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5 METODOLOGIA

5.5 Análise dos dados

5.5.2 Análise qualitativa dos dados

Os dados qualitativos foram obtidos das entrevistas realizadas com os funcionários do Serviço de Farmácia do HUWC/UFC e sua interpretação teve como base a análise de conteúdo. Segundo Bardin (1977), essa se refere a um conjunto de técnicas de análise das comunicações e procedimentos marcados por grande disparidade de forma e adaptável a um amplo campo de aplicação. Sob esse prisma, a análise de conteúdo foi a técnica escolhida para a pesquisa qualitativa, porque melhor se adapta à aplicação dos instrumentos de coleta de dados.

A análise de conteúdo, na perspectiva de Bardin (1977), compreende três etapas: pré- análise- consiste na organização do material, na forma de coleta de dados e nas técnicas utilizadas para reunir a informação; descrição analítica- refere-se ao estudo aprofundado do material, tendo como procedimento a codificação, a classificação e a categorização dos dados; e, interpretação referencial- compreende a reflexão, a intuição e o embasamento nos materiais empíricos, buscando estabelecer relações.

Bardin (1977) postula a idéia de que uma das técnicas da análise de conteúdo relaciona-se à análise por categoria, compreendendo o desmembramento do texto em unidades ou categorias, segundo reagrupamentos analógicos. A análise temática representa uma possibilidade de categorização, considerando sua aplicabilidade a discursos diretos e simples que manifestam significações. O texto é dividido em dois tipos de tema: os principais, chamados categorias, e os secundários, subcategorias. A seguir, são apresentados os procedimentos de categorização utilizados nesta pesquisa qualitativa.

A categorização se constituiu das seguintes fases: leitura flutuante de cada entrevista; codificação das entrevistas, que consiste em enumerar todas as linhas, perguntas e respostas das entrevistas, a fim de facilitar eventuais consultas ao material coletado; estabelecimento das dimensões analíticas delineadas com base nos cinco fatores do comportamento de cidadania organizacional; extração, em cada entrevista, das unidades de sentido contidas nos discursos dos sujeitos; criação de categorias de análise com base nas unidades de sentido e

elaboração de quadro temático para cada entrevista (Apêndice C). O quadro temático constitui o caminho para organizar o conteúdo dos relatos das entrevistas, congregando as dimensões, categorias e unidades de sentido já codificadas. Objetivando clarificar esse processo, segue um modelo do quadro temático.

Categorização da entrevista S4

Dimensões Categorias Unidades de sentido

1.1 O trabalho como um ambiente propício para apresentar sugestões criativas

[...] A gente tem realmente este espaço para chegar e debater, falar, colocar, mas sempre foi difícil executar a ação, transformar em realidade, mas já ouve um progresso muito grande (S4, R1, L18).

1.2 Relatos de experiência em apresentar sugestões criativas

[...] nós temos discutido a mudança de fluxo [...]. Tudo vai ter que ser diferente porque hoje nós carecemos de muitos fluxos [...] (S4, R2, L31).

1.3 Estratégias de enfrentamento dos problemas

Eu sempre procuro ser uma pessoa muito dinâmica, não gosto de reclamações de funcionários [...]. Na equipe, quase todos os funcionários são treinados e sabe toda a rotina do setor (S4 ,R3, L38).

1.4 Incorporações das sugestões criativas

[...] comecei a executar mudanças de fluxo dentro da própria farmácia que ainda não existia e consegui incorporá-lo ( S4, R5, L81).

1 Apresentar sugestões

criativas ao sistema

1.5 Valores pessoais norteadores

do comportamento de cidadania Autodeterminação, realização, poder.

Quadro 3– Categorização da entrevista S4. Fonte: Pesquisa da autora (2007).

Legenda: S4: sujeito 4; R3: resposta 3; L38: linha 38.

Convém ressaltar que, após as transcrições das entrevistas, as respostas foram codificadas da seguinte maneira: (S1, R1, L3), revelando que (S1) expressa a resposta do primeiro sujeito; (R1) refere-se à primeira resposta; e (L3) significa que a resposta se encontra na terceira linha. Esse procedimento seguiu o modelo proposto por Barros (2007).

