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2.3 Divulgação de Notícias nos Órgãos do Poder Judiciário Abordou-se até aqui as informações que o Poder Judiciário tem a obrigação de prestar à

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população, seja de maneira direta ou através dos meios de comunicação, com a finalidade de dar transparência, de proporcionar julgamentos mais justos e, ao mesmo tempo de legitimar a instituição junto à opinião pública.

No entanto, as instituições públicas de um modo geral também têm percebido a importân- cia de se expressar e de mostrar os resultados do seu trabalho à sociedade. Como não podem dis- por dos mesmos instrumentos de publicidade e propaganda utilizados pela iniciativa privada e, mui- tas vezes impedidos legalmente de se manifestarem diretamente pelos meios de comunicação, os magistrados tem percebido a necessidade de recorrer a uma assessoria de comunicação que possa divulgar corretamente as suas iniciativas e até mesmo explicar determinadas ações que possam ter uma repercussão negativa ou que possa ser incorretamente compreendida, tendo em vista os aspec- tos técnicos que envolvem uma decisão judicial. No Poder Judiciário Brasileiro atualmente os princi- pais canais de divulgação são as assessorias de comunicação e a TV Justiça.

2.3.1) As Assessorias de Comunicação

É crescente o número de profissionais trabalhando em assessorias de comunicação da jus- tiça em todo o país. Essas assessorias têm sido de grande importância para o judiciário, pois além de atenderem às demandas da imprensa, atuam como verdadeiras agências de comunicação, fabri- cando produtos dos mais diversos tipos para ampliar a divulgação das ações dos juízes e tribunais.

No Brasil, os órgãos de governo, incluindo os do Poder Judiciário e do Minis- tério Público, consideram que publicar notícias diretamente é uma forma de facilitar e complementar o trabalho da imprensa. Nos últimos anos, a disse- minação de tecnologias como a Internet impulsionou essa linha de atuação. Assim, muitos dos websites de órgãos da justiça trazem áreas de notícias, di- rigidas a profissionais da imprensa, advogados e ao público em geral. (LEMOS, 2005)

Márcio Chaer (2008), editor do site consultor jurídico, fala da contribuição que esses pro- fissionais têm dado para melhorar a relação do judiciário com a população:

Nos tribunais superiores e no STF além de assessores há um corpo de profis- sionais que produzem as próprias notícias para o site do tribunal. É quase uma concorrência com a imprensa. O cidadão pode pegar a notícia direto na fonte. Um fenômeno de desintermediação.

Marco Antônio de Carvalho Eid (2003, p. 1) destaca o que considera a grande missão da assessoria de imprensa no governo, que é “contribuir para que a sociedade, por meio da mídia jor- nalística, tenha acesso às informações de seu interesse”. É essa a base da comunicação pública.

O cumprimento dessa meta, segundo o autor, se expressa em distintas vertentes.

“No que diz respeito a ações pró-ativas, as duas principais tarefas são as se- guintes: apurar e distribuir informações de interesse público, normalmente não cobertas pelos veículos de comunicação, inclusive os de grande porte, e dis- ponibilizar notícias à parcela da mídia que não tem amplo acesso às fontes. Além disso, a assessoria tem papel importante no sentido de facilitar o traba- lho rotineiro dos jornalistas, agendando entrevistas e respondendo de forma ágil e precisa às solicitações”. (EID, 2003, p.1)

Os assessores de comunicação do Poder Judiciário e do Ministério Público criaram, em novembro de 2000, o Fórum Nacional de Comunicação e Justiça. Os encontros anuais tiveram iní- cio em 2002 e tornaram-se um espaço para debates e troca de experiências sobre o dia-a-dia das assessorias do judiciário.

Ampliar o debate sobre a comunicação na Justiça, envolvendo juízes, procu- radores, promotores, jornalistas, publicitários, organizações governamentais e não-governamentais, bem como a sociedade civil, de forma a construir orga- nizações onde a comunicação esteja a serviço do cidadão. (CANAL JUSTI- ÇA, 2007)

Em novembro de 2007, assessores de comunicação da justiça de todo o País se reuniram em Vitória, no Espírito Santo, para o congresso do Fórum Nacional de Comunicação & Justiça, o CONBRASCOM 2007. O tema do congresso era “Efetividade da Justiça, Planejamento Estratégi- co e Assessoria de Comunicação”.

