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DE UM CASAL PORTADOR DE DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

O AMOR MARCADO PELO NÃO

:

UM ESTUDO DE CASO SOBRE O RELACIONAMENTO AMOROSO

DE UM CASAL PORTADOR DE DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

BIANCA RAMOS PEREIRA

Orientadora: Profª Drª Ana Laura Schliemann

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

O AMOR MARCADO PELO NÃO

:

UM ESTUDO DE CASO SOBRE O RELACIONAMENTO AMOROSO

DE UM CASAL PORTADOR DE DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

BIANCA RAMOS PEREIRA

Orientadora: Profª Drª Ana Laura Schliemann

Trabalho de Conclusão de Curso como

exigência para graduação no curso de Psicologia

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Agradecimentos

À minha irmã, Paloma, pela amizade, carinho, amor e transcrições realizadas.

Aos meus pais, Angelina e José Carlos, que foram parcialmente responsáveis pelo ser humano que sou, pelo carinho, cuidado e por viabilizarem me tornar psicóloga. Em especial, ao meu pai pela revisão.

À minha orientadora, Ana Laura, pela atenção, cuidado e força.

Aos meus amigos pelo companheirismo, atenção e por agüentarem meu mau humor, principalmente à Maíra e ao Renato.

Às minhas amigas e companheiras de faculdade pela força nos momentos difíceis, pela solidariedade, pelas angústias divididas, pelas piadas, risadas e confraternizações.(Bibs, Mari Yama, Sheila, Fabi, Mary, Mirian, Nádia, Gu entre outros)

Aos meus colegas que me auxiliaram na busca de interessados em participar de minha pesquisa e por também me darem muita força. (Alicia, Eduardo, Lia, Mary, Tânia entre outros)

Às minhas companheiras de Orientação por tudo (Dani, Márcia e Mônica).

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Área de Conhecimento: 7.07.00.00-1 - Psicologia

BIANCA RAMOS PEREIRA: O amor marcado pelo não: Um estudo de caso sobre

o relacionamento amoroso de um casal portador de Deficiência Intelectual. 2007 Orientadora: Prof. Drª Ana Laura Schliemann

Palavras- Chave: Deficiência Intelectual, Síndrome de Down, sexualidade, relacionamento amoroso

RESUMO

Nos estudos feitos sobre a deficiência intelectual constata-se que essa população de maneira geral é estimulada a ter um crescimento cognitivo, social, intelectual, porém sua sexualidade de uma maneira geral é coibida e negligenciada, assim, deseja-se um crescimento e independência para esses jovens, desde que se coloquem como assexuados.

Frente a isso, esse trabalho tem como objetivo compreender o relacionamento amoroso de um casal de jovens com Deficiência Intelectual, mais especificamente portadores da Síndrome de Down, buscando o entendimento da dinâmica do funcionamento dessa relação, analisando a influência dos aspectos sociais e familiares sob a mesma.

Para tanto foram feitas três entrevistas, uma com o casal, uma com o rapaz e por fim com a moça e a posteriori foi aplicado o Teste de Apercepção Temática (TAT), e se analisou os resultados (das entrevistas e dos testes) com um foco psicanalítico freudiano e pós freudiano.

Essas análises indicam que naquilo que tange as relações dos deficientes intelectuais estudados, a maior dificuldade é o fato dos pais não os perceberem como sujeitos com as mesmas necessidades que as suas, talvez pela dificuldade de identificação que ocorre logo no começo da vida. E que a partir da dinâmica familiar, em que eles são vistos como dependentes, que surgem as peculiaridades encontradas (triangulação de uma relação dual) na relação do casal em questão, além do fato de cada um a sua maneira negar a falta.

(5)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

3

I. DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

7

1.1. SÍNDROMEDE DOWN 8

1.1.1 Características:

9 1.1.2 Histórico:

9

II. SEXUALIDADE NA FORMAÇÂO DO SUJEITO.

13

2.1. SÍNDROMEDE DOWN 18

III. AMOR

22

3.1. RELACIONAMENTOS AMOROSOS 23

3.1.1. Casamento 24 3.1.2. Namoro 29 IV. OBJETIVO 32 V. METODOLOGIA 32

5.1 MÉTODO 32

5.2 SUJEITOS 34

5.3 LOCAL 34

5.4 ANÁLISEDOS DADOS 35

VI. COLETA DE DADOS

36

VII. ANÁLISE

41

7.1 ANÁLISEDAS ENTREVISTAS 41

7.1.1 Entrevista “João”

41 7.1.2 Entrevista “Sara”

44

7.2 ANÁLISEDOS TESTESDE APERCEPÇÃO TEMÁTICA 46

7.2.1 Análise TAT – “João”

46 7.2.2 Análise TAT – “Sara”

58

(6)

IX. BIBLIOGRAFIA

78

ANEXO I – TERMO D

E CONSENTIMENTO DO PESQUISADO 81

ANEXO II – TERMO

DE CONSENTIMENTO DOS RESPONSÁVEIS 82

ANEXO III – ROTEIRO DE ENTREVISTA DO CASAL

83

ANEXO IV – ROTEIRO DE ENTREVISTA INDIVIDUAL

84

ANEXO V – PRANCHAS TAT

85

ANEXO VI – ENTREVISTA CASAL

88

ANEXO VII – ENTREVISTA “JOÃO”

113

ANEXO VIII – ENTREVISTA “SARA”

117

ANEXO IX – APLICAÇÃO TAT “JOÃO”

135

ANEXO X – APLICAÇÃOTAT “SARA”

(7)

INTRODUÇÃO

O interesse em trabalhar com a população de portadores de deficiência intelectual, vem de muito tempo, antes mesmo de entrar na faculdade. Ao passar do tempo, quando cursava o terceiro ano da faculdade realizei um estágio em uma instituição destinada a jovens, adultos e idosos com algum tipo de deficiência intelectual e foi através dessa experiência que surgiu a motivação deste trabalho.

No começo do estágio todas as estagiárias passavam por todas as oficinas, dessa maneira tínhamos contato com a maioria dos usuários e era muito perceptivo a forma com a qual a maioria era muito afetiva, com uma necessidade muito grande de abraças, beijar e “agarrar”. Além desses episódios, diversas vezes eram encontrados usuários do mesmo sexo se tocando, em lugares escondidos, afinal era regra da instituição a separação por sexo, o que facilitava essa situação.

Outro elemento que me chamou atenção, foi nos grupos de discussão que eu e algumas estagiárias fazíamos com dois grupos de usuários, diversos assuntos eram conversados e recorrentemente a temática da sexualidade era abordada, porém sempre de uma forma primaria, infantil e como se estivéssemos tratando de algo proibido. Principalmente no grupo dos jovens adultos (de 18 anos a 25 anos), a transformação do corpo e os impulsos sentidos eram percebidos como algo não permitido.

(8)

Frente à essas experiências, comecei a me questionar o por quê destas dúvidas tão elementares sobre acontecimentos e transformações no próprio corpo. Principalmente em jovens adultos que senão tem uma vida social mais ampla, tem acesso a programas de televisão que passam algumas informações básicas.

