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anrJ, Junta do comércio, balanços de receitas e Despesas, cx 398, pct 1.

a influência africana e

34 anrJ, Junta do comércio, balanços de receitas e Despesas, cx 398, pct 1.

dos comerciantes de grosso trato da praça lisboeta, dono de cinco navios, avaliados em cerca de 47 contos de réis.35 João teixeira de barros, uma das maiores fortunas mercantis na viragem para o século XiX, possuía, nos seus armazéns, enormes quantidades de têxteis indianos e outras mercadorias asiáticas, como chá e especiarias, o que, segundo Jorge pedreira, se ajusta perfeitamente com as constantes remessas de tecidos indianos para o brasil, entre os quais um carregamento avaliado em mais de dezessete contos.36

Em 1813, Joaquim Ferreira decidiu finalmente fixar residência no Rio de Janeiro,37 passando, então, a participar activamente no comércio inter- no brasileiro e no tráfico com a costa oriental de África,38 por vezes, em sociedade com o negociante carioca José Dias da cruz.

consideremos ainda o caso da família gomes loureiro. em março de 1808, o negociante lisboeta Domingos gomes loureiro, um dos sócios mais abastados da extinta Sociedade Ribeiro e Hubens, dedicada ao comércio metropolitano com a Ásia, decide enviar o seu filho mais velho para o Rio de Janeiro, a fim de estabelecer contactos, preparar o domicílio para a família, e instalar a sua casa comercial.39 Dois anos mais tarde, a firma Domingos Gomes Loureiro e filhos, com sede social no Rio de Janeiro e proprietária do navio Rainha do Anjos,40 retomou os negócios que antiga- mente estabelecera com a Índia. restabeleceu os contactos de longa data com

35 pedreira, 1995, p. 342. 36 pedreira, 1995, p. 339.

37 ahu, acl, cu, RJ, “aviso do secretário de estado do reino e Mercês, D. fernando José de portugal e castro, a D. antónio José de castro, determinando que se conceda licença de passagem ao 1º tenente Joaquim ferreira e sua família para o rio de Janeiro”, 14.12.1813,cx. 269, doc. 18570.

38 santana, francisco (org.). Documentação ultramarina Portuguesa. lisboa: centro de estudos históricos ultramarinos, 1967, v. ii, p. 320.

39 ahu, acl, cu, RJ, “requerimento do negociante e proprietário do navio rainha dos anjos, Domingos gomes loureiro, ao príncipe regente D. João, solicitando passaporte para o seu filho Domingos José Loureiro ir para o Rio de Janeiro”, ant. 27.9.1808, Cx. 252, doc. 17167. 40 ahu, acl, cu, RJ, “aviso do secretário de estado da Marinha e ultramar, D. João almeida de Melo e castro, ao governador do reino, D. antónio José de castro, ordenan- do que se dê passagem para a corte do rio de Janeiro, ao negociante lisboeta, Domingos gomes loureiro”, 3.3.1810,cx. 257, doc. 17603.

os procuradores em surrate e goa, nomeadamente com a família Mhamai, a quem solicitou uma relação dos novos preços de tecidos de balagate, ao mesmo tempo que pediu uma redução de cerca de 15% a 20%, no preço das fazendas encomendadas.41

entre 1808 e 1810, vários membros da família loureiro solicitaram aos Mhamai o envio de grandes quantidades de têxteis indianos. sabemos que só em 1809, foram enviados à consignação dos loureiros residentes no rio de Janeiro cerca de 175 contos de réis de fazendas indianas, que equivaliam a 76% do total dos têxteis exportados para o brasil, nesse ano.42

em 1812, o navio Andorinha, fretado por simão da rocha loureiro, um dos comerciantes indo-portugueses de surrate, foi apreendido em ambriz, quando se preparava para iniciar o tráfico de escravos na costa ocidental de áfrica. a carga do navio era quase exclusivamente composta por tecidos de cambaia que foram avaliados em mais de 27 contos de réis.43

Nessa época, outras embarcações que se dedicavam ao tráfico de almas foram aprisionadas por navios ingleses. em muitos deles, a carga apreendida era, na quase totalidade, composta por têxteis indianos. foram, por exemplo, os casos do navio Horizonte, confiscado junto a São Tomé, com mercadoria avaliada em mais de sete contos e quinhentos mil réis, da qual 93% eram constituídos por panaria indiana;44 e do bergantim Flor d’América, com têxteis avaliados em mais de vinte contos de réis.45

Do lado indiano, podemos constatar, através da correspondência da Mahmai House (Xavier centre of historical research), o poder económico e

41 pinto, celsa. Goa Images and Perceptions, studies in goan history. goa, 1996, pp.53-5. 42 pinto, celsa. at the Dusk of the second empire: goa-brazil commercial links, 1770- 1826. in: Purabhilekh-Puratatva, Journal of the Directorate of archives, archaeology and Museum, goa, 1990, n. 1, v. 8, pp. 62-3.

43 anrJ, Junta do comércio, “processo de apresamento da galera andorinha fretada por simão da rocha loureiro, propriedade do 1º tenente henrique Mazza”, 1812, cx. 372, pct. 3.

44 anrJ, Junta do comércio, “processo de apresamento do navio horizonte”, 1812, cx. 372, pct. 2.

45 anrJ, Junta do comércio, “processo de apresamento do navio flor d’américa”,1812, cx. 372, pct. 2. existe uma cópia do recibo das mercadorias na cx. 445, pct. 1 do arquivo nacional.

a extensão da rede mercantil da família camotim Mhamai,46 uma das mais importantes casas comerciais de goa. Muitos dos membros da família vi- viam de rendas agrárias de propriedades que possuíam em salsete, região a sul de goa. alguns possuíam o contrato de arrendamento do tabaco, outros foram fornecedores praticamente exclusivos do arsenal de Marinha, outros, ainda, dedicaram-se ao comércio de têxteis, mantimentos, escravos e ópio. a par dos seus negócios desempenharam um importante papel na actividade seguradora e de corretagem, pelo que o acervo documental da Mhamai House conserva apólices de seguros marítimos de navios de surrate, Damão e goa, cartas e recibos de empréstimos de dinheiro a juros, letras de câmbio e outros instrumentos de crédito sobre transacções à distância com firmas inglesas e francesas.

os arquivos privados da Mahamai House também revelam a existência de negócios com comerciantes brasileiros. no período em análise, encon- tramos, nomeadamente, uma interessante troca de correspondência com simão da rocha loureiro, João Martins barroso, antónio José viegas, ru- fino Peres Baptista, Estêvão José Araújo, Francisco José Colffs e Casimiro viúva e filhos.47

no essencial, a história das relações económicas e sociais entre o brasil e o Índico, nomeadamente a análise dos vínculos de negócio e de paren- tesco de um pequeno conjunto de famílias cariocas, cuja participação no tráfico de escravos se baseou, em grande parte, na importação de têxteis indianos, coloca em evidência a necessidade de aprofundar a noção de rede e de pacto, num império muito extenso e diversificado. Uma história (para a qual esperamos ter contribuído com esta pequena palestra) que merece ser estudada.

46 Camotim é a corruptela do termo “concani Kamat”, que significa “inspector dos campos,