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4 ABORDAGEM DO TEXTO LITERÁRIO NO LIVRO DIDÁTICO

4.1 UNIDADE 1: NO MUNDO DA FANTASIA

4.1.2 Análise do segundo capítulo

O capítulo 2, Terra de encantamento, apresenta, com destaque, uma pintura de Walter Beach Jumphrey, em que personagens do livro vêm à vida enquanto o menino lê (imagem 2).

Imagem 2 – Uma pintura de Walter Beach Jumphrey

A pintura vem acompanhada de perguntas para possível interpretação oral dos alunos, que, se bem exploradas pelo professor, podes ser uma excelente oportunidade para motivação da turma. Mas o que causa decepção é que não se apresenta nenhum texto literário, além da pintura, o que deixa uma grande lacuna, já que o título, Terra de encantamento, pode ser considerado bastante sugestivo para uma ótima leitura literária.

Após a pintura, encontram-se quatro perguntas para compreensão e interpretação. Novamente, os autores sugerem um conto maravilhoso como proposta para produção textual. Isso nos dá a entender que se trata de uma estratégia para reforçar as características do gênero textual trabalhado no capítulo anterior. Bastante singelo, encontramos, em um boxe, um fragmento de texto literário, intitulado Uma história sem fim (de Gislayne Avelar Matos e Inno Sorsy), utilizado para ilustrar um exemplo de texto narrativo, chamado de ―história sem fim‖.

É perceptível que, já no capítulo 2, o texto literário vai perdendo o seu espaço para textos informativos, tiras, e-mail, cartum e propaganda. Podemos, do mesmo modo, encontrar música, como a famosa canção do compositor Adoriran Barbosa, Saudosa maloca, porém, com o intuito de se concentrar em atividades sobre variação linguística e de apresentar diferenças dialetais, oralidade, perfil socioeconômico e cultural, enfim, itens que em nada se associam com literatura.

Ainda, para trabalhar as variedades linguísticas, na seção, As variedades linguísticas, foi utilizada uma narrativa, Pechada, sobre a qual há apenas a indicação de que foi retirada da revista Nova Escola (maio 2001), sem alguma informação sobre a autoria. Vemos que não foi possível encontrar a proposta de Cosson de se apresentar o autor ao aluno e de sua grande importância para o letramento literário.

Em síntese, não há preocupação em apresentar o autor e a obra, tendo eles nenhuma relevância. O que causa estranheza nesta narrativa é que não é possível saber quem escreveu o texto, pois não consta este dado. Ele está acompanhado de seis questões acerca de atividade sobre variação linguística, ou seja, não há abordagem literária nas atividades. Devemos salientar que a falta de referência de autoria no LDP compartilha com o efeito que há, na internet, práticas comuns de apagamento autoral e de publicação de informações erradas.

Para seguir o trabalho sobre variação linguística, na subseção, Semântica e discurso, há uma anedota contada por Ziraldo, retirada da obra, As anedotinhas do Bichinho da Maçã, acompanhada de três atividades. Vejamos o recorte a seguir:

E tinha aquele de gramática que gostava de falar direitinho, um português limpo, a pronúncia bem-caprichada, os termos bem-escolhidos. Ao ouvir as gírias que os filhos usavam, ficou escandalizado e pediu:

— Eu queria pedir um favor, pode ser? — Claro, papai.

— Por favor, não falem duas palavrinhas: uma é ―cafona‖ e a outra é ―careta‖. Está bem?

— Tudo bem, papai. Quais são as palavras?

1. A graça da anedota está na falta de entendimento entre pais e filhos. a) Por que o pai não queria que os filhos falassem cafona e careta? b) Como os filhos entenderam o pedido do pai?

2. A gíria é uma espécie de modismo linguístico, que geralmente dura um tempo curto. Se, entretanto, ela persiste, acaba se incorporando ao vocabulário da língua e deixa de ser gíria. A palavra cafona, por exemplo, foi uma gíria muito utilizada na década de 1970.

a) Levante hipóteses: Com que sentido provavelmente o pai entendia a palavra cafona? Que outro termo da gíria de hoje você empregaria no lugar de cafona? b) A palavra careta vem sendo empregada ultimamente na gíria de alguns grupos sócias. Com que sentido provavelmente o pai entendia? Que outra palavra da gíria poderia ser empregada no lugar dela? (CEREJA; MAGALHÃES, 2012, p. 46-7, grifos dos autores).

Podemos notar, a partir das questões propostas, que os autores selecionaram a anedota a fim de elucidar o trabalho sobre variação linguística, no entanto, o professor poderá destacar como o jogo realizado com as palavras ―cafona‖ e ―careta‖, selecionadas pelo autor Ziraldo, causa todo o efeito de humor na anedota. Logo, o professor precisa estar atento às oportunidades que surgem para trabalhar com a literatura em sala de aula. Dando continuidade ao trabalho sobre variações linguísticas, Cereja e Magalhães apresentam diferenças entre os vocabulários do Brasil e de Portugal, optando por utilizar um cartum (de Santiago), para proporem mais atividades.

Na próxima seção, De olho na escrita, no trabalho com Fonema e letra, os autores utilizaram um anúncio da fundação da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), acompanhado de cinco questões. Ainda, para abordar os conteúdos, encontramos um folheto sobre artesanato, produzido pela Prefeitura Municipal de Caruaru (PE), tendo seis atividades como sequência.

Para fechar o capítulo, temos a seção, Divirta-se. Para descontração, ela apresenta um trecho do Dicionário mineirês/português, que procura registrar o modo de falar do caipira mineiro, como por exemplo: ―belzontch‖, ―cadiquê?!‖, ―deu‖, ―émêzzz?!‖, ―deusde‖ etc.

Assim, chegamos ao final do capítulo 2 e percebemos que os autores deram um grande destaque às atividades sobre variação linguística, porém, não se preocuparam com atividades que abordassem o texto literário, o que impossibilita realizar alguma etapa para o letramento literário, já que o texto literário neste capítulo não possui nenhuma abordagem significativa.