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Análise TAT – “João”

COLETA DE DADOS

7.2 Análise dos Testes de Apercepção Temática

7.2.1 Análise TAT – “João”

Prancha 1

Ele relata a história de um menino que quer formar uma orquestra e por isso esta pensativo, ele vai conversar com os pais, por estar chateado de não ter dinheiro suficiente para fazer o que deseja. Mas no final conseguirá organizar a orquestra.

Essa situação em termos mais gerais, é de alguém que sente-se impossibilitado de realizar uma atividade por existirem termos mais pragmáticos a serem resolvidos. Ou seja, uma impossibilidade de realização de um desejo frente ao ambiente na atual configuração.

O herói é um criança, do sexo masculino, que toca algum instrumento não especificado. Ele é inseguro (“vai conversar com os pais dele, para ver se vai conseguir fazer uma orquestra”), frustrado (“meio chateado.... Por que ele tem que sonhar com uma orquestra.”) e precavido (“Porque ele tem que pensar... no que é pra se fazer, para não ficar tudo parado!”).

Esse herói tem a necessidade de produzir algo (“Fazer uma banda assim”)

Observa-se que foi não estavam presentes na prancha a figura os pais, esses elementos foram introduzidos como elementos de auxílio.

Percebe-se que não há discriminação do instrumento, ele simplesmente cataloga como instrumento e não o classifica (violino).

O ambiente é percebido como um ambiente frustrador, pois impossibilita que ele monte sua banda/orquestra, porém visto também com auxiliador, pois ele vai conversar com os pais pra pedir auxilio.

Percebe-se a existência de conflito entre desejo de realização e o sentimento de incapacidade, ou seja, a oposição entre a realização e a realidade pragmática.

Há a existência de ansiedade referente a própria capacidade e seu superego se coloca como um superego atuante.

Prancha 2

É o relato de duas mulheres que trabalham na roça, uma esta pensando em trabalhar como doméstica e outra esta querendo ler os livros que esta segurando.

A situação é de duas mulheres que querem fazer algo, mas ainda estão pensando sobre, ou seja, fala da insegurança de tornar o desejo em ação.

Nesse caso não há um herói e sim dois, que são dois adultos, do sexo feminino, trabalhadoras, pensativas, inseguras(“dois livros querendo ler” – quer mas não faz) e insatisfeitas (“ela esta querendo ser doméstica”). As heroínas têm a necessidade de mudar, ambas estão fazendo uma atividade e pensando em fazer outra.

Observa-se que “João” insere a profissão de ser doméstica e omite alguns elementos – gravidez da mulher, cavalo e homem. Podemos pensar que ele tenta omitir o masculino e a sexualidade, através da omissão da possibilidade de reprodução (gravidez) e da existência do sexo oposto (homem).

Na prancha, as insatisfações são vividas no mundo das idéias e qualquer manifestação dessas idéias se transformarem em atos é algo postergado para o futuro, demonstrando como “João” lida com suas insatisfações, indicio que aparece na prancha anterior quando ele diz que “Porque ele tem que pensar... no que é pra se fazer, para não ficar tudo parado!”, ou seja, ele dedica mais tempo ao pensar do que ao agir.

Percebe-se uma ansiedade relativa a sua passividade, que se manifesta com isolamento e repressão como defesa, afinal ele além de não articular uma história, reprime a sexualidade existente na prancha, como já foi visto. Demonstrando uma fraca integração de ego, pois não permite emergir o conflito.

Prancha 4

Mulher que vai ao cabeleireiro acompanhada com o marido e o mesmo corta seu cabelo channel.

De uma maneira mais ampla a situação se refere a um casal que sai junto e o homem faz um serviço que antes não era destinado a ele. Assim, podemos dizer que se trata de uma aglutinação de atividades por parte de um dos sujeitos da relação.

O herói é um adulto do sexo masculino, companheiro, que gosta que sua maneira de pensar prevaleça (“ele esta pensando em qual corte ela vai fazer”). Ele tem como necessidade o controle, pois decide e ainda corta o cabelo da mulher.

