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Ansiedade de castração Surge como decorrência dos conflitos edípicos 6) Ansiedade devida ao superego Herdeiro direto do complexo de Edipo,

CAMPO GRUPAL: ANSIEDADES, DEFESAS, IDENTIFICAÇÕES

5) Ansiedade de castração Surge como decorrência dos conflitos edípicos 6) Ansiedade devida ao superego Herdeiro direto do complexo de Edipo,

o superego ameaça o indivíduo com severas punições, caso as suas expectativas e exigências não forem cumpridas.

Um outro vértice de classificação dos tipos de ansiedade é o de, seguin­ do o modelo kleiniano, levar em conta os conflitos entre as inatas pul- (*)

(*) No paciente fóbico podemos observar nitidamente a coexistência e alternância das ansiedades de fusão, com a de separação. Este tipo de paciente costum a regular a distância que ele deve manter das pessoas (terapeuta, por exemplo): nem longe demais, para não se perder do outro, e nem perto demais para não se perder no outro. E sses mesm os movimentos de aproximação e de afastamento são observados com um ente nos grupos.

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sões agressivas — representadas pelas fantasias inconscientes — e os primitivos recursos defensivos do ego. Nessa abordagem, são três os tipos básicos de ansiedades: paranóide (temor de um ataque ao ego); depressivo (temor da destruição dos objetos) e confusional (momentos de transição entre as duas anteriores). Os tipos de ansiedade que sur­ gem no campo grupai variam de acordo com o momento evolutivo deste, e tanto podem estar restritos a determinados indivíduos como podem estar expressando o que se passa com a totalidade grupai. Assim, a ilustração do capítulo anterior evidenciou claramente a irrupção de an­ siedades paranóides (estão contidas no suposto básico de luta e fuga, de Bion) e que, de resto, a experiência clinica comprova que elas estão sempre presentes em qualquer início de grupoterapia.

Não é demais repetir a importância de quatro aspectos, relativamente ao surgimento da ansiedade no campo grupai. Um é o fato de que a presença de um certo grau de ansiedade é terapeuticamente útil. O outro, consiste em que. muitas vezes, a ansiedade somente se manifesta indiretamente, através, por exemplo, de somatizações e de actings. O terceiro aspecto se refere à necessidade de que o grupoterapeuta reconheça qual é a ansiedade que está sendo comum ao grupo todo (inclusive ele próprio) para que ele possa exercer a função interpretativa adequada. O último aspecto que merece ser destacado é que um dos fatores que concorre muito para a formação do senso de identidade de um indivíduo é o estabelecimento e o reconhecimento de suas diferenças com os demais, sendo que isso é mais facilitado em tratamentos grupoterápicos pela própria natureza deles.

MECANISMOS DE DEFESA

Supõe-se que, desde o nascimento, o ego do bebê está, ativamente, utilizan­ do defesas que visam a protegê-lo da inundação dos diferentes e fortes estímulos provindos de variadas fontes. Inicialmente, tais defesas são arcaicas e de natureza mágica (onipotência, negação, dissociação, projeção, introjeçáo, idealização, anu­ lação, deslocamento, condensação ...), mas elas fazem parte essencial do processo evolutivo normal. Com o amadurecimento do ego, novas e mais organizadas defe­ sas vão sendo utilizadas, como a repressão, a formação reativa, a transformação ao contrário, a racionalização, a sublimação, etc.

São tão bem conhecidos esses mecanismos defensivos que seria fastidioso detalhá-los aqui. Basta dizermos que todos eles, conforme a intensidade e a finalidade de seu uso pelo ego, tanto podem estar a serviço da saúde como da patologia psíquica. Um claro exemplo para ilustrar essa afirmativa está no uso da identificação projetiva — sempre muito presente no campo grupai — a qual tanto pode constituir-se como a base da formação da empatia (capacidade de colocar-se no lugar do outro), como pode ser a causa de distorções de percepção, os quais

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podem atingir o grau máximo de falsificação da realidade, como é o caso das percepções alucinatórias e o da ideação de natureza delirante.

Determinadas defesas que estão muito estratificadas em individuos podem ser mais facilmente modificadas no tratamento grupai do que no individual. As­ sim, alguns componentes do grupo pressionam outros para que se dêem conta do emprego das distorções de percepção e ideação, assim como costumam fazer um aberto desafio às negações e, desse modo, estão contribuindo para o levantamen­ to da repressão dos demais.