Diante dessa dúvida Duarte (2005) afirma terem constatado que muito da problemática suscitada em relação à sexualidade do deficiente se baseia mais no estigma do que na própria deficiência. Fato esse confirmado no estudo de Bastos e Deslandes (2005) onde afirmam que :

“a grande maioria dos indivíduos com deficiência mental chega a puberdade, com a conseqüente maturação sexual, como os demais adolescentes sem deficiência. Mas ainda vigora o senso comum de que as pessoas com deficiência mental não teriam esta etapa do seu desenvolvimento, pois as mudanças físicas não corresponderiam às psicossociais.” ( Bastos e Deslandes, 2005 – p.390)

Diante das situações, experiências pessoais e de algumas pesquisas lidas, resolvi investigar mais a fundo de que maneira essa população é vista e cuidada na sexualidade. Dentre o grupo dos deficientes intelectuais, pretendo dedicar uma maior atenção para os portadores da Síndrome de Down. E por quê dessa atenção? Acredito que o biótipo desses sujeitos faz com que sejam imediatamente identificados, o que é diferente de muitos outros deficientes intelectuais, cuja deficiência só será percebida depois de uma conversa ou uma observação mais atenta. Essa diferença que a priori parece irrelevante, quando observada e analisada, leva-nos à conclusão de que provoca efeitos mais profundos do que supúnhamos, principalmente se pensarmos com subsídios teóricos na psicanálise, que em seus estudos constata que a partir dos ideais que seus pais imaginam para o filho que ainda não nasceu, são elementos primordiais para a constituição do sujeito.

(9)
(10)

“A Vila

Preferia sofrer Numa casa vazia e na pobreza Na riqueza, mas não na sua mão.

Que em qualquer momento Preferir entrar nela Mesmo alugando ou comprando.

É preciso vendê-la Ela pintada ou não.

Quero mostrar a minha vida De dentro de uma casa Como você queria Para morar ou veranear nela.

Prefiro ela limpa como Você não imaginava Que me importasse com ela

Cheia de solidão É uma casa solitária A gente criou.

Quero voltar a ela Para que a casa não fique sozinha Mesmo com alguém.”

(Olga Mansur)*

(11)

Capítulo I

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Nesse trabalho, a terminologia Deficiência Mental foi substituída por Deficiência Intelectual, pois

“(...)Ao longo da história, muitos conceitos existiram e a pessoa com esta deficiência já foi chamada, nos círculos acadêmicos, por vários nomes: oligofrênica; cretina; tonta; imbecil; idiota; débil profunda; criança subnormal; criança mentalmente anormal; mongolóide; criança atrasada; criança eterna; criança excepcional; retardada mental em nível dependente/custodial, treinável/adestrável ou educável; deficiente mental em nível leve, moderado, severo ou profundo (nível estabelecido pela Organização Mundial da Saúde, 1968); criança com déficit intelectual; criança com necessidades especiais; criança especial etc. Mas, atualmente, quanto ao nome da condição, há uma tendência mundial (brasileira também) de se usar o termo deficiênciaintelectual, com o qual concordo por duas razões. A primeira razão tem a ver com o fenômeno propriamente dito. Ou seja, é mais apropriado o termo intelectual por referir-se ao funcionamento do intelecto especificamente e não ao funcionamento da mente como um todo.” (Saaaski, 2005, pg10)

Segundo o Ministério da Saúde (2007) a deficiência Intelectual é caracterizada por:

“Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:

a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais;

d) utilização dos recursos da comunidade; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004)

e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) lazer; e

h) trabalho;”

(12)

1.1. Síndrome de Down

Síndrome de Down denominada atualmente como Trissomia do 21, pois seus portadores apresentam três cromossomos 21 em vez de dois.

Segundo o site Cérebro e Mente e Néo-Justino (2004), esse excesso de material genético no cromossomo 21 pode ser causado de três maneiras:

1)Trissomia Completa – Observa-se um cromossomo 21 extra, assim o

cariótipo desse indivíduo é de 47 cromossomos em vez de 46. Não houve uma disjunção do par de cromossomos 21 durante a formação dos gametas de um dos genitores(88% dos casos ocorre na meiose materna e 7% dos casos ocorre da meiose paterna e 5% das meioses) assim se resulta em um óvulo ou um espermatozóide com 24 cromossomos e após a fecundação o embrião formado terá um cromossomo 21 a mais resultando numa pessoa portadora de Síndrome de Down.

E esse mecanismo é responsável por aproximadamente 92% dos casos de portadores de Síndrome de Down.

2) Translocação Cromossômica – Há um rearranjo cromossômico, ou seja

o cromossomo 21 extra esta ligado a outro cromossomo, geralmente ao cromossomo 14. Desta maneira o sujeito apresenta 46 cromossomos.

3) Mosaicismo do cromossomo 21 – Quando a disjunção dos gametas

ocorre após a fertilização, desta maneira há a formação de dois tipos de células, um tipo com o número normal de cromossomos (46) e outro grupo com 47 cromossomos por causa da trissomia do cromossomo 21.

(13)

1.1.1 Características:

“A síndrome de Down é caracterizada por atraso do desenvolvimento físico, funcional e mental.”(Saad, 2003, pg29). Todos os casos de portadores dessa Síndrome apresentam deficiência mental e hipotonia muscular. (Néo- Justino, 2004). Mas essa síndrome “não é progressiva, nem contagiosa.”(Alves 2007, p15)

“A Síndrome de Down tem como características baixa estatura, o crânio apresenta branquicefalia (crânio mais largo que comprido), com o occipital achatado, o pavilhão das orelhas é pequeno e disfórmico, a face é achatada e arredondada, os olhos mostram fendas palpebrais e exibem Manchas de Brushfild ao redor da margem da íris, a boca é aberta, muitas vezes mostrando a língua sulcada e saliete, alterações no alinhamento dos dentes, as mãos são curtas e largas, freqüentemente com uma única prega palmar transversa, chamada de prega simiesca, os pés mostram um amplo espaço entre o primeiro e o segundo dedo, músculos hipotônicos e articulações como flexibilidade exagerada, reflexo do Moro fraco, excesso de pele atrás do pescoço, displasia pélvica...” (Alves 2007, p21)

Além do descrito, os portadores dessa Síndrome são muito suscetíveis à déficit auditivo, anomalia no aparelho digestivo, problemas cardiológicos congênitos, obesidade, hipotiroidismo, problemas imunológicos que podem desencadear: leucemia, apnea do sono, afecção de pele e doença de Alzheimer. Estudos mostram que o envelhecimento do sistema nervoso central dos portadores da Síndrome de Down ocorre 2º anos antes, demonstrando a demência pré – senil tipo Alzheimer. (Saad, 2003)

1.1.2 Histórico:

(14)

Nesses estudos que demonstram a existência de pessoas com Síndrome de Down vivendo na Civilização Olmeca, concluíram que eles eram considerados semi-deuses, resultados do encontro de mulheres mais velhas da tribo com o ídolo religioso, chamado jaguar. (Schwartzman, 1999)

Já na Grécia Clássica, o corpo era cultuado, buscando sempre a perfeição do mesmo, assim os deficientes eram abandonados (Pessoti, 1984). Eles eram considerados monstros , chamados de idiotas (Schwartzman, 1999)

Já no Cristianismo Pessoti (1984), relata que todos são considerados filhos de Deus, inclusive os deficientes, assim eles eram dignos de caridade, fazendo apenas pequenos trabalhos e eram abrigados nas igrejas e/ou conventos.

Durante a Idade Média, os deficientes eram considerados possuídos pelo demônio, o que os obrigava a passar por exorcismos e em alguns momentos serem sacrificados, fazendo com que eles ficassem confinados em casa, com medo de a qualquer momento fossem delatados à inquisição. Lutero, frente a essa crença (união da mãe com diabo), chegou a incinerar mães e os próprios deficientes. (Pessoti, 1984)

No século XIII, na Bélgica, é o primeiro lugar a se institucionalizar os deficientes. Em 1325, Eduardo II, na Inglaterra, decreta a preservação da saúde, vida e posse de pessoas com deficiência. (Pessoti, 1984)

(15)

Por influência ao pensamento evolucionista, em 1866, há 141 anos atrás, Langdom Down, pela primeira vez descreve clinicamente a Síndrome de Down, em sua obra” Observations on Ethnic Cassiflications of Idiots”, em que ele classifica o “mongolismo” (forma como era denominada a Síndrome de Down) como um determinado grupo étnico de deficiência, resultado da semelhança com o povo mongol. (Wuo, 2005)

Em 1932, Waadenburg sugere que talvez essa Síndrome fosse resultado de uma anomalia cromossômica (Néo-justino, 2004). Passados 93 anos desde a descrição clinica de Down, Jerôme Lejeune, em 1959 finalmente consegue demonstra que a Síndrome de Down é resultado da trissomia do cromossomo 21, ou seja, de um acidente genético e não de uma degeneração racial. (Wuo, 2005)

(16)

O Amor pode superar

Com medo não se resolve nada Sua vida esta em jogo Não pagarás na realidade Não esqueça de sua vida.

