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IMPORTÂNCIA E CONCEITUAÇÃO DE GRUPO

D a mesma forma como há, na Química, uma relaçáo entre átomo e molé­ cula ou. na Física, entre massa e energia (matéria e campo) ou, ainda, na Biologia, entre célula-tecido-órgão e sistema, também no campo das relações humanas há uma interação e comunicação entre os individuos e a totalidade grupai e social.

O ser humano é gregário, e ele só existe, ou subsiste, em função de seus inter-relacionamentos grupais. Sempre, desde o nascimento, ele participa de di­ ferentes grupos, numa constante dialética entre a busca de sua identidade indi­ vidual e a necessidade de uma identidade grupai e social.

Um conjunto de pessoas constitui um grupo, um conjunto de grupos e sua relaçáo com os respectivos subgrupos se constitui em uma comunidade e um conjunto interativo das comunidades configura uma sociedade.

A importância do conhecimento e a utilização da psicologia grupai decorrem justamente do fato de que todo indivíduo passa a maior parte do tempo de sua vida convivendo e interagindo com distintos grupos. Assim, desde o primeiro grupo natural que existe em todas as culturas, a família, onde o bebê convive com os pais, avós, irmáos, babá, etc. e, a seguir, passando por creches, maternais e bancos escolares, além dos inúmeros grupinhos de formação espontânea e os costumeiros cursinhos paralelos, a criança estabelece vínculos grupais diversifi­ cados. Tais agrupamentos vão se renovando e ampliando na vida adulta, com a constituição de novas famílias e de grupos associativos, profissionais, esportivos, sociais, etc.

É muito vaga e imprecisa a definição do termo “grupo", pois ele pode desig­ nar conceituações muito dispersas, num amplo leque de acepções. Assim, Grupo tanto define, concretamente, um conjunto de três pessoas (para muitos autores, uma relação bipessóal, já configura um grupo), como também pode conceituar

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uma família, uma turminha ou gangue de formação espontânea, uma composição artificial de grupos como, por exemplo, o de uma classe de escola ou um grupo terapêutico; uma fila de ônibus; um auditório; uma torcida num estádio; uma multidão reunida num comício, etc. Da mesma forma, a conceituaçáo de Grupo pode se estender até o nível de uma abstração, como, por exemplo, o conjunto de pessoas que, compondo uma audiência, está sintonizado num mesmo programa de televisão ou pode abranger uma nação, unificada no simbolismo de um hino ou de uma bandeira, e assim por diante.

Existem, pois, grupos de todos os tipos, e uma primeira subdivisão que se faz necessária é a que diferencie os grandes grupos (pertencem à área da macro- sociologia) dos pequenos grupos (micropsicologia). Em relação a estes últimos, também se impõe a distinção entre grupo propriamente dito e agrupamento.

Por agrupamento entendemos um conjunto de pessoas que convive, parti­ lhando de um mesmo espaço e que guarda entre si uma certa valência de inter- relacionamento e uma potencialidade em virem a se constituir como um grupo propriamente dito. Um claro exemplo disso é o agrupamento que Sartre(8) classi­ ficou como sendo um “coletivo", o qual se configura por uma “serialidade" de pessoas, como, por exemplo, as que constituem uma fila à espera de um ônibus. Essas pessoas compartem um mesmo interesse, apesar de não estar havendo o menor vínculo emocional entre elas, até que um determinado incidente pode modificar toda a configuração grupai. Pode-se dizer que a passagem da condição de serialidade para a de grupo implica na transformação de “interesses comuns" para a de "interesses em comum".

REQUISITOS QUE CARACTERIZAM UM GRUPO

O que, então, caracteriza um grupo propriamente dito? É quando o mesmo, quer seja de natureza operativa ou terapêutica, vier preencher algumas condições básicas, como as seguintes:

1. Um grupo não é um mero somatório de indivíduos; pelo contrário, ele se constitui como uma nova entidade, com leis e mecanismos próprios e específicos. Podemos dizer que assim como todo indivíduo se comporta como um grupo (de personagens internos), da mesma forma todo grupo se comporta como se fosse uma individualidade.

2. Todos os integrantes de um grupo estão reunidos em tomo de uma tarefa e de um objetivo comuns.

3. O tamanho do grupo não pode exceder o limite que ponha em risco a indispensável preservação da comunicação, tanto a visual, como a au­ ditiva, a verbal e a conceituai.

4. Deve haver a instituição de um enquadre (setttng) e o cumprimento das combinações nele feitas. Assim, além de ter os objetivos claramente

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definidos, o grupo deve levar em conta uma estabilidade de espaço (local das reuniões), de tempo (horários, férias...), algumas regras e outras variáveis equivalentes que delimitam e normatizam a atividade grupai proposta.

5. O grupo é uma unidade que se manifesta como uma totalidade, de modo que tão importante como o fato de ele ser organizar a serviço de seus membros é, também, a recíproca disso. Para um melhor entendimento dessa característica, cabe uma analogia com a relação entre as peças separadas de um quebra-cabeças e deste com o todo a ser armado. 6. Apesar de um grupo se configurar como uma nova entidade, como uma

identidade grupai genuína, é também indispensável que fiquem clara­ mente preservadas as identidades específicas de cada um dos indiví­ duos componentes.

