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A escolha dos materiais para os reforços, união de rasgões e preenchimento de

4.6. A escolha dos materiais e métodos de tratamento

4.6.3. A escolha dos materiais para os reforços, união de rasgões e preenchimento de

Visto a diversidade dos suportes a tratar, os materiais, equipamentos e técnicas tiveram de ser igualmente variados, direcionando-se às características de cada tipo de suporte. A escolha dos materiais foi feita segundo a compatibilidade ente materiais originais e introduzidos, tendo também em vista a reversibilidade e estabilidade destes últimos. É importante que os adesivos e papéis de reforço e preenchimento sejam compatíveis e de natureza aparentada aos do original. Desse modo assegura-se que o comportamento e reações ao meio ambiente são idênticos entre ambos, o que ajudará a evitar futuros problemas estruturais.

Os adesivos e métodos de colagem a utilizar 4.6.3.1.

 Para as colagens em todos os suportes opacos, optou-se por utilizar a cola de amido de arroz, uma cola bastante recomendada66, uma vez que tem um grande teor de água e por isso uma maior capacidade de penetração nestes suportes que são algo espessos. Tem o senão de ser um dos alvos dos insetos bibliófagos. Em contrapartida é estável, neutra e fornece uma boa flexibilidade mesmo quando a secagem é feita com espátula quente, mantendo-se

completamente reversível.

o O uso da espátula quente: Para estes casos houve a necessidade de

equacionar o uso deste utensílio. Sabe-se que o uso da espátula pode secar demais o papel se não for bem controlado. No entanto, após se ter tentado o meio mais seguro (com secagem entre frações de Reemay e mata-borrão sob pesos) verificou-se o grande desarranjo uma vez que a maioria das peças carecia de muitos reforços, preenchimentos e união de rasgões de pequenas dimensões, sendo que este método requere mais tempo, espaço e recursos para a secagem do que com a espátula67.

66SCHWEIDER, Max – The Restoration of Engravings, Drawings, Books and other works on paper.

Getty Publications: -California, 2006; p.96. 67

Sempre que se verificaram lacunas eram muito grandes, não se utilizou a espátula. O documento foi posto a secar em prensa, entre Reemay e mata-borrões.

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 Já para G1, G2, G3, G4 e tela, pensou-se de outra maneira. Foi visto que estes

suportes reagem bastante à humidade com graves variações dimensionais (ou dissolução da goma no caso da tela). Optou-se por isso usar um adesivo que não permitisse tanto a penetração na estrutura como a cola anteriormente mencionada. Escolheu-se um material hidrofílico de modo a não restringir as reações naturais destes suportes em relação a flutuações de humidade e temperatura. A cola Tylose

MH300 P foi a escolha feita. Consiste num éter de celulose (metilcelulose)

bastante estável e reversível. Tem a vantagem de não penetrar tanto nos suportes como a cola de amido permitindo colagens mais superficiais e por isso menor interação da humidade68.

o Para a secagem neste tipo de suportes transparentes não foi equacionado o

uso da espátula quente (tal como reagem muito com o ganho de humidade, reagem muito durante a sua perda). Tentou-se por isso que a secagem fosse o mais lenta possível e gradual entre frações de Reemay e mata-borrão

sob pesos evitando choques e tensões na estrutura.

 Nos suportes G5 e G6: Depois de se ter verificado a sua natureza hidrofóbica

destes documentos, equacionou-se o uso de um adesivo que fornecesse

propriedades equiparáveis nas colagens. Sendo que foi visto (com um teste ao calor (secção 3.2.3.2.)) que estes suportes não reagiam a temperaturas altas, equacionou- se o uso de Beva 371 film69. É estável, reversível (termicamente ou com tolueno), flexível e a ativação do filme faz-se a temperaturas reduzidas de 60/65 ºC. É já há alguns anos uma referência no restauro de telas de pinturas de cavalete como

referem vários autores como CSER (2002)70 ou YOUNG e ACKROID (2001)71 nos

68

WILT, M – Evaluation of cellulose ethers for concervation. The Getty Conservation Institute: EUA, 1993; pp. 117, 118.

