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As Diretrizes Pedagógicas da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal

1. DA TRAJETÓRIA PESSOAL À PROFISSIONAL: O ENCONTRO COM O OBJETO DA

1.4 As Diretrizes de Avaliação, o Regimento das Escolas Públicas e as Diretrizes Pedagógicas

1.4.3 As Diretrizes Pedagógicas da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal

Este documento cujo teor se destina à orientação dos procedimentos pedagógicos na rede oficial de ensino do Distrito Federal para os anos de 2009 a 2013 consta de oito itens destinados a organizar o trabalho pedagógico na escola e no sistema de público de ensino. Sua versão impressa tem cento e quatro páginas, incluídas as referências. Os textos estão distribuídos sob as seguintes temáticas: função social da instituição educacional, fins e princípios

norteadores, proposta pedagógica da instituição educacional, fundamentos teóricos e metodológicos, organização curricular e respectivas matrizes, avaliação, desenvolvimento profissional docente e, por último, apoio educacional.

A avaliação é tratada no início do documento sob a designação de avaliação

institucional; na verdade, refere-se à avaliação de redes ou de larga escala, no caso, o SIADE. Como se situa no item relativo aos “Fins e princípios norteadores”, considero que esse sentido causa certa confusão porque, embora empreenda etapas que se afinem ou possam ser utilizadas pela escola na avaliação institucional, o texto não se refere a esse nível da avaliação e sim à avaliação de redes ou de larga escala. A avaliação institucional é outra, deve ser realizada continuamente pela escola, na escola e por seu coletivo, tendo seu projeto político-pedagógico como ponto de partida e de chegada (FREITAS et al., 2009). A seguir, o trecho do documento:

Avaliação institucional: O Sistema de Avaliação do Desempenho das Instituições Educacionais da SEDF (SIADE) destinar-se-á a aferir as condições de oferta do ensino do DF. Esse sistema permitirá a avaliação da Educação Básica, fornecendo informações

ao órgão de planejamento educacional, às equipes da Subsecretaria de Educação Básica, às equipes técnico-pedagógicas das Diretorias Regionais de Ensino e às próprias instituições educacionais. [...] O referido sistema compreende três processos de avaliação educacional específicos: avaliação das políticas educacionais, da Gestão Compartilhada e do rendimento escolar. Assim, a avaliação institucional constitui-se um instrumento permanente de planejamento, por meio do qual a SEDF acompanhará de forma mais eficaz o ensino que é ofertado no DF, de forma a propiciar o pleno desenvolvimento do aluno, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (DISTRITO FEDERAL (Brasil). Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal – SEDF – Subsecretaria de Educação Básica – SUBEB. Diretrizes Pedagógicas – Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal 2009/2013, p. 17. Brasília/DF, 2008).

No item em que apresenta a estrutura da proposta pedagógica a ser seguida pelas escolas da rede oficial de ensino do Distrito Federal, o texto ancorou-se na Resolução n.° 1/2005 do Conselho de Educação do Distrito Federal (CEDF), especificamente em seu art. 142. Nele contempla-se a avaliação da aprendizagem e não há menção a nenhum outro nível. A seguir, o texto na íntegra:

A busca por uma instituição educacional pública de qualidade concretiza-se mediante a construção e a vivência de uma proposta pedagógica que reflita o pensamento e a identidade de todos os membros da comunidade escolar, com base nas diretrizes institucionais da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.

Como instrumento norteador e explicitador da ação educativa, a proposta pedagógica deve definir os fundamentos histórico-socioculturais, epistemológicos e didático- pedagógicos orientadores da práxis educativa, devendo contemplar, segundo a Resolução nº. 1/2005 – CEDF, Art. 142:

I origem histórica, natureza e contexto da instituição; II fundamentos norteadores da prática educativa; III missão e objetivos institucionais;

IV organização pedagógica da educação e do ensino oferecidos; V organização curricular e respectivas matrizes;

VI processos de avaliação da aprendizagem e de sua execução;

VII estratégias para a sua implementação: recursos físicos, didático-metodológicos, pessoal docente, de serviços especializados e de apoio;

VIII gestão administrativa e pedagógica (DISTRITO FEDERAL (Brasil). Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal – SEDF- Subsecretaria de Educação Básica – SUBEB. Diretrizes Pedagógicas – Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal 2009/2013, p. 20. Brasília/DF, 2008).

