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5 AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NA PUBLICIDADE BRASILEIRA

5.2 MAPEAMENTO DAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NAS PEÇAS DA

5.2.5 A utilização da cultura popular brasileira pela publicidade

5.2.5.3 Análise da peça do Governo de Pernambuco

O Governo de Pernambuco, através da Secretaria de Turismo, publicou, na revista

Veja de 27 de fevereiro de 2008, um anúncio que visa incentivar o turismo para o estado

durante o feriado da Semana Santa.

A peça em questão traz duas fotografias que dividem o espaço da página. A que fica na parte superior é uma imagem da encenação da Paixão de Cristo em Nova Jerusalém. Na passagem da foto, Jesus Cristo, representado pelo ator global Thiago Lacerda, aparece crucificado. Sua caracterização é muito bem feita, assim como a representação do ator é adequada à situação. Há ainda na imagem mais 17 atores, entre os dois ladrões crucificados à esquerda e à direita de Jesus, soldados e figurantes. A passagem bíblica é ilustrada com riqueza de detalhes, através de figurinos e cenografia bem elaborados. A iluminação da imagem permite que o leitor veja apenas os elementos que compõe a parte visível do cenário, já que o fundo da fotografia, onde se veria o céu, é bastante escuro, sem a presença da Lua ou de estrelas. Há ainda uma grande presença de sombras, conferidas pela iluminação artificial, que parece ter sido colocada frontalmente em relação ao cenário. Há uma grande diversidade de formas, tanto as arredondadas presentes nas formações rochosas, quanto as retangulares verificadas nos braços das cruzes e estandartes carregados por alguns soldados. Há um predomínio dos tons de marrom, reforçados pela iluminação que aparentemente proporciona um tom ainda mais amarelado para a composição; mas há também a presença do preto, localizado no céu, do vermelho, branco e dourado nas vestimentas dos soldados, e de um verde meio amarelado nas folhagens.

Na foto da parte inferior, observa-se uma bela paisagem: no primeiro plano aparece um lago esverdeado repleto de peixes, mais ao fundo posicionam-se oito jangadas de velas amarelas. Em seguida aparece uma praia, cercada de coqueiros. E, ocupando boa parte da imagem, está o céu, de um azul bastante vivo, cheio de nuvens brancas. O contraste estabelecido entre toda esta composição cromática proporciona à paisagem uma grande beleza. A orientação da imagem, devido às suas linhas apresentadas no contorno da praia, no lago e no posicionamento das nuvens, é horizontal. Verificam-se formas diversas nas nuvens, no chão, nos peixes e formas triangulares nas velas das pequenas embarcações. Há uma grande intensidade de luz na imagem, além de apresentar bastante brilho, conferido

especialmente pelos reflexos de alguns elementos que compõem a imagem, vistos sobre a superfície da água.

As fotos são contornadas por uma moldura de 0,8 cm de espessura. Os planos de enquadramento delas são, respectivamente, plano geral e grande plano geral, pois na primeira a fotografia há uma integração de indivíduos com o ambiente, mostrando o cenário em que os sujeitos estão inseridos, seus elementos e características. Já a segunda capta todo o ambiente e seus variados elementos; nesta fotografia, as figuras humanas aparecem ao longe ocupando as jangadas, mas suas características físicas são praticamente indefinidas para o espectador.

No canto inferior esquerdo desta última fotografia, cria-se um espaço de aresta arredondada. Ele estabelece um local de fundo branco, no qual se coloca um texto que fica contornado pela imagem da praia. Neste texto lê-se: “Semana Santa é época de assistir ao espetáculo da Paixão de Cristo no Recife ou em Nova Jerusalém, o maior teatro ao ar livre do mundo. É também tempo de curtir Pernambuco por inteiro: as riquezas cultural e gastronômica do interior e também a beleza dos 187 km de litoral. Venha viver Pernambuco”. Um espaço com este mesmo fundo branco é criado do lado direito da página, e nele se colocam as logos da EMPETUR (Empresa de Turismo de Pernambuco), Secretaria de Turismo e Governo de Pernambuco. As assinaturas dos criadores do anúncio (Marta*Lima/ABAP-PE) aparecem verticalmente, com fonte branca e pequena, no canto superior esquerdo da página.

Entre as imagens, localizado no meio da linha que as une, há um retângulo preenchido por uma textura que lembra areia. Nele, em fonte de cor branca e todas as letras maiúsculas, lê-se: “seja qual for a sua idéia de um feriado divino, Pernambuco é o lugar.”.

Trata-se do título do anúncio. Nele verifica-se um jogo semântico na utilização do termo “divino”, que apresenta polissemia ao remeter tanto ao sentido de algo que é referente a Deus (fazendo referência, portanto, à Semana Santa, que é um feriado divino), como também no sentido de algo perfeito, encantador.

O texto do anúncio cumpre a função de revezamento em relação às imagens, pois ele supre carências expressivas destas, que, apesar de apresentarem estética agradável, por si só não transmitem a idéia completa do convite para passar o feriado em Pernambuco.

Percebe-se, portanto, um rico jogo de iluminações, cores, formas e texturas, que juntos passam a idéia de diversidade e grandes possibilidades ao turista, conforme forem as suas preferências.

Fugindo dos modelos de anúncios corriqueiros de turismo, nos quais são apenas representadas as paisagens e pontos turísticos dos lugares que são divulgados, esta peça busca chamar a atenção do público para uma manifestação cultural local.

Como já foi dito, apesar de a Paixão de Cristo ser celebrada e encenada em vários locais do país e do mundo, em cada lugar a cerimônia é feita de maneira singular e traz consigo toda a sua construção histórica e todo o legado daqueles que transmitiram e recriaram seus modos de representar aquela expressão.

Deste modo, verifica-se que este anúncio não apenas apresenta uma bela paisagem local, como também utiliza-se de uma manifestação cultural para promover o estado de Pernambuco. A manifestação cultural representada toca o lado emocional de cada indivíduo de maneira singular, e aparece na peça como estratégia para agregar valor ao estado de Pernambuco. A encenação, que começou a ser feita em 1951, nas ruas da vila de Fazenda Nova, sem grandes expectativas, contando apenas com a participação de amigos e familiares do seu idealizador, Epaminondas Mendonça, tornou-se um grande espetáculo cultural que vem valorizar o estado e torná-lo mais interessante e convidativo para o turista.