A vida é mais importante para você Sinta seu próprio desejo Pois ela ficará em sua alma Na paz e na sua vida amorosa.

Quero que sinta sua dor Pense antes duas vezes Para não questionar A sua sorte na vida”

(Olga Mansur)*

(17)

Capítulo II

SEXUALIDADE NA FORMAÇÂO DO SUJEITO.

“... Freud (...) por sua nova concepção, ele mostrou que a sexualidade tanto era uma representação ou uma construção mental quanto o lugar de uma diferença anatômica. Em conseqüência disso, sua doutrina transformou totalmente a visão que a sociedade ocidental tinha da sexualidade e da história da sexualidade em geral...” (Roudinesco, 1998, p704)

Assim através dessa modificação de visão, pensar no processo de identificação e constituição do sujeito é pensar na sexualidade também, desta maneira a separação dos temas em dois capítulos segregará eventos que acontecem em concordância, fazendo com que a visão de homem seja dividida impossibilitando um entendimento do todo. Tendo isso em vista resolvi pela não separação.

“Como sabemos, o sujeito psíquico estrutura-se a partir de necessidades que encontram um atendimento num outro, que as satisfaz num circuito de desejo e de prazer, relação esta que inscreve a criança no circuito deste outro, possibilitando sua ascensão ao universo simbólico, o qual vai lhe permitir postergar a satisfação das pulsões imediatas em troca de uma promessa de realização futura. Mais tarde, quanto mais simbolizado estiver o desejo original, mais distantes estarão os atos da vida adulta das pulsões originais.” (Schimidt, s/n, pg70)

Para entendermos melhor, acredito ser necessário voltarmos e explicarmos as relações no momento do nascimento do bebê.

(18)

Com o nascimento, segundo Freud, o bebê e a mãe, formam uma célula narcísica, tendo uma relação simbiótica, tanto menino quanto menina tomam essa mãe como seu primeiro objeto de amor. Segundo Lacan(1957), o bebê é a personificação do desejo da mãe, dessa maneira ele se aliena no significante desse grande Outro.

Assim o primeiro ocupante do lugar do Outro é quem exerce a função materna. Desta maneira a apreensão da imagem do corpo unificado é fornecida antecipadamente por esse grande Outro, permitindo assim que haja a instalação subjetiva e cognitiva. Essa imagem do próprio corpo permite a saída da fragmentação inicial passando para unificação tornando-se lugar de representações psíquicas, chamada por Lacan de Estádio do Espelho. (Battaglia, 2005)

“Ao sair da fase identificatória do estágio do espelho, a criança, em quem já se esboça um sujeito, nem por isso deixa de estar numa relação fusional com a mãe, esta relação é suscitada pela posição particular em que a criança mantém junto a mãe, buscando identificar-se com o que supõe identificar-ser o objeto de identificar-seu deidentificar-sejo” (Dor, 1992, pg 77)

A diferenciação dos sexos se dará no momento em que o bebê entra em contato com outro e percebe as diferenças genitais, pois para o bebê todos os seres possuem um órgão genital igual ao seu.

O menino percebe que o pênis não é uma possessão comum a todas as criaturas e vê a falta de um pênis em outro ser como o resultado de uma castração, se dando conta da falta, tornando-se uma ameaça no real (se um ser perdeu, ele também poderá perder), temendo assim ser castrado. Com esse temor ele renuncia ao seu objeto de desejo (a mãe) para uma auto-preservação, nesse sentido dizemos que o menino sai do Complexo de Édipo por uma busca de satisfação narcísica. (Lacan, 1958)

(19)

tinha pela mãe o menino se identifica com o pai, que é o detentor do falo, assim como ele, a autoridade desse pai é introjetada, resultando no superego, como dito inicialmente. (Lacan, 1957)

Já com a menina, ao se dar conta da falta ela primeiramente acredita que seu “pênis” irá crescer, posteriormente se da conta que isso não ocorrerá então se vê como um ser castrado, culpando a mãe por não ter lhe “dado” o falo, lembrando nesse momento que tanto para os meninos como para as meninas a mãe será a última mulher a ser vista como uma mulher que não tem pênis. Ao culpar a mãe por essa falta a menina abandona a mãe como objeto de amor. (Lacan, 1958)

Diferentemente dos meninos, as meninas iniciam o Complexo de Édipo com o fim do Complexo de Castração, ele é uma formação secundária, pois ao abandonar a mãe enquanto objeto de amor, a menina se liga ao pai, por acreditar que esse poderá dar o que ela quer: o pênis enquanto falo e que posteriormente será substituído pelo desejo de ter um filho. (Lacan 1957)

O Complexo de Édipo feminino não possui um fim especifico, como ocorre nos meninos, ele se desfaz gradativamente, conforme a menina percebe a impossibilidade de satisfação de seus desejos, catexizando esses no inconsciente. (Lacan, 1957)

Esse processo, para Lacan, acontece em tem três tempos:

(20)

Num segundo momento do Complexo de Édipo a criança deixa de “ser” a mãe e passa a “ter” a mãe, ela tem a ilusão de que tem a posse dessa mãe, saindo assim da dualidade. Assim quando a criança se dissocia da mãe e sente-se dona dela, o pai aparece como um ser privador (pois priva a mãe do bebê), frustrador (pois frusta a criança e não permite que essa tenha o amor de sua mãe) e interditor, pois interdita essa relação incestuosa mãe- bebê. Assim a criança rivaliza com pai, e se percebe em falta.

No terceiro e último momento do Complexo de Édipo, o pai aparece com o detento do falo, sendo aquele que pode dar a mãe o que ela deseja, situando assim a criança em outro lugar. Dessa maneira ele é visto como uma ser permissivo e doador.

Para os meninos trata-se de um momento de transmissão das insígnias fálicas, e para as meninas da busca do que desejam junto ao pai.

É importante ressaltar que o pai é visto como o detentor do falo, sendo este um objeto simbólico, e é só dessa maneira que o falo poderá ser apresentado na troca, através do simbólico, pois ele pode ser dado tanto para a mãe como para a criança. Dessa maneira podemos entender que ao passar no terceiro tempo do Complexo de Édipo o pai oferece uma identidade sexual, porque até então era o bebê e depois vira a menina e o menino.

E assim há a saída do Complexo de Édipo, o pai é por fim visto como o suporte da lei.

(21)

E através desse corte que existe entre mãe - bebê, que faz com que tenha o advento do objeto a,

“(...)como um último indício daquela unidade, um último resto dessa unidade. Ao clivar-se desse resto o sujeito dividido, embora excluído do Outro, pode sustentar a ilusão da totalidade; ao apegar-se ao objeto a, o sujeito é capaz de ignorar sua divisão.”(Fink, 1998, pg 83)

Battaglia, explica que Lacan afirma que os sujeitos passaram o resto da vida a procura dessa experiência de satisfação, e essa busca pela plenitude é chamada por ele de Gozo.

“O gozo é então o que vem para substituir a perda da ‘unidade mãe-criança’, uma unidade que talvez nunca tenha sido tão unida assim, uma vez que se constituía somente devido ao sacrifício da criança ou a sua abdicação à subjetividade.(...)