No item do documento reservado para apresentar a Avaliação, ratificou-se a opção da rede pela avaliação formativa. O diretor da escola não foi citado neste item e não há menção aos outros níveis da avaliação (institucional e de larga escala). Nele, a SEDF não descarta a avaliação classificatória e, mesmo declarando-se optante pela avaliação formativa, aborda esta de maneira contraditória:

Nessa perspectiva, deve-se evitar a adoção da função classificatória da avaliação como única forma de avaliar, visto que quando sua função principal é a classificação, avalia-se simplesmente para registrar um resultado numérico que determina a aprovação ou a reprovação do aluno (DISTRITO FEDERAL (Brasil). Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal – SEDF- Subsecretaria de Educação Básica – SUBEB. Diretrizes Pedagógicas – Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal 2009/2013, p. 89. Brasília/DF, 2008).

O caráter contraditório a que me refiro está no fato da redação não excluir a função classificatória; ao contrário, sugere certa convivência com a mesma: “deve-se evitar... como única forma de avaliar”. O trecho apresenta o sentido de que a avaliação classificatória é também uma das formas de avaliar, ou seja, não considera sua realização equivocada ou mesmo contraproducente diante da ideia da avaliação formativa. O resultado numérico a que se refere revela outra contradição, neste caso ratificada pelo Regimento e pelas Diretrizes de Avaliação; afinal, na rede pública o uso de notas (0 a 10) é um norte legal e, portanto, institucional para as escolas de anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio. Cabe o que diz Hoffman (2009), ao explicar que as notas e as provas funcionam como redes de segurança que garantem maior poder de controle aos professores sobre alunos e pais, assim como tornam a escola e o sistema mais centralizadores e com maior possibilidade de regulação. A avaliação formativa não se afina com essa estratégia de notas nem com a ideia de recuperação. É um processo de acompanhamento responsável das aprendizagens.

O conselho de classe teve seu destaque no documento das Diretrizes Pedagógicas. Nele é retomado o teor da centralidade que deve ocupar a Avaliação Escolar no processo de Gestão Compartilhada da escola. Novamente o documento deixa em aberto as responsabilidades e os responsáveis por esse espaço de grande importância para a avaliação em seus três níveis:

Nesse sentido, o Conselho de Classe, no processo da gestão compartilhada da instituição educacional por meio de seu eixo central, que é a avaliação escolar, deve ser considerado na organização da proposta pedagógica de cada unidade escolar (DISTRITO FEDERAL (Brasil) Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal – SEDF – Subsecretaria de Educação Básica – SUBEB. Diretrizes Pedagógicas – Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal 2009/2013, p. 94. Brasília/DF, 2008).

Até aqui foi possível perceber que existem sentidos, conceitos e diretrizes que sinalizam a vontade da SEDF em promover a avaliação formativa na rede pública de ensino. Também é inegável que o processo avaliativo não se refere apenas ao professor e ao estudante, pois avaliar envolve distintos processos e tomadas de decisões dentro e fora da sala de aula.

Os documentos analisados não deixam claro o papel do diretor diante da avaliação em seus três níveis, à exceção da Lei da Gestão Compartilhada que o vincula diretamente aos índices e resultados externos (dos estudantes e da escola) quando trata da avaliação profissional do diretor e da equipe diretiva da escola, ou seja, neste caso, à avaliação de redes ou de larga escala.

