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RELAÇÕES ENTRE DISCIPLINAS ESCOLARES E INTERESSES PROFISSIONAIS

Karen Cristina Alves Lamas Ana Paula Porto Noronha Universidade São Francisco karen_lammas@yahoo.com.br

RESUMO: A Teoria Sociocognitiva do Desenvolvimento de Carreira indica que as experiências

de aprendizagem, inclusive aquelas vivenciadas na escola, contribuem para a formação dos interesses profissionais. O objetivo deste estudo foi verificar a associação entre disciplina preferida e áreas de interesses. Participaram 84 alunos, ambos os sexos, que frequentavam o segundo e o terceiro anos do Ensino Médio de uma escola pública do estado de Minas Gerais, Brasil. Foi aplicado um questionário com questões sociodemográficas e acadêmicas e a Escala de Aconselhamento Profissional (EAP), que avalia preferências por atividades profissionais. Por meio de análises de variância, verificou-se que os estudantes quando agrupados segundo a preferência pelas disciplinas apresentaram perfis variados nas dimensões da EAP. Por exemplo, o grupo que prefere disciplinas relacionadas a Ciências Humanas teve maiores médias nas dimensões Entretenimento e Ciências Humanas e Sociais, também quando comparado aos demais grupos. Conclui-se que gostar da disciplina pode contribuir para o desenvolvimento dos interesses profissionais, embora não o determine diretamente. Esses achados reforçam a importância dos professores explorarem suas disciplinas de forma a favorecer a definição das preferências profissionais. E, os orientadores têm mais uma evidência empírica de que podem utilizar informações acadêmicas como parte da avaliação dos interesses.

Introdução

As respostas que o indivíduo dá a questões relacionadas ao trabalho ou ocupação ao longo de toda a vida configura o que se chama de desenvolvimento de carreira (Savickas, 2002). Etapa importante dentro desse processo se refere à escolha e implementação de uma profissão. Entretanto, alguns jovens têm seu desenvolvimento acadêmico ou profissional interrompido devido a escolhas equivocadas (Bardagi & Hutz, 2009). Nessa fase, ter conhecimento sobre características psicológicas, como valores, habilidades e interesses profissionais é fundamental. Dentre essas variáveis, os interesses profissionais se destacam ao indicar a direção do comportamento do indivíduo no mundo trabalho (Savickas, 1995).

Conceitualmente, o interesse pode ser entendido como um estado de consciência, caracterizado por prontidão para pensar ou responder a um estímulo específico do ambiente, como objetos, atividades, pessoas e experiências. Enquanto traço, entende-se uma tendência de resposta disposicional, consistente e estável, a um determinado grupo de estímulos ambientais (Savickas, 1999).

Embora, os estudos sobre os interesses sejam realizados desde o início do século XX, ainda há questões que precisam ser investigadas sobre as variáveis que contribuem para a sua formação, inclusive quando se trata do papel dos contextos socioculturais. Pois, o desenvolvimento dos interesses, bem como sua concretização na forma de profissão, depende do ambiente e recursos disponíveis, por exemplo, das oportunidades educacionais (Lent, Brown & Hackett, 1994; Savickas, 1999).

Segundo a Teoria Sociocognitiva do Desenvolvimento de Carreira (Lent et al., 1994; Lent, Hackett & Brown, 2004), os interesses podem ser compreendidos como padrões de gosto, rejeição e indiferença em relação a aspectos ligados a profissões. Sendo que estão na base de sua formação, as crenças de autoeficácia e as expectativas de resultado que, por conseguinte, dependem das experiências de aprendizagem que ocorrem dentro e fora da escola. Tais mecanismos podem ser desenvolvidos durante o Ensino Fundamental e Médio, considerando que a transição escola-trabalho é um processo gradual que exige preparação e adaptação. As experiências, inclusive aquelas relacionadas ao contexto escolar podem favorecer o desenvolvimento dos interesses, por meio da exposição a diferentes situações profissionais, bem como ao estimular os estudantes a refletir sobre expectativas e atividades ocupacionais.

