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4.7. Intervenção

4.7.3. Tratamentos por via húmida

Antes de se ter pensado em desenvolver estes procedimentos, foi imprescindível que se testassem a resistência dos materiais sustentados e o comportamento dos suportes à

humidade. É importante garantir que as propriedades físicas e informação do documento não se possam perder.

Em seguimento aos resultados obtidos com os testes de solubilidade e do comportamento dos suportes (secção 3.2.3.2.), estabeleceram-se tratamentos aquosos consoante apreciações relativas às situações de cada suporte (secção 4.3.2.).

Empregaram-se os seguintes tratamentos aquosos:

 Lavagem e desacidificação por imersão (folha de rosto)

 Lavagem e desacidificação por humidificação (documentos opacos de pequeno

formato)

 Hidratação/limpeza por humidificação (suportes transparentes dos grupos G5 e G6

e G7).

Todos os documentos desacidificados foram todos tratados com hidróxido de cálcio90.

90Para se obter uma solução de hidróxido de cálcio é necessário misturar 50 g de Ca(OH)2 em 10 l de água

desionizada. Após um período de cerca de 24 horas, quando as partículas que não solubilizaram precipitam no fundo do contentor, a solução está pronta a utilizar.

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No G5, G6 e G7 foi executado apenas com água desionizada por forma a libertar alguma sujidade, remover os selos, hidratar o suporte e atenuar os vincos e deformações

 Qualquer tratamento aquoso antecedeu-se sempre de uma hidratação por

pulverização, de forma a habituar gradualmente a peça à humidade sem sofrer um choque brusco com as distensões de dilatação. Sobre as áreas de tinta muito solúvel, foram colocados pedaços de mata-borrão cortado à medida, para não molhar as mesmas durante essa aspersão.

Tratamento por imersão lavagem e desacidificação

 Peças no qual foi aplicada: Folha de rosto

Processos:

A folha de rosto foi a única para a qual se executou um tratamento aquoso completo por imersão.

Após ter sido comprovada a resistência da tinta com os testes de solubilidade, foi hidrata com o borrifador entre frações de Reemay, na frente e no verso. Assim que se verificou que a humidade se encontrava bem distribuída, transportou-se o conjunto para a tina. Mergulhou-se num primeiro banho de água desionizada a 30 ºC e num segundo a 40 ºC por 25 minutos cada.

Foi possível observar a eficácia do tratamento a partir da tonalidade das águas de lavagem.

No final a folha foi colocada no estendal a secar, entre as mesmas frações de Reemay e sobre um mata-borrão por cerca de 2 dias.

Instrumentos e materiais utilizados: Tina, pulverizador, água desionizada,

duas frações de papel mata-borrão e Reemay de tamanho superior ao da folha, solução de hidróxido de cálcio, estendal para documentos.

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Seguiu-se a desacidificação. O processo foi em tudo igual ao supracitado, tendo como diferença que o banho na solução de Ca(OH)2 foi a frio, durou 20 minutos e não se repetiu.

No fim do processo de desacidificação (após secagem) verificou-se um aumento de pH para 7.

Lavagem e desacidificação por humidificação

Peças no qual foi aplicada: os documentos opacos de pequeno formato

Processos:

Por conterem tintas com graus de solubilidade diferentes91, estas peças requereram um controlo especial durante este processo. A lavagem e a desacidificação foram feitas simultaneamente utilizando somente a solução de Ca(OH)2 como veículo para extrair as partículas dissolvidas e depositar a reserva alcalina.

Para este efeito, humedeceu-se gradualmente o documento, contornando as áreas de tinta muito solúvel, com toques repetidos com a esponja. Teve-se o cuidado de não ultrapassar o tempo de resistência das tintas escuras dos manuscritos e dos carimbos (ver secção 3.2.3.2.). Depois de aplicada a solução de Ca(OH)2 no suporte, foram absorvidos os excedentes e os produtos dissolvidos com mata borrões. Este processo foi feito primeiro no verso e depois no lado frente, sobre folhas de papel mata-borrão.

Foi possível observar a eficácia da limpeza a partir da tonalidade amarela do material absorvido pelos mata-borrões.

 Nos casos em que existiam selos para levantar, procedeu-se com uma pinça e

um bisturi e removeu-se a cola das duas superfícies com um cotonete embebido na mesma solução.

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Anexo 3 – Folhas de Obra.

Instrumentos e materiais utilizados: Solução de Ca(OH)2, frações de mata-

borrão e Reemay de tamanho superior ao das folhas, esponja marinha, borrifador, placas.

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No fim deste tratamento, as folhas e selos foram colocadas entre frações de Reemay e mata-borrão, sob uma placa durante três dias, sem pesos, para não ondular com a secagem nem comprometer tintas que, com a pressão, poderiam migrar para os materiais absorventes.

