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reconhecimento desses distúrbios de comunicação é muito favorecido nos tratamentos em grupo (ressalvada a hipótese de que o próprio grupoterapeuta

CO NTRA-R ESI STÊ N CIA

reconhecimento desses distúrbios de comunicação é muito favorecido nos tratamentos em grupo (ressalvada a hipótese de que o próprio grupoterapeuta

também possa estar utilizando mensagens paradoxais e desqualificatórias).

3. 0 CANAL

Sabemos que a comunicação não se processa unicamente através da lingua­ gem verbal, a qual, quando adequadamente empregada, consiste em um indica­ dor de que o emissor tem uma boa capacidade de simbolização e de conceituação, próprias de um ego bem estruturado.

A comunicação também pode ser transmitida através de um canal de lin­ guagem não verbal, como um dos seguintes:

— Corporal (conversões, somatizações. modificações estéticas, tiques físi­ cos, etc.).

— Oniróide (as imagens visuais dos sonhos e devaneios).

— Pré-verbal (gestos, atitudes, olhares, maneirismos, disposição das ca­ deiras no grupo, etc.)

— Paraverbal (quer dizer: ao lado do verbo. Isto é, as modulações do tom, altura e timbre da voz, o vocabulário usado, as entrelinhas, etc.). — Extraverbal (actings].

— Transverbal (as alternâncias e mudanças do discurso no correr da ses­ são e ao longo da grupo terapia).

— Efeitos contratransferenciais (trata-se de uma forma muito primitiva de comunicação, a qual consiste no fato de que os sentimentos desperta­ dos no terapeuta correspondem às angustias provindas do inconsciente profundo dos pacientes nas vezes em que esses não conseguem reco­ nhecer e, muito menos, verbalizar e nomear tais emoções.

É inconteste o fato de que nas grupoterapias em que o emissor (grupotera­ peuta) e o receptor (grupo) não estiverem sintonizados no mesmo canal a comu­ nicação não se fará.

4. 0 RECEPTOR

Sabemos o quanto de distorção pode sofrer uma mesma mensagem ao ser percebida por várias pessoas, simultaneamente, pelo fato de que elas estão em estados emocionais distintos e são portadoras de mundos internos diferentes.

Dessa forma, por mais apropriada que tenha sido a emissão, a mensagem e o canal de uma determinada comunicação, ainda assim essa última pode não estar cumprindo a sua finalidade. Isso se processa nos casos em que há uma patologia do receptor, em uma das seguintes possibilidades:

122 / David E. Zimermati

— Uma recepção perceptiva de natureza paranóide, que venha provocar

uma distorção do verdadeiro propósito de quem emitiu a mensagem, eivando a esta com segundas intenções, dúvidas e suspeitas.

— Uma “reversão de perspectiva", termo cunhado por Bion(>) e que con­ siste no fato de que o indivíduo exageradamente narcisista reverte, às suas próprias premissas, tudo o que ele ouve do outro emissor, ainda que aparente estar em plena concordância com este. Este aspecto ad­ quire uma importância de primeira ordem em relação ao destino que tomam as interpretações do terapeuta, pelo fato de que elas ficam des- vitalizadas diante desse tipo de recurso.

— Uma evitação do conhecimento de verdades penosas, tanto as externas como as internas. Esse "nào-conhecimento” se processa através das diferentes formas de negação (supressão, repressão, denegação...), sen­ do que o seu grau extremo é a forclusáo, recurso utilizado nos estados psicóticos, que consiste numa negação absoluta da realidade exterior que contenha a verdade abrumadora. Tal modalidade de incomunicação lembra o dito de Laingf4): "... Devo jogar o jogo de não ver o jogo”. — Dificuldade em escutar os outros. Escutar não é o mesmo que ouvir.