Nesse contexto, alguns autores investigaram a contribuição das disciplinas escolares para a escolha profissional e/ou constituição dos interesses. Ao realizar um processo de orientação profissional com 16 estudantes do Ensino Médio, com idades variando entre 17 e 23 anos, Bock (2002) verificou, na primeira sessão, que o desempenho e o interesse pelas disciplinas escolares foram os aspectos mais citados como critérios para fazer a escolha da profissão. Isto é, gostar de determinada disciplina ou ter um bom desempenho nela leva o jovem a optar por uma profissão que de alguma forma esteja relacionada com essa matéria. Na sessão final, após a busca por informações profissionais, os jovens indicaram que o interesse pelas disciplinas da grade curricular do curso de graduação foi um dos motivos para escolher determinada profissão.

Krug (2010) realizou um estudo a fim de verificar quais fatores, ao longo da escola básica, contribuíram para a escolha profissional de estudantes de Educação Física. Participaram dessa pesquisa 24 alunos do terceiro semestre do curso de licenciatura. De acordo o autor, o principal motivo para a decisão foi a prática de

esportes durante as aulas na escola básica, o que motivou o gosto pela atividade e interesse pelo curso. Outros motivos que também se destacaram foram o incentivo do professor à prática de esportes e a presença de bons professores, o que gerou a identificação com a profissão de professor de Educação Física.

Também com estudantes universitários, Masotti (2011) relacionou diversas variáveis, entre elas, desempenho em disciplinas e curso de graduação frequentado a dimensões de interesses avaliadas por meio da Escala de Aconselhamento Profissional (EAP). Essa pesquisa contou com 172 graduandos, com média de idade de 27,64 anos, que frequentavam três cursos de tecnologia de nível superior, a saber, Informática, Logística e Eventos. Quanto às notas nas disciplinas, houve correlação significativa moderada entre as disciplinas do curso de Eventos e a dimensão Artes e Comunicação. Salienta-se que houve associação significativa entre preferência por determinadas dimensões e cursos frequentados, por exemplo, os estudantes de Informática apresentaram maior interesse pela dimensão Ciências Exatas, os alunos do curso de Eventos se diferenciaram pelas maiores médias em Artes e Comunicação, e os participantes do curso de Logística se destacaram em Ciências Agrárias e Ambientais. Tais resultados mostram a relação entre desempenho nas disciplinas curriculares e interesses profissionais, bem como confirmam a associação entre interesses e escolha pelo curso de graduação.

Diante do exposto, percebe-se a importância das experiências da escola básica, mais especificamente, a preferência por disciplinas do currículo para a constituição da escolha e interesses profissionais. É notável também que essa associação permanece quando o estudante está na graduação, de forma que ele busca frequentar cursos que contenham disciplinas pelas quais ele tem afinidade e que se relacionem com sua área de interesse. Entretanto, poucos estudos tiveram como objetivo investigar empiricamente, por meio de métodos estáticos essa associação em estudantes de Ensino Médio.

Método

Objetivos

O objetivo deste estudo foi verificar a associação entre disciplina preferida e áreas de interesses profissionais em estudantes do Ensino Médio.

Amostra

Participaram 84 estudantes de Ensino Médio de uma escola pública do estado de Minas Gerais, Brasil. Destes, 47,6% (n=40) são do sexo masculino e 52,4% (n=44) do sexo feminino. A idade variou de 14 a 17 anos, com média de 15,31 (DP=0,76) anos. Entre os estudantes, 41,7% (n=35) frequentavam o segundo ano e 58,3% (n=49) cursavam o terceiro ano.

