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5 Angulação das matérias

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Considerando-se o período analisado e as matérias consideradas válidas para os fins da pesquisa, importante destacar a angulação dessas matérias. Essa tarefa consiste, na prática, em ob- servar se a matéria é positiva, negativa ou neutra. Bueno dá os passos para se definir essa angula- ção.

Basta o assessor de imprensa verificar se a unidade informativa (nota, notí- cia, editorial, nota em coluna, artigo etc.) contribui para formar a imagem po- sitiva da empresa ou entidade, se ela degrada a imagem ou se, na verdade, a referência não inclui juízo de valor. (BUENO, 2003, p. 397)

No período analisado, a grande maioria das matérias dos jornais impressos foi considerada neutra, ou seja, não se destacou aspectos positivos ou negativos do Judiciário, apenas citou a sua atuação ou decisão no caso.

Durante o mês de julho, foram destacadas nos jornais impressos 10 matérias positivas so- bre o Poder Judiciário, 52 matérias negativas e 114 matérias neutras.

No mês de agosto, foram 206 matérias neutras, 38 matérias negativas e 28 matérias exclu- sivas.

Em setembro, mês de julgamento do caso do mensalão no Supremo Tribunal Federal, a grande maioria das matérias são positivas (88), mas há também matérias neutras (65) e matérias negativas (03).

Em outubro, foram encontradas 186 matérias neutras, 10 matérias positivas e 11 matérias negativas.

No mês de novembro foram analisadas 133 matérias neutras, 09 matérias positivas e 11 matérias negativas. Em dezembro, foram 110 matérias neutras, 47 positivas e 04 negativas.

Com relação às revistas semanais, a maior parte das matérias também foi neutra, desta- cando-se nove matérias negativas e 88 matérias positivas. Nota-se que as matérias positivas são principalmente as que tratavam do acatamento da denúncia do Mensalão no Supremo Tribunal Fe- deral. O fato ocorreu no mês de setembro. Várias cartas de leitores elogiando a decisão do STF fo- ram publicadas nas revistas Veja. A coluna Ponto de vista, de Lya Luft, da revista Veja de 12 de setembro, também elogia a decisão do Supremo. A Coluna Nossa antena, de Ruth de Aquino, da revista Época, elogia o Ministro Joaquim Barbosa, relator do processo.

O STF ocupou de forma positiva as páginas 54 a 71 da revista Veja de 05 de setembro de 2007. São cinco matérias ao todo, que falam sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal de acei- tar a denúncia do Ministério Público Federal no caso do mensalão, considerado pela revista como um julgamento "histórico". O Ministro Joaquim Barbosa é o relator do processo e sobre ele foram publicadas seis páginas da revista, numa matéria com o título "O Brasil nunca teve um ministro como ele". O destaque dessa edição nº 2024 reflete a imagem positiva que alcançou o STF durante os di- as seguintes ao julgamento desse processo, acompanhado por todo o Brasil, ao vivo, através das imagens geradas e transmitidas pela TV Justiça.

Do alto de seus 200 anos de história, o Supremo Tribunal Federal informou ao País que os corruptos e corruptores do mensalão podem ter sido tolerados pela Câmara dos Deputados, pela direção dos seus partidos e até pelas urnas de outubro, mas não o serão pela mais alta corte da Justiça brasileira - o que é um alento em um país tão castigado pela impunidade. "Aqui ninguém, nin- guém - repetiu o ministro Celso de Mello, o mais antigo membro da corte - está acima da Constituição". E assim foi. Ao transformar todos os quarenta denunciados em réus em um processo criminal, o STF cumpriu seu papel à risca e se agigantou como uma instituição sólida e soberana. (VEJA, 05/09/07, p. 54)

A maior parte das matérias negativas foram publicadas na revista Carta Capital, que mini-

mizou e, em alguns aspectos, criticou a decisão do Supremo com relação ao chamado “mensalão”. Na revista Época, um exemplo de matéria negativa foi publicada na Coluna Nossa Política,

de Fernando Abrucio:

A sensação de impunidade no plano nacional tem menos a ver com a falta de punições dadas pela Câmara e pelo Senado – que poderiam ser maiores, é verdade -, e relaciona-se mais com a ausência de condenações no Poder Ju- diciário. A existência do foro privilegiado favorece esse resultado, mas a le n- tidão e a falta de rigor da Justiça, também são fatores decisivos. (ÉPOCA, 09/07/07)

A revista Veja publicou a matéria mais favorável do período analisado, um mês depois de fazer duras críticas ao Judiciário e exercer uma certa pressão nos magistrados do Supremo Tribunal Federal para que os ministros julgassem e acatassem a denuncia no caso do mensalão.

