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Articulação do Programa Seguro Agrícola ao Programa Troca-Troca de Sementes

CAPÍTULO II SEGURO AGRÍCOLA NO RIO GRANDE DO SUL

2.3 Modalidade SAB Seguro Agrícola Básico

2.3.1 Articulação do Programa Seguro Agrícola ao Programa Troca-Troca de Sementes

As características arroladas do Seguro Agrícola Básico indicavam a constituição de um seguro de renda. Mas, dada a dificuldade do mercado segurador disponibilizar o que seria o seguro de renda – seguro bastante complexo -, era necessário partir dos

produtos de seguro já presentes no mercado, produtos centrados em culturas específicas (milho, soja, trigo, arroz).

A cultura do milho foi eleita para cumprir o papel de ‘cultura-âncora’ do Seguro Agrícola Básico. O milho é uma cultura característica da agricultura familiar e está no centro da organização produtiva da unidade familiar. Segundo o Censo do IBGE de 1995/96, o Rio Grande do Sul possuía um total de 310 mil produtores de milho, sendo que em torno de 99,3% destes possuíam propriedades de até 50 hectares (agricultores familiares, grosso modo). Em média, cultivavam lavouras de milho de 3,6 hectares e destinavam 70% de sua produção para consumo interno à propriedade (RIO GRANDE DO SUL, 2002a, p.26). Nenhuma outra cultura agrícola demonstra uma importância tão grande quanto o milho na atividade econômica da agricultura familiar. O milho é utilizado na alimentação animal de suínos, aves e gado leiteiro – consumo interno à propriedade - mas também é cultivado para comercialização com vizinhos, em mercados locais, ou em mercados mais distantes.

O Programa Estadual Troca-Troca de Sementes de Milho foi utilizado como ‘veículo’ para levar o seguro agrícola aos 180 mil agricultores familiares beneficiários deste programa. A articulação operacional do Programa Seguro Agrícola ao Programa Troca-Troca foi a solução encontrada para romper com o distanciamento de milhares de agricultores familiares do seguro agrícola, fruto da inexistência de uma cultura de seguro entre os agricultores, e dar viabilidade logística para a pulverização de propostas de contratos de seguro em todo o estado.

O Programa Estadual Troca-Troca de Sementes foi criado na metade da década de 80, quando não havia uma política agrícola específica para agricultores familiares e no período em que houve grande queda nos recursos aplicados no crédito rural. Este programa, cujo objetivo principal é a distribuição de sementes aos ‘pequenos agricultores’, cumpre a função de financiamento da produção de agricultores familiares em um item – sementes – em que o gasto é condição para a existência da cultura. No caso de outros insumos - como corretivos e fertilizantes -, na falta de recursos ou de financiamento o agricultor tem a possibilidade de optar pela não utilização, assumindo a probabilidade de uma produtividade menor da cultura. O programa distribuía dois sacos

de sementes de milho selecionadas (20Kg/sc) para cada família beneficiária, e o agricultor devolvia em equivalente-milho comercial39 na época da colheita.

O Programa Troca-Troca, sendo executado há mais de 15 anos, já era reconhecido junto aos agricultores familiares gaúchos, aos Sindicatos de Trabalhadores Rurais e às Prefeituras Municipais, executores locais do programa. Tinha, então, uma dinâmica operacional consolidada. Desta forma, considerava-se que a articulação operacional do Programa Seguro Agrícola ao Programa Troca-Troca estaria respondendo a dois grandes problemas identificados na execução do seguro agrícola subsidiado: baixa capacidade de acesso ao público beneficiário e alto custo operacional (RIO GRANDE DO SUL,2002a, p.25).

A implantação de um seguro agrícola baseado na concepção de oferecer uma proteção básica aos agricultores, garantindo uma renda mínima no caso de perdas generalizadas, e tendo uma contratação massiva, implicava, então, na necessidade de definir um canal eficiente para levar o seguro agrícola ao agricultor e que oferecesse facilidade na sua contratação. Isto foi respondido com a articulação do seguro agrícola ao Troca-troca, mas também com a informatização de todo o processo. Outro ponto crucial para garantir o sucesso da iniciativa residia na necessidade de oferecer o seguro agrícola com um custo muito baixo para o agricultor, de forma que isto não se constituísse em entrave, mas implicava em um alto nível de subsídio.

Foi definido um custo único do Seguro Agrícola Básico (SAB) para todos os agricultores beneficiários do Programa Troca-Troca que aderissem ao Programa Seguro Agrícola. Para os dois sacos de sementes de milho retirados no Troca-troca, o agricultor familiar teria direito a contratar seguro agrícola ao custo de um saco de milho comercial, definido pelo preço-mínimo estabelecido pelo Governo Federal40. Caso o

agricultor retirasse uma quantidade menor de sementes, pagaria proporcionalmente ao retirado. Com dois sacos de sementes de milho o agricultor plantava entre dois e três hectares de lavoura. O SAB estabelecia um valor segurado de R$ 800,00 ou R$ 1000,00 para os dois sacos de sementes retirados ou, de outra forma, estes valores para a área

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No período 1999-2002 foram operadas três relações de equivalência-produto: (a) sementes de milho

variedade com uma relação de 1:8 onde, para cada quilo de semente adquirido o agricultor

comprometia-se a devolver oito quilos de milho comercial; (b) sementes de milho híbrido com uma relação de 1:11 e (c) sementes de milho híbrido de alto custo com uma relação de 1:21.

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O preço-mínimo do milho pago pelos agricultores na contratação do Seguro Agrícola Básico (SAB), safras 2001/2002 e 2002/2003, foi de R$ 7,43.

plantada com esta semente (dois a três hectares). O valor segurado seria de R$ 800,00 se o agricultor retirasse sementes de milho híbrido ou de R$ 1000,00 se o agricultor retirasse sementes de milho variedade. Caso o agricultor retirasse um pouco de semente de cada tipo (híbrido e variedade), teria um valor segurado ponderado pelas quantidades retiradas. Os diferentes valores segurados praticados - R$ 800,00 ou R$ 1000,00 – respondiam a uma política do governo estadual, acatada pelo Conselho de Administração do Sistema Estadual de Seguro Agrícola, de privilegiar o uso de sementes variedade, o que, supunha, levaria a diminuir a dependência do agricultor ter que comprar sementes para o plantio a cada ano.

Um baixo custo do Seguro Agrícola Básico para o agricultor significava um alto subsídio para o Estado. Nas safras 2001/2002 e 2002/2003 este subsídio se situou acima de 90%. De qualquer forma, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento considerava que o custo do subsídio compensava o desembolso eventual e vultoso de recursos do Estado na ocorrência de perdas generalizados na agricultura.

Durante o Governo Olívio Dutra (1999-2002), a modalidade Seguro Agrícola Básico (SAB) foi disponibilizada nos anos de 2001 e 2002 para aproximadamente 180 mil agricultores familiares do estado que eram beneficiários do Programa Troca-Troca de Sementes de Milho. Resultou na contratação de 25.069 contratos de seguro no primeiro ano de sua execução (safra 2001/2002) e de 38.620 contratos no segundo ano de execução (safra 2002/2003).

2.3.2 Execução do Seguro Agrícola Básico (SAB) nas safras 2001/2002 e 2002/2003