• Nenhum resultado encontrado

A estrutura do topônimo

No documento GEOMORFOTOPÔNIMOS HISTÓRICOS (páginas 32-35)

Mapa 10 – Geomorfotopônimos que nomeiam capelas e paróquias representados no mapa

1.4 A estrutura do topônimo

Baseando-se em Dick (1990b, p.10), os topônimos (topos = lugar) apresentam uma relação binômica, pois, se ligam ao acidente geográfico que identificam e singularizam. É

pertinente explicitarmos a utilização, neste trabalho, da expressão “acidente geográfico” por meio do respaldo em Santos, Seabra e Menezes (2017)13:

um acidente do espaço geográfico pode ser relacionado às suas definições, mais e menos difundidas entre os estudiosos, mas clássicas e dicionarizadas, a saber: mani- festações contrastantes do terreno em comparação com as áreas circunvizinhas (OLI- VEIRA, 1993; HOUAIS, 2004), ou qualidade ou propriedade não permanente de um sujeito (HOUAISS, 2004), no caso, um lugar. Embora as duas acepções sejam de in- teresse, é a segunda que se considera mais produtiva, tendo em vista os estudos de geografia e de toponímia histórica, pois é consoante, de um lado, a uma característica fundamental do espaço geográfico – sua mutabilidade, inexorável, mesmo que à es- cala da vida humana, nem sempre essas mudanças possam ser percebidas –; e, de outro, à perspectiva teórico-metodológica diacrônica que se pode imprimir nos estu- dos em questão. (SANTOS, SEABRA, MENEZES, 2017)

Segundo o que os autores apresentam, a compreensão de acidente geográfico como propriedade não permanente de um lugar torna-se adequada tratando-se da Toponímia e, prin- cipalmente, da Toponímia Histórica, como este trabalho contempla.

Dick (1990a, p.39) considera como acidente geográfico físico: “rio, lago, morro, montanha, etc..” e acidente geográfico humano: “vila, povoado, cidade, rodovia, ponte, etc...”. Dessa maneira, constitui-se o sintagma toponímico: formado pelo termo genérico (relacionado ao acidente geográfico denominado) e o termo específico (o topônimo), associando-se de ma- neira justaposta ou aglutinada, conforme a natureza da língua. O rio do Boi (MG), por exemplo, constitui-se de maneira justaposta. Parauna (“rio negro”), como apresenta Dick (1990b, p.10), constitui-se de forma aglutinada.

Dick (1990b, p.13-14), expõe a seguinte classificação:

• Topônimo ou elemento específico simples: constituído por um só formante, podendo, também, apresentar sufixos. Ex.: Alminhas (cach. das RS).

• Topônimo composto ou elemento específico composto: quando apresenta mais de um elemento formador. Salienta Dick (1990b, p.13-14) a possibilidade de gerar, às vezes, formações inusitadas como Fôlego do Sergio (AH BA).

• Topônimo híbrido ou elemento específico híbrido: constituído por termos de diferentes origens linguísticas. Ex.: Lajinha do Mutum (AH MG), uma vez que seja constituído por Lajinha (origem portuguesa) e Mutum (origem indígena Tupi)14.

13SANTOS, M. M. D. dos; SEABRA, M. C. T. C. de; MENEZES, P. M. L. de. A memória toponímica dos vales

dos rios Paraopeba e São Francisco, Província de Minas Gerais, no croquis topográfico de James Wells, de 1874. Arquivos do Museu de História Natural e Jardim Botânico, Belo Horizonte, v. 26, dez. 2017. (No prelo).

14 De acordo com Navarro (2013, p.320) mutum, de origem indígena (Tupi) é o nome genérico de aves galiformes

Exemplificamos, também, por meio de topônimos que pertencem ao corpus deste trabalho, coletados do Repositório de Dados15: “Chapada” (atualmente o município figura “Chapada do Norte”, MG) exemplifica o topônimo simples e “Campanha de Toledo” (municí- pio atualmente denominado “Toledo”, MG) exemplifica o topônimo composto. No corpus deste trabalho, não há topônimos híbridos, mas exemplificamos por meio de outros retirados do Repositório de Dados: “Itambé do Mato Dentro” (munícipio atualmente denominado “Con- ceição do Mato Dentro”, MG) é constituído por “Itambé” (origem indígena, Tupi)16 e “Mato

Dentro” (origem portuguesa)17.

