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ANÁLISE ESTRUTURAL DE UMA MEDIDA DA AUTONOMIA NA TOMADA DE DECISÃO DE CARREIRA

José Manuel Tomás da Silva Universidade de Coimbra

jtsilva@fpce.uc.pt

RESUMO: A tomada de decisão é um elemento chave no processo de escolha vocacional.

Tradicionalmente, tanto as teorias do comportamento vocacional como os modelos de tomada de decisão de carreira (TDC) enfatizaram as dimensões cognitivas deste processo em detrimento dos factores afectivo-motivacionais igualmente implicados na organização de respostas adaptativas às tarefas de escolha vocacionais. Embora os processos cognitivos desempenhem um papel incontestável nas tarefas de decisão de carreira, hoje sabemos que as emoções e outros factores afectivo-motivacionais constituem igualmente determinantes significativos do funcionamento adaptativo da tomada de decisão. O objectivo deste trabalho é apresentar alguns dados psicométricos acerca de um novo instrumento que avalia o construto de autonomia na tomada de decisão de carreira, numa amostra de estudantes universitários. As análises estatísticas efectuadas revelam que o instrumento permite realizar observações com um bom nível de precisão (alfas de Cronbach variam entre .86 e .94, consoante o factor considerado). Ademais, através da técnica de análise factorial exploratória, verificámos que os itens mostram um bom ajustamento com o modelo de medida proposto. Por fim, discutem-se as potencialidades dos resultados para a distinção de distintas formas de indecisão de carreira.

Introdução

Os seres humanos precisam de tomar decisões constantemente. Muitas destas decisões são triviais e fáceis de tomar, mas há decisões que devido à sua complexidade e potenciais consequências para a vida das pessoas, são bastante mais difíceis de efectuar. As decisões no domínio da carreira fazem parte do grupo referido por último. De facto, as decisões relativas à carreira têm implicações que não se confinam ao domínio estritamente laboral, tendo impacto em muitas outras facetas importantes da vida das pessoas, designadamente no seu estilo de vida, no tipo de relacionamentos que mantêm e com quem habitualmente socializam, nas actividades de lazer a que se dedicam e, em última análise, a nível da qualidade de vida e do bem-estar geral que usufruem (Silva, 2010). Para além das inúmeras implicações individuais, as decisões vocacionais comportam também consequências sociais que não devemos escamotear (Sauermann, 2005).

Decidir – “o acto ou o processo de escolha de uma opção ou de um curso de acção preferido a partir de um conjunto de alternativas” (Colman, 2006, p. 192) – pode revelar-se bastante difícil para muitas pessoas que, por esse motivo, se sentem

compelidas a procurar a ajuda de profissionais (Mitchell & Krumboltz, 1984; Silva, 2004). Considerando que a tomada de decisão é um elemento chave no processo de escolha vocacional não é surpreendente a atenção que tem vindo a ser dispensada a esta matéria, ao longo do tempo, pelas teorias e modelos do comportamento vocacional (Crites, 1969; Gati & Tal, 2009; Mitchell & Krumboltz, 1984; Sauermann, 2005; Silva, 2004).

Tendo em consideração o papel relevante que é concedido ao processo de deliberação entre as opções educativas e profissionais, as principais teorias do comportamento vocacional (Holland, 1997, Dawis, England, & Lofquist, 1964 e Super, 1990), paradoxalmente, têm sido frequentemente criticadas por não apresentarem uma descrição suficientemente detalhada do modo como as pessoas efectivamente decidem, i.e., não incluírem um modelo formal de tomada de decisão (Brown, 1990). Para colmatar esta lacuna, na segunda metade do século passado, foram progressivamente introduzidos na literatura diversos modelos de tomada de decisão de carreira (TDC), os quais, segundo Harren (1979), oferecem uma descrição sistemática e suficientemente pormenorizada do processo psicológico no decurso do qual se organiza a informação disponível, se delibera entre as alternativas e, por fim, se adere a um curso de acção definido.

