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O Regimento Escolar das Instituições Educacionais da Rede Pública de Ensino do

1. DA TRAJETÓRIA PESSOAL À PROFISSIONAL: O ENCONTRO COM O OBJETO DA

1.4 As Diretrizes de Avaliação, o Regimento das Escolas Públicas e as Diretrizes Pedagógicas

1.4.2 O Regimento Escolar das Instituições Educacionais da Rede Pública de Ensino do

O Regimento Escolar das Instituições Educacionais da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, publicado no DODF n.° 240, de 14/12/2009, está em sua 5ª edição. Seu texto é composto de seis títulos e 315 artigos, distribuídos em 94 páginas na versão impressa. Nele o termo diretor surgiu 31 vezes, mas apenas o art. 8º, inciso VII, vincula-o ao tema da avaliação. Nos demais títulos, à exceção do Conselho de Classe (artigos 39, 41 e 42), cujo teor já foi mencionado, o diretor é incumbido de atos administrativos e burocráticos para atribuir/delegar funções. Vejamos o texto do art. 8º:

Art. 8º Para os cargos de diretor e de vice-diretor, o servidor deverá reunir em seu perfil características que possibilitem:

[...]

VII - acompanhar e avaliar o desenvolvimento da Proposta Pedagógica e os indicadores de aprendizagem, os resultados das avaliações externas e os indicadores de desempenho divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, do Ministério da Educação – MEC, com vistas à melhoria do desempenho da instituição educacional; DISTRITO FEDERAL (Brasil) Secretaria de Estado de Educação. Regimento Escolar das Instituições Educacionais da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal. 5ª ed. Brasília: 2009.p. 12).

Este documento reforça o que já foi anunciado quando do processo seletivo para o cargo ou função de diretor de escolas sob a Lei n.° 4.036/2007, Lei da Gestão Compartilhada. Retoma a ideia de que o profissional reúna em seu perfil características que não são adquiridas ao acaso.

Nesse ponto, o texto oficial abriu mão de apresentar exigências mais concretas no que se refere à formação desse novo diretor de escolas que agora está diante de novas e desafiadoras demandas. Vale relembrar que a seleção dos diretores inclui prova escrita de conteúdos, análise do

curriculum vitae e apresentação de plano de trabalho para a comunidade, com eleição ao final. Com o exigido no inciso VII o risco de que esses profissionais se apropriem dos resultados ou índices como únicos meios para dialogar e negociar qualidade no interior da instituição tenderá a uma forçosa ideia de que os exames externos, por si, sejam capazes de avaliar a qualidade da escola, dos alunos e do trabalho de cada professor (FREITAS et al., 2009).

Merece destaque o Capítulo XIII do Regimento, Da Avaliação do Processo de Ensino e

Aprendizagem o parágrafo único do art. 135 que diz:

Art. 135. A avaliação constitui elemento indissociável do processo educativo e visa acompanhar, orientar, regular e redirecionar o trabalho educativo.

Parágrafo único. Os docentes deverão explicitar aos alunos e pais ou responsáveis os critérios para a avaliação do rendimento escolar, bem como a pontuação definida para cada instrumento ou procedimento avaliativo (DISTRITO FEDERAL (Brasil). Secretaria de Estado de Educação. Regimento Escolar das Instituições Educacionais da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal. 5ª ed. Brasília: 2009, p. 57).

Este artigo estabelece um elemento ético do qual o diretor de escolas não pode abrir mão: a transparência dos critérios avaliativos. Contudo, isso não se dará por meio da imposição. Precisa ser construído por meio do projeto político-pedagógico da escola no qual a avaliação deve ter um capítulo considerável. Embora o regimento não deixe claro, assim como as Diretrizes de Avaliação não conseguiram apontar o rumo, reside neste item a ação efetiva do diretor da escola comprometido com uma gestão democrática. As relações de poder, elemento da subjetividade que está por trás da avaliação informal (FREITAS et al., 2009), pode até ser utilizado em benefício do estudante, porém a clareza dos critérios e a negociação em torno deles podem assegurar que a escola, seus atores e o coletivo dela acertem mais.