Instrumentos

Para investigação das variáveis sociodemográficas e acadêmicas foi aplicado um questionário. Esse instrumento contém uma questão aberta que pede ao estudante para indicar qual é a disciplina que mais gosta. Salienta-se que as disciplinas indicadas foram agrupadas de acordo com as quatro áreas estabelecidas pelo Ministério da Educação (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, 2012) do Brasil, a saber, Matemática e suas tecnologias; Ciências Humanas e suas tecnologias que agrupa as disciplinas de História, Sociologia, Geografia e Filosofia; Linguagens, Códigos e suas tecnologias referente às matérias de Português, Literatura, Artes, Educação Física e Línguas Estrangeiras; e Ciências da Natureza e suas tecnologias abrange Química, Física e Biologia.

A verificação das áreas de interesses profissionais foi realizada por meio da aplicação da Escala de Aconselhamento Profissional – EAP, que foi desenvolvida por Noronha, Sisto e Santos (2007), a partir das concepções de Savickas (1995). Os autores compreendem os interesses profissionais como a preferência por algumas atividades profissionais, sendo que estas não se restringem, necessariamente, a uma carreira específica. O instrumento possui 61 itens que se referem a atividades profissionais, sendo que o participante deve assinalar de 1 (nunca) a 5 (frequentemente) a intensidade com que gostaria de desenvolver tais tarefas. Os itens estão divididos em fatores que representam sete dimensões profissionais: (1) Ciências Exatas, (2) Artes/Comunicação, (3) Ciências Biológicas/da Saúde, (4) Ciências Agrárias/Ambientais, (5) Atividade Burocrática, (6) Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e (7) Entretenimento.

A primeira dimensão, Ciências Exatas, envolve atividades referentes à elaboração e execução de projetos, cálculos e programas computacionais. São exemplos de itens

desse fator: montar bancos de dados digitais; envolver-se em pesquisas espaciais; criar programas de computadores; analisar e interpretar dados numéricos.

Os interesses representados pela dimensão Artes/Comunicação estão relacionados a atividades profissionais da área artística e às diferentes formas de comunicação, verbal, visual e escrita. Para exemplificar as atividades que constituem esse fator, citam-se: estudar a origem e evolução do homem; coordenar a apresentação de um espetáculo de dança; desenhar logotipos e embalagens.

A terceira dimensão, Ciências Biológicas/da Saúde, caracteriza tarefas que compreendem o estudo dos organismos animais e vegetais, bem como a assistência em saúde. Orientar a população sobre prevenção de doenças; investigar a natureza e as causas das doenças; realizar cirurgias; analisar o metabolismo de animais e vegetais são exemplos de atividades que compõem esse fator.

Ciências Agrárias/Ambientais compreende o estudo e desenvolvimento de tecnologias que facilitem a relação entre o homem e a natureza. Algumas atividades que ilustram a dimensão 4 são: analisar e elaborar relatórios sobre impacto ambiental; analisar e controlar produtos industrializados, como medicamentos, cosméticos, insumos ou alimentos; controlar propriedades físicas do solo.

Atividade Burocrática diz respeito a tarefas de gestão de pessoas e informações, organização e busca de documentos, e atividades contábeis. Com a finalidade de exemplificar itens desse quinto fator, mencionam-se: estruturar e manter base de dados; coordenar operações fiscais e financeiras de empresas; conduzir relações entre empresas e empregados.

Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, sexta dimensão, envolve atividades relacionadas ao estudo do comportamento humano e a questões socioculturais. Exemplos de itens dessa dimensão são: analisar a sociedade em questões éticas, políticas e epistemológicas; classificar e indexar livros, documentos e fotos; colaborar na elaboração de programas educacionais.

A sétima dimensão, Entretenimento, contempla o trabalho com o público e a promoção de eventos. Os itens a seguir ilustram algumas atividades desse fator: gerenciar serviços de aeroportos; entreter hóspedes, associados e turistas em hotéis, spas e clubes; produzir desfiles, catálogos, editoriais de moda e campanhas publicitárias.