Os modelos de TDC, apesar de constituírem uma melhoria relativamente às teorias clássicas do comportamento vocacional, não deixaram, mesmo assim, de serem alvo de várias críticas (Gati & Tal, 2009; Krieshok, 1998; Phillips & Jome, 2005). Em particular, os modelos normativos da TDC (Gati & Tal, 2009) são criticados pelo seu pendor excessivamente racionalista e, sobretudo, por assentarem numa imagem demasiado irrealista acerca das capacidades cognitivas do ser humano, particularmente em contextos de elevada incerteza e risco (Krieshok, 1998; Simon, 1965; Silva, 2010). É igualmente verdade que os modelos de TDC, em geral, desconsideraram o papel que outro tipo de variáveis para além das cognitivas, nomeadamente as afectivo-motivacionais, desempenham no processo de decisão (Damásio, 1994; Fridja, 1993; Kidd, 1998; Lazarus, 1991). Uma revisão da literatura pertinente na área do comportamento vocacional mostra-nos, porém, que as investigações sobre a TDC ainda não reflectem suficientemente os avanços que nas últimas décadas foram alcançados nos campos da neuropsicologia e da motivação humana (Bechara, Damasio, Damasio &

Anderson, 1994; Bechara, Damasio, Damasio & Lee, 1994; Guay, Senécal, Gauthier, & Fernet, 2003; Damasio, 1994; Reeve, Nix, & Hamm, 2003; Ryan, & Deci, 2000). Em particular, os factores motivacionais subjacentes ao processo de TDC não têm recebido dos investigadores do comportamento vocacional e dos estudiosos da carreira a atenção que merecem, apesar de, hoje em dia, poucos duvidarem do papel que estes mecanismos desempenham no funcionamento adaptativo dos indivíduos (Deci & Ryan, 2000; Guay et al., 2003; Ryan & Deci, 2000).

Embora a distracção dos investigadores do comportamento vocacional a respeito dos factores emocionais e volitivos possa dever-se a múltiplas razões, o facto de não terem sido criadas medidas específicas para avaliar as dimensões volitivas, no âmbito das escolhas vocacionais, é seguramente uma delas.

A lacuna referida pode estar, porém, em vias de ser resolvida, pois, recentemente F. Guay propôs e, posteriormente testou empiricamente, uma nova medida da motivação para a escolha vocacional (e.g., Guay, 2005).

Esta nova escala, denominada Career Decision-Making Autonomy Scale (CDMAS), está baseada na teoria humanista da motivação, desenvolvida por Deci e Ryan (1985; Deci & Ryan, 2000; Ryan & Deci, 2000; Ryan & Deci, 2002). A teoria da autodeterminação (Self-Determination Theory: SDT) pretende responder à questão ancestral: como é que as pessoas encontram energia, mobilizam esforços e persistem nas tarefas de vida e do trabalho? A metateoria que subjaz à SDT é a perspectiva organísmica, i.e., uma visão que parte do pressuposto que os seres humanos são organismos activos, tendencionalmente orientados para o crescimento, para dominar os desafios ambientais e esforçando-se por integrar novas experiências num sentido coerente de si mesmo. Formalmente a SDT é composta por cinco mini-teorias cada uma intencionando explicar um conjunto discreto (faceta) de fenómenos motivacionais. Na elaboração da CDMAS, Guay (2005) recorreu às mini-teorias que tratam da motivação intrínseca (motivação que se baseia nas satisfações que resultam do comportamento em sim mesmo) e das distintas formas de motivação extrínseca e do seu grau de internalização, respectivamente a Cognitive Evaluation Theory e Organismic Integration Theory (Deci & Ryan, 2002).

