• Nenhum resultado encontrado

5 METODOLOGIA

5.1 Delineamento da pesquisa

O delineamento é inerente à pesquisa científica, norteando o pesquisador na compreensão da realidade e na busca de resposta para determinado problema; no entanto, a resposta constitui processo cíclico, não se esgotando por si, pois novas questões tendem a emergir. Não há um tipo de delineamento específico para o estudo do comportamento humano no trabalho; todavia, se identificam tipos de pesquisa que contribuem

para a investigação dessa área do conhecimento. Sobre esse tema, Kerlinger (1980 apud RAUPP; BEUREN, 2003, p.76) assinala que a “palavra delineamento focaliza a maneira pela qual um problema de pesquisa é concebido e colocado em uma estrutura que se torna um guia para a experimentação, coleta de dados e análise”.

Diante das especificidades do comportamento humano no contexto organizacional, optou-se por enfocar as tipologias de delineamento de pesquisas elaboradas por Raupp e Beuren (2003), agrupadas em três categorias: quanto aos objetivos, aos procedimentos e à abordagem do problema.

Considerando a tipologia de pesquisa quanto aos objetivos de Raupp e Beuren (2003), este estudo abrange a pesquisa exploratória e descritiva. A caracterização como pesquisa exploratória geralmente ocorre quando há pouco conhecimento sobre a temática abordada; assim, busca-se conhecer o assunto de forma aprofundada.

Gil (1999) assinala que a pesquisa exploratória proporciona uma visão ampla concernente a determinado fenômeno, sendo realizada, sobretudo, quando o tema é pouco explorado, tornando difícil formular hipóteses precisas e operacionalizáveis. Nessa perspectiva, embora o Hospital Universitário Walter Cantídio seja uma instituição onde predomine a pesquisa acadêmica, não se verificou a existência de estudos que abordassem a relação entre os valores pessoais e o comportamento de cidadania organizacional no ambiente da farmácia hospitalar.

Ao se reportar à pesquisa exploratória, Andrade (2002) inventaria as seguintes finalidades: contribuir para o aprofundamento do conhecimento sobre o assunto que se investiga; facilitar a delimitação do tema de pesquisa; orientar a elaboração dos objetivos e a formulação das hipóteses ou descobrir um novo tipo de enfoque sobre o assunto.

Baseando-se na conceituação de Gil (1999), a pesquisa descritiva objetiva descrever características de determinada população ou fenômeno ou estabelecer relações entre as variáveis, destacando-se pela utilização de técnicas padronizadas de coletas de dados. De forma análoga, Andrade (2002) expressa que a pesquisa descritiva visa a observar os fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los. Evidencia-se, por conseguinte, que a pesquisa descritiva se aplica ao contexto da farmácia hospitalar, visto que esclarece determinadas características e/ou aspectos inerentes ao comportamento de cidadania dos profissionais atuantes nesse cenário.

Os procedimentos referem-se à maneira pela qual se conduz o estudo e, portanto, obtêm-se os dados. Tomando como base a tipologia de pesquisa quanto aos procedimentos de Raupp e Beuren (2003), esta pesquisa abrange estudo de caso, pesquisa bibliográfica e

documental. Os autores não contemplaram a pesquisa de campo em sua tipologia; porém a referida estratégia foi utilizada neste estudo.

Como estratégia de pesquisa, o estudo de caso contribui para a compreensão dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos, sendo utilizados, em grande magnitude, nas pesquisas das áreas da Psicologia, Sociologia, Ciência Política, Administração, Trabalho Social e Planejamento. Yin (2001, p. 21) observa que:

O estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real – tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de alguns setores.

Segundo Godoy (1995), o estudo de caso caracteriza-se como um tipo de pesquisa, cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente, procurando observar detalhadamente um ambiente, um sujeito ou uma situação em particular. Sob esse prisma, o estudo de caso aplica-se ao contexto hospitalar, pois este proporciona o conhecimento do fenômeno estudado com suporte na análise profunda da realidade do Serviço de Farmácia, em uma perspectiva holística, considerando a unidade social estudada.

Na óptica de Yin (2001), um estudo de caso é uma forma de se fazer pesquisa empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos, utilizando-se de várias fontes de evidências.

Quanto aos procedimentos, a pesquisa caracteriza-se por ser bibliográfica e documental (RAUPP; BEUREN, 2003). A pesquisa bibliográfica é desenvolvida mediante material já elaborado, principalmente presente em livros e artigos científicos. Abrange o referencial já tornado público em relação ao tema de estudo, no qual, por meio dessas bibliografias, reúne-se conhecimento sobre a temática pesquisada; enquanto isso, a pesquisa documental se baseia em materiais que ainda não receberam tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa (GIL, 1999). Segundo Vergara (2004), a pesquisa de campo constitui uma investigação empírica realizada junto ao ambiente social em que ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo.