Nessa prancha há a omissão do conflito heterossexual e o controle que geralmente aparece na figura feminina, na situação aparece na figura masculina. Há a introdução do cabeleireiro.

No relato o ambiente é percebido como acolhedor e controlado e observa-se que as relações ocorrem de forma hierárquica, na qual o homem manda e a mulher obedece, mesmo num evento que diz respeito unicamente à mulher, como o corte de cabelo.

Nessa situação o conflito foi reprimido, podemos observar dessa maneira esse elemento como defesa frente a uma ansiedade de perda de objeto de amor (afinal o conflito do casal que é o elemento reprimido). Demonstrando uma fraca integração de ego.

Prancha 6RH

È a história de uma mulher que esta olhando, alegremente para o mar enquanto tem um homem pensando tentando saber o que ela esta pensado e esta enciumado por causa da atenção destinada a vista.

Em termos gerais essa história refere-se a um homem que sente-se enciumado com a possibilidade da mulher se interessar por outra coisa que não ele. Desta maneira, pensado que essa prancha suscita questões referentes a relação com a figura materna, podemos pensar que se trata de um incomodo narcisico ao observar que o interesse materno vai além dele próprio (filho).

Na narrativa, o herói é um adulto do sexo masculino e inseguro (“Ele esta olhando pra ela em qual lugar distante ela esta avistando!”). Tendo como necessidade o saber, principalmente o saber sobre o outro, pois mesmo ele querendo perguntar o que ela esta olhando ele já sabe a resposta.

O ambiente é visto com um lugar inseguro, nem tanto pelo ambiente mas pela experiência vivida.

As figuras são percebidas como àquelas que provém a angustia ao protagonista. Há a emergência de conflitos relacionados ao saber do outro, a necessidade de ter a atenção, o olhar e saber do outro.

Através desses elementos podemos pensar em um angustia que surge pelo medo da perda do objeto de amor e a impotência frente ao desejo do outro. Demonstra uma razoável integração de ego, pois nessa prancha ele permite que o conflito emirja e há uma elaboração.

Prancha 10

“João”, nessa prancha não formula uma história, apenas um breve relato descrevendo a figura, não tendo muito elementos para analisar a prancha por si só.

Refere-se a um casal que esta dançando e que se amam.

Essa situação nos remete a um momento de realização amorosa, sem conflitos.

Não a definição de apenas um herói, eles se fundem na figura do casal, não é possível identificar a necessidade desse casal, mas o ambiente é percebido com um local agradável e cheio de amor, não surgindo nenhum conflito.

Não há a introdução, nem a omissão de elementos.

Ele utiliza como defesa um isolamento, no qual há uma ausência de respostas, fazendo com que as respostas seja superficiais, nos fazendo crer numa fraca integração de ego.

Prancha 12RM

Simplesmente é uma descrição do que ele vê, sem a elaboração de uma história. Ele diz que é uma floresta com “expressão de luz e sombra”.

Igual a prancha anterior essa também é apenas a descrição da figura, demonstrando novamente o isolamento como forma de defesa, mecanismo esse já usado em outras pranchas.

Não há a introdução, nem a omissão de elementos, não é possível perceber nenhuma forma de conflito e nem um elemento que demonstre como o ambiente é visto. Demonstrando assim uma fraca integração de ego.

Prancha 13 HF

Um homem que esta triste pois a mulher que estava indisposta, morreu.

Novamente “João” retira a emoção da prancha se restringindo a uma descrição.

Em termos mais gerais, essa é uma situação que se refere a perda permanente de uma figura do sexo oposto.

O herói é um homem, adulto que esta triste. As necessidades dele não são expressas, assim como a concepção do ambiente.

Prancha 14

Diz que é uma técnica de expressão que ele chama de “Luz e Sombra”, que o homem fez em seu porão sujo e com coisas estranhas, por estar triste e meio “confidente” (pessoa que não esta bem).

Essa situação em termos gerais é de uma pessoa que se coloca num ambiente hostil e que não esta bem, ou seja, o ambiente reflexo do que o sujeito esta sentindo que no caso é uma tristeza.

