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Doutor em Engenharia Elétrica e de Computação pela UFRN, coordenador do curso técnico em informática do IFRN, professor de Sistemas de Informação do IFRN, pesquisador do LAIS/HUOL/UFRN, pesquisador do NAVI/IFRN.

E-mail: higor.morais@ifrn.edu.br

INTRODUÇÃO

A atenção Básica (AB) é desenvolvida com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, sendo o contato preferencial dos usuários, e a principal porta de entrada da Rede de Atenção à Saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da aces- sibilidade, do vínculo, da continuidade, do cuidado, da integra- lidade, da atenção, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. Considera o sujeito em sua singularidade e inserção sociocultural, caracterizando-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção e manutenção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabili- tação, redução de danos, objetivando uma atenção que impacte na autonomia das pessoas, nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades (BRASIL, 2011a).

No interesse em realizar assistência e educação em saúde através de distâncias geográficas e temporais, surge o Telessaúde para aproximar o conhecimento e estabelecer auto- nomia aos profissionais isolados nas suas unidades de saúde, a partir do uso de tecnologias de informação e comunicação, cola- borando com informações que contribuirão para a otimização Josiane Araújo da Cunha

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do atendimento ao público. O Telessaúde Brasil Redes é integra- do por gestores da saúde, instituições formadoras de profissio- nais e serviços de saúde do SUS, sendo constituído por: a) Núcleo de Telessaúde Técnico-Científico (instituições formadoras e de gestão e/ou serviços de saúde responsáveis pela formulação e gestão de Teleconsultorias, Telediagnósticos e Segunda Opinião Formativa); e b) Ponto de Telessaúde (serviços de saúde a partir dos quais os trabalhadores e profissionais do SUS demandam Teleconsultorias e/ou Telediagnósticos) (BRASIL, 2011b).

O processo de solicitação e de resposta de uma telecon- sultoria ocorre entre um ou mais profissionais de saúde solici- tantes de uma equipe de AB/ESF e um ou mais teleconsultores vinculados a um Núcleo de Telessaúde. Seja na forma assíncrona (teleconsultoria realizada por meio de mensagens off-line.) ou síncrona (teleconsultoria realizada em tempo real, geralmen- te por chat, web ou videoconferência), há a mediação por um profissional Telerregulador, obedecendo aos prazos definidos pela legislação vigente. Caso o conteúdo da resposta de uma tele- consultoria assíncrona seja pertinente e replicável nos contextos regionais e/ou nacional de saúde, poderá vir a se transformar, após um processo de anonimização e de revisão por pares profis- sionais, em uma Segunda Opinião Formativa (SOF 8), e ser dispo- nibilizada pela Biblioteca Virtual em Saúde (BRASIL, 2013).

A teleconsultoria consiste na consulta registrada por meio de instrumentos de telecomunicação bidirecional, com o fim de esclarecer dúvidas sobre procedimentos clínicos, ações de saúde e questões relativas ao processo de trabalho. O prazo regular para envio da resposta à Teleconsultoria Assíncrona (em forma de texto) não deve exceder o prazo máximo de 72 (setenta

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a educação permanente dos profissionais envolvidos, amplian- do sua capacidade e autonomia na resolução de casos seme- lhantes. (BRASIL, 2011b). Assim, o Programa de Teleconsultoria permite a estruturação de rede integrada para transmissão de informações aos profissionais que se encontram em localida- des distantes dos grandes centros e que não contam com uma disponibilidade de acesso a outros meios de continuidade de atendimento avançado, ou acesso a outros especialistas para dar suporte nessa resolutividade do processo, contribuindo para a consolidação dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Pode-se afirmar, assim, que o uso da teleconsultoria proporcio- na grandes benefícios sociais e econômicos para o SUS e para a população; primeiro, por propiciar educação à distância de forma continuada, e, em consequência, por manter a perma- nência dos profissionais nos seus locais de atuação e, segundo, por reduzir os custos de encaminhamento do paciente ao nível secundário para atendimento especializado (GUIMARÃES, 2015).

Nesse contexto, o objetivo desse estudo foi realizar uma análise quantitativa e qualitativa das ações promovidas pelas tele- consultorias do núcleo de Telessaúde do RN, avaliando como está o uso do serviço; como os usuários estão avaliando o serviço; quais usuários estão usando o serviço e onde estão esses profissionais.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo exploratório e de abordagem quantitativa e qualitativa com a finalidade de avaliar o impacto promovido pelo programa Telessaúde Brasil Redes nos serviços desenvol- vidos pelos profissionais de saúde no estado do Rio Grande do Norte e Paraíba. Neste sentido, foram analisados os seguintes Josiane Araújo da Cunha

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indicadores para avaliação das ações propostas pelo Programa: quanto à utilização da ferramenta de teleconsultoria, o grau de formação dos profissionais; quais foram os códigos CIAP-2 das abordagens mais frequentes entre os solicitantes de telecon- sultorias, como forma de aferir os principais temas de dúvi- das; quais municípios mais demandaram as teleconsultorias; o grau de satisfação dos usuários solicitantes diante das respostas devolvidas pelos profissionais de núcleo de telessaúde; a quan- tidade de encaminhamentos de pacientes que foram evitados, de acordo com os profissionais solicitantes.