Para calcular o nível de interesse em cada dimensão, foi utilizada a média dos itens correspondentes, com variação entre 1 e 5. Esse procedimento foi adotado para que as dimensões pudessem ser comparadas, uma vez que número de itens é diferente entre os fatores. Ressalta-se que esse instrumento foi aprovado pelo Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) do Conselho Federal de Psicologia (CFP) do Brasil e vários estudos apresentam evidências de validade para o seu uso, inclusive com adolescentes (Noronha, Ambiel, Frigatto, & Toledo, 2010; Noronha & Nunes, 2012).

Procedimentos

Este estudo é parte de um projeto de pesquisa sobre orientação profissional que envolve ensino e extensão e foi aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Portanto, os dados foram coletados por estudantes de graduação em Psicologia que estagiavam na escola alvo, sob a supervisão de um professor. Consentimento e autorização para a realização da pesquisa foram fornecidos pelo diretor da instituição. Aos estudantes foi facultada oralmente a possibilidade de participar ou não do estudo, uma vez que a resposta aos instrumentos se assemelhava e fazia parte das atividades da rotina escolar. Não houve qualquer recusa por parte dos alunos. A coleta dos dados ocorreu no primeiro semestre do ano letivo, de forma coletiva e em sala de aula após a explicação dos objetivos da pesquisa.

Resultados

Inicialmente, são apresentadas as estatísticas descritivas da EAP para a amostra geral. Pontuação mínima e máxima, média e desvio-padrão nas dimensões podem visualizados na Tabela I.

Tabela I. Estatísticas descritivas da EAP

Dimensões da EAP Mínimo Máximo Média DP

1. Ciências exatas 1,00 5,00 2,69 1,20

2. Artes e Comunicação 1,07 4,86 2,61 1,02

3. Ciências Biológicas e da Saúde 1,00 5,00 2,72 1,18

4. Ciências Agrárias e Ambientais 1,00 4,92 2,78 ,93

5. Atividades Burocráticas 1,00 4,92 2,81 ,91

6. Ciências Sociais e Humanas 1,00 4,80 2,63 ,91

7. Entretenimento 1,00 5,00 2,70 1,11

Verifica-se que, de modo geral, as pontuações nos fatores da EAP foram muito próximas e acima do ponto médio (2,5) estimado. Esse resultado demostra que na amostra total os interesses profissionais tendem a se distribuir uniformemente, sem a prevalência de qualquer dimensão.

Após a classificação das disciplinas preferidas pelos estudantes de acordo com as áreas do MEC foi realizada uma análise de frequência para verificar a distribuição dos grupos. Constatou-se que 17,9% (n=15) dos estudantes preferem Matemática e suas tecnologias, 14,3% (n=12) gostam de Ciências Humanas e suas tecnologias, 26,2% (n=22) foram classificados em Linguagens e suas tecnologias e grande parte da amostra (n=35, 41,7%) demonstrou preferência por Ciências da Natureza e suas tecnologias.

Para analisar a associação entre interesses e disciplinas escolares, mais especificamente, investigar se os interesses se diferenciam de acordo com a preferência por determinado agrupamento de disciplinas foi empregada a ANOVA com medidas repetidas, conhecida na literatura como Análise de Perfis de Medidas Repetidas (Tabachinick & Fidell, 2007). Esse método estatístico analisa, por meio do modelo linear geral, se o perfil encontrado para as médias obtidas nas sete dimensões da EAP (variáveis dependentes) é distinto para cada grupo de disciplinas escolares (variável independente). Os resultados da ANOVA são apresentados na Tabela II.

Tabela II. Análise de variância ANOVA pelo coeficiente de Esfericidade Considerada.