Contraste entre as duas edições: Matéria negativa:

Edição nº 2021-15 de agosto de 2007 Título: Frágil como papel

A justiça brasileira é incapaz de manter presos assassino confessos e corrup- tos pegos em flagrante. Na origem da impunidade está a própria lei.

'O episódio do mensalão não foi apenas o mais grave escândalo ocorrido no governo Lula - foi também o mais impudente.

Pois bem: esse escândalo - definido pelo procurador-geral da República, An- tônio Fernando de Souza, como "resultado da ação de uma organização cri- minosa" chefiada pelo ex-ministro José Dirceu - acaba de completar seu se- gundo aniversário sem que haja um único punido.

Do ponto de vista legal, seus quarenta implicados quase não foram incomo- dados: a denúncia apresentada contra eles pelo Ministério Público ao Supre- mo Tribunal Federal não foi sequer apreciada. (...)

Matéria positiva:

Edição nº 2024 – 05 de setembro de 2007 Título: O Brasil nunca teve um ministro como ele

Das 112 votações, nas quais os demais ministros do STF eram convidados a decidir se aceitavam a denúncia de que tal pessoa poderia ter cometido tal crime, Joaquim Barbosa ganhou todas – 96 delas por unanimidade. Com uma linguagem simples, objetiva, sem os labirintos do juridiquês, o voto de Joaquim Barbosa e sua aprovação consagradora mostraram que, como na Berlim do século XVIII, ainda há juízes em Brasília. Do alto de seus 200 anos de histó- ria, o Supremo Tribunal Federal informou ao País que os corruptos e corrup- tores do mensalão podem ter sido tolerados pela Câmara dos Deputados, pela direção de seus partidos e até pelas urnas de outubro, mas não o serão pela mais alta corte da Justiça brasileira – o que é um alento em um país tão cas- tigado pela impunidade.

Em outubro, quando decide que o mandato político pertence ao partido, o STF atrai mais atenção e provoca novas notícias positivas para o Judiciário.

Uma decisão histórica

O STF, ao decidir que o mandato obtido em eleições proporcionais pertence ao partido e não ao candidato, deu um instrumento para fortalecer os partidos no Brasil. É uma pequena reforma política, feita pelo Judiciário.

(Revista Época, 08 de outubro de 2007, p. 40) (figura 5)

Exceção novamente é a revista Carta Capital, que não vê, na iniciativa do Supremo, nenhum avanço para o nosso sistema eleitoral:

Pela lentidão da Justiça, longa instrução sobre ocorrência de perseguição, mudança programática e quejados, um processo eleitoral por infidelidade per- deria o objeto e seria extinto, sem exame de mérito, na hipótese de não ser apreciado antes do término do mandato eletivo.

(...)

Fora isso, a iniciativa para a instauração de ação por quebra de decoro, de- pois da regulamentação a ser feita pelo TSE e de constitucionalidade pra lá de duvidosa, é do partido. Muitos poderão deixar para lá. Como outros não o farão, quebra-se a ética da igualdade de tratamento.

(...)

Pano rápido: o STF, com composição renovada, enterrava a velha jurispru- dência, estabelecia a fidelidade partidária e fixava arbitrariamente um termo regulador. Nada que os parlamentares, por novos instrumentos legislativos, não possam mudar.

Também em outubro o STF atraiu manchetes ao estabelecer limites para as greves no ser- viço público:

Supremo decide que corte de ponto vale para grevistas do setor público Os servidores públicos de todo o País podem fazer greve, mas, a partir da decisão tomada ontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF), submetem-se à lei que rege as greves dos trabalhadores de empresas privadas.

(...)

Em 1988, a Constituição estabeleceu que uma lei complementar definiria os limites das greves no setor público. Até hoje, ela não foi votada. Em casos assim, cabe ao STF, quando provocado, definir a regra a ser cumprida. “A essa inércia ou inapetência legislativa corresponde um ativismo judiciário francamente autorizado pela Constituição”, justificou o ministro do STF Car- los Ayres Britto.

(Estado de São Paulo, 26 de outubro de 2007, p. A4 e A5)

6 - A presença do Poder Judiciário nos espaços privilegiados dos

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