IDENTIFICAÇÕES

A aquisição de um sentimento de identidade coeso e harmônico resulta do reconhecimento e da elaboração das distintas identificações parciais que, desde os primórdios, foram se incorporando no indivíduo através da introjeçáo do código de valores dos pais e da sociedade. Esse processo se complica na medida em que cada um dos objetos modeladores é, por sua vez, introjetado com as respectivas identificações parciais e as complicações deles próprios.

É tão freqüente a reprodução de tais processos identificatórios no campo grupai que a sua relevância justifica que se faça uma breve revisão da metapsico- logia das identificações.

A identificação é um processo, ativo, do ego do indivíduo e consiste em que este venha a se tornar idêntico a um outro (de acordo com a etimologia: identificar é o mesmo que "ficar idem”).

Há muitas formas de como se processa a identificação. Inicialmente, é útil fazer uma distinção entre proto-identificação e identificação propriamente dita. As proto-identificações são de natureza mais arcaica, e se configuram por uma das quatro modalidades seguintes: a) Adesiva (não houve o "desgrude” da mãe e, nesse caso “ter" a mãe (ou o terapeuta) é o mesmo que "ser” a mãe), b) Especular (a criança comporta-se como se fosse uma mera imagem que somente reflete os desejos da mãe ou, vice-versa, encara os outros como sendo simples prolonga­ mento de si próprio), c) Adictiva (decorre do anterior e consiste em que, devido à falta de figuras solidamente introjetadas, o individuo fica sem identidade própria e, por isso, fica "adicto” a certas pessoas que o completam e complementam), d) Imitativa (na evolução normal ela é um primeiro passo para a identificação nor­ mal, no entanto, muitas vezes, pode se constituir como uma forma permanente de personalidade camaleônica).

Em grupos maiores, como por exemplo uma gangue ou uma turma de ado­ lescentes, costumam se formar identificações mútuas entre os seus membros. Tais identificações promovem um sentimento de unificação e de pertinência; por­ tanto uma identidade grupai, que os protege contra a perda total do sentimento de identidade, mas que acarreta um grave prejuízo no funcionamento emancipado do ego de cada um deles.

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As identificações propriamente ditas resultam de um processo de introjeção de figuras parentais dentro do ego e do superego, o que pode ocorrer através de uma das seguintes formas:

1) Com a figura amada e admirada (é a que constitui as identificações mais sadias e harmônicas).

2) Com a figura idealizada (costuma ser frágil e não suporta as frustrações). 3) Com a figura odiada (configura o que se conhece como "identificação

com o agressor”).

4) Com a figura perdida (é a base dos processos depressivos).

5) Com a figura atacada (creio que poderia ser denominada como "identi­ ficação com a vitima").

6) Com alguns aspectos parciais dessas figuras acima (por exemplo, a presença de um mesmo sintoma, ou um mesmo maneirismo, etc.) 7) Com os valores que lhe foram impostos (na base do ‘Tu vais ser igual à

louca da tia Maria", etc.).

A identificação também pode resultar das cargas de identificações projetivas pelas quais o indivíduo, que não consegue conter dentro de si próprio os seus aspectos maus (mas também podem ser os bons), os projeta dentro de outros, que então passam a ser sentidos como idênticos a ele.

Em forma resumida, podemos dizer que as identificações se processam em três planos: na voz ativa (o sujeito identifica algo ou alguém): na voz passiva (ele foi identificado com, e por, alguém) e na voz reflexiva (o sujeito se identifica com um outro).

No campo grupai, tais processos identificatórios, projetivos e introjetivos, em conjunção com as proto-identificações antes referidas, costumam ocorrer de uma forma freqüente, intensa e mutável, e constituem o que se costuma denomi­ nar “identificações múltiplas e cruzadas”.

Pela mesma razão, o campo grupai já foi comparado com uma “galeria de espelhos" t1), onde cada um se reflete e é refletido nos, e pelos, demais. Nesse contexto, a pessoa do grupoterapeuta, como um novo modelo para identificações, adquire uma importância especial.

