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Análise TAT – “Sara”

COLETA DE DADOS

7.2 Análise dos Testes de Apercepção Temática

7.2.2 Análise TAT – “Sara”

Prancha 1

Pedro, esta “em cima da mesa” com uma sacola e livros, pensando e concentrado para saber o que colocar no livro que ele vai escrever sobre a vida dele, esse processo é chamado de Projeto de Vida.

Em termos gerais essa situação se refere a um momento de reflexão para se decidir o que fazer da vida e como registrar isso para o resto do mundo, ou seja, fala da necessidade de deixar algo para a humanidade.

O herói é uma criança determinada (tem nome), do sexo masculino, que é precavido (“ele tá só concentrando também...para o que ele deve fazer”) e reflexivo. Tem como necessidade deixar algum produto para o Outro social.

O violino foi distorcido em livros e há a introdução de um saco, é precipitado para dizer que esse evento ocorreu por algum motivo específico que não a dificuldade de enxergar, pois como dito anteriormente, ela tem um comprometimento na visão.

O ambiente é percebido como um lugar acolhedor, pois o herói se permite parar para fazer sua reflexão.

Aparentemente o protagonista lida com o Outro com cautela, parece pensar muito no que vai fazer, tendo até um plano de registro antes de tornar em ato o que foi pensado.

Nesse primeiro momento não há o surgimento de um conflito, a ansiedade parece se formar frente à incerteza do futuro e parece utilizar como defesa a

repressão, por ausentar os conteúdos ansiógenos. Desta maneira podemos dizer que há uma fraca integração de ego.

Percebe-se a necessidade de aprovação (“Qual será o nome desse menino???”),podendo indicar uma ansiedade frente ao teste ou uma emocionalidade lábil.

Prancha 2

Uma professora chamada Laura, que pode ensinar seus alunos e manda o seu funcionário para trabalhar, ela é uma boa profissional, inteligente, educada e fina, que esta em uma estrada pensado em sua vida.

De modo geral, essa é uma situação que se refere a uma mulher que ocupa um cargo de chefia, pois tem funcionário que trabalha pra ela, e que se dedica a transmitir o saber, ou seja, podemos pensar que se trata de uma mulher potente que sabe e transmite.

O herói trata-se de um sujeito determinado (tem nome), adulto, do sexo feminino, que tem uma qualificação profissional, é boa professora, inteligente, educada e fina. Que tem como necessidade a transmissão do conhecimento e o auto conhecimento.

No relato há a omissão da mulher grávida e do cavalo e o campo é visto como uma estrada. Essa omissão deve ter ocorrido na tentativa de se negar a sexualidade, focando em uma mulher fálica, logo não tem espaço para nada, nem para um bebê, nem para um homem, a figura masculina é vista apenas como um sujeito a ser comandado, logo menos potente que a personagem principal.

O ambiente é acolhedor e viabilizador de suas necessidades. As relações são formadas através de uma disparidade hierárquica, na qual o herói é detentor do saber que transmitirá àqueles que não possuem.

Não há conflito, desta maneira não há espaço para o aparecimento de alguma ansiedade, assim podemos constatar que a repressão foi utilizada como defesa, pois “Sara” não permite que nenhum conflito emirja como já foi constatado, demonstrando assim uma fraca integração de ego.

A presença de exclamações (Nossa!) e comentários nos faz pensar em um pequeno distanciamento em relação ao estímulo, demonstrando uma labilidade emocional e uma impulsividade, visto que o tempo de latência foi de apenas 1 segundo.

Prancha 4

Trata-se de um casal: Olávo e Alice, em que Olávo esta serio olhando para o espelho, e que Alice esta ao seu lado preocupada para saber se ele tem algo a dizer a ela. Depois ele tem que dizer a ela que a ama e essa é uma fala sincera.

Esse é um relato de um casal em que o homem esta voltado para si e tem uma outra pessoa que esta sempre ao seu lado para o cuidar e esperando sempre com preocupação algum comentário. Esse homem tem como obrigação falar o quanto gosta dessa companheira, ou seja, trata-se de uma situação de dependência feminina de seu par que esta voltado para si.

O herói é um sujeito determinado (que tem nome: Olávo), adulto, do sexo masculino e que é sério. Ele tem como necessidade de se olhar (estar voltado para si).

