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O CONTEXTO E OS SUJEITOS DA PESQUISA: RETRATO DA ESCOLA

3 METODOLOGIA

3.2 O CONTEXTO E OS SUJEITOS DA PESQUISA: RETRATO DA ESCOLA

Selecionamos como público-alvo para a nossa pesquisa os alunos do 6º ano do ensino fundamental II, a maioria com 11 anos de idade, havendo alguns alunos em defasagem de idade. A escolha justifica-se por se tratar de alunos que acabaram de romper os laços com o ensino fundamental I (1º ao 5º ano), no qual geralmente tinham uma ou duas professoras. A partir do 6º ano, a dinâmica das aulas é distinta; o contato entre alunos e muitos professores,

de diferentes disciplinas, também causa um estranhamento e uma mudança no comportamento e nos resultados dos alunos.

Atentamos ao fato de que o trabalho com a literatura na instituição escolar apresenta muitas lacunas. De acordo com Coelho (2009, p.32, grifos da autora): ―Para que o convívio do leitor com a literatura resulte efetivo, nessa aventura espiritual que é a leitura, muitos são os fatores em jogo.‖. Para a autora, devemos nos atentar às diversas etapas do desenvolvimento infantil/juvenil. A partir desta observação, ela aponta alguns ―princípios orientadores‖ que podem ser úteis para a escolha de livros adequados a cada categoria de leitor.

Nossos alunos possuem idades entre 11 e 13 anos. Então, de acordo com a categoria de leitor observada por Coelho, eles estão na fase de ―leitor fluente‖ e ―leitor crítico‖, explanadas a seguir:

O leitor fluente (a partir dos 10/11anos)

Fase de consolidação do domínio do mecanismo da leitura e da compreensão do mundo expresso no livro. A leitura segue apoiada pela reflexão; a capacidade de concentração aumenta, permitindo o engajamento do leitor na experiência narrada e, consequentemente, alargando ou aprofundando seu conhecimento ou percepção de mundo. A partir dessa fase desenvolve-se o pensamento hipotético dedutivo e a conseqüente capacidade de abstração. O ser é atraído pelo confronto de ideias e ideais e seus possíveis valores e desvalores. As potencialidades afetivas se mesclam com uma nova sensação de poder interior: a da inteligência, do pensamento formal, reflexivo. É a fase da pré-adolescência (COELHO, 2009 p. 37, grifos da autora). [...] O leitor crítico (a partir dos 12/13 anos)

Fase de total domínio da leitura, da linguagem escrita, capacidade de reflexão em maior profundidade, podendo ir mais fundo no texto e atingir a visão de mundo ali presente... Fase de desenvolvimento do pensamento reflexivo e crítico, empenhados na leitura do mundo, e despertar da consciência crítica em relação às realidades consagradas... agilização da escrita criativa. A ânsia de viver funde-se com a ânsia de saber, visto como o elemento fundamental que leva ao fazer e ao poder almejados para a auto-realização (COELHO, 2009 p. 39, grifos da autora).

A partir dessas orientações, podemos afirmar que nossos discentes não são iniciantes na leitura, já que possuem alguns anos de contato com o texto escrito. No entanto, salientamos que, por diferentes razões, possuímos alunos que ainda não dominam a leitura e não possuem o hábito de ler, por isso, queremos contribuir no trabalho para a formação de leitores literários, formando uma comunidade de leitores na escola, como salienta Cosson:

Por fim, adotamos como princípio do letramento literário a construção de uma comunidade de leitores. É essa comunidade que oferecerá um repertório, uma moldura cultural dentro da qual o leitor poderá se mover e construir o mundo e a ele mesmo. Para tanto, é necessário que o ensino da Literatura efetive um movimento contínuo de leitura, partindo do conhecido para o desconhecido, do simples para o complexo, do semelhante para o diferente, com o objetivo de ampliar e consolidar o repertório cultural do aluno. Nesse caso, é importante ressaltar que tanto a seleção das obras quanto as práticas de sala de aula devem acompanhar esse movimento

(COSSON, 2009, p. 47-8).