Um aspecto muito importante que deve ser destacado é que a configuração das diversas identificações parciais de cada indivíduo irá determinar, em grande parte, a formação de sua Identidade, tanto a individual, como a grupai. Faz parte de uma grupoterapia exitosa que os pacientes consigam discriminar entre a suas identificações sadias e as patógenas, promover a desidentificaçào com essas últi­ mas e propiciar novos modelos para reidentificações, de uma maneira que possi­ bilite a definição de uma Identidade autêntica e estável.

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EXEM PLO CLÍNICO (N2 2)

A vinheta clinica que segue objetiva exemplificar como os processos identi- ficatórios podem se processar na situação grupoterápica.

Trata-se de uma grupoterapia analítica, sendo que dois fatos marcantes antecederam a sessão que, a seguir, será utilizada como ilustração: um, é que a grupoterapeuta, por viagem, não atendera na semana anterior, o outro fato é que, no último encontro, foi proposto ao grupo a entrada de um novo elemento.

A sessão começa com o paciente A. fazendo um emocionado e detalhado desabafo contra o jeito submetedor de sua esposa, e se queixa que a mesma "caga e anda para ele”.

A paciente B o interrompe e o aconselha a separar-se de sua mulher. Em um tom de crescente indignação e exaltação, B lembra que a sua mãe também tinha um jeito submetedor e que, portanto, ela estava autorizada a dizer que o caso é irreversível e que a separação imediata é a única saída.

A seguir, o paciente C diz que A deve esperar até melhorar bastante com o tratamento e só então decidir se convém ou não ele separar-se da mulher.

B e C começam a discutir acremente em defesa de seus respectivos pontos de vista, até que B, que se mostrava muito irada e intolerante, "ordena” que é a terapeuta quem vai dar a palavra final.

A grupoterapeuta assinala as queixas contra a figura feminina e interpreta o fato de que as pessoas do grupo se sentiram abandonadas (pelas suas faltas seguidas) e traídas (pelo anúncio da entrada de um novo).

Alguns pacientes discordam, porém C confirma que ele sentiu-se traído pelo fato de que o novo que vai entrar é um adolescente e que, portanto, deve ser uma pessoa muito agressiva.

A terapeuta aponta que C expressa, pelos demais, o medo que cada um deles tem dos seus aspectos agressivos, sendo que estes surgem especialmente quando se sentem humilhados por pessoas submetedoras, tal como aconteceu em relação às figuras parenterais no passado, e como está acontecendo no aqui-agora da sessão em relação a ela, terapeuta, investida pelo grupo no papel de uma mãe tirânica.

A sessão prossegue com esta temática, com alguns integrantes evocando situações do passado familiar em que se sentiram maltratados, assim como foram assinaladas algumas semelhanças entre o comportamento das pessoas que eles estavam criticando com o deles próprios.

COMENTÁRIOS

Uma atenta observação permite reconhecer três tipos de identificações que se evidenciaram no curso dessa sessão.

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1) A totalidade do grupo (representado por B) identificou-se com a condi­ ção de uma criança abandonada e submetida (como A estava se apre­ sentando).

2) Os pacientes do grupo identificam (nas pessoas da esposa de A e na grupoterapeuta) uma mãe má e submetedora.

3) A paciente B, enquanto estava intolerante e dando ordens, mostra o quanto estava, ela própria, identificada com o jeito que tanto criticara em sua mãe (trata-se de um exemplo típico do que conhecemos como sendo uma “identificação com o agressor").

Além desses, os seguintes aspectos podem ser observados na dinâmica do campo grupai: 1) uso intensivo de mecanismos defensivos projetivos e introjeti- vos, responsáveis pelo jogo das múltiplas identificações: 2) a possibilidade de que o novo elemento venha ser recepcionado com hostilidade, em razão de que a projeção em sua pessoa, da parte adolescente-agressivo de cada um deles, o preconceitua como sendo um intruso e ameaçador para a segurança; 3) as trans­ ferências múltiplas e cruzadas.

Um outro ponto que vale destacar é o fato de a terapeuta não ter intervido na “briga” entre os irmãos, apesar de ter sido acionada para tanto; pelo contrário, ela mostrou uma capacidade de “continência”, ou seja, pôde conter os aspectos da agressão manifesta.

Orientação Bibliográfica

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