Fonte de variância SQ Gl MQ F p

EAP 3,772 6 1,092 1,087 0,359

EAP*Disciplinas 39,961 18 3,855 3,839 0,001

Por meio da análise de variância verificou-se que, de modo geral, não houve diferenças significativas entre os estudantes no que se refere à pontuação nos seis fatores da EAP, o que já era esperado quando obtidas as estatísticas descritivas. Mas, ao agrupar os estudantes segundo a preferência pelas disciplinas, os coeficientes de variância foram significativos, indicando que os estudantes possuem perfis variados nas dimensões da EAP. São apresentados na Figura I, os perfis dos participantes quando agrupados pelas disciplinas, representados pelas médias obtidas nas sete dimensões de interesse.

Figura I. Médias obtidas nas sete dimensões da EAP em função da disciplina preferida.

Nota. 1= Ciências exatas; 2=Artes e Comunicação; 3=Ciências Biológicas e da Saúde; 4=Ciências Agrárias e Ambientais; 5=Atividade Burocrática; 6= Ciências Humanas e Sociais; 7=Entretenimento.

A análise qualitativa da Figura I pode ser feita de duas maneiras. A primeira mostra o perfil dos estudantes, classificados pela preferência nas disciplinas, de acordo com as dimensões da EAP (análise horizontal). A segunda se refere ao modo como as dimensões da EAP se associam à preferencia pela disciplina (análise vertical).

Quanto ao perfil daqueles que preferem Matemática e suas tecnologias verifica-se maior média em Atividade Burocrática (5) e Ciências Exatas (1), e médias baixas e semelhantes em Artes/Comunicação (2) e Ciências Humanas e Sociais (6). Embora

Ciências Exatas tenha sido a dimensão com segunda maior pontuação e não a primeira, os resultados não divergem das expectativas, uma vez que Atividades Burocráticas envolve itens associados a diversas profissões e, Artes/Comunicação e Ciências Humanas e Sociais obtiveram média inferior a 2,25, demonstrando a rejeição dessas áreas pelos alunos que preferem Matemática.

O grupo que prefere Ciências Humanas e suas tecnologias teve maior escore na dimensão Entretenimento (7), em seguida na dimensão Artes/Comunicação (2), e também com média bem próxima na dimensão Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (6). O conjunto de disciplinas está coerente e o fato da dimensão Ciências Humanas e Sociais não ter se destacado, pode estar relacionado com as características de seus itens que se referem bastante à atividade de pesquisa, sendo mais atrativo para o público adolescente os itens das dimensões 7 e 2 que versam sobre trabalho com o público e promoção de atividades de lazer e diversão.

Os estudantes que gostam de disciplinas na área de Linguagens e suas tecnologias não tiveram média maior que 3, demonstrando que esse grupo apresentam interesse mediando ou baixo pelas dimensões da EAP. A média foi um pouco mais elevada na dimensão Ciências Humanas e Sociais (6), médias bem semelhantes em Atividade Burocrática (5) e Artes/Comunicação (2) e muito baixa em Ciências Exatas (1). A similaridade entre as pontuações pode ser devido a esta dimensão ter agrupado pessoas que possuem gosto por disciplinas com características bem diferentes, como português e educação física. Mas, em certa medida fica clara a rejeição desses estudantes pela dimensão Ciências Exatas.

Estudantes que têm as matérias referentes ao campo Ciências da Natureza e suas tecnologias como preferência tiveram interesses bem definidos e coesos. A dimensão de maior pontuação foi Ciências Biológicas, seguida por Ciências Agrárias e Ambientais. Esses fatores da EAP dizem respeito à prevenção de doenças e estudo dos organismos animais e vegetais (dimensão 3), além do desenvolvimento de tecnologias em diferentes áreas, por exemplo, a agricultura e, também, de produtos, como alimentos e cosméticos (dimensão 4). As dimensões de menor interesse foram Artes/Comunicação (2) e a Ciências Humanas e Sociais (6). Esse perfil mostra que pessoas com afinidade pelo campo das Ciências da Natureza tendem a ter interesses mais delineados.

