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Mapa extraído do original do P.e Cocleo (Anônimo, post 1710, AHEx, RJ)

No documento GEOMORFOTOPÔNIMOS HISTÓRICOS (páginas 59-64)

Fonte: Santos, Seabra e Costa. (2016)

45 De acordo com Renger (2007, p.111), Jacobo Cocleo (Jacques Cocle) foi um jesuíta que nasceu em 1628, na

O “Mapa da maior parte da costa, e sertão, do Brasil...”, apresentado acima, corres- ponde ao período de grande produção documental – roteiros, descrições e mapas – por ser ne- cessário o conhecimento e delimitação do território da América portuguesa. Ao analisar o mapa, observamos a representação de extenso território, segundo Santos, Seabra e Costa46 “tendo como limite, ao norte, o Maranhão e, ao sul, a região de Laguna, em Santa Catarina, abarcando, no interior, as Minas Gerais”. Como explicam os estudiosos, o paradeiro do mapa de autoria do Padre Cocleo é desconhecido, mas acredita-se que sua criação seja entre 1694 e 1710, conside- rando informações que contém a data da morte do autor: “a cópia que se conhece atualmente deste documento deve ter sido realizada após o final da primeira década dos Setecentos”.

Há, também, outros documentos cartográficos produzidos após a consolidação da Capitania mineira e que registram em seus respectivos títulos a designação “Minas Gerais”: os mapas 1777a, 1777b, 1778a, b, c, d, e, 1779 e de 1793, produzidos por Rocha; o mapa de 1804; realizado por Miranda, o mapa de 1821, realizado por Eschwege, o mapa produzido entre 1791 e 1798, anônimo, o mapa de 1808 ou 1809, anônimo, e o mapa de 1767, também anônimo. Inclusive, esses documentos cartográficos citados compõem o acervo utilizado como fonte de informação para o desenvolvimento deste trabalho e serão apresentados de modo mais deta- lhado no tópico deste capítulointitulado “O Projeto Registros Cartográficos Históricos: Reve-

lando o Patrimônio Toponímico de Minas Gerais do Período Colonial ao Joanino”.

2.2 A Cartografia nos Setecentos e Oitocentos Colonial e Joanino

Os empreendimentos marítimos impulsionaram o progresso da Cartografia portu- guesa aproximadamente a partir do segundo quartel do século XV, conforme informa Santos (2007, p.51): “A liderança de Portugal se torna inconteste com o prosseguimento das expedi- ções, em direção ao oriente e ao ocidente, respectivamente no Índico, no Pacífico, e nas costas atlânticas da América”.

Enquanto os séculos XV e XVI foram caracterizados por meio de uma cartografia litorânea, que teve cosmógrafos como principais agentes, consoante ao que apresenta Bueno (2007, p.32-33), o século XVII se configurou como um período de transição, já que o século seguinte seria marcado pela cartografia dos engenheiros militares. Essa transição se refere à interiorização da conquista, ou seja, era necessário mapear o território além da faixa costeira. O investimento em engenheiros militares é justificável por apresentarem formação científica

46 SANTOS, M. M. D. dos; SEABRA, M. C. T. C. de; COSTA, A. G. Atlas: Patrimônio Toponímico na Cartografia

em Academias, isto é, melhor formação profissional conduziria a melhores produtos cartográ- ficos, correspondendo ao conhecimento acadêmico, domínios e técnicas cartográficas necessá- rias para isso.

Por meio das iniciativas de Manoel de Azevedo Fortes, nomeado engenheiro-mor do reino em 1719, buscando-se suprir a carência de engenheiros militares nacionais, verificou- se aumento considerável de profissionais portugueses e brasileiros atuantes na segunda metade do século XVIII (BUENO, 2007, p.37). As iniciativas de Manoel de Azevedo Fortes se referem ao projeto cultural que permitiu aprimoramentos técnicos e ações voltadas para o ensino neces- sários para a produção cartográfica, inclusive, uma das inciativas corresponde à publicação de tratados com esse objetivo. Ainda que o projeto cultural do engenheiro-mor tenha se revelado bastante positivo, o rei, D. João V, contratou os jesuítas astrônomos João Batista Carbone e Domingos Capassi para realizar o projeto do Novo Atlas do Brasil que objetivava a produção de documentos cartográficos do território da América portuguesa. Os jesuítas, que ficaram co- nhecidos como padres matemáticos, chegaram ao Rio de Janeiro em 1730. Forneceram um conjunto de vinte mapas de várias capitanias e da costa do Brasil:

