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2 Questionários

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Foi encaminhada, por e-mail, uma pesquisa direcionada a assessorias de comunicação da Justiça de todo o país, no intuito de enriquecer a pesquisa com a opinião dos assessores sobre questões relacionadas à imprensa e ao poder Judiciário. O mesmo foi feito com relação a alguns jornalistas que foram identificados como os mais atuantes na área. Infelizmente, talvez pelas deman- das do dia-a-dia, por falta de tempo ou simplesmente por desinteresse, poucas foram as respostas recebidas. Em razão disso, as mesmas estão diluídas ao longo do trabalho e anexadas na sua íntegra no final desta pesquisa.

3 - Análise

3.1 - Total de matérias sobre o Poder Judiciário

Ao todo foram encontradas 1.171 matérias referentes ao Poder Judiciário publicadas nos jornais impressos analisados na pesquisa. Como foram examinados 150 jornais, a média seria de aproximadamente 8 matérias por exemplar analisado.

Tabela 3 – Matérias analisadas ou encontradas no período

JORNAIS JUL. AGOS. SET. OUT. NOV. DEZ. TOT. %

O GLOBO 53 54 36 28 27 29 227 19,38

JORNAL DO BRASIL 26 43 39 20 25 17 170 14,51

FOLHA DE SÃO PAULO 29 53 40 40 32 36 230 19,64

ESTADO DE S. PAULO 29 70 47 59 31 20 256 21,86

CORREIO

BRAZILIENSE 40 55 36 60 38 59 288 24,59

TOTAL 177 275 198 207 153 161 1.171

O Jornal Correio Braziliense foi o impresso que publicou mais matérias sobre o Poder Ju- diciário. Esse resultado já era previsto, tendo-se em vista que, por ser em Brasília e estar mais pró- ximo dos tribunais superiores, tem uma facilidade maior para apurar as matérias e fazer um acompa- nhamento mais próximo dos processos. Como a maior parte das matérias eram a respeito de pro- cessos em julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, sem dúvida a localização do Correio Brazili- ense é favorável a uma cobertura diária dos assuntos.

Tabela 4 – Matérias sobre o Poder Judiciário nos jornais por Estado

JORNAIS JUL AGOS. SET. OUT. NOV. DEZ. TOTAL %

RIO DE JANEIRO 79 97 75 48 52 46 397 33,89

SÃO PAULO 58 123 87 99 63 56 486 41,50

BRASÍLIA 40 55 36 60 38 59 288 24,59

Quanto à cobertura por Estado, os jornais de São Paulo publicaram no período mais ma- térias a respeito do Poder Judiciário que os jornais do Rio de Janeiro. Entre os jornais paulistas, o Estado de São Paulo foi o que mais veiculou conteúdo a respeito do Judiciário.

Nas 106 revistas pesquisadas, foram encontradas 238 matérias sobre o Judiciário, a mai- or parte na Revista Isto É, (31,09% das matérias), seguida pela Revista Época (28,15%).

Tabela 5 – Matérias sobre o Poder Judiciário nas revistas semanais

REVISTAS JUL AGOS. SET. OUT. NOV. DEZ. TOTAL %

CARTA CAPITAL 04 08 03 01 12 13 41 17,22 ÉPOCA 04 11 19 04 15 14 67 28,15 ISTO É 03 05 19 06 22 19 74 31,09 VEJA 02 03 13 07 12 19 56 23,52 TOTAL 13 27 54 18 61 65 238

3.2 – Temas Abordados nas matérias sobre o Poder Judiciário

Dividimos as matérias pesquisadas pelos temas mais relevantes e procedemos à análise, destacando os mais abordados durante o período analisado. O tema que mais se destacou no se- gundo semestre de 2007 foi, sem dúvida, os processos judiciais contra políticos envolvidos em es- cândalos.

3.2.1 – Processos envolvendo políticos –

Renan Calheiros, Joaquim Roriz e Mensaleiros: o escândalo político em pauta

Verificou-se, ao longo da pesquisa, que havia muito mais matérias com referências ao Po- der Judiciário do que se imaginava no início. Entretanto, acabou-se chegando à conclusão que o que movia essas notícias não era o interesse pela atuação do Poder Judiciário, em suas mais diversas formas, mas os escândalos envolvendo parlamentares, que de algum modo acabavam indo parar nas esferas judiciais.

