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A análise das informações

3. A BÚSSOLA, A LENTE E A CAMINHADA: UM ESTUDO DE CASO DO TIPO

3.8 A análise das informações

As categorias para análise emergiram da categoria maior: a avaliação. Estas se desdobraram em avaliação da aprendizagem, avaliação institucional e avaliação de larga escala. Ao final, realizei análise conjunta dessas categorias em pontos cujos limites não permitiram tratá- las em separado. As linhas que as margeiam são por vezes tão tênues que nem sempre foi possível identificar onde uma terminava e a outra começava. A esse momento denominei “os encontros entre os três níveis da avaliação”.

A análise dos dados em uma pesquisa com uma metodologia diferente como esta requereu certa criatividade para organizá-los e apresentá-los. Embora não pudesse descartar técnicas tradicionais de análise na pesquisa qualitativa, o caso estudado reservou sua especificidade, como descrevo a seguir. Utilizei a triangulação dos dados (ZABALZA, 2004; YIN, 2005) cujas fontes foram os diários ou Registros reflexivos, o referencial teórico pesquisado, os questionários respondidos, as observações participantes e, sobretudo, a retomada dos mesmos registros por meio das conversas que reforçavam as análises durante o movimento da pesquisa.

Também fiz uso da análise de conteúdo (FRANCO, 2008; SILVERMAN, 2009) sobre o qual importa, de início, inferir análises sobre as evidências apresentadas pelos interlocutores nas diversas formas de comunicação. Neste estudo, os Registros reflexivos foram ricos porque, uma vez entregues, não se finalizava a tarefa. Os vestígios, as lacunas, os silêncios eram provocados e retomados nos registros seguintes e, mesmo que substituídos por outros, se tornavam importante material para análise.

Contudo, como bem disse Zabalza (2004, p. 130), “Estou convencido de que outra pessoa que lesse os diários poderia encontrar neles outros aspectos que me passaram despercebidos e poderia, igualmente, fazer um tratamento distinto dos conteúdos das narrações”. Isto, porém, não tira o valor desse tipo de trabalho porque, como afirmou o mesmo autor, faz parte da grandeza e da limitação que constituem a pesquisa qualitativa.

A seguir, apresento, discuto e analiso o que denominei mosaico de práticas e entendimentos sobre a avaliação em seus três níveis e suas práticas no interior da escola estudada.

4. MOSAICO DE PRÁTICAS E ENTENDIMENTOS SOBRE A

AVALIAÇÃO EM SEUS TRÊS NÍVEIS NA ESCOLA DO ANDOR

Se cada ponto de vista é a vista de um ponto (BOFF, 2008), então a gente reúne um tanto desses pontinhos e monta uma tela. Se colorida, cinza, alegre ou triste, vai depender muito do olhar de quem vê, do pincel de quem pinta e do desejo que se pretendeu alcançar (Erisevelton Silva Lima - 2011).

Neste item apresento os dados da pesquisa de campo oriundos do estudo de caso do tipo etnográfico que ocorreu entre 3 de fevereiro de 2010 e 2 de março de 2011. O cenário da pesquisa foi uma escola pública de anos finais do ensino fundamental da rede oficial de ensino do Distrito Federal, cuja diretora foi a principal interlocutora. As análises foram realizadas por meio de três categorias: a avaliação da aprendizagem, a avaliação institucional e a avaliação de redes ou de larga escala. Sendo a avaliação a categoria que perpassa seus próprios níveis, ao final apresento e analiso “Os encontros entre os três níveis da avaliação”.

O volume de dados agrupados ao longo desse tempo foi significativo porque participei das reuniões pedagógicas em que a diretora esteve presente e naquelas em que se fez representar. Acompanhei as reuniões denominadas de pré-conselhos dos professores, onde a avaliação esteve presente em seus três níveis. Observei também as reuniões chamadas de pré-conselhos destinadas aos estudantes. Assisti aos conselhos de classe denominados participativos e, embora ocorressem simultaneamente em várias salas de aula, pude, até o final do ano letivo, acompanhar as turmas das 5as, 6as, 7as e 8as séries. Registrei atentamente as reuniões bimestrais da diretora com os pais e responsáveis e, inclusive, reuniões extraordinárias do conselho de classe. Acompanhei a rotina da escola, diversos encontros pedagógicos entre os profissionais da instituição com a equipe diretiva e com convidados externos. Observei aplicações de provas e testes, incluindo o período destinado à recuperação final, um concurso de redação promovido por um jornal local e a aplicação das provas escritas do SIADE. Não deixei de observar os procedimentos avaliativos praticados por meio do projeto da escola denominado Avaliação Multidisciplinar e os demais eventos em que a avaliação esteve presente.

O Projeto da Avaliação Multidisciplinar se destinava a discutir, por meio de material elaborado pela equipe de coordenação pedagógica, temas acordados com os professores. Questões como o aniversário de Brasília, a Copa do Mundo na África em 2010, as características

socioculturais dos Estados Brasileiros e a Música Popular Brasileira foram trabalhadas no ano da realização da pesquisa. Os estudantes foram avaliados por meio de provas integradas (ou multidisciplinares) com o valor máximo de 2,0 pontos nos dois primeiros bimestres do ano. Já no 3º e 4º bimestres foram realizadas oficinas, exposições e apresentações culturais alusivas ao tema, e, portanto, não foram aplicadas provas escritas de conteúdos.

Fui observador atento no encontro promovido pela Diretoria Regional de Ensino para tratar do desempenho e rendimento das escolas. Na ocasião, conversei com representantes da Diretoria, diretores e coordenadores pedagógicos de outras instituições de ensino para dirimir dúvidas sobre o Regimento Escolar e as Diretrizes de Avaliação, entre outros assuntos e documentos.

Cabe salientar que, em face da metodologia adotada, o fio condutor para a análise partiu em grande parte dos Registros reflexivos produzidos pela diretora da escola. Os demais interlocutores entraram para compor as lógicas e os sentidos que a diretora começava a apontar. Minhas observações e anotações foram perpassando os registros da diretora, entrelaçaram-se com os Registros reflexivos da coordenadora Alfa e com os relatos dos docentes, estudantes e demais coordenadores pedagógicos.

Um estudo científico não traz só respostas; ao contrário, faz surgir muitas perguntas que suscitarão outras pesquisas.