Uma ideia central da SDT, igualmente aplicada por Guay (2005) na construção da CDMAS, é que os indivíduos diferem na importância que atribuem às três necessidades

psicológicas básicas, nomeadamente autonomia, competência e relacionamento. Qualquer uma destas três necessidades precisa de ser satisfeita para que a pessoa experiencie um sentido de bem-estar. A CDMAS incide somente na necessidade de autonomia, ou seja, nos esforços que indivíduos fazem para sentirem que têm escolha na iniciação, manutenção e regulação do comportamento (Guay, 2005). De acordo com a SDT os diferentes tipos de motivação podem ser localizados num contínuo de autodeterminação (Deci & Ryan, 1985). Num dos polos do contínuo localiza-se a motivação intrínseca reflectindo o grau mais elevado de autodeterminação, ou de autonomia comportamental. Esta diz respeito ao envolvimento numa actividade por ela mesma e pelo sentimento de prazer e de satisfação que se retira dessa participação. As distintas formas de motivação extrínseca, por sua vez, referem-se a comportamentos instrumentais, ou seja, ao envolvimento numa actividade como um meio para atingir um fim ulterior, em vez de ser apenas pelas qualidades intrínsecas da mesma (Guay, 2005).

Contrariamente a outras perspectivas teóricas a SDT propõe que a motivação extrínseca varia bastante em termos de autodeterminação (Deci & Ryan, 2000). Do nível de regulação mais baixo para o mais alto teremos, respectivamente, as formas de regulação externa, introjectada, identificada e integrada. A regulação externa é aquela que resulta quando o comportamento é controlado por contingências externas específicas (e.g., recompensas, punições). A introjecção implica que o indivíduo interiorize as regulações externas e as mantenhas numa forma relativamente isomórfica com a sua forma externa (internalização parcial). O processo através do qual as pessoas reconhecem e aceitam o valor subjacente de um dado comportamento é denominado de identificação. É uma forma mais avançada de internalização uma vez que o individuo realiza um comportamento por sua escolha e porque acredita que este é importante para os seus objectivos de vida. A integração da regulação é a forma mais internalizada e completa de motivação extrínseca (Deci & Ryan, 2000), uma vez que esta comporta não só a identificação com a importância dos comportamentos mas ainda a integração dessas identificações com outros aspectos do self. Este tipo de regulação da motivação é difícil de diferenciar da identificação e, por isso, muitas vezes surgem ambas combinadas no mesmo conceito de (maior) internalização da motivação. A CDMAS avalia as três primeiras formas de regulação da motivação (externa, introjectada e identificação) e a motivação intrínseca, propriamente dita (Guay, 2005).

A investigação realizada nos últimos trinta anos sobre os tipos de regulação da motivação, em geral, revela que estas diferentes formas de motivação são úteis para explicar e predizer o comportamento dos indivíduos em diferentes domínios de funcionamento psicossocial (para uma revisão, vide Deci & Ryan, 2002).

Método

Objectivos

O principal objectivo do presente estudo é apresentar alguns dados preliminares a respeito das propriedades métricas, da adaptação que realizámos da CDMAS para o Português Europeu. Em primeiro lugar, apresentaremos informação sobre a precisão dos scores, nomeadamente a respeito da estimação da consistência interna dos resultados. Neste caso espera-se que os quatro tipos motivacionais revelem níveis de consistência adequados (>.7). Em segundo lugar, examinaremos a dimensionalidade das respostas aos itens da CDMAS, recorrendo para o efeito à técnica estatística de análise factorial exploratória (AFE). Mais especificamente, neste caso, formulou-se a hipótese de que a AFE dos 32 itens da CDMAS extrairá quatro factores teoricamente interpretáveis e que cada um dos itens correlacionará de modo saliente e significativo (>.5) no respectivo factor teórico.

Amostra

Neste estudo recorremos a uma amostra não-probabilística de cento e cinquenta e dois respondentes que frequentavam o primeiro ano, da primeira fase, do Mestrado Integrado em Psicologia (MIP), na Universidade de Coimbra. O plano de investigação é de tipo não experimental, ou correlacional, e a recolha de dados foi feita via questionário. A amostra incluiu 17 estudantes do sexo masculino e 135 (88.8%) estudantes do sexo feminino. A média etária dos respondentes é de 19.2 anos (DP = 3.9 anos), anote-se, porém, que um dos estudantes não respondeu a esta questão.

Instrumentos

Career Decision-Making Autonomy Scale (CDMAS). A CDMAS é uma escala de autoavaliação sumativa de tipo Likert, desenvolvida por Guay (2001, 2005) para avaliar os tipos de regulação motivacional propostos pela teoria da autodeterminação (SDT: Deci & Ryan, 1985). Estruturalmente a CDMAS está baseada num instrumento

previamente elaborado por Sheldon e Elliot (1998) para medir a orientação auto-regulada para objectivos.

Formalmente a CDMAS consiste em oito actividades implicadas no processo de decisão de carreira (Guay, 2005): (a) procurar informação sobre as carreiras, (b) procurar informação acerca de programas escolares/educativos, (c) identificação de opções para um programa escolar/educativo ou uma carreira, (d) trabalhar arduamente para alcançar um objectivo de carreira, (e) identificação de opções de carreira em linha com um objectivo de carreira, (f) identificação dos passos necessários para concluir um programa de estudos, (g) identificação do que é mais importante para a pessoa numa opção de carreira, e (h) identificação da opção de carreira que é congruente com os nossos interesses e personalidade. Para cada uma das actividades, o respondente escolhe, de entre quatro itens, qual a afirmação que melhor traduz a razão por que participa, ou poderia participar, na actividade em causa.

Um dos itens avalia a motivação intrínseca (i.e., realizar a actividade pelo simples prazer envolvido nessa realização), enquanto os outros três itens avaliam três tipos distintos de motivação extrínseca (Guay, 2005): identificada (i.e., por que acredito que esta actividade é importante), introjectada (i.e., por que me sentiria culpado e ansioso se não fizesse esta actividade) e regulação externa (i.e., por que outra pessoa quer que eu faça isso ou por que obteria alguma coisa de alguém se fizesse isso – recompensa, elogio, aprovação). As avaliações a cada item são efectuadas numa escala com 7 pontos (1 “Não corresponde de todo”, 7 “Corresponde muito fortemente”).

A CDMAS é composta por 32 itens a partir dos quais são derivados os scores para os 4 tipos de auto-regulação motivacional (motivação intrínseca, identificada, introjectada e regulação externa). Através do procedimento de análise factorial confirmatória, Guay (2005) obteve uma boa qualidade de ajustamento dos itens ao modelo hipotético, tendo ainda comprovado a invariância da estrutura em ambos os sexos. As estimativas da homogeneidade das respostas por subescala, recorrendo ao coeficiente alfa de Cronbach, e calculadas em três momentos de avaliação na mesma amostra de sujeitos, revelaram ser bastante adequadas, com os valores de consistência interna, a situarem-se entre .91 e .95 (Guay, 2005).

Outras facetas da validade de construto dos scores da CDMAS revelaram-se também adequadas. Por exemplo, as correlações entre as subescalas aproximaram-se do

padrão quasi-simplex idealizado, e o padrão da relação dos scores das subescalas com um conjunto de outras variáveis psicológicas (e.g., neuroticismo, autoestima, indecisão de carreira, autoeficácia na decisão de carreira e relacionamento com pais e pares) mostrou-se congruente com as hipóteses derivadas da teoria vocacional.

Finalmente, os testes da validade convergente e discriminante dos scores da CDMAS, executados na matriz MTMM revelaram-se, na generalidade, adequados. Em suma, a CDMAS revelou uma qualidade psicométrica adequada nos parâmetros examinados.

Na adaptação para a língua Portuguesa (Português Europeu) da CDMAS seguimos os procedimentos recomendados na literatura para a tradução e adaptação transcultural de instrumentos de avaliação psicológica (e.g., International Test Commision, 2010; van de Vijver & Hambleton, 1996). Em particular, na tradução dos materiais (instruções, itens) adoptámos o método da tradução e retradução; as duas versões (em língua inglesa) foram comparadas e as discrepâncias existentes foram resolvidas caso a caso pelos dois tradutores.

Procedimento

Um questionário, contendo os 32 itens da CDMAS, versão de Português Europeu, assim como ainda uma série de outras escalas (não usadas neste estudo) e um breve conjunto perguntas de caracterização sociodemográfica (e.g., sexo, idade) foi administrado no decurso de uma aula frequentada por todos os estudantes do primeiro ano do curso de MIP, da Universidade de Coimbra. Seguindo as normas aplicáveis à investigação psicológica com seres humanos, a informação acerca dos objectivos do estudo foi fornecida oralmente a todos os estudantes pelo investigador. Os respondentes foram ainda informados de que podiam terminar a sua participação no estudo em qualquer momento sem incorrerem em qualquer tipo de sanção ou penalização, e, ademais, foi-lhes assegurado que as suas respostas seriam absolutamente confidenciais. Todos os estudantes presentes consentiram em participar no estudo. A administração total do questionário demorou aproximadamente 20-25 minutos.

Resultados

Os dados foram submetidos a um exame preliminar com o objectivo de determinar eventuais anomalias, incluindo a frequência de valores omissos, de valores

inadmissíveis e análise de potenciais desvios das observações da normalidade. Neste processo detectámos um pequeno número de valores omissos no conjunto das variáveis analisadas, tendo-se, por esse facto, optado por usar o método listwise como forma de lidar com esta situação. Assim, nas análises correlacionais que iremos apresentar abaixo o efectivo da amostra foi reduzido de 4 casos (n=148). De seguida focámos a análise nas respostas aos itens da CMDAS, tendo-se para o efeito calculado diversas estatísticas descritivas e de precisão das medidas (consistência interna estimada pelo coeficiente alfa de Cronbach). Procedemos ainda ao cálculo dos coeficientes de correlação de Pearson entre os scores dos distintos tipos de regulação da motivação avaliados pela CDMAS. O Quadro I apresenta as médias e os desvios-padrão para as subescalas do instrumento, inclui-se ainda a matriz de intercorrelações das subescalas e os valores de consistência interna de cada uma delas.

Quadro I – Médias, desvios-padrão (DP), coeficientes de Pearson e estimativas de consistência interna para os scores da CDMAS

Média DP 1 2 3 4 Tipo de motivação 1. Regulação externa 1.64 1.00 (.94) 2. Introjectada 3.36 1.62 .40 (.94) 3. Identificada 5.81 .84 -.16 -.06 (.86 ) 4. Motivação intrínseca 5.08 1.15 -.09 -.21 .58 (.89)

Nota: Os coeficientes alfa de Cronbach surgem na diagonal (entre parêntesis); r’s de Pearson a negrito estatisticamente significativos ao nível de .01 (bilateral).

Considerando que as respostas foram registadas numa escala de tipo Likert com 7-pontos, podemos concluir que os estudantes apresentam resultados abaixo do ponto médio nas subescalas motivacionais de regulação externa e introjectada, obtendo-se um padrão inverso para os tipos de regulação identificada e de motivação intrínseca.

O padrão de correlações entre os quatro tipos de regulação da motivação aproxima-se do continuum de controlabilidade dos tipos de motivação postulado pela SDT (Deci & Ryan, 2000). As subescalas com um locus de causalidade externo (regulação externa e introjectada) correlacionam positiva e significativamente (r=.4, p <.01, r2=.16), o mesmo se constatando para os tipos de regulação com um locus de

causalidade mais interno (regulação identificada e motivação intrínseca), para os quais se observou um r=.58, p<.01, r2=.34. A força das correlações, do ponto de vista do tamanho do efeito, pode definir-se como pequena e moderada, respectivamente. A correlação entre o tipo de regulação introjectada e a motivação intrínseca é também estatisticamente significativa, mas negativa, como seria expectável (r=-.21, p<.01), embora, o tamanho do efeito, neste caso, seja pequeno (r2=.04). As demais correlações não diferem estatisticamente de zero.