Assim, vemos como é essa separação, um ou/ou envolvendo o sujeito e o Outro, que produz o ser: criando um corte na unidade sujeito- Outro, o desejo do Outro se livra do sujeito – sempre buscando, como é seu costume, algo mais – embora o sujeito seja capaz de recuperar um resto disso, pelo qual sustenta-se em ser, como um ser de desejo, um ser desejante. O objeto a é o complemento do sujeito, um parceiro fantasmático que sempre desperta o desejo do sujeito. A separação resulta na divisão do sujeito em eu e inconsciente, e em uma divisão correspondente do Outro em Outro faltante (A) e o objeto a. Nenhuma dessas ‘partes’ estava lá no início e no entanto a separação resulta em um tipo de interseção por meio da qual algo do Outro ( o desejo do Outro neste caso) que o sujeito considera sua propriedade, essencial para sua existência, é arrancado do Outro e conservado na fantasia pelo sujeito agora dividido.” (Fink, 1998, pg83/84).

(22)

2.1. Síndrome de Down

“As pessoas portadoras da Síndrome de Down foram consideradas como exemplares das pessoas especiais deficientes mentais, pois são também estigmatizados por facie típico, denunciador de sua condição de especial e impossibilitador da negação da condição de estrangeiro.” (Faria, 1997, pg 10)

Tendo isso em vista, acredito que não cabe separar a estruturação do sujeito com Deficiência Intelectual e o sujeito portador da Síndrome de Down, pois como foi visto o portador da Síndrome de Down é o denunciador da condição do deficiente intelectual, porém com um diferencial que é o biótipo. Como esse capítulo pretende discutir o diferencial que a deficiência traz, falar do portador da Síndrome de Down supera, pois além da deficiência há o corpo que denuncia.

Como dito anteriormente, a constituição do sujeito acontece antes mesmo do nascimento do bebê, o desejo que os pais têm são os significantes que eles o emprestam, assim esse desejo é constitutivo, porém

“(...) a enfermidade de um filho atinge a mãe num plano narcísico: dá-se uma perda brusca de toda referência de identificação, o que implica, como corolário, a possibilidade de comportamentos impulsivos. Trata-se de um pânico diante de uma imagem de si que já não se pode nem reconhecer nem amar.” (Mannoni, 1988, pg 02)

Assim o que resta a essa mãe, como diz Schmidt (s/n) é descobrir novos desejos em relação a esse bebê, renunciando aos antigos desejos que tinha em relação a esse filho imaginário. Entretanto isso só será possível no momento em que a mãe conseguir elaborar o luto por esse filho idealizado e perfeito que não nasceu. Todavia

(23)

Isso faz com que surjam alguns pontos complicados, como primeiramente a “fratura do desejo materno”, pois “(...) toda depreciação da criança é sentida pela mãe como depreciação de si própria. Toda condenação do filho é uma sentença de morte para ela.” (Mannoni, 1988, pg02). Segundo ponto complicado é a qualidade que se formará essa relação, com ausência de prazer, pois sempre haverá de alguma maneira a idéia de morte; E por fim a impossibilidade de se operar a função paterna, pois o pai pode sentir culpa ao fazer o corte simbólico(Schimidt, s/n).

“(...) existem casos em que e o pai que se preocupa com a criança, trata-se então, a maio parte das vezes, de uma identificação com a própria mãe. Porque, como responsável pela lei, o pai só pode sentir-se perplexo diante de um filho que, de início, é destinado a viver fora de todas as regras.” (Mannoni, 1988, pg 04)

Acredito ser necessário fazer uma superposição para entender melhor em que momento da formação do sujeito as peculiaridades estão ocorrendo. Até aqui foi explicada a dificuldade que a mãe tem em se identificar com o seu bebê, principalmente no caso dos portadores da Síndrome de Down que já no momento do nascimento é detectado a presença da síndrome, sem essa identificação o estágio do espelho também ocorrerá com dificuldade, pois “(...) a ausência de imagem unificada de si mesma a coloca em estado de perigo, em pânico de ser rejeitada; por isso procura refúgio em um adulto de quem se torna parasita.” (Mannoni, 1988, pg 7)

Ao se tornar parasita, como disse Mannoni, ela se torna um ser totalmente sujeitado ao Outro, assim

“Se (...) a criança se manifesta como sujeito que deseja, é seu corpo que já não pertence e está como que alienado. Cria-se uma situação em que mãe e filho deixam de ter suporte de identificação. Ao animal malvado em que a criança se transforma por momentos, a mãe reage com o adestramento que mascará a angústia diante do ser humano que ela já não reconhece.” (Mannoni, 1988, pg07)

(24)

“Agressividade que emerge na tentativa de marcar um lugar subjetivo, ali onde o imaginário prevalece sobre o simbólico. Ali onde as crianças deficientes não encontram em seus pais a possibilidade de encontrar significantes que as situem como diferentes, no campo simbólico, elas os buscam no social, nos professores, personagens das primeiras saídas do ambiente familiar. Ali, encontram a demanda pedagogizante, que também os coloca em uma impossibilidade de simbolizar sua condição real.” (Meira, s/n, pg69)

Com a tentativa de encontrarem significantes e objetos para se identificar, como foi dito eles acabam esbarrando numa demanda muito mais pedagógica do que propriamente constituinte resultando em um processo inibitório das questões sexuais por perceberem que esse era um tema interdito.(Schmidt, s/n)

“Tal interdição funciona como uma trava da fantasia e das aspirações quanto ao futuro. Então, só resta a esta criança esperar para o futuro aquilo que já conquistou no presente, ou seja, uma condição infantil, uma exclusão do mundo adulto ‘normal’, e um aprisionamento em seu corpo e na realidade da sua deficiência, que, impedida de ser simbolizada nos aspectos possíveis, passa a ser, ela própria o Real.” (Schmidt, s/n, pg72)

Resumindo, a mãe impossibilitada de se identificar com esse filho, se oferece como uma hospedeira (termo utilizado por Mannoni) que terá eternamente esse sujeito como um parasita, alienado nela, impossibilitado de ter alguma independência, desta maneira, a função dessa mãe passa ser de adestrá-lo e não favorecer uma independência. Não aceitado assim que seu filho invista libidinalmente em outro objeto (objeto a).

(25)

“ Coração do Amor

O coração do amor O coração da paixão. O coração colorido O calor do coração.

O coração bate forte O coração diz para não chorar. O meu coração é rosa O rosa se pinta no meu coração.

O coração sente falta Das pessoas que já se foram. O abraço alegra o amor No coração cor de rosa, te abracei.

Você é como eu sempre falo Minha vida, meu coração. Espero pôr essa dor cor de rosa No fundo, eu quero você.

Nem sempre vou te esquecer O amor que tenho é muita coisa. Sei que podemos nos ajudar Espero por esperar.

(26)

Capítulo III

AMOR

Sexualidade, como foi visto não se resume ao sexo, ela se manifesta de diversas formas e as maneiras. E o amor é uma das buscas que surge através/ com a sexualidade, desta maneira acredito ser necessário entender melhor tal sentimento. Na Psicanálise

“(...) o amor (correlacionado com demanda) tem um objeto. Ao falar em ‘escolha de objeto’, Freud a relaciona com a demanda repetitiva do sujeito pelo mesmo tipo de objeto de amor, ou pelo mesmo tipo de relação com esse objeto. E quando Lacan (...) fala de objetos ‘de desejo’ ou ‘em desejo’ (...), tais objetos são nitidamente objetos de amor, em outras palavras, objetos aos quais o sujeito dirige sua demanda de amor”(Fink, 1998, pg 114/115).

Freud (1910) escreve sobre essa escolha do objeto de amor que os homens fazem. Ele diz que existem condições necessárias para que essa escolha seja feita.