É necessário averiguar minuciosamente um sintagma toponímico para identificar o termo genérico e o específico, diferenciando-os. Por exemplo, em “rio Verde” (rio em MG) o item lexical “rio” é o termo genérico que identifica a natureza da entidade geográfica denomi- nada e “Verde” é o termo específico que o identifica, ou seja, o topônimo. Em “Rio Vermelho” (município em MG), ao contrário, o item lexical “Rio” não é o termo genérico, porque, junta- mente com o adjetivo “Vermelho”, nomeia o município brasileiro do estado de Minas Gerais, constituindo o topônimo composto “Rio Vermelho”. “Morro do Pilar” (município em MG) é outro exemplo de topônimo composto, já que o item lexical “Morro” não é o termo genérico, acrescido a preposição e artigo (de + o = do) e ao item lexical “Pilar” nomeiam o município mineiro, inclusive, esse topônimo integra o corpusdeste trabalho e revela que desde os oito- centos já figurava o arraial18 com essa denominação.

É importante evidenciar, também, a possibilidade do termo genérico se cristalizar e se transformar em um elemento específico, ou seja, em topônimo. Esse fenômeno é denominado toponimização, como apresenta Dick (2007, p.463)19, (apud Isquerdo 2012, p.134), “toponimi- zação do fator geográfico, isto é, o emprego do designativo do acidente em função

15 SANTOS, M. M. D. dos; SEABRA, M. C. T. C. de; COSTA, A. G. (Org.). Repositório de Dados: Toponímia

Histórica de Minas Gerais, do Setecentos ao Oitocentos Joanino – Registros em Mapas da Capitania e das Comar- cas. Belo Horizonte, MG: Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB/UFMG); Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHG/MG), 2017. Disponível em: <http://repositoriotoponimia.com.br/home>. Acesso em: jul. 2018.

16 De itá + aeîmbé, “pedras afiadas”. (NAVARRO, 2013, p.573)

17 Mato (mata), talvez do latim tardio matta (CUNHA, 2010, p.415). Dentro, do latim de + ǐntro (CUNHA, 2010,

p.205).

18 O termo “arraial” inicialmente, em Portugal, assumia o sentido de acampamento militar, algo provisório e tem-

porário. Durante o período de colonização em Minas Gerais o termo sofre alteração semântica ao ser compreendido como povoado, uma vez que perde o caráter de algo provisório. Esse acidente geográfico será explicado neste trabalho no capítulo intitulado “Procedimentos metodológicos” ao discorrermos sobre as informações operacionais dos mapas utilizados na pesquisa.

19 DICK, Maria Vicentina de Paula do Amaral. A terminologia nas ciências onomásticas. Estudo de caso: o projeto

ATESP (Atlas Toponímico do estado de São Paulo). In: ISQUERDO, Aparecida Negri; ALVES, Ieda Maria (Org.). As ciências do léxico. Lexicologia, Lexicografia e Terminologia. v. III. Campo Grande: Ed. UFMS; São Paulo: Humanitas, 2007. p. 459-471.

denominativa, como se fosse um nome”. Isquerdo apresenta a toponimização como um fenô- meno bastante recorrente e evidencia alguns exemplos da toponímia sul-mato-grossense: co-

rixo, “denominação regional do Pantanal de Mato Grosso, para os pequenos riachos permanen-

tes que ligam as baías” (GUERRA e GUERRA, 2008,20 apud ISQUERDO, 2012, p.134), é

toponimizado e gera topônimos como “córrego do Corixo”; “corixo Corixão”.

No documento GEOMORFOTOPÔNIMOS HISTÓRICOS (páginas 32-35)