Durante o evento, foram abordados tópicos como a responsabilidade da comunicação na divulgação das atividades da justiça, a questão da publicidade dos atos públicos e o direito à infor-

mação. Falou-se também sobre a importância do papel das assessorias de imprensa dos órgãos li- gados ao Judiciário na tarefa de tornar a Justiça mais transparente e conhecida da população.

Nos congressos do Fórum Nacional dos Assessores de Comunicação e Justiça, as discus- sões dos assessores do judiciário acabam quase sempre girando em torno de questões como “onde estamos e onde queremos chegar na comunicação do judiciário? Quais foram os avanços verifica- dos nos últimos anos? Os jornalistas têm conseguido chegar até o judiciário? O judiciário tem con- seguido chegar até os jornalistas?”

Durante os congressos de assessores também acontecem oficinas sobre a TV Justiça e a Rádio Justiça, além de palestras de pesquisadores e profissionais da área jurídica e jornalística. A- lém disso, o Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça, lançado pelo Fórum em 2003, tem sido um incentivo a mais para soluções criativas na comunicação do judiciário.

Os debates em torno do tema “políticas e estratégias de comunicação” no judiciário detec- taram dois problemas presentes em quase todo o país:

- ausência de estruturas de comunicação regulamentadas pelas instituições;

- não realização de concursos públicos para cargos na área de comunicação, o que dificul- ta a profissionalização das assessorias, que ficam sujeitas à vontade e à necessidade de cada admi- nistração, que, normalmente, se modifica a cada biênio.

O Fórum Nacional de Comunicação e Justiça está desenvolvendo, desde 2006, uma pes- quisa para traçar o perfil das Assessorias de Comunicação na área da Justiça. A realização da pes- quisa foi decidida no I Congresso Brasileiro dos Assessores de Comunicação da Justiça, realizado em novembro de 2005, em Natal, e apresentada no II Congresso Brasileiro dos Assessores de Comunicação da Justiça, realizado em Porto Alegre (RS), em 2006. Até a elaboração desta disser- tação, o trabalho ainda não tinha sido concluído, mas a partir das primeiras conclusões, já é possível afirmar que:

1) As atividades das Assessorias de Comunicação do Poder Judiciário e Ministério Público são prefe- rencialmente voltadas para a Assessoria de Imprensa.

2) Há uma falta de sintonia entre as atividades realizadas pelas Assessorias de Comunicação do Po- der Judiciário e Ministério Público e a formação específica dos profissionais que as realizam.

3) As assessorias não ocupam no Organograma Administrativo das instituições posicionamento estra- tégico.

Sobre a origem das Assessorias de Comunicação no Judiciário, a pesquisa revela que, embora as assessorias de comunicação existam na esfera governamental desde a década de 70, no judiciário elas só se consolidaram na década seguinte:

Frederico Vasconcelos (2008) aponta as principais vantagens das assessorias de comuni- cação do judiciário e os obstáculos na relação com a imprensa:

Percebo que há uma profissionalização maior. Algumas assessorias possuem profissionais competentes e interessados em ajudar o jornalista. O problema maior, a meu ver, é que a cada mudança na cúpula dos tribunais, muda o as- sessor de imprensa, um cargo de confiança, e varia muito o grau de preocu- pação com a transparência. Nas cortes superiores, a imprensa conta com as- sessores preparados.

Acho que o melhor desempenho das assessorias reside no papel de permitir ao jornalista o acesso aos autos e à informação precisa do processo. O aces- so aos juízes sempre dependerá da disposição de cada magistrado em se re- lacionar com a mídia (salvo nas entidades de classe, que têm interesse em manter aproximação com a mídia).

Grande parte dos esforços empreendidos pelas assessorias de imprensa do judiciário hoje consiste em despertar o interesse dos colegas jornalistas por alguns assuntos que a instituição quer divulgar e que poderiam ser de interesse público. Entretanto, muitas iniciativas importantes acabam tendo sua divulgação restrita aos sites institucionais. Por isso a necessidade, cada dia maior, de es- tabelecer uma relação de confiança e respeito com os órgãos da imprensa. Afinal, dentre todos os espaços por onde circula a informação, a imprensa é sem dúvida o mais valorizado e desejado pelas instituições públicas.