“ A primeira dessas precondições para o amor pode ser descrita como positivamente específica: onde quer que se manifeste pode se procurar a presença de outras características desse tipo.” (Freud, 1910, pg. 150)

Deve existir um terceiro, ou como Freud diz “uma terceira pessoa prejudicada”, que rivaliza ou seja, “outro homem possa reivindicar direitos de posse” (Freud, 1910, pg150) dessa mulher, para que ela seja tomada como objeto de amor. Essa situação favorece uma “oportunidade para gratificar impulsos de rivalidade e hostilidade em direção ao homem de que a mulher é arrebatada.” (Freud, 1910, pg150). Fazendo assim com que haja um favorecimento pela periência de ciúme, “que parece ser uma necessidade para esses amantes” (Freud, 1910, pg 150), além de fazer com que a triangulação do Complexo de Édipo seja revivida.

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e deve se encontrar em conjunto com a primeira, enquanto a primeira condição pode ocorrer isoladamente. (Freud, 1910)

Esse interesse por mulher com características semelhantes à de uma cortesã, faz com que elas sejam consideradas objetos de amor de alto valor. Eles constituem uma relação e exigem fidelidade mesmo que a companheira transgrida as regras do relacionamento. Além disso eles se colocam como salvadores dessas mulheres amadas, eles salvam por não abandona-las.

“Se examinarmos as diferentes características do quadro aqui apresentado – as condições que se impõem ao homem, de que sua amada não deve ser desimpedida e deve ser semelhante a prostituta, o alto valor que lhe atribui, sua necessidade de sentir ciúme, sua fidelidade que, não obstante, é compatível em ser transgredida em uma longa série de circunstâncias, e a ânsia de salvar a mulher – parecerá pouco provável que todas decorram de uma única fonte. No entanto a investigação psicanalítica da biografia de homens deste tipo tem revelado, facilmente, que não há uma fonte única. A escolha de objeto, que é tão estranhamente condicionada, e esta maneira extremamente singular de se comportar no amor, têm a mesma origem psíquica que encontramos nos amores das pessoas normais. Derivam da fixação infantil de seus sentimentos de ternura pela mãe e representam uma das conseqüências dessa fixação.” (Freud, 1910, pg, 152)

3.1. Relacionamentos Amorosos

Falar de sexualidade e amor faz com que seja necessário pensar melhor como esses sentimentos se dão nas relações.

“A capacidade de apaixonar-se é um pilar básico do relacionamento do casal. Implica na capacidade de vincular a idealização com o desejo erótico e no potencial para estabelecer um relacionamento objetal profundo.” (Kernberg, 1995, pg 57)

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relacionamento amoroso: casamento e namoro, que também são foco do trabalho, por se tratar de vínculos afetivos estáveis que proporcionam a manifestação da sexualidade.

Começarei discorrendo sobre casamento, pois enquanto instituição foi a que surgiu primeiro, sendo namoro uma forma de se relacionar mais recente.

3.1.1. Casamento

“O que denominamos ´casamento` constitui uma realidade evidentemente complexa. O institucional e o pessoal, o econômico e o cultural, o poético e o religioso, o vir-a-ser histórico e as mudanças atuais: tudo se mescla nesta realidade humana.” (Vidal, 2002, pg213)

Como Vidal relata essa é uma instituição complexa, para entendemo-la é necessário contextualiza-la no tempo e espaço. Para isso tomaremos como base qual o conceito popular dessa instituição nos dias de hoje, para tanto me utilizarei do dicionário para falar sobre sua definição, afinal nele se encontra o conceito mais popular do assunto em questão.

“Casamento: união solene entre duas pessoas de sexo diferentes, com legitimação religiosa e/ou civil” . (Ferreira, 1989, pg101)

Tendo tal definição em vista, acredito ser o momento de contextualizar historicamente para assim compreender como se chegou a atual definição, que adiante será melhor elaborado. É importante salientar que esse capítulo está baseado na obra de Chaves (1997).

A autora começa o relato contextualizando o casamento a partir do século X, no qual há dois tipos de casamentos: o de nobres e o da Igreja.

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duas pessoas e sim de um acordo econômico entre duas famílias, onde uma entregava a moça e a outra a recebia em troca de um dote.

Já nos séculos XI e XII, Chaves (1997) conta que a Igreja começa a intervir nessa celebração para aproxima-la do modelo sacramental, dessa maneira após o sacramento ele passa a ser indissolúvel e único.

No século seguinte (séc. XIII), a Igreja implanta o caráter público da cerimônia, dessa maneira sendo celebrado na porta da igreja, se fazendo necessário a presença dos padres.

Nos séculos XIV a XVI, há uma mudança de mentalidade, surgindo assim o compromisso de reciprocidade do casal, ou seja, além de ser um contrato de famílias deveria ser dos indivíduos também. No século seguinte a mesma autora relata que as cerimônias passam a ser celebradas no interior das igrejas. E até o fim desse século havia uma diferenciação entre o amor de casamento (que era uma reserva) e o amor fora do casamento (aquele que além do amor, há paixão), essa diferença era estimulada, pois como dito anteriormente o casamento era um negócio entre famílias, os teólogos temiam que se houvesse paixão entre os cônjuges, o relacionamento social e o amor à Deus poderiam ser prejudicados, assim essa não era uma instituição voltada ao erótico, tendo uma função exclusivamente social e econômica.

Entretanto quando a Igreja faz com que seja necessário que os futuros cônjuges consentissem o casamento, faz exclusivamente para que

“a negociação fosse aceita pelos futuros cônjuges, e não impostos a eles. Esperava-se que o amor nascesse e se desenvolvesse durante o casamento. Este se situava entre um vasto domínio público e um pequeno espaço secreto.” (Chaves, p24)

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No século XVIII, Chaves (1997), relata que o amor com paixão deve ser um fator presente no casamento, se não estivesse presente, deveria ao menos parecer estar presente. Além da importância do amor, o filho se torna peça central na relação.

No final do século em questão e começo do século XIX aumenta o ideal romântico, o qual o amor é baseado numa escolha do indivíduo e não mais do grupo social, ou seja o importante é o indivíduo e não mais a família.

“A relação sexual se torna um processo intimo e pessoal, e ao mesmo tempo absolutamente geral, por absorver a própria personalidade no serviço da espécie e na experiência orgânica universal da natureza.

Sociedade moderna, igualitária e individualista ocorre uma expansão do círculo social, o que altera o tipo de escolha dos cônjuges e a noção de liberdade. Com a expansão do círculo aumenta o número de parceiros conjugais possíveis, e assim a seleção individual torna-se muito mais rigorosa e totalmente pessoal. A liberdade individual é limitada pela individualidade. As necessidades são específicas e a escolha do cônjuge é (...) expressão inequívoca do desejo de uma indivíduo singular.” (Chaves 1997 pgs 22 e 23)

Ao traçar o histórico, percebemos o porquê da importância destinada ainda nos dias de hoje, ao reconhecimento público dessa instituição como podemos observar na definição do dicionário :“uma cerimônia com legitimação religiosa e/ou civil”. Ela ocorre, pois como vimos nos primórdios essa era uma comemoração de um acordo econômico, e por isso era necessário que a sociedade fizesse parte, assim como também valorizasse esse tipo de união, afinal era a demonstração de status e poder.

Deficientes intelectuais

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“Em uma sociedade como a nossa, onde grande valor é posto no casamento, onde se glorifica a família, nada mais compreensível do que o desejo manifesto por muitos excepcionais de constituírem família.” (Lipp, 1987, pg 22)

Acredito ser importante ressaltar que mesmo esses sujeitos sendo Deficientes Intelectuais, eles são criados, como qualquer pessoa, por um Outro que é o representante social, e este acaba sendo o primeiro elo entre a criança e o mundo, dessa maneira independentemente da deficiência o sujeito é imerso na cultura e por isso acabam compartilhando dos mesmos ideais.