Não há a omissão de nenhum elemento, mas tem a introdução de um espelho, talvez para mostrar a necessidade que o herói tem de estar voltado para si, momento em que o sujeito pode se ver e se reconhecer.

Assim, mais uma vez as relações se dão de forma desigual, pois tem um que é dependente do outro, pois fica a espera de qualquer manifestação, impossibilitado de ter o seu próprio espaço.

Mais uma vez “Sara” ignora a presença de um conflito, dessa maneira não há manifestação da ansiedade e concluímos uma fraca integração de ego.

A presença de comentários (“Legal essa!”), demonstrando mais uma vez a aproximação com os estímulos, resultado de uma possível labilidade emocional.

Interessante ressaltar que Olávo e Alice, como ela mesmo disse eram personagens de uma novela, em que Olávo era o vilão e se casava com Alice apenas por causa de seu dinheiro, elemento que aqui no relato é negado, na medida que “Sara” diz que Olávo realmente ama Alice, ao mesmo tempo que confirma que eles são iguais aos da novela5.

Prancha 6MF

Um homem cheio de qualidades (bonito, simpático e charmoso) que esta com um cachimbo na boca é casado com uma jovem mulher e educada, que fica admirando a beleza de seu marido.

Essa situação se refere a uma mulher que gosta de admirar o seu companheiro, que é mais velho, ou seja, a admiração pelo Outro6.

O herói é um jovem adulto, do sexo feminino que é educada. Ela tem como necessidade observar/admirar o seu companheiro.

Não há a introdução, nem a omissão de elementos e circunstâncias, assim como a presença de um conflito.

Há a presença de comentários (“Ahhhh! Essa é fofa!”), demonstrando mais uma vez a proximidade que ela esta dos relatos, confirmando cada vez mais a idéia de uma labilidade emocional.

Prancha 10

Um casal que esta tendo relação sexual7.

O herói, é o casal, de adultos. Eles tem a necessidade de realizar seus desejos sexuais.

O ambiente é percebido como excitante e proibido para “Sara”.

Há a introdução apenas de um elemento, pênis. Talvez para concretizar a idéia de relação sexual e de completude, visto que o pênis como signo de falo pode estar representando isso, ou também a necessidade de fortalecer a presença do masculino ou do nome do pai.

O conflito aparece, talvez por ela não se sentir presente na cena, não tendo elemento para se identificar. Percebe-se uma ansiedade referente a sexualidade, mostrando uma razoável integração de ego.

7

Acho interessante colocar exatamente a forma com a qual ela conta a história. “Ahhh!!! Já sei qual é o problema !!!

Prancha 12F

Um casal de amigos e namorados, em que a mulher é idosa e bonita e o homem é jovem. Eles estão sérios e quietos se olhando pelo espelho.

Em linhas gerais, trata-se de um casal de formação atípica (homem muito jovem e mulher muito idosa), que se vêem através de um elemento: o espelho, ou seja, não há um contato direto. Em síntese, se refere a um casal que não se relaciona diretamente.

Os heróis são o homem jovem e a mulher bonita e idosa, que tem como necessidade a troca.

Há a introdução de um espelho, novamente e uma distorção importante, a mulher jovem é vista como um homem8, talvez para que a relação mãe- filha não seja pensada ou a possibilidade de envelhecimento, visto que nessa prancha não há a duvida de que essa troca aconteceu por resultado de seu comprometimento visual, pois ela utiliza o feminino.

Podemos pensar na ansiedade por uma questão de auto-imagem e por existir conflito dizemos que houve uma razoável integração de ego.

Percebemos mais uma vez a falta de distanciamento com o estímulo e uma necessidade de aprovação, ambos demonstrando uma labilidade emocional.

8

Percebi também uma ansiedade manifesta, tanto que desestruturou o discurso dela, impossibilitando que ela estruturasse uma história.

Prancha

13 HF

Homem que esta chorando de desespero ao ver a mulher que amava morreu. Então ele chama a ambulância, essa a salva fazendo com que volte a viver e descobre que irá morrer, mas ela nega.

A situação em termos gerais, se refere a um homem que se entristece frente a possibilidade de perda de seu objeto de amor, então busca auxilio para que esse objeto de amor volte. Entretanto com a volta a vida, essa mulher que é tomada como objeto de amor, recusa e ignora a morte, ou seja, se refere a impossibilidade de abrir mão do objeto de amor.