Ainda que o resultado do projeto do Novo Atlas do Brasil tenha ficado aquém das expectativas, esse trabalho forneceu aos portugueses dados concretos sobre as coor- denadas geográficas – latitude e longitude -, astronomicamente observadas in loco, das principais vilas do Sul e das zonas interiorizadas de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, em relação ao Meridiano do Rio de Janeiro então definido, viabilizando futuras negociações com Castela por ocasião dos Tratados de Madri (1750) e Santo Idefonso (1777). (BUENO, 2007, p.38)

Renger (2007, p.123) completa ao apresentar alguns cartógrafos sucessores do tra- balho dos padres matemáticos “como José Joaquim da Rocha, Antônio Pinto de Miranda e seu filho de criação, Luis Caetano de Miranda, com seus trabalhos em Minas, entre muitos outros”.

A ocupação dos sertões na América portuguesa é caracterizada pela abertura de caminhos e bandeiras em busca dos tesouros de metais nobres, como apresentamos no tópico anterior deste trabalho. Portanto, além dos documentos cartográficos produzidos por engenhei- ros militares, é necessário evidenciarmos os documentos produzidos por sertanistas:

Do conjunto produzido entre último quartel dos Seiscentos e o início dos Setecentos e pertencente a fase que antecedeu ao período dos padres matemáticos, fazem parte os documentos cartográficos denominados Cartas Sertanistas. Esses mapas, traçados

à pena e a lápis, sôbre fôlhas de papel grosseiro fabrico, foram datados entre 1721 e 1724, encontram-se sob a guarda da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. (COSTA,

2007, p.117)

Desse modo, a Cartografia, compreendida como “arte ou ciência de compor cartas geográficas” (CUNHA, 2010, p.132), teve papel fundamental durante o período Colonial, pois, era necessário conhecer o território para dominá-lo e administrá-lo. Tratando-se da conquista

dos sertões, de meados do século XVII até o final do século XVIII, esses documentos não eram muitos, devido à carência de profissionais qualificados para a produção e a necessidade de mantê-los em sigilo, assim, muitos perderam-se com o passar do tempo (COSTA, 2007, p.117). O estado da arte da Cartografia portuguesa, referente às colônias, eram documentos sigilosos por compreenderem os interesses do reino e, por isso, ficavam sob a responsabilidade de poucos homens de autoridade e confiança. Santos (2007, p.55) explicita o fato de os mapas da colônia americana serem concebidos, fundamentalmente, como documentos:

Como tais, eles registram informações sobre resultados de ações ou para seu planeja- mento e são considerados documentos afeitos às estratégias e às táticas políticas e militares, às ações e às decisões administrativas, civis e eclesiásticas etc. Dessa forma, os documentos são cercados de cuidados para a manutenção de sigilo e reserva, a propósito tanto de sua elaboração como de seu uso e conservação. (SANTOS, 2007, p.55)

No século XVIII, o aperfeiçoamento técnico e de métodos cartográficos “conferiu a cartografia um rigor científico nunca antes observado” (COSTA, 2007, p.117), completa o autor:

A partir do final da terceira década dos Setecentos, esses avanços foram aplicados pelos padres matemáticos e por engenheiros militares, na produção de mapas para regiões de maior interesse para o governo português. Consideradas as questões polí- ticas e econômicas, esse mapeamento foi direcionado para a porção sul do território da América portuguesa e para a sua já conhecida região das minas. (COSTA, 2007, p.117)

Conforme aumentava o povoamento desenfreado das terras mineiras, tornou-se ne- cessário maior controle da Coroa portuguesa no território. Os mapas eram, portanto, valiosos instrumentos de domínio e controle administrativo, como explica Otávio Brito, na apresentação da obra “Cartografia das Minas Gerais: da capitania à província” (COSTA et al., 2002):