Em resumo, Estado e atores privados disparam estrategicamente suas men- sagens para que a imprensa, na última instância do processo e ao mesmo tempo parte interessada, possa não somente difundir a informação, mas, quem sabe, assumi-la sob a ótica do interesse público. Quando a mídia é permeável a determinada mensagem, a diferença é significativa, pois implica reverberação, impacto e difusão em grande escala. (FARIA, 2007, P. 178)

Por outro lado, os profissionais que atuam nas assessorias de imprensa de órgãos públicos, como no Judiciário, por exemplo, não podem esquecer que também são funcionários públicos e há deveres com a sociedade e a população que certamente se sobrepõem às suas atividades como as-

sessores das instituições. Ou seja, ainda que representem os interesses da instituição para a qual tra- balham, os assessores de órgãos públicos tem, sim, uma grande responsabilidade social que não pode ser ignorada. Há limites éticos que devem ser respeitados no desenvolvimento do seu trabalho, para que a população não seja prejudicada em nome de interesses pessoais de promoção.

A tarefa de colocar todas as instituições públicas que se dedicam à comuni- cação social a serviço dos direitos da cidadania é algo que pode ser alcança- do na nossa geração. É preciso clareza de visão e uma ação ordenada para atingir esse objetivo. Ele não é meramente um sonho. É uma meta possível e necessária para dar mais transparência ao Estado e mais participação crítica do cidadão na nossa democracia. (BUCCI, 2007, P. 200)

2.3.2) A TV Justiça

A TV Justiça foi criada em 2002 com a finalidade de "informar, esclarecer e ampliar o a- cesso à Justiça, buscando tornar transparentes suas ações e decisões".

Juntamente com o trabalho das assessorias, a TV Justiça tem sido uma aposta do judiciário para melhorar a sua imagem junto à população brasileira. A TV do judiciário foi criada em maio de 2002 e entrou no ar em 11 de agosto do mesmo ano, transmitida por sistema a cabo e por satélite. Atualmente, a TV Justiça está sendo transmitida também pelo canal aberto 53, mas somente em Brasília.

No Brasil, seguindo uma tradição antiga, continua-se a criar veículos institu- cionais de comunicação no setor público. Os veículos institucionais são um mercado de trabalho crescente. Além disso, constituem fonte de informação importante para a imprensa que, deficientemente estruturada, utiliza com boa vontade esses serviços. (LEMOS, 2005)

A sede da TV Justiça é no Supremo Tribunal Federal, em Brasília. De acordo com o Ma- nual da TV Justiça, sua estrutura é composta por: um conselho estratégico, que cuida basicamente de questões administrativas e está diretamente vinculado ao STF e um comitê editorial, preocupado com questões relacionadas à forma e ao conteúdo da programação da tv.

Conselho Estratégico - É composto por sete membros: o presidente do Supremo Tribunal Federal e os dois ministros da linha de sucessão, o Diretor Geral do STF, o Secretário de Comuni-

cação Social do STF e dois especialistas em Comunicação Social: um com foco em Direito e outro com foco em televisão.

Comitê Editorial – É composto pelo Secretário de Comunicação Social do STF, pelo Co- ordenador da TV Justiça, pelos chefes dos Núcleos de Produção, Jornalismo, Operações e Pro- gramação. Também compõem o Comitê um representante das assessorias de tribunais, outro das assessorias do Ministério Público e outro das assessorias de associações ligadas ao Judiciário.

A TV Justiça tem quatro eixos editoriais: jornalismo, educação, cidadania e prestação de serviços. A grade de programação é formada por programas do próprio Supremo Tribunal Federal e de outros órgãos do judiciário (tribunais estaduais e federais), além de programas de associações de classe e órgãos como o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil, que não per- tencem ao Poder Judiciário, mas que são considerados “órgãos essenciais à justiça”.