Ainda em relação ao artigo 135, não quero retirar a autonomia do professor frente a sua inadiável boa comunicação com os pais e a comunidade escolar. Acontece que nem sempre será possível ao professor regente, sozinho, dirimir dúvidas e resolver todos os conflitos oriundos das práticas avaliativas e seus instrumentos, entre outras decisões que precisarão ser tomadas. Acredito que cabe incluir o diretor da escola nesse processo. Ele será convidado a prestar contas, responder por decisões do grupo e ser submetido a situações cujo entendimento do processo avaliativo será imprescindível. Quando os pais ou responsáveis pelos estudantes entrarem com

recursos nas Diretorias Regionais de Ensino diante dos resultados ou dos processos internos de avaliação a que foram submetidos, o diretor também será chamado para responder.

Em seguida, no artigo 136, torna-se oficial com o inciso I o que as Diretrizes mencionaram, a opção pela avaliação formativa na rede pública de ensino no Distrito Federal:

Art. 136. A avaliação do processo de ensino e de aprendizagem observará os seguintes critérios:

I - avaliação formativa, processual, contínua, cumulativa, abrangente, diagnóstica e interdisciplinar, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os fatores quantitativos do desempenho do aluno (DISTRITO FEDERAL (Brasil). Secretaria de Estado de Educação. Regimento Escolar das Instituições Educacionais da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal. 5ª ed. Brasília: 2009, p. 58).

O inciso I do art. 136 sugere preocupação da rede de ensino do Distrito Federal em não ser excludente. A avaliação não diz respeito apenas à avaliação das aprendizagens. Ao mencionar o processo de ensino, remete para outra face importante, a organização do trabalho pedagógico na escola. Isto, porém, não se coaduna ou não se articula com as Diretrizes de Avaliação ou mesmo com a avaliação de redes, o SIADE, de que tratarei mais adiante. Avaliar o processo de ensino extrapola o âmbito da sala de aula porque vai requerer análise de elementos, como a formação docente, o currículo e o planejamento. Esses documentos poderiam vincular diretamente o diretor ao processo avaliativo desenvolvido em toda a escola, inclusive porque sobre ele recairão as responsabilidades quanto ao desempenho de todos que dela fazem parte. A avaliação é uma categoria forte no campo das decisões pedagógicas (SORDI, 2010). Em decorrência disso, envolver o diretor da escola diretamente nesse processo, que alia elementos da ética com a prática e com a necessária transparência, parece sinalizar a ressignificação da escola, de seus atores e do sentido a que ela se propõe: educar para a cidadania. Caberia inserir no artigo 136 o importante papel da avaliação institucional para proceder à avaliação do processo de ensino cujo teor e responsabilidades não podem ser abarcados pela avaliação da aprendizagem nem pelas avaliações externas. O Regimento Escolar da rede oficial do DF procura cumprir seu papel de organizador de um sistema. O grau de complexidade que compõe as diferentes unidades educacionais torna essa tarefa impraticável. O Distrito Federal conta atualmente com cerca de seiscentas e cinquenta escolas distribuídas entre centros de educação infantil, escolas classes (atendem aos anos iniciais do ensino fundamental), centros de ensino (atendem aos anos finais do ensino fundamental), escolas de ensino médio, centros educacionais (atendem aos anos finais do ensino fundamental e ensino médio), além daquelas que atendem concomitantemente a sua destinação mais as classes

da educação de jovens e adultos, além dos centros de línguas, centros de educação especial e outras organizações educativas. Não é possível com toda essa diversidade um documento que atenda a tamanha complexidade e, ainda, sustente autonomia para a proposta pedagógica de cada instituição. O que depreendi até aqui foi que esses textos criam amarras institucionais com receio da desorganização. Tais amarras, por sua vez, deixam a escola isolada em si mesma e refém das interpretações da Diretoria Regional de Ensino a que se vincula.

A seguir, apresento o último documento da rede oficial de ensino do Distrito Federal (Diretrizes Pedagógicas da SEDF). Sua ordem cronológica de publicação conclui o ciclo e apresenta orientações para o tema da avaliação na escola pública local.