técnica da empresa, sua posição no mercado, sua situação econômico-financeira, sua expectativa de crescimento, etc. Essas informações são necessárias justamente para que as soluções propostas possam ser adequadas a esse quadro.

Na terceira etapa, busca-se saber a política de pessoal, a faixa etária dos trabalhadores, a evolução da pirâmide de idades, rotatividade, antiguidade na função atual e na empresa, tipos de contrato, experiência, categorias profissionais, níveis hierárquicos, características antropométricas, pré-requisitos para contratação, nível de escolaridade e capacitação, estado de saúde, morbidade, mortalidade, absenteísmo, etc.

Na quarta etapa, definem-se as situações de trabalho a serem estudadas e essa escolha parte necessariamente da demanda dos primeiros contatos com os operadores e das hipóteses iniciais que já começam a ser formuladas.

Na quinta etapa, devem ser descritas as tarefas prescritas, as tarefas reais e as atividades desenvolvidas para executá-las. Entende-se por tarefa prescrita o objetivo fixado pela empresa. “Produzir 420 peças por dia, com tais e tais requisitos de qualidade, dispondo para tanto de tais e tais ferramentas e materiais”. A tarefa real é o objetivo que o trabalhador se dá, caso ele tenha possibilidade de alterar o objetivo fixado pela empresa. “Bem, eu gostaria de fabricar as 420 peças, mas devido ao mau estado de minhas ferramentas ou à gripe de que estou acometido, hoje só vou fabricar 350”. A atividade é tudo aquilo que o trabalhador faz para executar a tarefa: gestos, palavras, raciocínios etc.

Na sexta etapa, é estabelecido um pré-diagnóstico, explicitando as várias partes envolvidas, após o que será validado ou abandonado como hipótese explicativa para o problema. Por exemplo, os distúrbios osteomusculares podem estar relacionados à exigência de elevação permanente do membro superior para realizar a tarefa de cortar a jugular do frango em um abatedouro. Se essa hipótese for plausível, o analista elaborará meios para comprová-la ou refutá-la.

Na sétima etapa, é feita uma observação sistemática da atividade, bem como dos meios disponíveis para realizar a tarefa. É preciso descrever os métodos e técnicas utilizados (entrevistas orais ou escritas, gravadas ou não, filmagens e sua duração) e deverá constar de um relatório, para que os leitores possam apreciar o grau de confiabilidade dos resultados. O importante é que qualquer afirmação seja acompanhada de uma justificativa de como se chegou a ela.

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Na oitava etapa, dá-se um diagnóstico ou diagnósticos, partindo das situações analisadas em detalhe. É possível formular um diagnóstico local, que permitirá o melhor conhecimento da situação de trabalho.

Na nona etapa, é necessário validar o diagnóstico, apresentando-o a todos os atores envolvidos que poderão confirmá-lo, rejeitá-lo ou sugerir maiores detalhes que escaparam à percepção do analista. A validação é a única garantia da lisura dos procedimentos e da pertinência dos resultados, pois só aqueles atores detêm a experiência e o conhecimento da realidade e são os maiores interessados nas modificações que advirão do diagnóstico.

Na décima etapa, o analista deve propor melhorias das condições de trabalho tanto no aspecto da produção como, principalmente, no da saúde. Nas recomendações são indicadas as transformações e melhorias efetivas das condições de trabalho propostas, incluindo aí, necessariamente, os aspectos relativos ao desenvolvimento pessoal dos trabalhadores, como a formação e o treinamento para as novas atividades ou os novos postos de trabalho que estarão sendo implantados, se for o caso.

Na décima primeira etapa, cria-se um cronograma de implementação das modificações/alterações e os auditores-fiscais têm de ser informados dos tempos necessários a essas modificações, para que possam situá-los nos prazos concedidos pela legislação ou renegociá-los com o apoio das organizações sindicais. Os prazos devem ser compatíveis com as transformações propostas, incluindo a implementação de testes, criação de protótipos e processos de modelagem, dentre outras coisas.

Na décima segunda etapa, as modificações/alterações devem ser acompanhas, onde o analista deve deixar claro qual o seu papel durante a implementação. Se foi negociada anteriormente a sua participação ou se nova negociação deverá ser feita. Posteriormente, é preciso avaliar o impacto das modificações sobre os trabalhadores, pois qualquer modificação acarreta alterações das tarefas e atividades que deverão ser, novamente, objeto de outra análise.

Referências

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