69

Resina sintética, nomeadamente um copolímero de acetato de etilvinilo (EVA). 70

CSER, Laszlo - Some Lining Techniques Using BEVA Solution and BEVA Gel: Notes from the Bench.

Journal of the Canadian Association for Conservation [Em linha]. 27:1 (2002), p.4. [Consult. 2 dez. 13].

Disponível na internet em WWW:<URL:https://cdn.metricmarketing.ca/www.cac- accr.ca/files/pdf/Vol27_doc1.pdf >.

71

YOUNG, Christina e ACKROYD, Paul - The Mechanical Behaviour and Environmental Response of Paintings to Three Types of Lining Treatment National Gallery Technical Bulletin [Em linha]. 22 (2001). [Consult. 2 dez. 13]. Disponível na internet em

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seus artigos. Apesar de menos corrente nas outras áreas, o seu uso já se tem visto em diversos materiais, caso da encadernação em couro72. No papel, algumas entidades já se têm dedicado a fazer ensaios comparando-o com outros adesivos e engendrando vários métodos para aplica-lo. Os resultados obtidos têm sido satisfatórios como mostra o estudo levado a cabo pelo National Archives

ofAustralia73. Em resposta aos bons resultados que a aplicação deste adesivo tem apresentado, alguns artigos neste campo têm sido publicados em revista74. Uma vez que tudo indicou que os documentos fossem impregnados com um material hidrofóbico como a resina, achou-se que o Beva 371 flim, uma resina sintética, seria escolha acertada, conferindo propriedades aos materiais a introduzir, tornando-os transparentes (no caso do papel de preenchimento) e igualmente

resistente à humidade, com texturas e flexibilidades semelhantes. É ativada a baixas temperaturas (65 º C), sendo que os suportes apresentaram resistência ao calor.

Papéis de reforço, de preenchimento e de união de rasgões 4.6.3.2.

Todos os tipos de papéis de preenchimento e reforço foram escolhidos, tendo em conta a cor, a espessura, a textura e a transparência do papel original, de modo a atingir qualidades aproximadas entre os dois. A espessura do papel de preenchimento foi avaliada, tendo em conta uma sobreposição (para aplicação frente e verso). A maioria dos papéis eleitos tanto de preenchimento como de reforço e união de rasgões, foram os japoneses75. Foram escolhidos, tendo em conta a oferta do catálogo da Arte e

72

KRONTHAL, Lisa; LEVINSON, Judith; DIGNARD, Carole (Et.al) - Beva 371 and its use as an adhesive for skin and leather repairs: background and revew of treatments JAIC 42: 2 (2003) , 341 - 362.

73

NATIONAL ARCHIVE OF AUSTRALIA. Estudo e comparação entre colas. The Griffin Drawings [Em linha]. Australia [Consult. 2 dez. 13]. Disponível em

WWW:<URL:http://blog.naa.gov.au/preservation/category/drawings/conservation/ >. 74

JAMISON, Jamye; DAVIS Suzanne; CHEMELLO, Claudia; PARTRIGE, Wendy - A Dionysian Dilemma: The Conservation and Display of Oversized Pompeian Watercolors at the Kelsey Museum of Archaeology. Book and Paper Group [Em linha].29 (2010) pp. 51 – 58. [Consult. 2 dez. 13]. Disponível na internet em WWW:<URL:http://cool.conservation-us.org/coolaic/sg/bpg/annual/v29/bp29-06.pdf>.

75

São normalmente utilizados em restauros de documentos gráficos pois são muito estáveis, têm fibras longas que permitem uma boa ligação com os suportes e são livres de lenhina.

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Memória, empresa que se dedica ao fornecimento de material para conservação e restauro de documentos gráficos76.

