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Análise da estrutura morfológica

No documento GEOMORFOTOPÔNIMOS HISTÓRICOS (páginas 185-189)

Mapa 10 – Geomorfotopônimos que nomeiam capelas e paróquias representados no mapa

4.2 Análise quantitativa e discussão dos resultados

4.2.4 Análise da estrutura morfológica

Por meio da análise dos dados deste trabalho, observamos que há 51 ocorrências de geomorfotopônimos formados por nomes simples e 50 ocorrências de geomorfotopônimos for- mados por nomes compostos, o que evidencia equilíbrio entre as duas categorias, conforme mostramos no seguinte gráfico:

Gráfico 8 – Ocorrência de geomorfotopônimos segundo a estrutura morfológica.

Fonte: Elaborado pela autora. (2018)

Os geomorfotopônimos formados por nomes simples que integram o corpus deste trabalho são:

“Campanha” (03 ocorrências); “Morrinhos” (12 ocorrências); “Chapada” ~ “Xa- pada” (23 ocorrências); “Noruega” (03 ocorrências); “Serranos” (08 ocorrências) e “Varge” (02 ocorrências).

Observamos, portanto, que a maioria corresponde à estrutura de nome simples sin- gular feminino. Os topônimos que correspondem à estrutura de nome simples masculino plural são “Morrinhos”, que alude a um conjunto de morros e “Serranos”, que alude aos habitantes de uma respectiva região caracterizada pela presença de serras.

Em relação aos nomes compostos, verificados no corpus deste trabalho, observa- mos que 35 ocorrências contêm um adjetivo como segundo elemento da composição e 15 ocor- rências constituem sintagma por meio de preposição:

Nomes simples 50% Nomes compostos

Quadro 9 – Relação entre geomorfotopônimos que integram nome composto por adjetivo e que inte- gram nome composto preposicionado.

Geomorfotopônimo que integra nome composto por adjetivo

Geomorfotopônimo que integra nome composto preposicionado Baenpendy (09 ocorrências) Campanha do R. Verde (04 ocorrências)

Beturuna (05 ocorrências) Campanha da Princesa (02 ocorrências) Ibitipoca (07 ocorrências) Campanha de Toledo (01 ocorrência) Campo Bello (01 ocorrência) Monte do Carmo (01 ocorrência) Morro Grande (03 ocorrências) Morro do Xapeo (03 ocorrências) Morro Vermelho (08 ocorrências) Morro da Garça (01 ocorrência)

Varge-bonita (02 ocorrências) Morro de Mateu Lemes (01 ocorrência) Morro do Pillar (01 ocorrência) Capela dos Morrinhos (01 ocorrência)

Fonte: Dados da pesquisa. (2018)

Desse modo, notamos que os geomorfotopônimos compostos por um adjetivo são caracterizados por meio de aspectos que os singularizam, seja pela forma, como em “Morro Grande”, cor, como em “Monte Negro (Beturuna)” e “Morro Vermelho”, seja pela apreciação do relevo/paisagem, como em “Campo Bello” e “Varge-bonita”.

Em relação aos geomorfotopônimos formados por sintagma preposicionado, evi- denciamos que a preposição precede aspectos que servem de identificação e referência. “Morro do Xapeo”, por exemplo, evidencia um traço que identifica o morro ao evidenciar que tem o formato de chapéu. Em “Morro do Pillar”, evidenciamos a devoção religiosa, uma vez que o termo “Pillar” faça referência a Nossa Senhora do Pilar. Portanto, os topônimos fornecem pistas que podem descrever traços de uma paisagem e aspectos culturais do povo que habitava a re- gião. Tratando-se de topônimos históricos devemos considerar a possibilidade desse resgate histórico e cultural.