Como dito anteriormente o casamento surgiu como celebração de um contrato econômico, apesar de não ser mais esse o principal fim dessa união, esse caráter econômico ainda esta arreigado no pensamento de nossa sociedade, parecendo ser mais evidente quando falamos de uma população considerada vulnerável, como a dos Deficientes Intelectuais, onde legalmente eles não são considerados plenamente capazes1, dessa maneira ainda são dependentes de um cuidador, assim muitas vezes o cuidador deixa de ser os pais para ser um futuro cônjuge, como percebemos na fala dessa mãe:

“Estou velha e o meu filho de 38 anos com Síndrome de Down só tem a mim. Embora tenha emprego e seja independente consigo mesmo, não tem amigos nem namorada. Estou pensando em apresentar-lhe alguém que eu possa ‘preparar’ para se casar com ele. Talvez uma moça que aceite conviver com ele em troca de uma vida estável financeiramente...” (Regen, 1993, pg94)

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quando se discute a possibilidade de casamentos e/ou união estável2 entre esses sujeitos existem muitas contradições, isso faz com que novamente recorramos ao histórico para entender os medos.

O casamento além de ser um contrato econômico, com o passar do tempo ele passa a ser o viabilizador da constituição de uma família, com um objetivo muito específico: ter filhos. Assim muitos pais, além de temerem a impossibilidade de seus filhos deficientes conseguirem ser independentes; temem também a possibilidade deles gerarem filhos, que poderão ter seus cuidados negligenciados e/ou ser uma carga maior para eles (pais).

Ao ler um manual destinado aos pais, encontrei 3 perguntas que a autora diz serem importantes se fazer aos filhos deficientes intelectuais que pretendem se casar, são elas:

“1. Até que ponto meu filho sabe manter um relacionamento longo? 2. Até que ponto ele sabe assumir responsabilidades?

3. Como é que ele lida com seus sentimentos? Ele os compreende? Compreende os sentimentos dos outros?” (Lipp, 1987, pg 74)

Acredito ser importante levantar tais questões, mas a todos sujeitos, independente da deficiência ou não.

Outra preocupação recorrente dos pais, é como dito, que o casamento seja utilizado como viabilizador de procriar, mas essa é uma questão que deve ser conversada e explicada, pois como a autora diz:

“Casamentos assim têm mais chance de sucesso se o casal não tem filhos. Há muitos exemplos mostrando que criar crianças é um encargo grande demais para a maior parte dos excepcionais e seus filhos muitas vezes são privados do cuidado físico e da estimulação intelectual que necessitam.” (Lipp, 1987, pg74)

2

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Percebemos ai a necessidade de uma educação sexual, pois só através das informações que as pessoas podem tomar decisões, e quanto mais esclarecidos forem mais responsáveis serão as decisões.

3.1.2. Namoro

O namoro é uma forma de se relacionar mais recente, surge no início do século XX, com a elite brasileira, segundo o relato de Chaves(1997).

A autora (1997) explica que o Namoro Tradicional, era um processo de escolha de um parceiro para se casar. Tanto que num primeiro momento ele era secreto, nem o pai, nem os irmãos mais velhos poderiam saber. Ele ocorria no portão de casa e poderia durar de meses a anos, até o momento em que o candidato tivesse condições econômicas para pedir em casamento a escolhida.

O namoro era controlado para a honra da mulher fosse preservada, essa honra se tratava da virgindade. Chaves (1997) continua e afirma que o namoro só era aceito pela família quando se tinha a certeza de que ele realmente resultaria em um casamento, e ter mais do que um namoro era outro fator que prejudicava a honra dessa mulher, por isso a necessidade dos familiares de só aceitar quando se percebia um real comprometimento do casal.

“O namoro não tinha um fim em si mesmo e não era considerado passatempo ou gozo de satisfações imediatas de afetividade.” (Chaves, 1997, pg 24)”

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descobriu que os jovens entendem namoro como um relacionamento sério e intenso que envolve compromisso.

Abreu (2004), também constatou que os entrevistados relacionam namoro, sempre com amor e sexo, em que os 3 coexistem.

“... ser amado e ser um casal parece dar uma garantia maior a respeito de quem eu sou, segurança para se posicionar no mundo, o que se opõe a essa maior suscetibilidade e fragilidade egóica observadas quando estão sós. Entendemos que para esses jovens a relação afetiva parece ser um definidor de identidade por isso estar só acaba se associando a essa idéia de vulnerabilidade e insegurança.”(Abreu, 2004, pg 75)

Deficientes Intelectuais

Como visto anteriormente o namoro era uma forma de escolha do parceiro para casar, e que nos dias de hoje essa ligação entre namoro e casamento não é mais necessária, sendo uma forma de se relacionar com um comprometimento menor, porém essa fato não faz com que o namoro seja uma forma de se relacionar mais aceita na população dos responsáveis dos deficientes intelectuais, talvez pelo motivo que Gil (1994, apud Wuo, 2005) expõem em seus estudos, de que a representação social dos deficientes mentais, é de uma flor, que necessita de uma eterna proteção.

Esta imagem passiva e infantil do deficientes mentais os coloca como eternas crianças que não podem nunca desfrutar do “mundo dos adultos”, acredito que essa representação leve a segrega-los da sociedade, pois esse conceito desqualifica o deficiente colocando-o em outro patamar, naquele que necessita de um cuidado constante.

Essa visão pode ser confirmada com o relato a seguir:

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em casar. Procuro afastá-la dessa idéia com subterfúgios falsos, mas sinto que não consigo nada e a situação se torna cada vez mais difícil. Outro dia, segui-a de longe e vi quando desceu do ônibus e foi recebida pelo namorado com beijos ardorosos no meio da rua. Perdi a cabeça e separei-os, pois não consigo aceitar com naturalidade essa situação.” (Regen, 1997, pg95)

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Capítulo IV

OBJETIVO

O presente trabalho teve como objetivo analisar o relacionamento amoroso de um casal de jovens com Deficiência Intelectual, buscando identificar o entendimento individual dos sujeitos pesquisados sobre a relação e analisar a influência dos aspectos sociais, especificamente familiares, no entendimento dessa relação.

Capítulo V

METODOLOGIA

5.1 Método

Esta é uma pesquisa qualitativa tipo exploratório que foi realizada como Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade de Psicologia. Essa pesquisa respeita a resolução 196 do Ministério da Saúde que prevê sua aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que ocorreu em julho de 2007.

Após a aprovação, a pesquisadora fez um contato com os responsáveis por essas pessoas, posto que se trata de uma população de risco, para que eles autorizassem e assinassem os termos de consentimento livre e esclarecido. O mesmo termo foi assinado pelos participantes, pois se acredita que sempre se deve manter a escolha e tentar promover a autonomia dessas pessoas.

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A coleta de dados foi efetuada em cinco etapas:

Primeira: O contato com os responsáveis para explicar, pedir autorização

(anexo I e II) e fazer os ajustes necessários de local, data e horário, para que se começasse efetivamente a coleta de dados.

Segunda: Uma entrevista semi- dirigida (anexo III), conjunta com o casal no

qual eles relataram a história da relação. A entrevista semi- dirigida foi escolhida para favorecer uma fala mais livre, possibilitando uma maior liberdade aos entrevistados de abordar o assunto em foco da forma mais confortável para eles, utilizando o roteiro apenas para nortear todos os pontos importantes para a análise; e a escolha deles estarem primeiramente juntos, foi para proporcionar uma familiarização com a pesquisadora, possibilitando assim um contato mais espontâneo. Essa etapa foi realizada em um encontro de cerca de 1 hora e meia, e teve a possibilidade de se estender para um segundo encontro, se a pesquisadora e os sujeitos achassem necessário.

Terceira: Uma entrevista semi-dirigida (anexo IV) com cada sujeito

separadamente, para eles relatarem um pouco da relação e de suas experiências individuais. Essa etapa foi realizada com um encontro com cada um dos sujeitos, tendo a possibilidade de um segundo encontro se necessário.