O herói é um adulto do sexo masculino. Ele tem a necessidade de expressar algo através de suas ações.

No relato foram incluídos elementos como coisas estranhas, ratos e sujeiras que podem representar a hostilidade do ambiente e a janela foi um elemento omitido, talvez a impossibilidade de se encontrar solução/ “saída” para a problemática em que o herói se encontra.

O ambiente como já foi dito é visto como um lugar aversivo e hostil, e nessa prancha existe uma relação direta do estado emocional do herói com o ambiente, como se este fosse o reflexo do protagonista.

Uma ansiedade relativa à depressão e tristeza esta presente e é observado um isolamento como defesa, pois a questão foi tratada de forma superficial, não tendo o desenvolvimento de uma história.

Parece que há atuação de um superego rígido, pois o herói tem uma punição drástica.

Prancha 16

De início há uma recusa em contar alguma história depois relata que é um capial dando comida para sua vaca e ele ganha dinheiro.

Essa prancha se refere a uma situação em que o sujeito esta alimentando um animal e que recebe gratificação por exercer sua função, ou seja, a transmissão de uma gratificação oral e/ou afeto para um ser irracional e a auto gratificação por sua atuação.

O herói da história é um adulto, do sexo masculino, fazendeiro. Tem como necessidade a transmissão de elementos, principalmente os relacionados aos afetos.

Como a prancha é branca todos os elementos foram introduzidos.

O ambiente é percebido com um local de realização, de execução de atividades. (“Ah... porque eu acho que esse desenho representa uma fazenda, que tem um capial, dando comida para uma vaca. Acho que é só isso!“)

As relações se estabelecem de forma desigual, pois não há troca, o humano é quem “dá” sem ter algum retorno. Entretanto não emerge nenhum conflito aparente.

Ainda há como defesa o isolamento, tendo um distanciamento do relato. Por isso entendo que há uma razoável integração de ego.

Prancha 19

Em termos gerais, essa prancha diz respeito a uma ameaça que se encontra no ambiente.

Nessa prancha o herói seria a casa, que é mal assombrada, mas serve de abrigo e proteção (“Eles assustam as pessoas que estão dentro da casa”), ao mesmo tempo que sofre ameaças dos fantasmas que se encontram fora da casa. A necessidade desse herói é de servir de proteção a terceiros.

Por ser uma prancha mais abstrata é difícil identificar os elementos introduzidos e os omitidos, mas fica claro que as pessoas dentro da casa foram introduzidas, talvez para introduzir tanto vida à história como uma função a casa.

O ambiente é percebido como algo ameaçador e hostil, existe um conflito entre as questões internas (pessoas a serem protegidas) e as questões externas (fantasmas que querem entrar na casa) que permeiam o herói. Desta maneira o herói acaba sendo um mediador

A ansiedade aparece em relação aos males (“senão entra um homem e pode...roubar alguma coisa”), mais uma vez utilizando o isolamento como defesa. Isso nos demonstra uma razoável integração de ego.

Prancha 20

Esta nevando em uma floresta e nela têm nuvens carregadas mostrando que vai chover, mas “eles” não querem que chova, para a cidade ficar limpa e saudável. Esse “eles” é representado por um homem que esta cavando um tesouro e esta sentindo arrepios.

Por mais uma vez “João” apresentar como defesa um isolamento, ele se restringe na tentativa de descrever a prancha, porém assim como a prancha 19, essa

tem conteúdos mais abstratos, a elaboração do relato assim como a tentativa de descrever alguma cena acaba sendo algo sem uma elaboração anterior, assim parece que acompanhamos o pensamento de “João”.

Voltando ao relato, de formas mais gerais parece mais uma vez se tratar de um ambiente hostil que prejudica o herói com sua manifestação (chuva, neve, que sujam a cidade), herói que esta procurando algo valioso e sente um incomodo. Ou seja, apesar da hostilidade, existe algo que faz com que se procure o valioso.

O herói é um adulto do sexo masculino, preocupado ( não quer que chova para não sujar a cidade) e persistente (busca o tesouro), que tem a necessidade de recompensas (tesouro).