Análises mais detalhadas das respostas aos itens da CDMAS, nomeadamente a nível das medidas de tendência central, de variabilidade e de assimetria não detectaram quaisquer anomalias no comportamento psicométrico dos itens. No entanto, a análise dos coeficientes de achatamento (ou curtose) revelaram que 8 itens apresentaram valores algo discrepantes da normalidade.

As estimativas de consistência interna para os scores das subescalas, localizadas entre .86 e .94, podem descrever-se como “boas” para as subescalas motivação intrínseca e regulação identificada e “excelentes” para os tipos de regulação externa e introjectada (Kline, 1999).

Apesar dos valores dos coeficientes alfa sugerirem que as respostas nos itens das distintas subescalas formam conjuntos com homogeneidade adequada, o teste exacto desta hipótese deve fazer-se com recurso a técnicas estatísticas de redução de dados, nomeadamente através da análise factorial. De acordo com este pressuposto a matriz dos scores dos respondentes aos 32 itens da CDMAS foi submetida a uma análise factorial exploratória (AFE), tendo-se recorrido para extracção dos factores ao método de Factorização do Eixo Principal (PAF: Principal Axis Factoring), seguida de uma rotação Varimax. Apesar do tamanho da amostra ser borderline para este tipo de análise multivariada, tanto o índice de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO=.82) como a estatística de esfericidade de Bartlett (4001.4; gl=496; p<0.001), sugerem que os dados satisfazem os requisitos necessários para a realização da mesma.

A determinação do número do número de factores foi decidido conjugando informação proveniente de diversos procedimentos recomendados na literatura (Ferrando & Anguiano-Carrasco, 2010; Zwick, & Velicer, 1986), todavia, na decisão que tomámos valorámos especialmente a informação fornecida pela Análise Paralela (Timmerman & Lorenzo-Seva, 2011), que efectuámos com base em 500 matrizes de

correlações aleatórias. Com base nesta análise apenas as primeiras quatro componentes devem ser retidas, afinal uma solução em total concordância com o modelo teórico da CDMAS (Guay, 2005). O scree plot mostrou também que as primeiras quatro componentes se destacam das demais. No Quadro II apresentamos um breve sumário da AFE.

Quadro II – Factores, saturações factoriais dos itens (matriz de rotação Varimax) e percentagem de variância comum explicada pelos factores

Tipos Motivacionais/Factoresa N.º do item (Saturação/Coeficiente) % Variância Regulação Externa 1 (.75); 5 (.81); 9 (.76); 13 (.82); 17 (.85); 21 (.85); 25 (.89); 29 (.75) 17.6 Regulação Introjectada 2 (.75); 6 (.77); 10 (.80); 14 (.82); 18 (.74); 22 (.87); 26 (.81); 30 (.77) 17.1 Motivação Intrínseca 4 (.61); 8 (.58); 12 (.72); 16 (.67); 20 (.73); 24 (.67); 28 (.62); 32 (.67) 13.2 Regulação Identificada 3 (.56); 7 (.69); 11 (.76); 15 (.67); 19 (.30); 23 (.55); 27 (.65); 31 (.71) 12.2

aOs factores foram ordenados em função da percentagem de variância explicada. O item 19 (sublinhado) foi o único a apresentar uma carga factorial, no respectivo factor, inferior a .50.

A solução factorial, após aplicada a rotação Varimax, explicou 60% da variância comum, tendo-se a variância repartido pelos quatro factores de acordo com os valores que constam na última coluna do Quadro II. Todos os itens da CDMAS, com uma excepção, saturaram salientemente (i.e., >.5) no respectivo factor. Apenas o item 19 (pertencente à subescala de regulação identificada) falhou este critério, tendo correlacionado .3 com o factor alvo (este item apresentou um coeficiente de .37 no factor de motivação intrínseca, tendo sido esta a carga factorial mais elevada deste item). As cargas factoriais de cada um dos itens no respectivo factor encontram-se no Quadro II e, como pode comprovar-se, em geral, estão bem acima do limiar que