 Papéis de preenchimento: Arakaji (33 g/ m2

) e o Bunkoshi (71 g/ m2)77.  Papéis de reforço e união de rasgões: Tengujo Kashmir Crudo (8,6 / 9 g/

m2)78 e o Spider tissue (9 g/ m2)79.

Fez-se um plano diferente em relação ao material de preenchimento para os casos de

G1, G2, G3 e G4.

 Inicialmente, para estes casos, pensou-se em utilizar o papel japonês Gampi (12g/

m2)80. Com as mesmas características que os papéis japoneses já escolhidos, apresentava uma textura lisa, brilhante e especialmente transparente e de tonalidade semelhante aos ditos. No entanto, percebeu-se que a baixa densidade deste material resultava em preenchimentos muito moles em relação ao original. Tentou-se reforçar com sobreposição de camadas, o que acabava por reduzir muito a

transparência do preenchimento, não se revelando de todo a melhor. Durante testes ao comportamento dos suportes, fôra visto que o papel de seda (Seda Tissue - 17 g/ m2)81 tinha uma textura e comportamento similar aos referidos documentos. Este, embora não tivesse sido fabricado com o intuito de servir de material de

preenchimento, mostrou ser mais semelhante que o Gampi (e está provado que é estável e não compromete a conservação dos materiais82). Tem valores de pH neutros e não possui reserva alcalina. É mais consistente que os papéis orientais, é feito de polpa de madeira com fibras muito maceradas e é transparente e muito higroscópico, como a maioria dos suportes a tratar. Tem apenas a desvantagem de ser branqueado e de ter que ser tingido antes dos tratamentos, para um acabamento mais uniforme.

76

ARTE Y MEMORIA. Empresa distribuidora de produtos de restauro, oferta de produtos. Arte &

Memoria [Em linha].Barcelona. [Consult. 22 out.14]. Disponível em

WWW:<URL:http://www.arteymemoria.com/ >. 77

Arakaji: ref. 200536; Bunkoshi: Ref. 200617 (catálogo Arte e Memória). 78

Ref. 200505 do mesmo catálogo 79

Ref. 200129 do mesmo catálogo 80

Ref. 200507 do mesmo catálogo 81

Ref. 200134 do catálogo da Arte e Memória 82

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4.6.3.2.1. Tingimento dos papéis de preenchimento, reforços e união de rasgões Vistas as colorações diversas entre os suportes originais e os materiais de reintegração, houve a necessidade de aproximar as suas cores. Para tal, pensou-se em utilizar tintas acrílicas Winsor & Newton Galeria83 em solução com água desionizada:

 Fez-se a mistura perfazendo-se a cor e concentração pretendida. Agitou-se bem

com uma vareta até total dissolução.

 Para o tingimento, os papéis têm de ser previamente pulverizado com água

desionizada sobre uma superfície lisa. Seguidamente, com uma trincha, aplica-se a tinta diluída sobre um Reemay a proteger o papel de forma a não arrastar as suas fibras. Espremem-se os excessos com um rolo, removem-se com papel absorvente e deixa-se o papel a secar sobre a mesma superfície.

Os ajustes de cor foram os seguintes para as seguintes situações:

Para os impressos “Edificações urbanas”: Tinta acrílica Winsor & Newton Galeria, Raw Umber84 no papel de preenchimento Bunkoshi.

Para os Requerimentos e memórias descritivas e tela: Tinta Winson & Newton

Galeria, Cerulean Blue Hue85 nos papéis de preenchimento Bunkoshi e Arakaji e no papel de reforço e união de rasgões Spider-Tissue.

Para o G6: Tinta acrílica Winsor & Newton Galeria, Raw Umber e Cerulean Blue

Hue no papel de preenchimento Arakaji.

Para os G1, G2, G3 e G4: Tinta acrílica Winsor & Newton Galeria: Raw Umber e

Burnt Sienna86 no papel de preenchimento Seda-tissue.