Este último não passa de uma função fisiológica, enquanto que escutar implica em uma disposição do indivíduo para relacionar as próprias opiniões com as alheias, além de admitir que os outros possam ter um código de valores e de forma de pensamento diversos do seu, sem que isso signifique que sejam melhores ou piores, mas, sim, simplesmente, diferentes dele.

— O problema mais comum que interfere na comunicação entre o emissor e o receptor, e provoca o mal-entendido, é o decorrente do significado semântico das palavras. Uma grupoterapia favorece a constatação do quanto uma mesma palavra pode adquirir significações totalmente dife­ rentes de um indivíduo para outro.

Os problemas da comunicação também podem ser encarados a partir de outras perspectivas, como, por exemplo, o da fixação em estádios evolutivos.

Assim, os indivíduos que estão fortemente fixados nos primórdios da orali- dade sempre partem de uma posição egocêntrica, pela qual tudo (o que não sai certo) é sempre da responsabilidade do outro. Nas etapas precoces do desenvolvi­ mento cognitivo, como ensina Piagetf7), a criança demonstra uma relativa incapa­ cidade de colocar-se no lugar de uma outra pessoa. Devido a essa visão ptolomai- ca do mundo, no uso de sua linguagem e comunicação, essa criança não faz muito esforço para adaptar o seu discurso (e o seu ouvido) às necessidades do ouvinte. A criança age como se as outras pessoas obviamente fossem entendê-la e concordar com ela, por ter partido do princípio de que o mundo gira em tomo dela, unicamente para servi-la. Este distúrbio de comunicação é comum em pa­ cientes regressivos intensamente fixados em etapas narcisísticas da evolução.

Grupoterapias 1123

De forma equivalente, nos pacientes em que a fixação anal é a prevalente, o processo comunicativo pode adquirir uma configuração em que tudo fica revertido aos significados de expulsão, de retenção ou de controle de pensamentos e afetos.

O ideal seria a comunicação em nivel genital, de natureza comensal, em que há uma consideração e um prazer pelo que é dado ao outro e pelo que vem do outro.

Uma última palavra acerca da comunicação nas grupoterapias deve ser dada em relação ao freqüente surgimento de silêncios, tanto por parte de algum integrante, de todo o grupo ou do grupoterapeuta. Em todos esses casos, deve ser considerado que há silêncios inúteis e silêncios úteis, sendo que tal qualificação vai depender de um determinado contexto.

Assim, muitas vezes, os silêncios têm uma finalidade obstrutiva-resisten- cial, ou estão expressando um protesto mudo, ou, ainda, podem estar represen­ tando um teste do indivíduo para comprovar se é notado e se existe, etc. Outras vezes, no entanto, o silêncio pode estar significando um direito em ser livre e respeitado em seu ritmo de participação, ou pode estar designando uma pausa reflexiva e até mesmo elaborativa.

O mesmo ocorre com os silêncios do grupoterapeuta: tanto pode correspon­ der ao silêncio "vazio’’: de quem ignora o que está se passando, como pode ser o silêncio "cheio" de quem está entendendo e elaborando a rede de comunicações surgidas no campo grupai, e que por isso sabe o que faz e não se impacienta.

Por tudo o que foi dito, depreendemos que o tema da atividade interpretativa está intimamente conectado com o da comunicação, que lhe serve de alicerce. A atividade fundamental do grupoterapeuta é propiciar aos membros do grupo a aprendizagem de como estabelecer uma adequada comunicação verbal, além de remover as respectivas barreiras.

W. J. Fernandes}3) assinala dois aspectos que são muito importantes no processo comunicativo grupai: o primeiro é o de que “tanto o emissor como o receptor fazem transformações o tempo todo. Desse modo, comunicação completa e verdadeira é impossível". O seu segundo assinalamento aponta para a relevante questão daquilo que não é dito, sendo que “grande parte das confusões que ocorrem quando tentamos nos comunicar são devidas a omissões. Em muitos casos, o trabalho principal do analista será tentar descobrir o que não foi dito".

Orientação Bibliográfica

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