Há a inclusão de alguns elementos como a chuva e o tesouro, talvez a necessidade de valorizar a ação do homem.

O ambiente é visto como um lugar hostil, porém um lugar que o herói quer cuidar (manter limpo) e extrai sua recompensa (tesouro).

Percebe-se uma ansiedade frente a sua própria capacidade, por isso a busca por algo valioso. As defesas estão se manifestando mais uma vez com o isolamento, pois não há uma aproximação real com a ansiedade. Nos demonstrando uma razoável integração de ego, onde “João” não permite emergir o conflito.

Síntese

Percebe-se que em todas as pranchas o tempo de latência é muito curto em algumas pranchas ele chega ser inferior a média (5-25 segundos), demonstrando uma

pranchas, demonstrando também a existência de alguns conflitos, que não pudemos ter acesso por ele apresentar uma dificuldade de se projetar e/ou uma defesa muito atuante.

Pensando que a prancha 1 suscita questões relacionadas à atitudes frente aos deveres, podemos entender que aqui ele pode se referir às dificuldades que ele encontra por apresentar uma deficiência. Afinal antes do protocolo o assunto em questão era namoro e casamento e ele trouxe como era necessário explicar aos pais a necessidade de se relacionar (casar e namorar), assim, entendemos que frente a um desejo ou atividade que ele quer realizar (casamento), ele se depara com o aspecto pragmático de que ele necessita da autorização dos pais e talvez por isso na história o menino procure os pais para conversar.

Seguindo o protocolo, percebe-se que “João”, começa falando na prancha anterior e continua na prancha 2, sobre a dificuldade de se tornar em ato aquilo que ele deseja.

Em seguida temos uma situação em que além dele ignora a representação de um conflito e ele relata um homem que quer dar conta de tudo na relação, tendo a necessidade de manter o controle até de situações que não lhe dizem respeito, talvez pela insegurança que ele sofra frente a relação com Sara.

Posteriori temos uma prancha que faz com que ele se remeta ao momento de passagem do Complexo de Édipo, no qual ele sente-se enciumado com a manifestação de interesse por qualquer outra coisa senão ele, por parte de sua mãe, além disso ele demonstra querer ser detentor do saber do outro, quer saber o que a “mulher olha pela janela, apesar de já saber a resposta”. Relação essa que pode ser revivida com sua namorada a Sara, pois na prancha anterior aparece a necessidade de se saber de tudo, de ter o controle, objetivo que aparece também nessa prancha.

Esse parece ter sido uma questão tão forte para ele, que após essa pranchas as respostas foram superficiais. Entretanto, mesmo sendo um resposta superficial demonstra a tentativa de solução, pois ele retira qualquer possibilidade de conflito dando um final feliz ao casal, ou seja, sua forma de tentar justificar para si mesmo que sua atitude de controle é a “certa” , pois resulta em uma relação sem conflitos aparentes.

Nas pranchas posteriores, como já foi dito as respostas não foram muito expressivas, porém há o aparecimento de um significante presente em várias pranchas que era o de “luz e sombra”, que devido ao contexto pode representar esse contato com a realidade que o frustra e deixa triste, pois ele utiliza essa expressão nas pranchas em que há um contexto de desagrado e/ou tristeza.

Aparece mais em algumas pranchas uma relação desigual em que provavelmente ele é o provedor que não recebe nada em troca, na prancha seguinte percebe-se um conflito entre as demandas internas e as externas e a necessidade de fazer com que elas não entrem em contato umas com as outras. O externo tenta entrar em contato com os conteúdos internos, porém são vistos como uma ameaça (história da casa mal assombrada), assim ainda existe um grande esforço delas se manterem distantes.

Por fim ele demonstra um interesse em ser recompensado, uma satisfação que ele evidencia procurar, mesmo o ambiente não sendo próprio para isso. Em conjunto há uma necessidade de descarga (neve, chuva) que ele acredita ser necessário conter, talvez por ter uma fantasia de que são coisas que o Outro não esta preparado para saber e por isso diz trazerem sujeiras.