Constatou-se que além da maior parte das matérias se referir a personalidades do mundo político, se concentravam nas editorias de País (Nacional, O país etc.) e de política dos jornais.

O grande interesse dos veículos impressos por assuntos relacionados ao poder legislativo está demonstrado nas matérias publicadas no período analisado por esta pesquisa. Essas matérias corresponderam à maior parte de todo o volume de notícias e o seu foco principal eram os proces- sos judiciais envolvendo escândalos políticos.

O caso “Renan Calheiros”, por exemplo, permaneceu nas páginas dos jornais por meses. O senador, então presidente do Senado, foi acusado pela revista Veja de ter recebido dinheiro ilegal de empreiteiros e de usá-lo para pagar a pensão de uma amante, Mônica Velozo, com quem tinha uma filha. Acontece que essa amante denunciou o senador para a revista Veja. Estava armado o es- cândalo e, a partir daí, se sucederam outros.

Nas revistas, foram encontradas 112 matérias relacionadas ao Judiciário, envolvendo per- sonalidades do mundo político.

Tabela 6 – Matérias encontradas nas revistas sobre o Poder Judiciário

REVISTAS JUL AGO. SET. OUT. NOV. DEZ. TOTAL

CARTA CAPITAL 00 03 02 04 04 02 15

ÉPOCA 02 06 14 01 07 01 31

ISTO É 01 02 13 04 11 08 39

VEJA 00 00 10 05 05 07 27

TOTAL 03 11 37 10 27 18 112

Thompson (2002, p. 141) explica porque o escândalo político é tão freqüente na socieda- de atual:

Poder-se-ia argumentar que a prevalência crescente do escândalo político se deve não tanto ao declínio nos padrões morais dos políticos, mas à mudança nos códigos e convenções morais que são empregados na avaliação do com- portamento dos políticos e à crescente saliência desses códigos na condução da vida política. Essa linha de explicação é mais promissora. Pode dar-se o caso em que os políticos estão mais propensos ao escândalo porque um com- portamento teria sido perdoado no passado tem mais probabilidade de ser censurado hoje.

Thompson (2002, p. 141) também destaca as cinco principais mudanças que ocorreram para que o escândalo político tivesse a visibilidade e importância que tem hoje:

1 - A crescente visibilidade dos líderes políticos – mudança ligada ao grande desenvolvi- mento dos meios de comunicação, o que modificou o tipo de visibilidade e tornou as personalidades políticas mais expostas à mídia.

2 - A mudança nas tecnologias de comunicação e de visibilidade – que gerou novas for- mas de vigilância e controle, que “possibilitam gravar, processar e transmitir informação e comunica- ção”.

3 - A mudança na cultura jornalística 4 - A mudança na cultura política

5 - A crescente regulamentação da vida política.

Para Mário Rosa (2003, p. 476), embora muitos profissionais brasileiros sustentem que a nossa imprensa segue um modelo americano de jornalismo, na realidade, em se tratando de escân- dalos, temos características bem peculiares. Afinal, quando, no Brasil, assistimos a escândalos como o do ex-presidente Bill Clinton, nos Estados Unidos?

Pode-se dizer que a mídia no Brasil cobre a vida privada dos políticos da mesma forma que a imprensa francesa (ou seja, não cobre nada), fixando-se numa temática política (os escândalos de origem patrimonial), muito mais fre- qüente na Itália do que nos Estados Unidos de hoje. Esse é um modo de ação muito particular. Muito próprio. Por que não dizer: muito brasileiro?

O escândalo envolvendo o senador Renan Calheiros e um relacionamento extraconjugal, por exemplo, tinha elementos suficientes para se transformar em um escândalo sexual em outros paí- ses, como nos Estados Unidos, por exemplo. No entanto, no Brasil toda a ênfase se deu no plano da improbidade administrativa e no desvio de conduta do senador como parlamentar. No Brasil a vida pessoal dos políticos não costuma atrair holofotes. E tanto é assim que, após alguns dias de ini- ciado o escândalo, quase não se falava mais de Mônica Veloso, pivô dos acontecimentos, a não ser nas revistas “de fofocas” e de “celebridades”. Por outro lado, a cada dia novas informações e de- núncias se sobrepunham às anteriores, alimentando assim a necessidade da mídia por material para a perpetuação do escândalo.