Quarta: Aplicação do Teste de Apercepção Temática(T.A.T.) (anexo V) que é

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Quinta: Devolutiva com os pais e os participantes da pesquisa individualmente.

Nesse momento a pesquisadora relatou um pouco do que foi observado e concluído, estando disponível para esclarecer eventuais dúvidas e prestar esclarecimentos que por ventura fossem necessários.

5.2 Sujeitos

Este estudo visava um casal, pré-estabelecido, heterossexual, portadores de Deficiência Intelectual, não importando a idade, sendo que pelo menos um dos sujeitos deveria ser portador da Síndrome de Down.

Para a realização desse trabalho a pesquisadora optou por realizar a pesquisa com o casal para favorecer e possibilitar analise da mesma relação da perspectiva feminina e perspectiva masculina; e heterossexual para que fosse preservado o foco sobre a deficiência e não sobre os impactos e eventuais pré-conceitos que ocorrem quando há uma orientação homossexual da pessoa.

5.3 Local

Por se tratar de uma população diferenciada quanto a independência, facilidade de locomoção dentre outros fatores, se entendeu que realizar o estudo na casa dos indivíduos possibilitaria uma maior autonomia desses em relação a seus pais, bem como a familiarização com o local dos encontros facilitaria uma maior tranqüilidade para a participação deles, diminuindo um possível fator de estresse e distração característica dessa população.

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5.4 Análise dos Dados

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Capítulo VI

COLETA DE DADOS

Sexualidade é sempre um tema polêmico, e para encontrar mães que permitissem seus filhos com deficiência intelectual, participarem de uma pesquisa que tinha como objetivo entender a relação amorosa e discutir a sexualidade, foi uma tarefa árdua.

Assim, acredito ser interessante relatar toda minha trajetória até chegar efetivamente à coleta de dados.

Logo que nos foi proposto a execução desse trabalho, já me preocupava com a possibilidade de encontrar pessoas interessadas em participar de minha pesquisa.

Num primeiro momento pensei em fazer a pesquisa com as pessoas responsáveis pela suscitação de minhas questões de pesquisa, porém o contato deveria ser feito pela instituição e os prazos para os tramites institucionais eram muito longos fazendo com que eu não tivesse tempo hábil para a execução de minha pesquisa.

Decidi, então buscar outra instituição, essa aceitou e fez exigências que me possibilitariam cumprir a tempo a execução de minha pesquisa, porém o contato foi feito no ano passado e no começo desse ano não haviam mais pessoas que se enquadrassem no perfil de minha pesquisa.

Tentei algumas outras instituições e a única que se mostrou aberta a minha pesquisa fica em outro estado, mas especificamente no Rio de Janeiro.

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Ao conversar com algumas pessoas, uma amiga me relata que viu trabalhando em um estabelecimento de nosso bairro uma mulher que era portadora de Síndrome de Down e usava aliança, fui ao estabelecimento e conversei com ela, para saber se ela tinha interesse em participar da pesquisa e se ela se encaixava no perfil das pessoas que gostaria de estudar. Ao perceber que ela e seu marido se enquadravam no perfil, deixei meu contato para que confirmasse o interessasse dela e do marido, além da permissão dos responsáveis por eles.

Nesse primeiro contato (no estabelecimento onde ela trabalha) ela se mostrou hesitante pedindo para que eu garantisse que a entrevista não fosse para nenhum programe de televisão, pois a mãe dela gostava e ela não. Finalizando sua fala dizendo: “Eu faço essas entrevistas na televisão por minha mãe e não por mim!”

Depois de uma semana recebo o telefonema dela dizendo que tanto ela, quanto o marido que também era portador da Síndrome de Down, aceitaram participar da pesquisa e seus responsáveis já haviam permitido. Durante a ligação percebo uma ansiedade em participar dessa pesquisa, pois demonstrou uma urgência em marcar as entrevistas, mesmo falando que antes de fazermos a entrevista, teríamos que esperar um tempo até mesmo para que saísse a autorização do Comitê de Ética aprovando meu projeto, ela insiste na idéia de marcar a entrevista para o fim de semana seguinte.

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Tendo em vista que não tinha a permissão oficial do responsável por um dos possíveis participantes de minha pesquisa, tive que agradecer a disponibilidade e continuar a minha procura.

Falando com mais algumas pessoas sou apresentada à psicóloga de um grupo destinado a proporcionar uma rede social aos deficientes intelectuais, que me relata fazer parte do mesmo um casal casado há 10 anos em que ambos têm deficiência intelectual.

Faço todos os contatos necessários, os pais autorizam a participação na pesquisa e o casal também se predispõe. Espero a autorização do Comitê de Ética sair, quando isso ocorre marco o dia para a entrevista.

O primeiro encontro ocorre na casa dos pais do marido, converso um pouco com a mãe dele. Os termos de consentimento são assinados e em seguida vou para a casa do casal.

Faço a primeira parte da aplicação, o casal foi muito receptivo, me mostraram os álbuns do casamento e de formatura e marcaram para eu ver o vídeo do casamento no próximo encontro que foi marcado para dali três dias.

Na noite anterior da segunda parte da aplicação, recebo a ligação de uma moça que se diz psicóloga da participante de minha pesquisa, informando que ela, a psicóloga, havia decidido que o melhor era o desligamento da paciente do meu trabalho, pois assuntos que eu não poderia trabalhar estavam sendo suscitados.. Nesse momento peço uma gentileza ao leitor, se reporte ao anexo 1 e leia os tópicos abordados, faço esse pedido, pois gostaria de demonstrar que as questões levantadas na entrevista poderiam ser levantadas em qualquer conversa.

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melhor eles se desligarem da pesquisa e eles acharam melhor fazer isso para favorecer a saúde mental de sua filha (participante de minha pesquisa), em solidariedade a esposa o marido também se desliga da pesquisa, fazendo com que minha busca recomece.

Mais uma vez, converso com as pessoas que fazem parte de minha rede social, algumas pessoas me passaram alguns contatos e incrivelmente as respostas eram sempre as mesmas: “Eles não são um casal normal, por isso acho que não se encaixarão com o perfil necessário”. E essa posição era mantida, mesmo quando eu explicava que era somente necessário que o filho ou filha namorassem, os responsáveis sustentavam sua posição dizendo que não era bem um namoro, eles (casal) apenas consideravam isso.

Percebendo a resistência dos pais, agradecia a atenção e continuava minha procura. Até que um dia conversando com uma amiga ela me conta que em seu trabalho há um rapaz portador da Síndrome de Down e que esta namorando. Peço o contado, converso com os responsáveis e com os participantes que se colocaram a disposição de participar de minha pesquisa, marcamos os dias e por fim a coleta de dados acontece.

Para facilitar a identificação e proteger a identidade, doravante chamaremos a menina de “Sara” e o menino de “João”.

Por impossibilidade das agendas, as quatro etapas da pesquisa foram feitas em 2 dias e na casa de “Sara”.

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Ao chegar para fazer a coleta de dados fui recepcionada pelos pais, conversei rapidamente com eles e logo depois “Sara” e “João” chegaram peço para ficarmos num lugar tranqüilo da casa em que possamos ficar sozinhos.

Ficamos na sala de jantar, numa parte que ficava nos fundos da casa, porém, mesmo não sendo passagem, alguns integrantes da família passavam. Durante a entrevista com o casal fomos interrompidos algumas vezes, mas na entrevista de “João” não houve nenhuma parada. No segundo dia de coleta, fui novamente à casa de “Sara” e mais uma vez as interrupções aconteciam. Pedi para ficar sozinha com ela, a mãe me leva para uma sala, e durante a entrevista ela se colocou em uma sala do lado e quando menos esperávamos ela interrompia, chegando em alguns momentos a sentar na sala em que estávamos para participar também da entrevista.