Tentou-se com este método que a secagem fosse gradual e provocasse o mínimo de tensões com a variação dimensional da estrutura.

Depois de secos, os selos foram reservados individualmente e identificados com a numeração da respetiva folha de origem.

Casos especiais:

 Existiram alguns casos específicos, nomeadamente os casos em que se

verificaram quantidades de texto que cobriam uma área considerável da folha, frente e verso e com tintas muito solúveis (alguns Requerimentos e memórias descritivas). Para estes casos, optou-se por humidificar ligeiramente com a solução dois mata-borrões com um borrifador, entre os quais se posicionou o documento. Dessa forma foi possível introduzir alguma reserva alcalina de forma homogénea e descolar os selos, sem alastrar as tintas.

Lavagem/Hidratação por humidificação

Peças no qual foi aplicada: Suportes transparentes dos grupos G5, G6 e G 7.

Procedimentos:

Embora inicialmente não se tivesse assim determinado, alguns deles tiveram de ser submetidos a este tratamento pois estavam friáveis, ressequidos e deformados e era difícil manuseá-los sem quebrarem.

Nestes casos, pelas razões descritas durante a identificação, não se achou conveniente proporcionar uma reserva alcalina nas estruturas. Optou-se por hidratá-las e

Equipamentos e materiais utilizados: Solução de Ca(OH)2, grandes frações

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simultaneamente remover alguma sujidade solúvel e produtos de deterioração com a água desionizada.

Para proceder a esse tratamento, pulverizaram-se os documentos e deixou-se a humidade penetrar na estrutura a seu ritmo. Da mesma maneira que a descrita no capítulo anterior, retiraram-se os selos e absorveram-se os excedentes de humidade.

Visto que esta situação apenas se revelou em suportes dos grupos G5 e G6, o período de tempo que a estrutura demorou para relaxar permitiu a renovação da água desionizada aplicada a fim de hidratar a estrutura e remover sujidades dissolvidas, com mata-borrões.

No fim da hidratação as folhas foram postas a secar sob placas, entre frações de Reemay e mata-borrão, para corrigir as deformações.

O resultado foi o ganho de flexibilidade. A encolagem

Peças no qual foi aplicada: Folha de rosto

Processos:

Foi feita a encolagem através do método da bandeira inglesa.

O material introduzido foi a gelatina neutra92. Após aplicação frente e verso, colocou-se a folha a secar no estendal com as mesmas precauções tomadas anteriormente.

92 Utilizou-se uma folha e meia de gelatina para 500 ml de água desionizada. Amoleceram-se as folhas de

gelatina em água enquanto metade da água desionizada foi levada ao lume. Assim que começou a levantar fervura, juntaram-se as folhas de gelatina, retirou-se do fogão, mexeu-se até dissolver e juntou-se o resto da água fria para baixar a temperatura e perfazer a quantidade da mistura.

Equipamentos e materiais: gelatina neutra em solução, trincha macia,

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Figura 52– Separação dos cadernos durante o desmembramento. Figura 53 - Remoção dos resquícios de cola apos a separação das folhas. Figura 54 – Limpeza com smoke sponge.

Figura 55 – Suporte humidificado e já sem os selos. No canto esquerdo é visível a tinta vermelha que se

manteve intacta.

Figura 56 – Absorção da água utilizada para hidratar o suporte140 (G5).

Figura 57– Tonalidade amarela do mata-borrão durante o tratamento aquoso.

Figura 58– Secagem de Requerimento sob mata borrão com uma janela para não comprimir o selo branco durante a secagem sob uma placa (sem pesos).

Figura 59– Aplicação de humidade com um borrifador antes de tratamento aquoso. Figura 60– Lavagem por imersão da folha de rosto.

Figura 61– Aplicação de encolagem de gelatina na folha de rosto. Figura 52 – Separação dos cadernos

durante o desmembramento. Figura 53 – Remoção dos resquícios de cola apos a separação das folhas.

Figura 54 – Limpeza com smoke sponge.

Figura 55 – Suporte humidificado e já sem os selos. No canto esquerdo é visível a tinta vermelha que se manteve intacta.

Figura56 – Absorção da água utilizada para hidratar o suporte140 (G5). Figura 57 – Tonalidade amarela do mata-borrão durante o tratamento aquoso da folha 49. Figura 58 – Secagem de Requerimento sob mata borrão com uma janela para não comprimir o selo branco com a placa que que lhe será sobreposta (mas sem pesos).

Figura 60 – Lavagem por imersão da folha de rosto. Figura 59 – Aplicação de

humidade com um borrifador antes de tratamento aquoso da folha de rosto. Figura 61 – Aplicação de encolagem de gelatina na folha de rosto.

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