A escola selecionada para esta pesquisa está localizada em um conjunto habitacional na zona leste da cidade de Uberaba; mesmo não localizada em um bairro central, a unidade escolar é de fácil acesso, a quinze minutos do centro da cidade. Neste ano, completaram-se vinte anos de atuação. A unidade escolar possui uma grande construção muito moderna, se fizermos um comparativo com outras unidades, com muitos espaços livres e área verde. Juntamente com a escola, foi construída uma praça que fica em frente ao portão central, utilizado para a entrada dos alunos. Enfim, é uma escola com a estrutura física muito bonita. Claro que, hoje, precisa de muitas reformas e com o tempo, foi percebido que algumas modernidades não são funcionais.

A instituição foi construída para atender à comunidade do novo conjunto criado, naquela época, porém, isto não aconteceu. Mesmo sendo a única escola pública no local, a maioria das crianças e adolescentes do conjunto, hoje chamado de bairro pelos habitantes, não estuda lá. Os moradores ainda trazem arraigada consigo a concepção de que as escolas melhores são as centrais. Dessa forma, a escola sempre teve como grande parte de seu público as crianças e os adolescentes dos bairros vizinhos. Muitos destes bairros são humildes e/ou com histórico de grande criminalidade. Além do mais, houve anos em que a unidade escolar recebia muitos alunos ciganos, que montavam suas barracas nas imediações. Ainda assim, atendendo a poucos alunos do bairro, a escola acolhe cerca de 1.000 alunos nos turnos matutino, vespertino e noturno, nas modalidades de educação infantil, no período integral, no ensino fundamental (I e II) e na Educação de Jovens e Adultos (EJA).

No período matutino, são dezesseis turmas, sendo uma de educação infantil (menores de seis anos) e três de período integral, ou seja, os alunos permanecem o dia todo no ambiente escolar. No entanto, infelizmente, a instituição não possui uma estrutura adequada e adaptada para tais alunos. As demais turmas são do ensino fundamental, dentre elas, dez turmas são do ensino fundamental II, distribuídas em três do 6º ano, três do 7º, duas do 8º e duas do 9º ano. Quanto ao número de alunos por sala, temos variações, pois há salas de aula com, aproximadamente, trinta e cinco alunos e outras com vinte e cinco, no ensino fundamental.

No vespertino, são treze turmas, sendo duas de educação infantil e as demais do ensino fundamental I, do 1º ao 5º ano. O período noturno possui um número menor de discentes, pois atende alunos adultos e/ou adolescentes com defasagem de idade na EJA.

A biblioteca escolar possui um bom tamanho com capacidade para atender uma turma inteira. Ela dispõe de três funcionárias, uma para cada turno, todavia, o acesso à biblioteca

apresenta algumas dificuldades e, algumas vezes, ela já serviu como sala de aula. A escola também conta com uma dependência, chamada de ―multimeios‖, utilizada para reuniões de funcionários, apresentações, palestras e filmes, mas, infelizmente, por muitas vezes acabou tornando-se sala de aula. Por problemas técnicos, há um laboratório de informática pouco operado e um laboratório de ciências desativado.

A instituição emprega um grande número de funcionários no ensino fundamental, especificamente, no período matutino. A maior parte dos professores é efetiva e conhecida há tempos, assim como eu, professora, pesquisadora e aplicadora da sequência didática. Trabalho nesta escola há treze anos, o que torna possível criar laços no ambiente escolar. O mais interessante é que a escola faz parte das minhas memórias antes mesmo de tornar-me professora, pois a vi ser construída. Na época, eu tinha parentes que foram uns dos primeiros moradores do referido conjunto. Enfim, este é o perfil da escola escolhida para realizar a nossa pesquisa e propor uma intervenção: a sequência didática de literatura.