A história da ocupação territorial e da exploração econômica das Minas Gerais se confunde com o nascimento da cartografia da região. Tratava-se de conhecer para melhor dominar e administrar a área que, a partir do século XVIII, se configurava como a mais populosa e rica do império português. (BRITO, 2002)

Alguns autores, inclusive alguns já citados neste trabalho, se destacaram:

Alguns dos grandes momentos da cartografia que abrangem o território mineiro na sua totalidade podem ser associados, no período Colonial, à produção do Pe. Jacobo Cocleo (ca. 1700), dos padres matemáticos Diogo Soares e Domingos Capassi (ca. 1734/35), de José Joaquim da Rocha (1778), de Antônio Pires da Silva Pontes Leme (1798) e do Barão d’Eschwege (1821). (COSTA, A. G. et al., 2002, p.53)

É reconhecível a relação entre o mapa, o espaço representado, assim como o con- texto histórico em que o mapa foi produzido. Desse modo, cartografia e história estão indisso- ciavelmente ligadas:

O estudo da cartografia da região das minas dos Setecentos e dos Oitocentos não pode ser desvinculado de sua dimensão histórica e simbólica. Um mapa é sempre represen- tação de um espaço, e é claro que mantém uma íntima relação com a área que ele delimita, mas, como é sempre idealização do autor, só pode ser compreendido dentro de sua linguagem simbólica. Também não existe, nem nunca existiu, uma linguagem cartográfica única, universal e imutável. Todo mapa é um conjunto de signos, símbo- los, que só podem ser compreendidos a partir dos elementos da própria cultura na qual ele foi formulado. Por isto, cartografia e história estão indissociavelmente ligadas, pois só a segunda nos permite decodificar os signos de que a primeira se utilizou. (COSTA, et al. 2004, p.13)

É pertinente explicitarmos a ressalva de que a Cartografia adquire amplo alcance, em razão do mapa ser compreendido como um signo de outras naturezas. Essa afirmação se fundamenta na perspectiva de que os mapas são produzidos de acordo com a intenção, objetivos e interesses de quem os propõem e na adequada decodificação de quem os “recebe” para que a comunicação se efetive. Esse cenário torna os signos47usados importantes peças na comunica- ção desejada. Esse assunto será explicado no capítulo intitulado “Procedimentos metodológi- cos” ao apresentarmos os acidentes geográficos compreendidos nos mapas usados neste traba- lho.

De acordo com Menezes e Fernandes (2013, p.18) a Cartografia é, ao mesmo tempo, uma ciência, uma arte e uma técnica, tendo em vista todas as atividades que compreende, desde o levantamento de campo ou da pesquisa bibliográfica até a impressão definitiva e à publicação do mapa elaborado. Logo, os mapas são importantes fontes de informações que po- dem ser usadas em diversos campos do conhecimento, de acordo com os objetivos do pesqui- sador, como discorrem Menezes e Fernandes:

Para um elevado número de aplicações, é indiscutível a importância da estrutura de representação da informação geográfica, em essência dos mapas e da Cartografia. Com eles se pode representar todos os tipos de informações geográficas, bem como a estrutura, função e relações que ocorram entre eles. Pela caracterização de suas apli- cações, pode-se utilizá-los em quaisquer campos do conhecimento que permitam vin- cular a informação à superfície terrestre. (MENEZES, FERNANDES, 2013, p.21)

O mapa apresentado a seguir tem autoria desconhecida e é o documento cartográ- fico mais antigo de representação da Capitania de Minas Gerais do qual se tem conhecimento atualmente:

47 Compreendemos signo como ‘“um elemento A – de natureza diversa, substituto de B”, de acordo com Dubois

et al. (1978, p. 541). No signo cartográfico, o “elemento A”, pode corresponder a sinais gráficos, ícones, ou sím- bolos que, conformando uma feição cartográfica, refere-se a um acidente geográfico da área representada – o “elemento B”’. (SANTOS, SEABRA, MENEZES, 2017)

Mapa 6 - “Carta geographica da capitania de Minas Geraes, e partes confinantes”: produzido em 1767

No documento GEOMORFOTOPÔNIMOS HISTÓRICOS (páginas 59-64)