A análise temática contribuiu para a compreensão do significado que os sujeitos atribuem à sua experiência de trabalhar no contexto da Farmácia Hospitalar, podendo expressar de forma espontânea os valores que norteiam seu comportamento de cidadania organizacional.

Objetivando contribuir para a análise e discussão dos dados, foram determinadas, a

priori, cinco dimensões, convergentes com os objetivos desta pesquisa, com a finalidade de

verificar como os comportamentos de cidadania são expressos no cotidiano de trabalho,

identificando os valores que motivam esse comportamento. Definidas as cinco dimensões do comportamento de cidadania organizacional, foram associadas a elas as dezessete categorias de análise extraídas das unidades de sentido dos discursos dos participantes, após a leitura das entrevistas.

Depois da construção das categorias, foram realizadas leituras das unidades de sentido, com o intuito de identificar as subcategorias. Tomando como base as unidades de sentido dos sujeitos, procurou-se perceber quais valores pessoais estavam motivando os comportamentos de cidadania no contexto hospitalar. Segue o Quadro 4, o qual mostra as categorias analíticas que cada dimensão comporta, com suas subcategorias.

Dimensões Categorias 1 Apresentar sugestões

criativas ao sistema

1.1 O trabalho como um ambiente propício para apresentar sugestões criativas.

1.1.1 Espaço aberto, com liberdade e incentivo.

1.2 Trabalho como um ambiente restrito para apresentar sugestões criativas.

1.3 Relatos de experiência em apresentar sugestões criativas.

1.3.1 Potencialização do uso dos produtos; 1.3.2 Estruturação e planejamento do serviço; 1.4 Estratégias de enfrentamento dos problemas. 1.4.1 Pesquisa e discussão interdisciplinar;

1.4.2 Autonomia profissional e equidade nas decisões; 1.4.3 Apoio da equipe, gerencial e extra-institucional; 1.4.4 Comunicação, treinamento e avaliação do impacto do problema e decisão hierarquizada.

1.5 Incorporações das sugestões criativas.

1.6 Valores pessoais norteadores do comportamento. Autodeterminação,segurança, benevolência, realização, conformidade, estimulação.

2 Proteção ao sistema 2.1 Estratégias de preservação dos equipamentos.

2.1.1 Manutenção preventiva para prorrogar a vida útil dos equipamentos.

2.1.2 Organização do ambiente e equipamento.

2.2 Estratégias de conservação dos produtos manipulados no trabalho.

2.2.1 Controle de qualidade do produto.

2.3 Estratégias de proteção das informações relacionadas aos pacientes (sigilo, medicação, diagnóstico).

2.3.1 Acompanhamento da dispensação do medicamento e prevenção de doença nos funcionários.

2.3.2 Ética, profissionalismo e respeito pelo paciente. 2.4 Inexistência de proteção em relação ao sistema. 2.5 Valores pessoais norteadores do comportamento.

Autodeterminação, benevolência, conformidade, segurança e poder.

3 Criação de clima favorável à organização em ambiente externo

3.1 Aspectos positivos à criação de clima favorável. 3.1.1 Reconhecimento do papel social e educacional. 3.1.2 Qualidade técnica e estrutural da ¨Farmácia. 3.1.3 Realização pessoal e profissional.

3.1.4 Trabalho como atividade prazerosa. 3.1.5 Ajuda à equipe e ao paciente. 3.1.6 Interdisciplinaridade das ações.

3.1.7 Dignidade pessoal por trabalhar na UFC. 3.2 Valorização do trabalho para a família e amigos. 3. 2.1 Reconhecimentos profissionais e aprendizagem; 3.2.2 Eleva a auto-estima; compromisso profissional e identificação com os colegas e com o trabalho;

3.2.3 Aspectos positivos do trabalho: fortalece a auto- estima e promove a inclusão social; homogeneidade cultural e intelectual; respeito pelas diferenças humanas; desenvolvimento integral da pessoa;

3.2.4 Facilidade no relacionamento profissional, porém dificuldades nas relações sociais;

3.3 Valores pessoais norteadores do comportamento. Poder, tradição, benevolência, conformidade, realização, hedonismo, segurança e universalismo.

