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COLETA DE DADOS

7.3 Síntese da Análise

Diante do analisado até o momento, podemos concluir que a educação familiar foi diferente, João é estimulado a ter uma rotina ativa, na qual trabalha e estuda, mas não é apoiado a ter uma relação amorosa, o contrario ocorre com Sara, que não tem nenhuma independência, muito menos financeira, mas que sua mãe sonha e estimula sempre o sonho de um dia se casar, ou seja, uma relação amorosa estável, que não deixa de ser um status social.

Mesmo com essa diferença, ambos negam a falta, cada uma a sua maneira. João nega a existência, já Sara nem entra em contato com essa falta, ela não existe. Assim Sara não “sabe” da existência da falta e João “tapa” essa falta quando ela aparece, fazendo com que Sara realmente não precise entrar em contato, impossibilitando que ela venha a “conhecer” essa falta e assim desejar algo.

Assim acredito ser necessário entender esse relacionamento extrapolando essa relação que eles têm com a falta.

Por isso, quando pensamos na teoria psicanalítica, pensamos na relação de desejo e falta, que surge com a triangulação das relações. Tem origem no Complexo de Édipo com o surgimento da figura paterna como interditor da unidade mãe-bebê e é revivida em todas as relações em que há a busca pelo objeto “a”.

Ao ler o que Freud comenta sobre como os homens escolhem seu objeto de amor, percebemos mais uma vez a necessidade dessa relação triangular, afinal como já foi visto a prerrogativa é que:

“(...) deva existir ‘uma terceira pessoa prejudicada’; estipula que a pessoa em questão nunca escolherá uma mulher sem compromisso, como seu objeto amoroso – isto é uma moça solteira ou uma mulher

Ao observarmos as entrevistas percebemos que tal prerrogativa se apresenta nesse caso, entretanto não é a figura masculina (João) que necessita dessa disputa para escolher o objeto de amor e sim a figura feminina (Sara). Isso ocorre, pois Sara se coloca como uma mulher fálica. Mas essa triangulação se efetiva com quem?

No caso, como dito anteriormente, o triângulo se completa com Carmem (mãe de Sara), fazendo com que surja outra questão: Sara rivaliza com João ou com Carmem?

Afinal Freud (1926) ao escrever sobre ciúmes, classifica o sentimento em três tipos: Competitivo, Projetado e Delirante. Por entender que o caso se refere a um ciúmes competitivo não discutirei sobre os outros dois tipos. E esse ciúme resulta do sofrimento em perder o objeto amado e da ferida narcisica. Ele não é completamente racional, assim não deriva de uma situação real enraizada no inconsciente, origem no Complexo de Édipo, no primeiro período sexual, podendo ser um sentimento bissexual.

Assim, apenas com os elementos que temos, acredito não ser possível afirmar com quem Sara rivaliza, acredito que em cada momento seja com um, mas existe algo que podemos afirmar frente a analise dessa relação : Os três que triangulizam nessa relação gozam com ela.

“... Lacan observa que é o outro, a mãe ou seu substituto, que confere um sentido à necessidade orgânica, expressa sem nenhuma intencionalidade pelo lactente. Em decorrência disso, a criança vê-se inscrita, à sua revelia, numa relação de comunicação em que esse outro (o outro minúsculo), pela resposta que dá à necessidade, institui a existência pressuposta de uma demanda. Em outras palavras, a partir desse instante, a criança é remetida ao discurso desse outro, cuja posição exemplar contribui para a constituição do Outro (Outro maiúsculo). A satisfação obtida pela resposta à necessidade induz à repetição do processo, escorado no investimento pulsional: a necessidade transforma-se então em demanda propriamente dita, sem que, no entanto, o gozo inicial, o da passagem da sucção para o chuchar, possa ser resgatado. O Outro originário permanece inatingível, barrado pela demanda que se tornou ilusoriamente primária. (...)

Lacan estabelece então uma distinção essencial entre o prazer e o gozo, residindo este na tentativa permanente de ultrapassar os limites do princípio do prazer. Esse movimento, ligado à busca da coisa perdida que falta no lugar do Outro, é causa de sofrimento; mas tal sofrimento nunca erradica por completo a busca do gozo.” (Roudinesco, 1998 , pg 299,300)

Frente ao exposto, entendemos que o gozo de Sara, é fruto ligação simbiótica com a mãe. Ela tenta reviver a completude que um dia teve com a mesma (mãe) sem a troca do objeto, ou seja, é com a mãe que ela continua tentando reviver o prazer de estar completa. Mas há também um movimento de separação, tanto que há um espaço para João nessa relação.

“... a conceituação lacaniana, não submetido à castração, é, pois, o esteio da fantasia de um gozo absoluto, tão inatingível quanto o é esse pai originário. Portanto, não há gozo para o homem senão um gozo fálico, isto é, limitado, submetido à ameaça da castração, gozo fálico que constitui a identidade sexual do homem. (Roudinesco, 1998, pg 300)

Como dito anteriormente, João revive com Sara sua relação com sua mãe: a de negar a falta. E é dessa maneira que ele goza, “escondendo” a falta, pois ele é submetido à castração, dessa maneira ele não poderia como Sara, não entrar em contato com essa (falta). Já para a mulher

“Não existe (...) um equivalente do pai originário, não há ‘homenosum’10 que escape à castração: o gozo do Outro, gozo esperado, aguardado e fora do alcance desse pai originário, embora igualmente impossível para a mulher, não é, todavia, atingido pela proibição da castração. O gozo feminino, portanto é diferente e, acima de tudo sem limite. É, pois, um ‘gozo suplementar’ (um suplemento)...” (Roudinesco, 1998, p 300)

Assim podemos entender que Carmem, sendo mulher não esta necessariamente submetida à castração, por isso, goza mantendo sua filha no lugar da criança fetiche.

Capítulo VIII