Os colaboradores que não têm estrutura ou condições de produzir programas podem envi- ar entrevistas, matérias e sugestões de pauta para programas já existentes na emissora. O envio das gravações é feito através de dvd’s encaminhados via Correios à sede da TV Justiça.

Dependendo da relevância e urgência da notícia, no caso de julgamentos de grande reper- cussão, por exemplo, podem ser estabelecidos links com o tribunal ou órgão de origem da notícia, e jornalistas de assessorias falam ao vivo por telefone, durante a exibição do telejornal.

Com o objetivo de manter certa padronização ou qualidade mínima dos programas, segun- do os critérios da própria emissora, a TV Justiça elaborou um manual de redação e produção que se encontra em sua 4ª edição (2007). Nele estão as normas para elaboração de matérias e progra- mas, assim como as legislações que regem a TV e um glossário de expressões latinas e jurídicas pa- ra os jornalistas que trabalham no âmbito do judiciário. O manual vem, ainda, com um DVD com as principais dicas e regras interpretadas por um apresentador.

A TV Justiça realiza encontros anuais para ouvir reclamações, trocar algumas informações e atender algumas solicitações dos colaboradores, que pertencem a vários órgãos ligados ao poder judiciário no Brasil. Além disso, os encontros dos assessores de comunicação da justiça, também anuais, costumam abordar questões relativas à TV justiça e oferecer oficinas relacionadas aos pro- gramas veiculados.

Embora nunca tenha feito uma medição de audiência, a TV Justiça realizou, de junho a no- vembro de 2007, uma pesquisa no site oficial da emissora para que o público avaliasse a qualidade

dos programas veiculados, com questionários de auto-preenchimento estruturados e disponibilizados através de um link.

A pesquisa concluiu que a maior parte dos entrevistados não têm dia certo para assistir à TV Justiça, mas o fazem preferencialmente à noite, em casa.

Numa pergunta para avaliar quais são os dez programas mais conhecidos da TV justiça, com 73%, em primeiro lugar estava o programa Aula Magna, seguido de: Caderno D e direito em debate com 43%.

Os 10 que mais gostam: aula magna com 54% e caderno D com 33%.

Nota-se que os programas apontados como preferidos são programas de perfil didático, o que sugere que a audiência da TV Justiça seja formada basicamente por estudantes de direito ou candidatos a concurso públicos.

Entretanto, as sessões do Supremo Tribunal Federal e do TSE que têm algum processo que se entendem como de interesse público costumam ser acompanhados pela mídia em geral.

Em setembro de 2007, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal acatou a denúncia do caso do “mensalão”, fato que teve ampla cobertura da mídia e foi certamente o episódio que - ao menos nos últimos anos - mais colocou em evidência o órgão máximo da justiça do País. Jornalistas do Brasil inteiro passaram a acompanhar as sessões da TV Justiça, cujo público era antes restrito basicamente a profissionais da área do direito e candidatos a concursos públicos. A repercussão foi tão grande que o relator do processo, o ministro Joaquim Barbosa, foi apontado pela Revista Época (2007), da Editora Globo, como um dos 100 brasileiros mais influentes de 2007, segundo a publi- cação, por ter conduzido o processo “de forma clara e transparente”. Certamente o Ministro, ao preparar o seu voto, não ignorava o fato de que milhares de telespectadores estariam com a suas te- levisões ligadas naquele julgamento.

Destacamos aqui as principais iniciativas e esforços empreendidos pelo Poder Judiciário brasileiro, nos últimos anos, numa tentativa de formar e consolidar uma imagem positiva junto à po- pulação brasileira e, assim, legitimar-se como um poder a serviço da sociedade e da democracia; o que justificaria a sua existência como uma instituição capaz de ajudar a promover a tão almejada paz social e a participar da formação de uma sociedade mais justa baseada na democracia e na cidada- nia.

Entretanto, a comunicação nos órgãos do poder judiciário brasileiro ainda se encontra em fase embrionária e ainda há um longo caminho a percorrer para que se estabeleça uma aproximação

entre a mídia e o judiciário, capaz de proporcionar um mínimo de confiança e de respeito mútuos entre essas importantes instituições do nosso país.

III – AUDITORIA DE IMAGEM DO PODER JUDICIÁRIO NA

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