7. É inevitável a formação de um campo grupai dinâmico, em que gravitam fantasias, ansiedades, identificações, papéis, etc.

8. É inerente à conceituação de grupo a existência entre os seus membros de uma interação afetiva, a qual costuma ser de natureza múltipla e variada. 9. Em todo grupo coexistem duas forças contraditórias permanentemente

em jogo: uma tendente à sua coesão e a outra, à sua desintegração. A coesão do grupo está na proporção direta, em cada um e na totalidade, dos sentimentos de “pertinência" (é o "vestir a camiseta", próprio de um

esprit de corps) e de "pertencência” (o indivíduo se refere ao grupo como

sendo “o meu grupo...", e implica no fato de cada pessoa do grupo ser reconhecida pelos outros como um membro efetivo). Por outro lado, a coesão grupai também depende de sua capacidade de perder individuos e de absorver outros tantos, assim como de sua continuidade.

10. O campo grupai que se forma em qualquer grupo, se processa em dois planos: um é o da intencionalidade consciente e o outro o da interferên­ cia de fatores inconscientes. O primeiro é denominado por Bion(>) como “grupo de trabalho" pela razão de que nele todos os individuos integran­ tes estão voltados para o êxito da tarefa proposta. Subjacente a ele, está o segundo plano, que o aludido autor chama de “supostos básicos", regido por desejos reprimidos, ansiedades e defesas, e que tanto podem se configurar com a prevalência de sentimentos de dependência, ou de luta e fuga contra os medos emergentes, ou de uma expectativa messiâ­ nica, etc. É claro que, na prática, estes dois planos não são rigidamente estanques, pelo contrário, entre eles costuma haver uma certa superpo­ sição e uma flutuação.

11. Neste campo grupai sempre se processam fenômenos como os de resis­ tência e contra-resistência, de transferência e contratransferência; de

actings; de processos identificatórios, etc. Por um lado, tais fenômenos

consistem em uma reprodução exata do que se passa na relação tera­ pêutica bipessoal. Por um outro lado, eles não só guardam uma especi­

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ficidade grupai típica como também se manifestam exclusivamente no campo grupai.

12. Um exemplo dessa especificidade é o fenômeno da "Ressonância", o qual consiste no fato de que a mensagem de cada indivíduo vai ressoando no inconsciente dos outros e produzindo o aporte de associações e mani­ festações que gravitam em tomo de uma ansiedade básica comum. Um outro exemplo é o da distribuição e da alternância de papéis típicos de um sistema grupai. Um terceiro exemplo de fenômeno especiflcamente grupai é o fato de que o próprio grupo funciona como sendo “um conti­ nente" que absorve as angústias de cada um e de todos.

13. É necessário fazermos uma distinção entre a simples emergência de fenômenos grupais e um processo grupai terapêutico. A primeira é de natureza ubíqua, pois os fenômenos se reproduzem em todos os grupos, independentemente da finalidade de cada um deles, enquanto o proces­ so grupai necessita de um enquadre apropriado e é específico dos gru­ pos terapêuticos.

14. O grupo, com finalidade operativa ou terapêutica, necessita de uma coordenação para que a sua integração seja mantida. Q coordenador deve estar equipado com uma logística e uma técnica definidas, assim como com recursos táticos e estratégicos. Ainda não há uma sólida e unificada escola da teoria da dinâmica de grupos, sendo que a maioria dos grupoterapeutas combina os conhecimentos sobre a dinâmica do campo grupai com a de uma determinada escola psicoterapèutica de tratamento individual, usualmente a de alguma corrente psicanalítica.

Orientação Bibliográfica

1. BION, W. R. “Una Revisión de la Dinâmica de Grupo". Em: Nuevas Direccion.es en Psicoanalisis. pp. 423-457. 1965.

2. FOULKES, S. H. y ANTHONY, E. J. “Rasgos Significativos Del Grupo Analítico. En: Relación a Otros Tipos de Grupos Humanos". Em: Psicoterapia Psicoanalitico de Grupo. pp. 47-60. 1964. 3. GR1MBERG, L. et al. "Problemas y Aspectos Practicos de La Psicoterapia Del Grupo". Em: Psico­

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4. MILLER DE PAIVA, L. "Definições". Em: Psicanálise de grupo. pp. 17-30. 1991.

5. NACHER, P. G. y CAMARERO, J. A. L. “Los Fenomenos Grupales. Aspectos Generales. Definicio- nes Y Limites. Los Grupos Psicoanalíticos". Em: Del diván al circulo, pp. 13-26. 1985. 6. PUGET, J. et al. “Grupo Terapêutico: Defmición”. Em: El Grupo Y Sus Configuraciones. pp. 17-20.1991. 7. PY, L. A. “Por Que Psicanálise de Grupo?" Em: Grupo Sobre Grupo. pp. 133-162. 1987.

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