Conforme a tipologia de pesquisa quanto à abordagem do problema de Raupp e Beuren (2003), este estudo abrange a pesquisa qualitativa e quantitativa. Na compreensão de Richardson et al. (1999, p. 71), a abordagem quantitativa “representa a intenção de garantir a precisão dos resultados, evitarem distorções de análise e interpretação, possibilitando uma margem de segurança quanto às inferências”. Aplica-se nos estudos descritivos que procuram classificar a relação entre variáveis e investigar a relação de causalidade entre fenômenos,

caracterizando-se pela aplicação de quantificação, tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento por meio de técnicas estatísticas.

Richardson et al. (1999) declaram que a pesquisa qualitativa descreve a complexidade de determinado problema, analisa a interação de certas variáveis, compreende e classifica processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribui para a mudança de determinado grupo, possibilitando, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos.

A pesquisa qualitativa tem o potencial de lidar com elementos complexos e dinâmicos de uma realidade social também em movimento. Nesse sentido, Minayo (1993, p. 21) declara que a abordagem qualitativa “trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis”.

Um aspecto relevante da pesquisa qualitativa refere-se à sua dimensão subjetiva, na qual o conhecimento é construído pela aproximação do pesquisador com a realidade social. González Rey (2005, p.5) assinala que a epistemologia qualitativa aborda o “caráter construtivo-interpretativo do conhecimento, o que de fato implica compreender o conhecimento como produção e não como apropriação linear de uma realidade que se nos apresenta”.

Segundo González Rey (2005), o conhecimento é uma produção humana e não algo que está pronto para conhecer uma realidade de acordo com categorias universais do conhecimento. O autor elaborou o conceito de “zona de sentido”, definida como os espaços de inteligibilidade que se produzem na pesquisa científica e não esgotam a questão que significam, porém abrem a possibilidade de seguir aprofundando em um campo de elaboração teórica. Nessa perspectiva, este estudo pretende contribuir para a formulação do conhecimento acerca dos valores humanos e dos comportamentos de cidadania organizacional no contexto da farmácia, buscando compreender a subjetividades dos atores sociais desse processo. González Rey (2005, p.21) assevera que

[...] o desenvolvimento da categoria de sentido subjetivo facilita explicar que o desenvolvimento da emocionalidade é resultado da convergência e da confrontação de elementos de sentido, constituído na subjetividade individual como expressão da história do sujeito e de outros aspectos que aparecem por meio de suas ações concretas no processo de suas distintas atividades. Assim, o conceito de sentido subjetivo fundamenta uma concepção histórico-social da subjetividade, a qual rompe com qualquer reminiscência de mentalismo ou subjetivismo.

Vieira e Zouain (2004) ressaltam que a pesquisa qualitativa atribui importância à descrição detalhada dos fenômenos e dos elementos que a envolvem; aos depoimentos dos atores envolvidos, aos discursos, aos significados e aos contextos, enquanto que a pesquisa quantitativa se refere aos métodos empregados para expressar informações numericamente. Os autores salientam que se torna difícil classificar um método como qualitativo ou quantitativo, pois as informações qualitativas podem ser contadas e informações quantitativas podem ser interpretadas.

O método qualitativo difere, em princípio, do quantitativo, à medida que não aplica um instrumental estatístico como base do processo de análise de um problema, pois não pretende medir unidades ou categorias homogêneas. Há autores que não fazem distinção clara entre métodos quantitativos e qualitativos, pois compreendem que a pesquisa quantitativa é também, de certo modo, qualitativa. Em consonância a esse pensamento, Goode e Hatt (1973, apud RICHARDSON et al., 1999, p. 79) revelam que

[...] a pesquisa moderna deve rejeitar como uma falsa dicotomia a separação entre estudos qualitativos e quantitativos, ou entre ponto de vista estatístico e não estatístico. Além disso, não importa quão precisa sejam as medidas, o que é medido continua a ser uma qualidade.

A complexidade da vida organizacional requer estudo aprofundado sobre sua estrutura, relações e processos. Vieira e Zouain (2004) exprimem a noção de que a metanarrativa não é capaz de compreender a totalidade dos fenômenos presentes na dinâmica das organizações. Os autores argumentam que a utilização de múltiplos métodos de pesquisa e investigação na análise dos fenômenos administrativos e organizacionais pode abrir novos horizontes para sua compreensão. Portanto, este estudo pretende compreender os valores pessoais e os comportamentos de cidadania dos funcionários do Serviço de Farmácia Hospitalar numa perspectiva ampla, com suporte na abordagem de natureza qualitativa e quantitativa.

5.2 O Serviço de Farmácia do Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade