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5.4 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA

5.4.1 Análise estrutural da TVBB

Observamos, à luz do desenho inicial elaborado pelo Banco do Brasil ao seu canal de TV, que a estratégia da Instituição financeira reuniu algumas características do que viria a ser uma TV Corporativa, segundo conceito que apresentamos anteriormente – associado ao conceito de TV segmentada.

Aceitando que a TV Corporativa configurou-se como um canal de comunicação interna, que permitiria em um primeiro nível a comunicação do banco com seus funcionários, percebemos que a instalação da TVBB não apresentou conceitualmente qualquer distinção do modelo vigente de comunicação televisiva segmentada, a não ser pela nomenclatura distinta – TV Corporativa –, que adotou para si.

O canal do banco do Brasil contou no início de sua formatação com estrutura identitária própria, apresentando vinhetas (desenhos sonoros e visuais) e programação horizontal37 estrategicamente elaborada para um público interno

restrito.

Como vimos, o início dos anos 1990 no Brasil foi marcado por uma série de fatores tecnológicos e sociais que potencializaram a confiança depositada na mídia televisiva como uma engrenagem capaz de reafirmar o potencial discursivo e imagético das Corporações.

O fenômeno da TV segmentada abriu caminhos para que empresas iniciassem um processo gradativo de investimentos na mídia televisiva. Este foi o caso do Banco do Brasil, que optou, inicialmente, por apostar em uma estrutura de TV segmentada voltada exclusivamente ao seu público interno (funcionários).

Ocorre que com a opção de elevar o nível de comunicação do canal da TV para clientes e investidores, o banco inicia um processo de profunda alteração na dinâmica operativa do canal, dando os primeiros sinais de conflito quanto sua tipificação, ou seja, a TVBB inicia o abandono à lógica de TV segmentada e segue para a lógica de TV massiva.

O aumento do investimento na forma de distribuição do conteúdo do canal via satélite para as agências do banco também prova essa migração. A fim de assegurar que o conteúdo da TVBB (já produzido de forma massiva) atingisse públicos externos, o satélite representou a consolidação desse plano de distribuição massiva, o que aproximou ainda mais o canal da TVBB do desenho proposto por nós anteriormente no palimpsesto do canal de TV.

Dessa forma, o ideário da TV Corporativa consolidado na TVBB começou a se perder. A migração da estratégia de canal segmentado para canal massivo terminou por embaralhar o processo de produção no canal, bem como impôs uma

37 A apresentação de um programa em uma mesma faixa horária cotidianamente constitui uma programação horizontal (JOST, 2007, p. 84).

ruptura quanto ao fator de acesso restrito inicialmente proposto para a TV Corporativa.

Aqui é preciso também ponderar o caráter de mediação (MARTIN-BARBERO, 2003) atribuído pelo novo sistema TV ao banco. A TVBB, inicialmente implantada, tornou-se uma grande ferramenta de mediação em que o processo operativo assegurou negociações internas (em nível da produção) e externas (em nível da recepção). Esta articulação feita pelo canal garantiu que uma competência de recepção fosse instalada e a instância de produção fosse inserida num mapa de mediação que, conforme comprovaremos mais adiante, não deteve o domínio para mantê-lo.

Ao longo do tempo, os custos para distribuição do conteúdo da TV via satélite não foram reduzidos, o que levou o banco a alterar essa estratégia de distribuição. A internet foi o caminho escolhido para disponibilizar os conteúdos da TVBB. Aqui um ponto relevante precisa ser considerado. Na migração para o ambiente virtual o banco busca retomar a lógica de TV segmentada inicialmente, com público-alvo restrito, implantada no canal.

Em 2010, o banco iniciou a redução da utilização do satélite e dos pontos de recepção do sinal nas agências, passando a adotar a internet como prioridade na disponibilização do conteúdo do canal. Atualmente, os programas da TVBB estão dispostos apenas na interface da internet do banco com acesso restrito aos funcionários. Ainda há, no plano de gestão da TVBB, a seleção de alguns programas para disponibilização na página oficial do banco na rede social de vídeos na internet

Youtube.

A partir dessa virtualização da distribuição, a estrutura do canal do banco foi totalmente reformulada. Este é o segundo momento marcante para a ruptura definitiva do ideário de TV Corporativa iniciado pelo banco. A não observância do processo comunicacional da TV levou a Instituição a manter uma estrutura de produção de TV semelhante ao palimpsesto, e uma estrutura de distribuição que não preservou as características que apontamos como fundamentais para caracterização do canal de TV.

O Banco optou por disponibilizar os conteúdos da TV, prioritariamente, na intranet. Para ter acesso aos conteúdos, o funcionário acessa a rede interna com

são inseridos os programas produzidos pela estrutura de TV do banco, seguindo uma organização apenas nominal.

Após login e senha na intranet38, os funcionários tem à sua disposição o link

para a página exclusiva da TV, que apresenta seções variadas para os programas categorizados em bastidores, entrevistas, “Eu quero saber”, notícias e tendências. Como se percebe pela análise dessa plataforma, não foi mantida a grade de programação e os elementos identitários que propomos para a consolidação de um canal de TV.

Podemos verificar na Figura 5 a estrutura central da plataforma que abriga atualmente o conteúdo da TVBB.

Figura 5 – Tela inicial da TVBB na intranet do Banco

Percebemos que a indefinição do público-alvo foi mantida mesmo após a migração da distribuição para a internet. Mantendo o anseio de atingir tanto funcionários quanto investidores e clientes, ou seja, um público mais generalizado, a estratégia foi disponibilizar os vídeos da TVBB também na conta oficial do banco no Youtube. Contudo, essa indefinição gerou no conteúdo audiovisual produzido pelo banco um conflito de gêneros, conforme veremos na análise da próxima categoria.

38 Rede interna, fechada e exclusiva, com acesso somente para os funcionários de uma determinada empresa comumente liberada somente no ambiente de trabalho e em computadores registrados na rede corporativa.

O logo aplicado pela TVBB foi mantido da estrutura inicialmente proposta para o canal. Na cor azul, com aplicação em fundo branco, o logo preserva a distinção da plataforma no tocante ao conteúdo restrito da TVBB, com relação às demais abas e menus na plataforma da intranet, que apresentam identidade visual distinta uma das outras. Isso implica dizer que o conteúdo disponibilizado na aba da TVBB está associado à produção televisiva e que dessa forma há uma tentativa de organização que separe os arquivos audiovisuais de outros materiais.

O logo apenas é utilizado na página da intranet, não sendo aplicado em canoplas de microfones nem nas vinhetas dos programas dispostos no ambiente virtual (veremos mais adiante na análise dos programas). Também não é utilizado no canal oficial do banco no Youtube.

Figura 6 – Marca da TVBB na intranet do Banco

Ao clicar botão da TVBB disponível na intranet, o funcionário do banco tem acesso a dois menus intitulados Página Inicial e Programação. A tela inicial já corresponde à página inicial da TVBB na intranet.

A página inicial oferta vídeos aleatórios que são postados mediante o fluxo de produção da TVBB. Nesta aba, são atualizados os vídeos conforme a produção e não há uma lógica de organização ou separação dos vídeos por assuntos, duração ou por gêneros televisuais. Logo, a ideia de grade de programação está evidentemente suprimida desta nova proposta de configuração da TVBB na internet.

Os vídeos estão dispostos com título, um breve descritivo do seu conteúdo e um botão link para “saber mais”, que direciona para uma tela na qual é possível assistir ao vídeo.

No menu Programação não há qualquer estrutura de organização que nos remeta a nenhum dos tipos de grade (horizontal, vertical ou diagonal), conforme apontaremos mais adiante na categoria “natureza geral das emissões”.