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Capítulo VII

ANÁLISE

Por meio das entrevistas e do Teste de Apercepção Temática (TAT) foi possível perceber que ao analisar a relação do casal é necessário entender minimamente a relação deles com seus pais, isso ficou mais nítido com “Sara”, talvez pela pesquisa ter sido aplicada em sua casa e os pais estarem presentes e muitas vezes interromperem.

7.1 Análise das Entrevistas

Primeiramente é importante pontuar as diferenças estruturais de “João” e “Sara” para posteriormente analisar ambos na relação.

7.1.1 Entrevista “João”

João é o filho do meio, tem duas irmãs. Ele trabalha em uma instituição financeira auxiliando no trabalho administrativo (diz João: “escriturário, pego malote, pego fax, cadastro o fax para entregar aos outros funcionários.”), estuda em um

colégio estadual e ainda freqüenta uma instituição destinada a deficientes intelectuais, ou seja, tem um dia atarefado e uma circulação social ampla, pois tem vários lugares de socialização, inclusive com pessoas que não apresentam nenhuma deficiência.

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sendo o diferente no meio daqueles que não apresentam deficiência intelectual. Percebe-se essa dinâmica na seguinte passagem da entrevista:

“B: ...você tem amigos?

J: Tenho! Dentro da escola e dentro da instituição.

B: E no trabalho?

J: Também”

Ele considera que sua rede de amigos se encontra nos lugares em que ele convive com deficientes (escola e instituição), já o trabalho, lugar em que ele se relaciona com pessoas que na sua maioria absoluta não apresentam nenhum tipo de deficiência, só é cogitado por estimulo, ou seja, quando pergunto, indicando que, provavelmente, ele não considera o trabalho como um local em que ele tenha amigos, pois como veremos mais a frente, “João” tem uma tendência de tentar não frustrar o outro e assim negar a falta.

Para compreender melhor essa dinâmica que comecei a descrever sobre “João” é preciso entender a constituição do sujeito, como já foi visto, a necessidade de se ter um filho, para a mulher vem da falta, como diz Mannoni (1988) a mulher ao decorrer da gravidez, deseja que esse filho venha preencher o que ficou vazio na sua própria história, entretanto com

“(...) a interrupção na realidade de uma imagem de corpo enfermo produz um choque na mãe: no momento em que no plano fantasmático, o vazio era preenchido por um filho imaginário, eis que aparece o ser real que, pela sua enfermidade vai não só renovar os traumatismos e as insatisfações anteriores como também impedir posteriormente, no plano simbólico, a resolução para a mãe do seu próprio problema de castração.“ (Mannoni, 1988, pg 04)

Assim, por meio da interpretação da entrevista e do contato com a mãe de “João”, se observou que o fato desse filho ter Síndrome de Down3 proporcionou a permanência da falta; e que a percepção desse fato fez com que ele se estruturasse

3

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negando a mesma (a falta), pois, se ela não existe, nem ele e nem seus cuidadores têm que se haver com ela.

Desta maneira o vazio que ele deveria ter preenchido ao nascer, ele faz agora, no real, preenchendo o vazio do tempo, superlotando sua rotina, tendo vários elementos práticos para dar conta, que fazem com que a falta simbólica, que ele personifica, seja deixada de lado. Essa dinâmica nos permite pensar que essas atividades reais são desenvolvidas para que ele não entre em contato com a falta simbólica que (ele) representa, ou seja, sabe que ela (a falta) existe, mas finge não saber.

Essa rotina cheia de atividades, faz com que ele não tenha tempo para si e nem para relações amorosas, atitude estimulada pela família, como relata a sogra, que diz que a família de “João” o educou para ser independente, porém eles não aceitam muito bem suas relações amorosas, eles querem que “João” tenha uma independência financeira, mas não querem que ele se case.

Esse fato é compreensível se, como dito anteriormente, a função que ele exerce na relação com a mãe é de “esconder” a falta4 e ao se apaixonar e consequentemente se relacionar amorosamente, faz com que esse lugar em que ele se coloca seja resignificado, pois para alguém se apaixonar é necessário que tenha superado o Complexo de Édipo (abrindo mão da mãe, para poder ter qualquer outra mulher, no caso do homem) , ou seja,

“Estar apaixonado também representa um processo de luto relacionado a crescer e tornar- se independente, a experiência de deixar para trás os objetos reais da infância.” (Kernberg, 1995, pg 58)

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reproduz essa maneira de se relacionar, assim exerce a mesma função em seu namoro com “Sara”.

7.1.2 Entrevista “Sara”

Já “Sara” é a caçula, tem um irmão mais velho. Já viveu em outra cidade do Brasil e em um país da Europa, local em que foi alfabetizada. Sua mãe relata uma luta muito grande em fazer com que ela recebesse uma escolarização, pois na época em que ela freqüentava a escola, não existiam planos de educação inclusiva. Desta maneira Sara não fez uma escola regular.

Durante as entrevistas, principalmente a individual, percebi que Sara tem grande dificuldade em se concentrar, muitas vezes mudando de assunto, ou concluído de forma totalmente desconecta com a pergunta.

Ao observar um pouco da dinâmica de Sara e Carmem, percebemos ser uma relação invasiva, na verdade mais do que isso, em muitos momentos me parece que “Sara” se coloca e é colocada como uma extensão de sua mãe.

Avisei algumas vezes que a entrevista deveria ser realizada apenas com “Sara”, porém “Carmem”, como já foi dito, nos acomodou em uma sala que ficava do lado do local em que ela estava, possibilitando ouvir toda a conversa, além de facilitar as possíveis intervenções, interrupções e adendos que gostaria de fazer, não tendo muito espaço para sua filha desejar, como no exemplo:

“B: É o que é assunto de mulher?

S: Sobre TPM, sexualidade.. essas coisas...

B: TPM... você tem TPM?

S: Bem.. não sei bem se eu sinto.. é mais ou menos.

C: Fala direito.... seja objetiva!

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S: Minha mãe é mais boa do que eu, sabe?

Se eu tenho TPM...então deu certo.

B: Deu certo?(risos)

S: Deu tudo certo!(risos)

C: Você tem TPM ou não tem?

S: Ai eu não sei se eu tenho..

C: Claro que não tem!

S: Ai eu não tenho (risos)”

Observa-se que é a detentora de um saber que deveria ser próprio de Sara, que é o saber de seu estado de humor, é a mãe quem esclarece a própria Sara o que ela esta sentindo, esse é um exemplo dentro vários.

Além de se colocar como detentora do saber total sobre o corpo de Sara ela também decide o que deverá ser contado, muitas vezes percebe-se que ela não quer comentar o assunto e a mãe a obriga, chegando a muitas vezes contar a história sem a autorização da filha.

(50)

7.2 Análise dos Testes de Apercepção Temática

7.2.1 Análise TAT – “João”

Prancha 1

Ele relata a história de um menino que quer formar uma orquestra e por isso esta pensativo, ele vai conversar com os pais, por estar chateado de não ter dinheiro suficiente para fazer o que deseja. Mas no final conseguirá organizar a orquestra.

Essa situação em termos mais gerais, é de alguém que sente-se impossibilitado de realizar uma atividade por existirem termos mais pragmáticos a serem resolvidos. Ou seja, uma impossibilidade de realização de um desejo frente ao ambiente na atual configuração.

O herói é um criança, do sexo masculino, que toca algum instrumento não especificado. Ele é inseguro (“vai conversar com os pais dele, para ver se vai conseguir fazer uma orquestra”), frustrado (“meio chateado.... Por que ele tem que

sonhar com uma orquestra.”) e precavido (“Porque ele tem que pensar... no que é pra

se fazer, para não ficar tudo parado!”).

Esse herói tem a necessidade de produzir algo (“Fazer uma banda assim”)

Observa-se que foi não estavam presentes na prancha a figura os pais, esses elementos foram introduzidos como elementos de auxílio.

Referências

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