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Principle 4. The relative prominence relation defined for sister nodes is such

2.2.3 Análises comparativas da entoação das línguas inglesa e portuguesa

Além de descrições da entoação das línguas do corpus desta pesquisa em separado; há estudos comparativos que envolvem as línguas inglesa e portuguesa, a saber: Cruz-Ferreira (1983) e Hirst e Di Cristo (1998). O primeiro envolve o estudo por meio de experimento perceptivo do inglês britânico e do português europeu, com vistas a analisar compreensão dos

67 A sigla TOBI signigica tons e índices de quebra (‘tone and break indices’). TOBI é o padrão para a descrição da prosódia da maior parte das variedades do inglês americano, como proposto por Silverman et al. (1992). 68“(i) um salto tonal, que permite uma escala de direção ascendente para altura melódica de ambos os tons L e H, que gerasse, em consequência, versões modificadas (contrastivas) dos tons regulares L e H (opondo declarações neutras a contornos contrastivos, por exemplo); (ii) a forma melódica intrasilábica da última sílaba acentuada, por meio de um alinhamento contrastivo do seu pico de F0 (opondo perguntas alternativas sim e não a pedidos, por exemplo); (iii) o prolongamento da sílaba acentuada (opondo declarações neutras a avisos).”

sentidos da entoação por não nativos. Já o segundo é uma compilação de resultados de análises da entoação de algumas línguas de forma isolada, incluindo o inglês norte-americano e o português brasileiro.

Cruz-Ferreira (1983) faz uma pesquisa sobre a compreensão de não nativos sobre a entoação do inglês britânico e do português europeu, para tanto, a autora se utiliza da notação para descrição da entoação de O’Connor e Arnold (1961) e da proposta de análise da entoação e seus sentidos de Halliday (1970), devido aos seus conceitos de tom, tonalidade e tonicidade, que a autora utiliza para marcar as diferenças da forma para a produção de sentidos nas línguas em análise.

O estudo da entoação do inglês e do português empreendido por Cruz-Ferreira (1983) é de cunho perceptivo, seu experimento contrapõe as respostas, diante de diferentes padrões entoacionais, de nativos (grupo de controle) e não nativos, com o objetivo de notar como e porquê padrões entoacionais de uma língua não nativa são compreendidos ou não compreendidos. Os sujeitos respondem por meio de dois testes: um perceptivo (notar se há semelhança ou diferença nas duas sentenças de cada par) e um interpretativo (relacionar a que sentido o par de sentenças ou cada uma das sentenças do par é associado – o sentido é verificado por meio de um número finito de glosas oferecido ao sujeito participante da pesquisa), no qual busca-se analisar a capacidade de identificação e interpretação do não nativo diante dos padrões distintivos da língua estrangeira.

Como o objetivo desse estudo é a compreensão do não nativo, o foco do estudo são as diferenças entre as duas línguas e não suas semelhanças. Uma das diferenças apontadas pela autora está na constituição do conjunto de contornos melódicos nucleares de cada língua; para o inglês, a autora utiliza a descrição de contornos melódicos de O’Connor e Arnold (1961), a saber: a) decrescentes: decrescente baixo e decrescente alto; b) crescentes: crescente baixo e crescente alto; c) bidirecionais: crescente-decrescente e decrescente-crescente; e d) compostos: decrescente mais crescente.69 Para o português, a autora apresenta uma proposta de descrição, seguindo os mesmos padrões do inglês, e destaca os seguintes contornos melódicos nucleares: a) decrescentes: decrescente alto, decrescente baixo e decrescente baixo

69 “According to O’Connor & Arnold (1973), the nuclear tones of English are: simple falling: low-fall (LF),

high-fall (HF), simple rising: low-rise (LR), high-rise (HR), bidirectional: rise-fall (RF), fall-rise (FR), compound: fall-plus-rise (F+R).” (CRUZ-FERREIRA, 1983, p. 65).

baixo; b) bidirecional: crescente-decrescente; c) crescente: crescente baixo e crescente alto; e d) contornos nivelados: nivelado médio e nivelado baixo.70

Vale destacar que o trabalho referido não oferece uma descrição detalhada da entoação dos dois sistemas em análise e nem é esse seu objetivo, mas, ao comparar a compreensão de nativos e não nativos sobre as línguas inglesa e portuguesa, oferece indícios sobre as características relevantes nas descrições da entoação das línguas, por considerar que a sensibilidade do falante nativo é uma base confiável, em especial, para uma descrição semântica da entoação (CRUZ-FERREIRA, 1983, p. 339).

O trabalho de Hirst e Di Cristo (1998), por outro lado, é de natureza descritiva. Os autores realizam um levantamento dos dados de características da entoação de 20 línguas, entre elas o inglês norte-americano e o português brasileiro. Os autores salientam que deram mais atenção às diferenças do que às semelhanças na comparação entre os dados de cada língua. Eles também indicam que não há um único quadro teórico de análise, devido à falta de consenso ainda existente sobre a forma de representação do elemento prosódico da entoação, porém procuram destacar as características fonéticas das línguas em discussão.

Partindo das análises do inglês norte-americano de Bolinger (1998) e Moraes (1998), Hirst e Di Cristo (1998) elencam semelhanças e contrastes entre as línguas em questão, considerando as características globais, locais ou recorrentes da entoação71 na descrição de padrões básicos não enfáticos, de modos e expressividade, efeitos contextuais e focalização, formação de sintagmas e organização textual e padrões estereotipados.