4 Autotreinamento 4.1 Capacitações para melhoria do desempenho profissional.

4.1.1 Oportunidades para capacitação.

4.2 Reconhecimento da importância da capacitação. 4.3 Valores pessoais norteadores do comportamento. Realização, autodeterminação e benevolência.

5 Cooperação 5.1 Características do grupo de trabalho.

5.1.1Coeso, amizade, respeito, cooperação, disponibilidade, igualdade profissional, harmonia, bem- estar social, desconforto nas relações.

5.2 Relações entre os colegas de trabalho.

5.2.1 Postura individualista; falta de identificação com o trabalho e relação ambígua na equipe de trabalho;

5.2.2 Apoio da equipe.

5.3 Estratégias para resolução dos problemas.

5.3.1 Autonomia no trabalho, apoio gerencial e extra- institucional, eleger as prioridades e seguir as normas; 5.4 Estratégias para conclusão do trabalho.

5.4.1 Prorrogar a jornada de trabalho e planejar ações; 5.4.2 Trabalhar em equipe e apoio gerencial;

5.4.3 Participação igualitária na execução do trabalho, eleger as prioridades e registrar os procedimentos;

5.4.4 Responsabilidade e competência da equipe; 5.4.5 Potencializar o tempo, redimensionar o trabalho; 5.5 Valores pessoais norteadores do comportamento.

Poder, benevolência, conformidade, realização, autodeterminação, universalismo, hedonismo e tradição.

Quadro 4 - Dimensões e categorias do comportamento de cidadania organizacional no contexto da farmácia. Fonte: Elaborado pela autora (2007).

A pesquisa qualitativa realizada neste estudo contribui para clarificar a importância dos comportamentos de cidadania organizacional, principalmente porque os funcionários da Farmácia tiveram a oportunidade de manifestar experiências relacionadas com os gestos espontâneos e proativos expressos no contexto hospitalar. Dessa forma, após a leitura flutuante de todas as entrevistas, o pesquisador pode abstrair das falas dos sujeitos quais os valores norteadores do comportamento de cidadania.

O ato de unir a pesquisa quantitativa à qualitativa contribuiu para compreender que a realidade organizacional é dinâmica, necessitando ser estudada em sua totalidade. A abordagem quantitativa mostrou aspectos fundamentais em relação às prioridades axiológicas dos funcionários, cujos discursos ampliaram a percepção de que os valores estavam norteando os comportamentos de cidadania organizacional no contexto da Farmácia Hospitalar.

Este estudo faz a articulação e o diálogo entre a análise quanti-qualitativa, no intuito de se aproximar da realidade dos trabalhadores da farmácia, compreendendo como se processa a relação entre os valores pessoais e os comportamentos de cidadania organizacional. Nesse sentido, as falas dos sujeitos são essenciais, pois expressões dos seus sentimentos e percepções vivenciadas no espaço de trabalho. Procura-se ampliar o entendimento dos valores e dos comportamentos de cidadania com base nos discursos, identificando a subjetividades dos sujeitos e como estas se expressam no contexto de trabalho.

Percebe-se que a abordagem quantitativa apresenta uma fundamentação positivista, não permitindo uma análise mais crítica da realidade; no entanto, na abordagem qualitativa, os sujeitos podem se comunicar, expressando indagações, expectativas, esperanças e desencantos vividos em suas relações sociais e de trabalho. Ao abordar a natureza da subjetividade, González Rey (2005, p. 24 ) declara que

A subjetividade está constituída tanto no sujeito individual, como nos diferentes espaços sociais em que este vive, sendo ambos constituintes da subjetividade. O caráter relacional e institucional da vida humana implica a configuração subjetiva não apenas do sujeito e de seus diversos momentos interativos, mas também dos espaços sociais em que essas relações são produzidas.

Essa pesquisa tenta romper com a dicotomia entre o empírico e o teórico, na tentativa de compreender que a subjetividade permeia todos os ambientes e os seres humanos, principalmente no contexto da Farmácia Hospitalar em que o trabalho se reveste de peculiaridade, no sentido de se conviver com a vida e a finitude da pessoa.