83

Tratando-se de uma emulsão aquosa, este tipo de tinta tem a vantagem de poder ser diluída em água para controlar a concentração de cor pretendida. Depois de polimerizar, torna-se resistente à humidade. Dentro dos materiais utilizados para este fim, estas tintas são das mais estáveis.GORDON, Erin – Comparing Paper

Extract to Traditional Toning Materials. [Em linha]. Queen´s University: ANAGPIC, 2008. [Consult. 27

ago. 2014]. Disponível na internet em:<URL:http://cool.conservation- us.org/anagpic/2008pdf/2008ANAGPIC_Gordon.pdf >.

84

Ref. 2120554 do catálogo da própria marca. 85

Ref.2120138 do mesmo catálogo 86

105

Para as demais situações, não se pensou em tingir os papéis de reintegração uma vez que a sua coloração natural era equiparável aos materiais a tratar.

Resume de todas as escolhas: 4.6.3.3.

Suportes opacos de pequeno formato, G7 e tela: Cola de amido e papéis japoneses

Arakaji e Bunkoshi (tingidos ou não) para os preenchimentos. Para os reforços e união de rasgões, foram utilizados o Tengujo Kashmir Crudo ou Spider tissue.(tingido).

 Secagem com espátula quente a 65ºC.

Suportes transparentes G1, G2, G3, G4: Cola Tylose MH300 P e papel ocidental

Seda Tissue tingido para os preenchimentos. Reforços e união de rasgões com Tengujo Kashmir Crudo.

 Secagem entre frações de Reemay e mata-borrão sob pesos.

Suportes transparentes G5 e G6: Beva 371 film e papel Arakaji para os

preenchimentos (tingido ou não). Para os reforços e união de rasgões, foi utilizado o Tengujo Kashmir Crudo.

 A adesão foi provocada com espátula quente a 65ºC.

4.6.4. A escolha dos métodos de planificação

Optou-se por executar a planificação apenas após a conclusão dos preenchimentos, uma vez que a cola das colagens cria sempre alguma tensão nas estruturas.

Estabeleceram-se dois métodos de planificação: A planificação entre frações de

Reemay e mata-borrão em prensa e a planificação com SympaTex87 e mata-borrões,

igualmente em prensa controlada.

87

Material análogo ao Gore-tex, utilizado para planificar suportes qua variam muito dimensionalmente. DOBSSKIN' - Sebastiaii; SINGER Haniiali, BANIK, Gerhard - Humidification with moisture permeable

materials [Em linha]. [Consult. 10 out. 14]. Disponível em WWW:<URLhttp://www.iada- home.org/ta91_143.pdf >.

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O primeiro método foi pensado para os suportes opacos, tela, G4, G5 e G6 uma vez

que não estão propensos a sofrer muito com variações dimensionais. É um método

frequentemente utilizado no AHMP.

Procede-se da seguinte forma: após humidificação muito ligeira com pulverizador pelo lado do verso, os documentos são imediatamente colocadas em prensa. Para humedecer os documentos, utiliza-se uma solução de água desionizada e álcool numa proporção de 1:3. A dita solução permite uma penetração rápida no suporte com pouca quantidade sem alterações dimensionais acentuadas. Promove uma evaporação rápida da água por intermédio do álcool. Tem sido eficaz para a generalidade dos casos, uma vez que não interfere com os materiais de registo, mesmo quando muito solúveis.

Nos suportes muito reativos à presença de humidade, G1, G2, G3, que expandem e retraem efetivamente, executou-se a planificação com SympaTex. O SympaTex tem a característica de ter uma superfície acetinada que permite que o papel deslize durante a secagem sem ser repuxado com a retração, mesmo sob pressão. Para o seu uso, pensou-se em humedecer este último e não diretamente o documento. A solução pulverizada seria a mesma antes de levar todo o conjunto (documento entre SympaTex e mata-borrões) para a prensa até secar.