A partir do tipo de comparação proposto acima, os autores elencam as seguintes características como iguais no IA e no PB: a) uma entoação invariavelmente crescente em perguntas eco72; b) a não continuidade é marcada por entoação crescente ou altura melódica alta tanto em declarações como em perguntas; c) em declarações na ordem neutra (i.e. tema seguido de rema, de acordo com Hirst e Di Cristo, 1998, p. 30) há um movimento crescente ou uma subida final.

70 “The nuclear tones of Portuguese are: three simple falling tones: high-fall (HF), low-fall (LF), low low-fall

(Low LF), one bidirectional falling tone: rise-fall (RF), two simple rising tones: low-rise (LR), high-rise (HR), two level tones: mid-level (ML), low-level (LL).” (CRUZ-FERREIRA, 1983, p. 79).

71 “[…]global characteristics – affecting the whole intonation unit, local characteristics – affecting a single

point in the sequence and recurrent patterns which occur several times on a smaller sequence usually containing just one stressed syllable.” (HIRST; DI CRISTO, 1998, p. 19). (“As características globais afetam

toda a unidade entoacional, as características locais afetam um ponto único na sequência e os padrões recorrentes ocorrem diversas vezes em uma pequena sequência que geralmente contém apenas uma sílaba acentuada”).

72 Perguntas eco, são perguntas que ecoam a pergunta original ou pedem uma repetição, como pode ser visto,

respectivamente, nos exemplos de Hirst e Di Cristo (1998, p. 26): “– How do you like it? – How do I like it?” e “–John came last week. – When? – Last week.”

Por outro lado, também foram destacadas as seguintes diferenças entre o IA e o PB: a) quando o tema segue o rema, há um padrão melódico crescente ou sem acento para IA, enquanto para BP há um movimento decrescente baixo; b) a proeminência extra advinda de uma focalização pode ser alinhada à principal sílaba acentuada em IA, em PB essa proeminência pode recair ou em uma sílaba não acentuada anterior ou em uma sílaba com acento secundário; c) o final de uma unidade tonal é sinalizado por um movimento tonal final em inglês, e em português, é marcada pela presença do acento ou núcleo final da sentença.

Vale ressaltar que Hirst e Di Cristo (1998) propuseram um procedimento internacional de descrição da entoação, considerando alvos da altura melódica, o INTSINT (International Transcription System for Intonation); porém, esse padrão é seguido apenas na análise de Moraes (1998) e não na de Bolinger (1998), que são a origem dos dados para a comparação apresentada. Nesse sentido, é importante considerar a afirmação de Hirst e Di Cristo (1998, p. 40) de que:

it is very often difficult to decide whether differences between descriptions are due to different theoretical and/or methodological approaches or whether they are to be put down to genuine differences between the systems

constituting language specific prosodic parameters.73

2.3 Conclusão

Considerando a revisão da literatura apresentada, a presente pesquisa se inscreve na perspectiva de comparação do elemento prosódico da entoação em duas línguas, a saber: IA e PB, dentro de uma mesma perspectiva metodológica e teórica. Dessa maneira, espera-se poder afirmar a validade de algumas semelhanças e diferenças entre as línguas estudadas.

Além disso, pode-se dizer que os estudos da entoação baseiam-se muito em falas produzidas especialmente dentro da programação dos experimentos desenhados para o conhecimento de determinado evento fonológico, regulando seu contexto de produção, com o intuito de controlar variáveis e poder realizar afirmações válidas. Com referência às análises realizadas a partir de fala laboratorial (laboratory speech), Hirst e De Cristo (1998, p. 43) levantam as seguintes questões:

73 “[…] é frequentemente muito difícil decidir se as diferenças entre descrições são devidas a diferentes abordagens teóricas ou metodológicas ou se elas devem ser explicadas como diferenças genuínas entre sistemas

how far does variability in the situations in which speech is produced influence the results obtained under these conditions? To what degree do generalizations obtained from isolated sentences apply to more spontaneous situations of communication? Do speakers make use of the same prosodic

competence in all cases or are completely different processes at work?74

Espera-se que esta pesquisa possa contribuir com os estudos já realizados sobre a entoação do PB e do IA, com relação às questões levantadas por Hirst e Di Cristo, apresentadas acima, pois analisa uma fala não preparada para fim da pesquisa. Por ser uma fala produzida dentro do âmbito dramático (filme de desenho animado), o corpus propicia a obtenção de dados próximos ao que se produziria em uma situação real de comunicação. Por outro lado, por não controlar o contexto de produção dos dados, as observações obtidas nesta pesquisa se restringem ao uso específico analisado e podem oferecer opções dos falantes, mas não generalizações sobre a totalidade de opções do falante no uso das línguas analisadas.

74 “quanto as variáveis das situações nas quais a fala é produzida influencia os resultados obtidos nessas condições [fala laboratorial]? Até que ponto as generalizações obtidas de sentenças isoladas se aplicam a situações mais espontâneas de comunicação? Os falantes fazem uso da mesma competência prosódica em todos os casos ou os processos que estão em funcionamento são completamente diferentes?”