Quanto à interpretação por meio das dimensões da EAP, verifica-se que a primeira dimensão, Ciências Exatas (1), é mais pontuada por aqueles que preferem disciplinas da área de Matemática e suas tecnologias, seguidos por aqueles que gostam de Ciências da Natureza e suas tecnologias e com médias bem mais baixas, aqueles do grupo referente a Ciências Humanas e a Linguagens, respectivamente. Na segunda dimensão, Artes/Comunicação (2), nota-se que o grupo que prefere Ciências Humanas e tecnologias obteve média mais elevada, e em seguida, os que gostam de Linguagem e suas tecnologias. Enquanto aqueles que preferem Matemática tiveram pontuação muito inferior. A dimensão 3, Ciências Biológicas e da Saúde, teve elevada pontuação pelos estudantes que preferem Ciências da Natureza. Quanto aos demais agrupamentos, verificaram-se médias nitidamente mais baixas, sendo a mais inferior obtida por aqueles que gostam de Ciências Humanas e suas tecnologias.

Ciências Agrárias e Ambientais, quarta dimensão da EAP, também teve maior preferência pelos estudantes que gostam de Ciências da Natureza e suas tecnologias. Como grupo de menor pontuação nessa dimensão verificou-se Matemática e suas tecnologias. Atividade Burocrática (5) foi a dimensão de menor amplitude, ou seja, as médias dos quatro grupos referentes às disciplinas ficaram muito próximas, todas acima de 2,5. Nota-se que o grupo com maior escore foi Matemática e suas tecnologias, Reitera-se que essa dimensão da EAP pode ser comum a diferentes profissões e perfis profissionais. Em Ciências Sociais e Humanas (6) a maior média foi obtida pelos estudantes que gostam de Ciências Humanas e tecnologias e a pontuação mais baixa foi daqueles que gostam da área de Matemáticas e suas tecnologias. Por fim, a dimensão Entretenimento (7) teve, também, grande adesão dos alunos que têm afinidade com as disciplinas de Ciências Humanas e suas tecnologias e com médias mais baixas e próximas entre si, os grupos referentes a Matemática, Linguagens e Ciências da Natureza, nesta ordem.

Discussão e Conclusões

Constatou-se que a EAP, em grande parte das análises, foi capaz de indicar aqueles indivíduos que preferem disciplinas relacionadas às suas respectivas dimensões (análise vertical). E, quando analisado cada grupo de preferência pelas disciplinas

(análise horizontal), verificou-se um perfil, ou seja, ordem das médias obtidas nas áreas de interesse da EAP, relativamente coerente com a disciplina preferida.

Esses achados evidenciam a associação entre interesses profissionais e experiências de aprendizagem (Lent et al., 2004), no caso, disciplinas escolares. Reitera-se que outros autores que investigaram fatores relacionados à escolha profissional também verificaram a contribuição do gosto e nível de desempenho nas matérias da escola básica ao utilizarem metodologias qualitativas (Bock, 2002; Krug, 2010), enquanto outros estudos quantitativos também encontraram associação com disciplinas da grade de cursos de graduação (Masotti, 2011). A presente investigação vem acrescentar à literatura ao adotar uma análise quanti e uma amostra um pouco mais ampla de estudantes do Ensino Médio.

Contudo, algumas limitações desta pesquisa precisam ser mencionadas. Por exemplo, os participantes estavam restritos a apenas uma escola. Também, não foram investigados alguns fatores que podem interferir no nível de preferência pela disciplina, como a afinidade com o professor que leciona a matéria. Esse fator pode ter feito com que um estudante que goste de determinada disciplina, não a tenha indicado, ou ao contrário, tenha mencionado uma disciplina que na verdade não é a que mais gosta por ter grande aproximação com o docente.

Outros estudos devem analisar com mais detalhes os fatores relacionados ao envolvimento do aluno com as disciplinas escolares e a relação destas com os interesses, bem como o quanto a cultura escolar favorece a reflexão sobre a escolha profissional. Novas pesquisas podem, também, investigar ao lado das experiências escolares o papel dos familiares, por exemplo, incentivo ao estudo e à tomada de