Em relação aos “morros”, que inclusive é o topônimo mais frequente do corpus, conforme já apresentado, verificamos que a maior parte é formada por sintagma preposicio- nado. Alguns geomorfotopônimos remetem à posse e referência do local, como em “Campanha de Toledo” e “Morro de Mateu Lemes”. Mateus Leme se refere ao bandeirante paulista, genro de Borba Gato que, de acordo com Barbosa (1995, p.199), iniciou o povoado que manteve o seu nome. Segundo o mesmo autor, Barbosa (1995, p.354), Toledo se refere a Simão de Toledo Piza e explicita que a região primitiva ficou conhecida por “Campanha do Toledo” devido às atividades de mineração realizadas por ele. É interessante ressaltar que os dois

geomorfotopônimos em questão são os únicos dos dados apresentados que não são formados pela estrutura {preposição + artigo}. A ausência de artigo definido pode ser justificada por precederem um antropônimo.

Braga (2012) apresenta, em seu trabalho de Dissertação, intitulado “Ausência/pre- sença de artigo definido diante de antropônimos na fala dos moradores de Mariana e Uberaba - MG”97 a perspectiva de Bechara (1978), Cunha e Cintra (2001) e Mira Mateus et al. (1883)

para o português de Portugal sobre o uso de artigos diante de nomes próprios. Segundo os pres- supostos apresentados por Braga (2012), de acordo com os gramáticos normativos, a estudiosa expõe a seguinte conclusão:

o ponto mais convergente com relação ao tratamento dado ao uso de artigo definido diante de antropônimos, segundo esses autores normativos, tanto no que se refere ao português brasileiro quanto ao português de Portugal, está no fato de que quando se referem a pessoas, o artigo não deveria ser empregado, uma vez que este é individua- lizante. (BRAGA, 2012, p.41).

A autora apresenta, também, pesquisas desenvolvidas sobre o assunto, que se refe- rem a Moisés (1995), Silva (1996), Callou e Silva (1997), Callou (2000), Mendes (2000), Ama- ral (2003), Alves (2008) e Almeida Mendes (2009). Mendes (2000)98, em seu trabalho intitu- lado “A ausência de artigo definido diante de nomes próprios no português mineiro da comu- nidade de Barra Longa: um caso de retenção?”, utilizou além dos dados de língua oral contem- porânea, também, os de língua escrita pretérita referentes a 17 documentos notariais e eclesiás- ticos dos séculos XVIII e XIX. A autora chega à conclusão de que a ausência de artigo definido diante de nome próprio, em Barra Longa, remonta a uma estrutura pretérita latina.

Com base nos resultados dos trabalhos desenvolvidos em Minas Gerais, Braga (2012, p.106) evidencia o fenômeno de variação intralinguística da ausência/presença do artigo definido diante de antropônimos em nove pontos do estado, verificado por meio do seguinte gráfico:

97 BRAGA, Luciene Maria. Ausência/presença de artigo definido diante de antropônimos na fala dos moradores

de Mariana e Uberaba – MG. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Instituto de Letras e Linguística, Univer-

sidade Federal de Uberlândia, 2012. pdf. Disponível em: <https://reposito- rio.ufu.br/bitstream/123456789/15418/1/d.pdf> Acesso em: nov. de 2018.

98MENDES, Soélis Teixeira do Prado. A ausência de artigo definido diante de nomes próprios no português mi-

Gráfico 9 – Presença e ausência de artigo definido diante de antropônimo em nove pontos de Minas Gerais, segundo pesquisas realizadas sobre o tema.

Fonte: Braga. (2012, p.106)

Por meio do gráfico apresentado por Braga (2012, p.106), observamos, portanto, a variação do fenômeno em questão. Porém, tratando-se de topônimos e, principalmente, que se referem aos Oitocentos, não é possível confirmar, por meio deste trabalho, a hipótese de que a ausência de artigo definido nos geomorfotopônimos citados foi condicionada pela precedência de antropônimo, assim como categorizar possíveis fatores que justificam o fenômeno. Para ob- termos resultados efetivos precisaríamos de maior quantidade de dados e enfoque no fenômeno evidenciado. De todo modo, a presença desses dois geomorfotopônimos no corpus da pesquisa não devem ser desconsiderados, porque lançam luz sobre o tema em questão.

No documento GEOMORFOTOPÔNIMOS HISTÓRICOS (páginas 185-189)