Ainda no que concerne à metodologia do trabalho, o estudo analisou os registros de 10.042 teleconsultorias, as quais foram realizadas entre os anos de 2014 e 2016. Cabe mencio- nar que no referido trabalho, não foram utilizados como dados teleconsultorias testes, muito embora, o núcleo realize capa- citações e estas sejam efetuadas no momento do treinamento dos profissionais. Com relação ao perfil da amostra, trata-se de teleconsultorias realizadas por profissionais de básico, médio e superior que realizaram alguma teleconsultoria nesse período. Todas as informações analisadas teve como base os dados do Núcleo de Telessaúde do RN. No que se refere à composição do núcleo, atualmente o núcleo Telessaúde Rio grande do Norte conta com um total de 14 profissionais envolvidos nas atividades de teleconsultoria, entre Teleconsultores e Telerreguladores, das áreas de saúde de enfermagem, psicologia, medicina de família e comunidade, nutrição, odontologia e otorrinolaringologia.

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RESULTADOS

Atualmente, o núcleo possui um total 3.868 profissionais de saúde cadastrados na plataforma de telessaúde, tornando-os aptos a solicitarem teleconsultorias. Durante o período anali- sado, 110 municípios do Rio Grande do Norte (RN) fizeram uso da teleconsultoria; já na Paraíba 69 municípios demandaram alguma teleconsultoria. Considerando as demandas em função dos estabelecimentos de saúde atendidos nestes municípios, 586 correspondem às demandas do RN e 121 da Paraíba. Cabe ressaltar que as capacitações in loco tem um papel importante na divulgação e utilização da plataforma e neste período foram realizadas 78 capacitações.

Analisando o total de 10.042 teleconsultorias, 4.526 foram provenientes de profissionais de nível básico/médio, das quais 3470 foram demandadas por Agentes Comunitários de Saúde; e 5.516 provenientes de profissionais de nível superior, das quais 1.400 por médicos, 1.380 por enfermeiros e 2.209 por odontólogos, corres- pondendo a 90,45% de todas as teleconsultorias de nível superior. Quanto ao aspecto das classificações de CIAP-2 das tele- consultorias mais frequentes, destacam-se: A77 – dengue e outras doenças virais NE, A98 - medicina preventiva/manuten- ção da saúde e D82 – doença dos dentes/gengivas, nesta respec- tiva ordem, como sendo as mais demandadas.

Observando a distribuição espacial e capilaridade do programa, dentre os municípios que mais demandaram tele- consultorias está o município de Natal, seguidos dos municípios de Santa Cruz, Canguaretama e São Paulo do Potengi, o que demonstra um alto poder de penetração do programa.

Segundo pesquisa realizada com os solicitantes duran- te a avaliação das respostas enviadas de suas respectivas Josiane Araújo da Cunha

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teleconsultorias, um total 246 encaminhamentos foram evita- dos, considerando que de todas as 10.042 teleconsultorias reali- zadas no período, apenas 411 foram finalizadas. Nestas mesmas avaliações, das 411 teleconsultorias finalizadas, 385 se conside- raram satisfeitos ou muito satisfeitos.

DISCUSSÃO

Os dados mostram que houve uma aproximação temática entre as demandas enfrentadas pelas unidades básicas de saúde, condizentes com os problemas sazonais existentes, o que pôde ser observado, por exemplo, no ano de 2016, período em que houve muitas dúvidas relacionadas ao tema dengue e outras viroses, devido ao surto vivenciado naquele ano, no período de fevereiro à abril. Estes problemas enfrentados pela população e pelos profissionais de saúde foram refletidos nas solicitações de teleconsultorias, confirmando as necessidades cotidianas dos trabalhadores das unidades de saúde e a importância desse programa como colaborador na assistência diária.

Com relação à avaliação da Plataforma do Telessaúde como sistema fundamental para capacitar a Atenção Básica e qualificar o atendimento, ressalta-se que a maioria dos usuários não avaliou qualitativamente o sistema, o que comprometeu a análise do grau de satisfação, refletindo, portanto, num valor que, muito provavelmente, seria mais representativo. Mas de todas as avaliações finalizadas, houve um número bastante considerável dos que ficaram satisfeitos com a Plataforma.

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número de capacitações in loco destinadas aos profissionais, com a presença de uma maior participação dos usuários impli- ca, consequentemente, num melhor entendimento da funcio- nalidade da Plataforma, e por conseguinte reflete numa melhor aprovação da mesma. É notável a positividade na avaliação geral do Telessaúde, atestando que se trata de um sistema indispen- sável para evolução, qualificação e redirecionamento adequa- do dos atendimentos na Atenção Básica, além de garantir a educação permanente e continuada dos profissionais, servindo como estratégia de fortalecimento. Dessa forma, o Telessaúde, através das teleconsultorias, se consolida enquanto ferramenta propositiva de melhoria da qualidade dos serviços de saúde e de educação permanente dos profissionais.

Palavras-chave: Telessaúde, Teleconsultorias, Atenção Básica, Capacitações, Profissionais.

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REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria Nº 2.488, de 21 de Outubro de 2011a. BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 2.546, de 27 de outubro de 2011b. BRASIL, Ministério da Saúde. Protocolo de Solicitação de

Teleconsultorias. Brasília/DF, 2013.

GUIMARÃES, Eliane Marina Palhares, et al; Teleconsultoria e Videoconferência como Estratégia de Educação Permanente para as Equipes de Saúde da Família. Cogitare Enferm. 2015 Abr/Jun; 20(2):376-84.

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