O herói é um homem, adulto, que é persistente e lutador (chama a ambulância para salva-la).

Há a introdução da ambulância, que vem como auxilio para não se perder o objeto amado.

O conflito se dá entre ter e perder o objeto de amor, ansiedade frente a morte, que utiliza como defesa a negação. Demonstra uma razoável integração de ego, pois permite o aparecimento do conflito, mas não há uma elaboração.

Prancha 14

É um mistério, esta tudo apagado o homem abaixa para descobrir o mistério da escuridão que chama curto circuito.

O herói é um homem curioso. Ele tem a necessidade de saber o que aconteceu com a luz.

O ambiente é percebido como misterioso, não tendo nenhuma introdução nem omissão de elementos.

O conflito se dá pelo não saber, referindo-se a ansiedade da própria capacidade. Há uma razoável integração de ego.

Continua a presença de comentários durante o protocolo(“Aqui! Esta vendo aqui?”), confirmando a hipótese de um curto distanciamento dos estímulos.

Prancha 16

Conta a história da “chapeuzinho vermelho”. Conta que vai levar doces para a casa de sua avó, porém o lobo mau descobre onde a avó de Chapeuzinho vermelho mora e vai lá para come-la e fica no lugar dela esperando a chapeuzinho vermelho. Quando ela chega percebe a troca e sai correndo pedindo socorro e procurando sua avó, “o caçador ouviu e foi caçar a vovózinha”, logo depois o lobo come chapeuzinho vermelho e o caçador salva, vovó e a chapeuzinho vermelho.

Em termos gerais, é uma história de uma menina que assim como sua avó é objeto de desejo de um outro do sexo oposto, o encontro com esse outro é tão danoso que pode causar a morte, se um outro sujeito do sexo oposto não aparece para interditar.

do Complexo de Édipo, visto que essa prancha estimula o aparecimento dos acontecimentos inconscientes. Assim Chapeuzinho Vermelho seria ela, a vovózinha seria sua mãe, o lobo mau o pai e o caçador o “João”; assim “João” seria aquele que a salva da relação incestuosa que ela estabeleceria com seu pai.

O ambiente é visto como hostil e perigoso, existindo um conflito entre o desejo do herói com o desejo de um outro, assim, com uma a ansiedade relacionada à sexualidade.

Há uma boa integração e ego, pois há uma solução para o conflito surgido, mesmo sendo uma reprodução de algo já existente na literatura.

Prancha 19

História da casa de neve que combina com a Branca de Neve. Ela tinha uma madrasta que tinha ciúmes dela estar na casa com os sete anões se divertindo e fazendo torta de frango. Então a madrasta envenena uma maçã e entrega a Branca de Neve que come, então ela morre, vem o príncipe para o enterro dela, começa a beija-la salva para os sete anões ficarem felizes.

De uma maneira geral, se trata de uma situação em que uma mulher mais velha tem inveja da mais nova, por isso quer acabar com esse ser que lhe causa inveja. Isso iria ocorrer senão houvesse a intervenção de uma figura masculina que salva a menina, ou seja, é a relação heterossexual que salva a menina da inveja que se teve sobre a juventude.

O herói é uma menina e frágil. Ela tem a necessidade de ser eficiente (faz comida para os anões)

Há a introdução de todos os elementos vivos da história (branca de neve, príncipe, anões, madrasta)

O ambiente é visto como um lugar perigoso e hospitaleiro. Perigoso por existir as ameaças da madrasta e hospitaleiro por causa do s anões.

Prancha 20

Um homem, vestido de terno que esta olhando o jardim. Ele esta com frio por estar ventando, mas depois ele ficará quentinho e feliz.

É o relato de uma situação em que observar e/ou estudar um momento são atitudes, que num primeiro momento, podem trazer incomodo (frio), mas que depois há satisfação (quentinho e feliz)

O herói é um homem, vaidoso e bonito, ele tem a necessidade de observar.

O ambiente é um local incomodo (frio), que num futuro se tornará um lugar prazeroso (quentinho e feliz).

Há a presença de um conflito muito incipiente, por isso é difícil detectar que tipo de ansiedade e defesas se manifestaram.

