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CAPÍTULO II SEGURO AGRÍCOLA NO RIO GRANDE DO SUL

2.6 O Seguro Agrícola ano a ano

2.6.1 Ano 1999: primeiro ano do Governo de Olívio Dutra

No primeiro ano do Governo de Olívio Dutra (1999) impunha-se ao executivo a necessidade de iniciar a execução do seguro agrícola no Rio Grande do Sul. Para tanto, as principais metas estabelecidas para o ano foram (a) aprovação de projeto de lei sobre seguro agrícola na Assembléia Legislativa - envolvendo sua elaboração, acompanhamento do processo de aprovação e posterior regulamentação com edição de decreto - e, (b) início da implantação do seguro agrícola na safra 1999/2000.

Conforme exposto no item ‘2.3.1 Debate sobre o Projeto de Lei do Seguro Agrícola na Assembléia Legislativa’, o projeto de lei foi apresentado à Assembléia Legislativa em 25 de fevereiro de 1999, antes da conclusão do segundo mês de governo. O processo de discussão e aprovação do projeto de lei na Assembléia foi descrito naquele item e a regulamentação da Lei Nº 11.352/99 pelo Decreto Nº 39.722, de 16 de setembro de 1999, no item subsequente desta dissertação.

Embora a Lei Nº 11.352 tenha sido sancionada em 14 de julho de 1999, a execução do seguro agrícola naquele ano foi inviabilizada devido à promulgação pela Assembléia Legislativa, em 31 de agosto do mesmo ano, da Lei Nº 11.367.

A Lei Nº 11.367, aprovada pela Assembléia Legislativa em 15 de junho - antes mesmo da aprovação da lei do seguro agrícola -, anistiava o chamado ‘cheque-seca’, tendo sido vetada pelo Governador do Estado sob a argumentação de vício de origem (o

de recursos financeiros). O veto do Governador foi derrubado pela Assembléia e, em consequência, o executivo estadual apresentou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN), obtendo uma liminar parcial. Até o final do governo não foi analisado o mérito da ADIN.

A denominação ‘cheque-seca’ foi atribuída ao Programa Emergencial de Crédito de Manutenção e Apoio a Pequenos Produtores Rurais, que visava apoiar agricultores familiares gaúchos atingidos pela forte estiagem ocorrida no segundo semestre de 1995. Aproximadamente 100 mil famílias de agricultores foram beneficiadas com um valor de R$ 400, distribuídos por meio de cheques no primeiro semestre de 1996, acarretando um montante total de R$ 40 milhões49. Como o apoio foi na forma de crédito, deveria ocorrer a devolução – atualizada – por parte dos agricultores beneficiados. Os sindicatos de trabalhadores rurais e demais movimentos sociais rurais reivindicavam a redução da devolução, com anistia parcial ou total do valor devido. As condições de pagamento do ‘cheque-seca’ foram estabelecidas na Lei Nº 11.185, de 7 de julho de 1998, que criou o Fundo Rotativo de Emergência da Agricultura Familiar. O fundo criado, ao mesmo tempo em que estabelecia as condições para a devolução do ‘cheque-seca’, também cumpria o papel de sinalizar para uma política permanente de apoio aos agricultores em caso de perdas devido à adversidades climáticas. Era uma resposta, no período de disputa eleitoral para a eleição a governador de 1998, à crescente demanda dos movimentos sociais pelo seguro agrícola.

A aprovação da lei concedendo anistia inviabilizou a execução do seguro agrícola no ano de 1999, porque o governo contava com os recursos provenientes do pagamento do ‘cheque-seca’ para iniciar a operacionalização do programa. Buscando solucionar o impasse dado pela lei sancionada e a existência da ADIN, o Executivo apresentou à Assembléia Legislativa o Projeto de Lei Nº 126/99 que concedia anistia parcial ao ‘cheque-seca’ e possibilitava que os recursos arrecadados e depositados no Fundo Rotativo fossem destinados ao Fundo Estadual de Seguro Agrícola. Esta proposta contava com o apoio de lideranças estaduais dos sindicatos e movimentos rurais de agricultores familiares, mas não chegou a ser apreciada pelos deputados.

49 O montante de R$ 40 milhões foi obtido de duas fontes: (a) R$ 16 milhões do Tesouro do Estado e (b)

R$ 24 milhões oriundos de empréstimo junto ao Governo Federal, cuja origem foi o FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador.

Com a execução do seguro agrícola no ano de 1999 inviabilizada, devido à falta de recursos, foi então iniciada a preparação para a implantação do seguro na safra seguinte, 2000/2001. Após a regulamentação da lei do seguro agrícola, no mês de setembro de 1999, foi iniciada a constituição do Conselho de Administração do Sistema Estadual de Seguro Agrícola. Uma reunião preliminar com as entidades que comporiam o Conselho foi realizada em 1º de dezembro de 1999, momento em que foram expostos os objetivos do Sistema de Seguro Agrícola e antecipada a proposta da Secretaria da Agricultura para a implantação.

A proposta da Secretaria de Agricultura definia que o Programa de Seguro Agrícola seria implantado através de projeto-piloto, inicialmente abrangendo as culturas de milho e feijão; conferindo tratamento prioritário aos agricultores familiares que possuíssem propriedades de tamanho de até 25 hectares, em que eventuais subsídios a prêmios e taxas se limitariam a áreas de lavouras entre um e cinco hectares, e definindo que a produção seria segurada com referência no seu custo e não na renda presumida.

A primeira reunião oficial do Conselho de Administração ocorreu no dia 15 de dezembro de 1999 (Ata Nº 01 do Conselho de Administração), contando com a participação de um representante da COSESP – Companhia de Seguros de São Paulo, que apresentou a experiência daquela empresa em seguro agrícola, bem como os produtos de seguro por ela comercializados, o que demonstrava a busca de seguradoras privadas interessadas em operar o seguro agrícola no Rio Grande do Sul. Ficou encaminhado desta primeira reunião a necessidade da elaboração técnica do projeto com a posterior convocação dos Conselheiros para análise e decisão a respeito.

Nesse momento, poucas companhias operavam seguro agrícola no Brasil. A COSESP era a única companhia que operava em seguro agrícola com um volume grande de contratos. A seguradora Porto Seguro era outra companhia que vinha ganhando algum destaque a partir do seguro para a cultura da maçã. Outras companhias – seguradoras e resseguradoras – apenas ensaiavam alguns passos no seguro agrícola no País. A Companhia União de Seguros Gerais, privatizada, manifestou interesse em operar o seguro agrícola no Rio Grande do Sul, dada principalmente por sua intenção em manter a parceria existente com o banco estadual BANRISUL, mais que uma decisão estratégica da empresa, pois seu controlador, BRADESCO, não apresentava interesse em investir no seguro agrícola. Essa possibilidade não avançou.

e com o Governo do Estado de São Paulo reforçava esta perspectiva, pois demonstrava seu grande envolvimento com a implementação de políticas públicas para a agricultura em âmbito estadual. Nessa perspectiva, a concepção desenvolvida para o programa de seguro agrícola durante o ano de 1999, principalmente no primeiro semestre, buscava espelhar-se naquele desenvolvido em São Paulo pela COSESP.