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Anexo 2 Contexto histórico-cultural dos suportes transparentes

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Breve história da produção do papel transparente97

Segundo Laroque, os suportes transparentes para escrita começaram a ser produzidos na idade média através da impregnação do pergaminho e posteriormente também do papel de trapo. Os compostos utilizados compreendiam a mistura de diversas substâncias. Concretamente, apenas se conhecem receitas de misturas a partir do século XV, patentes nos escritos de Cenino Cennini, apesar de já estarem a ser previamente utilizadas.

É possível encontrar referências acerca do uso da resina pelo menos a partir do século XVI. Segundo Laroque, colofónia e terbentina de Estrasburgo parecem ter sido utilizadas desde a data mencionada até ao século XIX, assim como a resina de Sandáraca. As lágrimas de aroeira (Mastic tears) são mencionadas desde o século XVIII. Tendo em conta o panorama geral, os compostos mais usados foram os à base de óleos e essência de terbentina, recomendadas desde o início do século XVII até ao século XIX.

Diz o mesmo autor que entre o século XV e XIX, os materiais para impregnar foram mudando ligeiramente. As receitas, de um modo geral, passaram a incluir substâncias como o óleo de papoila, óleo de linho, óleo de noz ou avelã (mesmo após a descoberta do pergaminho vegetal durante o século XIX, os artistas e engenheiros continuaram a utilizar papéis impregnados e lacados). Também por essa altura, surgem novas substâncias para esta finalidade. Delas consta a goma-laca, a resina de copal, a terbentina de Veneza, o balsamo do Canadá, óleos minerais e essências assim como ceras. A mesma fonte refere também produtos como o óleo de algodão, o óleo de castor e a resina de Dâmar.

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Resumo feito a partir do artigo de LAROQUE Claude - History and Analisys of Transparent Paper, The

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Esta técnica inicialmente criada para aplicação em papel de trapo e pergaminho, perpetuou mesmo depois de desenvolvido o papel a partir da síntese de madeira e nas suas sucessivas evoluções técnicas. A partir do século XVIII a matéria-prima para a execução do papel de trapo viria a escassear culminando numa crise de produção. Instalava-se a necessidade de descobrir/desenvolver um material alternativo análogo. Sem nunca deixar de se produzir papéis transparentes através de impregnação ou lacagem, a indústria do papel foi desenvolvendo novos produtos testando toda a sorte de matérias-primas. Podem portanto ser encontrados papéis impregnados e lacados de diversas naturezas (técnicas de produção e matéria) coevos entre si98.

Em 1866 Payen publica um artigo que descreve um método para obter celulose a partir de madeira ou de palha. Tal publicação surge depois da fundação da associação das papeleiras francesas em 1861 que visou encorajar o desenvolvimento rápido de uma alternativa viável ao papel de trapo. Novamente esta indústria foi impulsionada e com ela a produção de novos papéis transparentes.

Em 1846 foi desenvolvido o pergaminho vegetal. Esta descoberta foi atribuída a William Gaine em 1859. Teve como seu produtor mais importante a Alemanha. Com a indústria em crescimento e sucessiva construção de fábricas em França, Bélgica e Áustria, este tipo de papel proliferou-se rapidamente. Os Estados Unidos seguiram a tendência em 1885.

A primeira máquina para fazer pergaminho vegetal foi construída em 1860 seguindo as instruções de Doutor Dullo de Königsberg. Separava os três momentos de produção: banho ácido para dar transparência ao papel, neutralização/lavagem e secagem. A segunda máquina foi inventada em 1862 por Schlte e Scheffer que viram a sua ideia ser melhorada por Robert Fritsch 20 anos depois. A evolução de Fritsch consistiu em produzir o mesmo papel recorrendo a uma menor quantidade de ácido sulfúrico através de um sistema contínuo de produção. Tal ideia não resultaria muito bem inicialmente, sendo que em vez de diminuir os gastos de produção, os incrementou. No entanto com a segunda patente da sua descoberta o inventor conseguiu tornar sustentável a produção. A lógica era

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Até ao momento em que Réaumur sugere a madeira para a síntese da celulose, foram testados um leque de material celulósico abrangente e métodos para tratamento que desafiavam a imaginação. Como exemplo raízes, folhas, a agulha de pinheiro, casca de árvore, algas, urtigas, alcachofras, espargos, canas, juncos, palha entre outros.