Essa é a única prancha em que não há um comentário, demonstrando uma possibilidade maior de distanciamento

Na primeira prancha percebemos uma necessidade em uma auto análise, pensar em suas atitudes(conteúdo presente nas pranchas subseqüentes: 2 e 4), além da necessidade de transmissão de conhecimento, na qual o personagem esta pensado em escrever um livro (transmissão), talvez essa atitude seja uma resposta ao teste, no qual ela tem que confeccionar histórias e me transmitir o que pensou, afinal são os mesmos comportamentos que se repetem na prancha seguinte.

Além dos fatos destacados, a prancha 2 denúncia talvez a forma com a qual “Sara” se coloca: uma pessoa sem falta, uma mulher fálica. Por isso ignorar a presença da grávida, se nega a potência de uma mulher que espera um bebê (aquele que a completará), pois se ela (“ Sara”) não esta em falta não tem espaço para um bebê, logo não existe a necessidade da gravidez. E talvez por se colocar como fálica, tem como obrigação a transmissão do saber, ou aqui representando as insígnias fálicas.

Também podemos pensar que essa prancha na verdade se trata da situação de teste, assunto esse que ela faz referencia na prancha anterior. Essa mulher educada, inteligente que ensina pode ser uma referencia a minha figura, pois na prancha 16 ao se referir a mim ela utiliza o nome “Laura” 9,, mesmo nome que ela dá a professora nessa prancha, além dela ter a imagem do psicólogo como aquele que pensa e faz pensar, atividade que a professora da história esta fazendo (pensando na vida). Desta maneira podemos dizer que ela espera que eu ensine algo a ela, ensine ou ajude sobre algum processo, pois ela troca o campo por uma estrada, assim se troca um local em que se realizam atividades, com um local de passagem, por isso pensar em processo.

Na prancha seguinte, “Sara” subverte o real ao colocar o nome de um vilão de uma telenovela, fazendo referencia ao mesmo, porém designando outra forma de

9

“ Ahhhhh! Não sei como é que é....

atuação que nega o que é conhecido no real (novela), demonstrando ignorar o conflito.

A subversão continua na prancha que segue, pois a prancha que evoca a projeção de uma relação com a figura paterna, ela coloca como a figura de um amante, faz com que pensemos sobre a passagem de “Sara” pelo complexo de Édipo, talvez ainda existam questões a serem resolvidas, hipótese que irá se confirmar ao decorrer do protocolo.

É interessante observar que somente nessa prancha o herói é menos potente que os personagens coadjuvantes, fazendo pensar que somente diante da figura paterna que “Sara” se submete, talvez só frente ao pai que ela sente a falta.

No estímulo seguinte “Sara”, passa do lugar de companheira do pai, numa relação dual, para uma relação triangular, na qual não há espaço para ela, por isso ela sente como se relação sexual fosse um problema, além do fato dela não se distanciar do estímulo, faz com que sinta-se presente no momento do ato, o que afirma a idéia de proibido.

Ao analisar a prancha 13HF percebe-se a dificuldade de perder o objeto de amor, dessa maneira pode-se relacionar ao que começou se manifestar na prancha 10 em que não havia mais lugar para ela na relação, tendo que abrir mão desse pai para então ter todos os outros homens do mundo.

Em seguida, ela conta duas histórias de conto de fadas em que há a presença de duas mulheres (uma jovem e outra mais velha), uma figura masculina (lobo mau), simbolizando exatamente esse triangulação que pode levar a morte, com o aparecimento de um outro homem que a salva dessa situação de perigo, ou seja, a presença do namorado como solucionador da questão edipiana.

O fim do protocolo, nos faz crer que a possibilidade de elaborar completamente o Complexo de Édipo ocorrerá, afinal ela relata de um momento de incomodo em que esta observando e descobrindo coisas, mas que no futuro tudo se resolverá.

A presença do espelho em algumas pranchas, frente a tudo aqui exposto pode nos fazer acreditar que “Sara” esta tendo questões referentes a sua imagem, identidade, talvez um pedido de ajuda para se distanciar da mãe, figura que ainda permanece colada, como visto na análise da entrevista. Assim as recorrentes introduções de homens em todas as histórias, pode significar a necessidade do nome do pai, interditor desse gozo de Carmem com Sara.