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4 ABORDAGEM DO TEXTO LITERÁRIO NO LIVRO DIDÁTICO

4.1 UNIDADE 1: NO MUNDO DA FANTASIA

4.1.1 Análise do primeiro capítulo

O texto apresentado para iniciar o capítulo 1, da primeira unidade do livro, possui o nome, Senhora Holle, e faz alusão ao conto maravilhoso, Cinderela ou Gata Borralheira. Antes de iniciar o texto, os autores fazem uma breve exposição sobre os contos de fadas. Assim, podemos considerar que a abertura da unidade juntamente com a abordagem sobre os contos sejam boas iniciativas para motivar os alunos à leitura do texto literário. Isso nos remete à fantasia, ao imaginário e aos momentos que somente a literatura é capaz de nos proporcionar.

Por se tratar de um conto curto, Senhora Holle não sofreu, no processo de didatização, nenhuma adaptação que viesse a prejudicar a integralidade do texto, possibilitando a leitura em sua totalidade. Entretanto, não houve apresentação dos autores do texto, o que impossibilita enfatizar a grande importância que os Irmãos Grimm tiveram para a Alemanha e para o mundo, no que concerne à sua obra literária de caráter popular e oral, voltada para o público infanto-juvenil. Portanto, foi eliminada a etapa de introdução.

Não há abordagem para as semelhanças e diferenças entre Cinderela e Senhora Holle, intertextualidade que poderia ser bastante trabalhada e enriquecedora para uma interpretação mais aprofundada. Os dois contos possuem como protagonista uma menina que sofre com os mandos e desmandos da madrasta, porém, com finais distintos. Cinderela possui o final previsível nos contos de fadas, termina feliz com seu príncipe encantado, presenteada com uma vida de luxos. Já a personagem do texto, Senhora Holle, conhece uma vida melhor ao lado da madrasta, visto que ela não era maltratada, entretanto, tinha que continuar fazendo os trabalhos domésticos para a senhora. Ainda assim, a protagonista resolve voltar para o meio dos seus, pois, mesmo sofrendo, sente saudades do que podemos chamar de família.

Essas semelhanças e diferenças, se bem trabalhadas, tornam-se muito interessantes, possibilitam desenvolver atividades abrangentes e podem promover interpretações mais aprofundadas, cumprindo com o papel humanizador da literatura. Porém, podemos concluir que os alunos que não conhecem ou que não se lembram do conto, Cinderela, não conseguirão associar uma história à outra, o que torna ineficiente para o letramento literário.

Na seção, Estudo do texto, encontramos sete atividades para compreensão e interpretação de texto; juntamente com as perguntas, apresenta-se um boxe. Este tipo de elemento gráfico, contendo textos paralelos que ―dialogam‖ com o texto-base, se encontram em qualquer uma das cinco seções fundamentais. O referido boxe desta seção explica os termos protagonista, antagonista e personagens secundárias, cuja abordagem é importantíssima para se trabalhar as características do texto literário escolhido. Tais explicações também serão úteis para que o aluno compreenda os termos utilizados nos enunciados das questões.

As atividades propostas assemelham-se às fichas de leitura, como na questão 1, em que se pergunta sobre as características das personagens e na questão 2, na qual se pergunta sobre o narrador. É possível notar que as atividades direcionam as possíveis respostas que os alunos devem fornecer. Elas também possuem um tratamento quanto à questão de valores, como na questão 7, que questiona o aluno sobre o ensinamento obtido pela leitura.

iniciam com um enunciado esclarecendo sobre parágrafos e, em seguida, temos duas atividades acerca do que foi explicado. Depois, abordam o conteúdo, Tipos de frases, seguindo uma ordem inversa: primeiramente, apresentam as perguntas, depois, expõem em um boxe uma explicação sobre tipos de frases.

Veja o recorte da atividade 3 utilizado para análise:

3. Leia o boxe ―Tipos de frase‖ e identifique no texto: a) um exemplo de frase exclamativa;

b) um exemplo de frase interrogativa; c) um exemplo de frase imperativa;

d) um exemplo de frase declarativa (CEREJA; MAGALHÃES, 2012, p. 16).

Nesta atividade, é notório que o objetivo dos autores é abordar os tipos de frases e que os alunos as reconheçam no texto lido, ou seja, eles utilizam o texto como pretexto para atividades de análise linguística. Esta ocorrência é compreendida pela afirmação de Cosson:

[...] a leitura deixa de ser literária para ser didática e a obra literária se transforma em objeto de ensino de um determinado conteúdo – um uso escolar que se tem sua relevância em determinados ambientes, mas que não pode ser confundido com leitura literária (COSSON, 2014, p. 59).

Ainda no capítulo 1, em Ler é um prazer, os autores apresentam o gênero textual ―fábula‖, dão suas características, fazem uma breve narrativa sobre o escritor grego, Esopo, e em seguida, inserem uma pequena fábula: Os dois amiguinhos. Notamos que não há orientação ao aluno do que deve ser feito. Consideramos que a fábula foi utilizada para leitura, ficando sem objetivo. Não é o que sugere Cosson, acerca da etapa de leitura, já que esta atividade deve ser direcionada.

Para o desenvolvimento da seção, Produção de texto, são trabalhadas onze questões acerca de um conto maravilhoso. Torna-se claro que o objetivo é que os alunos compreendam as características do gênero textual, como podemos constatar na última questão da seção, utilizada como recorte: ―11. Reúna-se com seus colegas de grupo e, juntos, concluam: Quais as características do conto maravilhoso?‖ (CEREJA; MAGALHÃES, 2012, p. 19).

Após os alunos responderem às onze questões, na seção, Agora é a sua vez, é proposto que eles escrevam um conto maravilhoso em grupo. Ou seja, após terem percebido as características do gênero, é solicitado uma produção textual.

Para iniciar o trabalho com o dicionário, na seção, Para escrever com expressividade, foi usado um fragmento do texto, Era uma vez... (escrito por Gabriela Romeu e publicado pela

Folha de São Paulo), que fala um pouco do escritor dinamarquês, Hans Christian Andersen. Após o texto, não há nenhuma abordagem ou orientação sobre o mesmo. Caso não haja uma intervenção do professor preocupando-se em comentar sobre a importância de Andersen para a literatura, é perceptível que a leitura não terá nenhum significado.

Cereja e Magalhães relacionaram algumas palavras do texto para serem utilizadas em um exercício somente para solicitar aos alunos que as coloquem em ordem alfabética. Ainda para dar continuidade às atividades com o uso do dicionário, eles utilizam o poema, Sem barra (de José Paulo Paes), apenas para que os alunos percebam o sentido da palavra ―barra‖ no poema, apresentando a importância do significado e do contexto.

Podemos encontrar um número significativo de textos literários no capítulo 1, porém, são abordados de maneira superficial e não contemplam todas as etapas sugeridas por Cosson para abordagem do texto literário. Foram desperdiçadas oportunidades para o letramento literário, como podemos perceber no fato de que o literário é utilizado como pretexto para outras abordagens.