Enquanto os escândalos político-sexuais envolvem a divulgação de aspectos da vida privada que transgridem as normas e códigos de conduta sexual, os escândalos financeiros na esfera política estão baseados na revelação de ati- vidades de figuras políticas que governam a aquisição e alocação de recursos financeiros.

(...)

Tanto os escândalos político-sexuais como os escândalos político financeiros envolvem transgressões de normas que governam atividades que podem não ser exclusivas da esfera política. Os escândalos do poder, por outro lado, es- tão baseados na divulgação de atividades que infringem as regras que regem a conquista ou exercício do poder político como tal

O que ocorreu com o então presidente do Senado, Renan Calheiros e que culminou em sua renúncia do cargo, está ligado ao que Thompson define como escândalos financeiros na esfera política:

Escândalos financeiros na esfera política baseiam-se em alegações sobre a- buso de dinheiro e outras irregularidades financeiras. Envolvem geralmente uma revelação de ligações secretas (ou alegações sobre ligações secretas) entre o poder político e o econômico, ligações que são vistas como irregulares e que ao virem à luz, precipitam o escândalo. (THOMPSON, 2003, p. 197)

Além do caso Renan Calheiros, o segundo semestre de 2007 teve um segundo episódio envolvendo um escândalo político: o julgamento do caso do “mensalão” pelo Supremo Tribunal Fe- deral.

“Mensalão” foi o termo escolhido pelo Jornal Folha de São Paulo para se referir a uma su- posta mesada paga a deputados para que eles votassem a favor de projetos que interessavam ao Poder Executivo. Esse escândalo foi provavelmente o pior do governo do Presidente Lula e envol- veu o ex ministro José Dirceu, apontado pelo Ministro Joaquim Barbosa, do STF, como líder do esquema. Chegou até o Supremo Tribunal Federal em forma de denúncia oferecida pelo Procurador Geral da República.

O processo que ameaça o mandato do presidente do Senado, Renan Calhei- ros (PMDB-AL), chegou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF). (O GLOBO, 07/08/07, p. 03)

A pedido do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, o Su- premo Tribunal Federal instaurou ontem inquérito criminal para investigar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O pedido do procura- dor refere-se a todas as denúncias envolvendo Renan. Com a abertura do in- quérito, cujo relator será o ministro Ricardo Levandowski, o presidente do senado será investigado pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Fede- ral, uma vez que possui foro privilegiado. (Jornal do Brasil, 07 de agosto de 2007, p. A2)

Ao decidir pelo acatamento da denúncia no caso do Mensalão, o STF e, principalmente, o Ministro Joaquim Barbosa, atraíram a atenção da imprensa, que não economizou elogios ao supre- mo e ao ministro:

O julgamento da denúncia do mensalão é um marco na luta contra os corrup- tos, mas também na história do STF, ao ressaltar sua independência. Poucos presidentes puderam moldar tão profundamente a composição do tribunal quanto Lula, que indicou sete novos ministros. A quase-unanimidade com que os juízes acolheram a denúncia contra figuras-chaves do governo Lula ressal- ta o fato de que, num regime de normalidade democrática, a nomeação de um ministro do Supremo não equivale à compra de sua submissão. (Revista Veja, 05 de setembro de 2007, p. 67)

A revista Carta Capital, por outro lado, minimizou a importância da decisão do Supremo Tribunal Federal e criticou a postura da imprensa no caso:

O fim do espetáculo que transformou as últimas cinco sessões do Supremo Tribunal Federal no evento mais esperado do calendário político, os persona- gens cumpriram à risca o papel a eles reservado no momento.

(...)

Os dez juízes do STF que participaram da análise da denúncia decidiram sob forte pressão da mídia e boa parte das decisões reflete o clima dos últimos dias. Ainda que o processo esteja em sua fase preliminar, a aceitação da de- núncia do Ministério Público, a reunião dos ministros do Supremo foi tratada como o “julgamento do século” e cobrou-se da Alta Corte uma espécie de “redenção”, sabe-se lá em relação a quê.

No documento Download/Open (páginas 54-63)