A SEDF não apresenta nos textos oficiais evoluções ou acréscimos no campo da avaliação. O que as Diretrizes de Avaliação não conseguiram contemplar, o Regimento Escolar não retomou e as Diretrizes Pedagógicas, por sua vez, deixaram no vácuo as mesmas questões ainda insolúveis: a contradição entre a avaliação formativa e as notas, o papel do diretor, os critérios de avaliação e sua transparência, a participação dos estudantes no processo avaliativo, os três níveis da avaliação e sua devida articulação, etc.

1.5 As pesquisas sobre o tema, no período de 2004 a 2010

Visitar a literatura e selecionar os elementos oriundos de outras pesquisas, assim como as lacunas existentes no campo tornou-se um trabalho de valor significativo para a propositura desta investigação. A originalidade requerida para um trabalho neste nível é um dado relevante que se demarca, entre outras questões, pelas ausências de trabalhos na área ou campo que acabam reforçando a necessidade cada vez maior de sua realização. Nessa perspectiva, realizei levantamento bibliográfico relativo aos anos de 2004 a 2010. Foram fontes de consultas os sites da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e as publicações da Revista Brasileira de Política e Administração da Educação (RBPAE).

Os estudos analisados não apresentaram o diretor de escolas como objeto principal ou interlocutor central na investigação quando tratavam da avaliação escolar ou educacional. Em alguns, ele surgia como respondente a questionários, entrevistado ou mesmo partícipe secundário. Com isso percebi que minha proposta reservava certo grau de originalidade.

As produções encontradas nos grupos de trabalho (GTs) da ANPEd entre 2004 e 2010 sobre o tema da avaliação somaram 20. Cumpre destacar que apenas em duas (CAMPOS e ALMEIDA, 2007 e FERNANDES, 2010) o diretor de escolas surgiu com certo destaque, mas não estava vinculado à avaliação em seus três níveis. Nos demais trabalhos, o diretor de escolas ou o gestor escolar (termo recorrente na literatura atual) não aparecia como informante principal;

quando muito, era ouvido como um dos interlocutores na investigação. Após levantamento eletrônico no banco de dissertações e teses da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), foram localizadas 94 produções oriundas dos programas de mestrado e doutorado no país, sob a temática da Avaliação no período de 2004 a 2010. Ratificou-se o que já foi mencionado quanto às produções apresentadas à ANPED: o diretor da escola não surgiu como objeto de estudo ou sugerindo-se sua vinculação à avaliação em seus três níveis. Dez trabalhos trataram dos impactos ou reflexos da avaliação de larga escala sobre as instituições escolares. Em outros quatro, a abordagem recaiu sobre a avaliação institucional com ênfase na educação superior. Nas pesquisas, os diretores/gestores acabaram citados porque foram interlocutores da pesquisa como tantos outros membros das Secretarias de Educação, assim como os professores, coordenadores pedagógicos e outros membros das escolas participantes. As pesquisas sobre as práticas avaliativas foram as que tiveram maior número de ocorrências: trinta. Em seguida, surgem as análises e investigações sobre as experiências com as práticas avaliativas em escolas de ciclos: onze. Poucos foram os trabalhos que envolveram a autoavaliação, a avaliação por competências e a avaliação com a afetividade: quatro. A avaliação na sala de aula quanto ao papel do professor na relação com o aluno e no que se refere aos registros avaliativos foram os temas com maior número de produções: trinta e cinco.

Por último, apresento aquela que considerei importante fonte de buscas para o assunto: a Revista Brasileira de Política e Administração da Educação (RBPAE), referência e, de certa forma, marco divisor se comparada aos demais espaços de publicações. Possui certa especificidade por abordar assuntos vinculados à administração da educação. Trata-se de importante instrumento de consulta, análise e crítica das políticas públicas em administração da educação no País. Nela não localizei pesquisas em que o diretor de escolas fosse o interlocutor principal em trabalhos que abordassem a avaliação, como proponho nesta pesquisa.

Em suma, a vinculação do diretor com a avaliação da aprendizagem, a institucional e a avaliação de redes não foi o foco em nenhum dos trabalhos analisados.