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encaixar as diferentes partes necessárias à máquina num sistema contínuo não só mecanizado mas também mais automatizado. O mecanismo permitia isolar e comportar o ácido forte, compreendia cilindros de vidro (e não de metal para não serem corroídos), um sistema de lavagem para neutralizar o papel e lavá-lo e para finalizar, um mecanismo de secagem com cilindros para exercer pressão sobre o papel à medida que o secava com um sistema incorporado de aquecimento.

O uso do pergaminho vegetal preencheu o lugar do pergaminho animal mesmo em certos usos especiais principalmente porque os custos com a matéria-prima e processamento eram compensatórios. Para além deste facto, ao contrário do que acontece no pergaminho, é difícil apagar registos sem deixar alguma marca. Assim o seu uso foi crescendo em vários sectores, pois era também mais difícil forjar documentos neste material.

O uso do pergaminho vegetal foi decaindo com a passagem do tempo e a procura de métodos mais cómodos para a produção de papel transparente. Com a proliferação da indústria papeleira existia também um crescente número de profissionais dedicados ao assunto. Depois de 1875, a celulose purificada e branqueada sem o uso de cargas, colas e outros compostos pôde ser usada graças ao processamento da polpa através de um novo método com sulfato e bissulfito.

Finalmente em 1878 conseguiu-se adaptar o método da intensiva maceração às polpas químicas de madeira, obtendo-se assim papéis transparentes com produção barata. São resultado destes processos e material as imitações de pergaminho, o papel vegetal natural e papéis impregnados e lacados modernos. Foi no último quartel do século XIX que estudos acerca da prolongada maceração das fibras no processo da polpa de papel demonstraram a obtenção de papel com transparência satisfatória aliada à calandragem. Robert Emmel foi dos primeiros a interessar-se neste processo chegando a publicar um artigo acerca desta matéria em 1914.

Durante o século XX, as técnicas de produção tornaram-se mais complexas através de processos combinados onde pergaminhos vegetais ou papéis com elevada maceração eram impregnados ou lacados com resinas ou óleos para promover ao máximo a sua transparência. Na segunda metade do século XX, as películas começaram a substituir o

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papel transparente para desenhos técnicos. É de salientar mais uma vez que os avanços tecnológicos não impediram que certos métodos mais tradicionais continuassem a ser utilizados.

As imitações de pergaminho foram inicialmente desenvolvidas para outros fins que não o de suporte para desenho. Foram posteriormente adaptados métodos para desenvolvimento deste tipo de papel para tal função. O glassine, foi uma descoberta feita a partir da imitação de pergaminho, que geralmente era apenas utilizada para o desenho e passou a ser utilizada em outros sectores, nomeadamente o de embalagem alimentar.

A primeira máquina para produzir glassine foi construída em 1894. A sua ação consistia no processamento de uma polpa de bissulfito cozinhada a baixas temperaturas com lima e macerada por um longo período de tempo. Com o avançar do tempo, deu-se a evolução do processo e equipamentos, sendo que a grande produção de glassine começou em 1920 na Suécia por incentivo de Billeruds Bruk Mill.

Em linhas gerais existem como papéis modernos, as seguintes categorias: os pergaminhos vegetais (papéis transparentados com ácido sulfúrico ou cloreto de zinco); papéis impregnados ou lacados (tratados com óleos ou resinas); papéis transparentes obtidos através da quebra das fibras por intensa maceração da polpa (papéis vegetais naturais e imitações de pergaminho). Certos papéis feitos a partir de uma polpa com intensa maceração, também puderam, numa tentativa de adquirir uma maior transparência, ser tratados com substâncias diversas, óleos, resinas, ceras. Depois da segunda guerra mundial, as resinas sintéticas para impregnar papéis foram sendo crescentemente utilizadas, combinadas com outros polímeros.

Hoje em dia a indústria do papel transparente gira em volta de três produtos: o papel sulfurizado (pergaminho vegetal) para usos domésticos ou industriais; papéis especiais para usos onde o efeito visual e decorativo é de principal importância e finalmente os papéis vegetais para uso em ofícios gráficos.

Existem igualmente materiais totalmente sintéticos para desenho (películas de resina de poliéster). Estes no entanto nunca substituíram totalmente o papel vegetal.

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A indústria do papel transparente tendeu a decrescer tomando no presente uma parte pouco significativa da produção de papel, tirando para fins domésticos e industriais que têm acrescido. De facto os tradicionais utilizadores deste tipo de materiais para fins gráficos como os arquitetos ou engenheiros, têm hoje meios computadorizados para

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