1 INTRODUÇÃO
2.1.4 Antecedentes, Correlatos e Conseqüentes do Comprometimento
A partir da revisão da literatura sobre o tema comprometimento, Mathieu e Zajac (1990)
elaboraram uma meta-análise objetivando medir inter-relações nos resultados de pesquisas,
dividindo em três categorias as principais variáveis utilizadas nas pesquisas:
a) Antecedentes: estudam as características pessoais, organizacionais, do trabalho, as relações do grupo com o líder e o status da função;
b) Correlatos: estudam a satisfação e o envolvimento com o trabalho, a motivação e o stress, dentre outras;
c) Conseqüentes: estudam o desempenho (performance) no trabalho, a rotatividade (turn- over1), a intenção de procurar alternativas de emprego ou de permanecer na organização e
o absenteísmo (comparecimento).
Em uma meta-análise mais recente, Meyer et al. (2002) estudaram as relações entre as três
dimensões de comprometimento organizacional (afetivo, normativo e instrumental) e algumas
variáveis identificadas como suas antecedentes, correlatas e conseqüentes no Modelo de Três
Dimensões de Meyer e Allen (1991). Para proceder com tal análise, os autores realizaram
1 Turnover – termo utilizado para caracterizar o movimento de entradas e saídas dos profissionais de uma empresa, em um determinado período.
uma pesquisa na literatura entre os anos de 1985 e 2000, buscando por palavras-chave como
comprometimento, comprometimento organizacional, comprometimento afetivo, instrumental e normativo, utilizando ao final dados de 155 estudos realizados dentro e fora da América do Norte, sob a forma de artigos publicados, dissertações e papers apresentados em conferências,
envolvendo um total de 50.146 empregados.
Steers (1977, apud ABOUD-ID, 2005, p. 35) apresenta as relações existentes entre o
comprometimento organizacional e os antecedentes, conseqüentes e correlatos, dentro de um
mesmo modelo de pesquisa, como demonstra a FIG. 2.
FIGURA 2 - Modelo proposto de antecedentes, conseqüentes e correlatos FONTE - Adaptado de Aboud-Id (2005)
É importante tratar com atenção os fatores que levam as pessoas a se comprometer com a
organização da qual fazem parte, pois a partir desse entendimento pode depender o sucesso ou
fracasso na implementação de políticas organizacionais que visem o incremento do grau de
comprometimento dos indivíduos.
Dentre esses fatores, Mathieu e Zajac (1990) citam o tempo na organização como um
ABOUD-ID, 2004, p. 28) ressaltam que o “tempo de casa” por si só não consegue explicar a
existência de comprometimento, pois se deve levar em consideração as recompensas e valores
do trabalho recebidos pelo indivíduo durante sua trajetória profissional.
Mathieu e Zajac (1990) mencionam também como antecedentes do comprometimento
algumas variáveis pessoais, tais como idade, sexo, estado civil, escolaridade, dentre outras.
Entretanto, na meta-análise conduzida por Meyer et al. (2002), não foi encontrada correlação
entre o comprometimento sob as três dimensões utilizadas (afetiva, instrumental e normativa)
e as variáveis sexo e escolaridade. Já em relação à idade dos participantes, os autores
apresentam uma correlação positiva com o comprometimento sob as três dimensões, com
relativo destaque para o comprometimento afetivo.
Para Bastos (1994), quando são avaliadas no enfoque afetivo, algumas variáveis utilizadas
como antecedentes do comprometimento instrumental apresentam correlações positivas com
as características pessoais, como maior remuneração, maior nível ocupacional, maior idade e
maior tempo na organização.
Ainda no entendimento de Mathieu e Zajac (1990), os autores verificam consideráveis
correlações entre o comprometimento e a habilidade e comunicação do líder, além de alta
correlação com gerências de estilo participativo. Nesse ponto, Jermier e Berkes (1979)
descobriram que os funcionários que participam do processo de tomada de decisão possuem
níveis maiores de comprometimento organizacional em relação àqueles que somente
executam as decisões deliberadas. Seguindo esta direção, Meyer et al. (2002) destacam que o
transformacional, enquanto o comprometimento instrumental apresenta correlação negativa
com esta variável.
Para Mowday et al. (1982), outras variáveis influenciam no comprometimento organizacional
dos empregados, como a responsabilidade, as oportunidades de interação social, os desafios
gerados e enfrentados no ambiente de trabalho, a autonomia existente e a diversidade das
atividades realizadas. Meyer et al. (2002) corroboram essa idéia, observando que correlações
entre o comprometimento e variáveis relacionadas às experiências no trabalho são,
freqüentemente, mais fortes do que aquelas que envolvem características pessoais dos
participantes.
Consonante com o assunto, Rezende e Lara (2004) realizaram um estudo com 208 empresas
varejistas, onde identificaram a existência de uma correlação positiva e significativa entre a
cidadania corporativa e o comprometimento dos funcionários, demonstrando que as
organizações que mais investem em práticas consideradas socialmente responsáveis são
aquelas onde o comprometimento dos funcionários apresenta-se maior.
A remuneração tem papel importante na geração do comprometimento organizacional, pois as
recompensas recebidas pelos indivíduos podem levá-lo a uma maior aderência aos objetivos
da empresa e também a uma maior disposição para a ação, no sentido de ser mais bem
remunerado. Aderindo a essa concepção, Mottaz (1988) defende que os diferentes níveis das
recompensas recebidas pelos empregados é que são responsáveis por produzir uma
significativa variação no comprometimento dos indivíduos. Scheible (2004) afirma que a
remuneração), ligada aos resultados do desempenho organizacional, conseguida por meio do
acréscimo nos sentimentos de valorização (afetivo) e de vantagens percebidas (instrumental).
As variáveis denominadas correlatas são aquelas que não podem ser consideradas nem
antecedentes nem conseqüentes do comprometimento. Porém, pelo fato de possuírem
relacionamentos com o comprometimento (mesmo às vezes superficiais), essas variáveis
devem sempre ser levadas em consideração em estudos sobre o tema. Nesse sentido,
Jermier e Berkes (1979) realizaram uma pesquisa com mais de 800 oficiais de polícia,
objetivando estudar a satisfação com o trabalho e sua relação com o comprometimento,
sendo que os resultados colhidos indicam que os indivíduos considerados mais satisfeitos
com seu trabalho, são os que apresentam os mais altos níveis de comprometimento
organizacional.
Analisando os correlatos do comprometimento, Meyer et al. (2002) validam esta relação,
demonstrando a existência de uma forte correlação entre o comprometimento afetivo e as
variáveis satisfação no emprego e envolvimento com o trabalho, ao contrário do
comprometimento sob a dimensões instrumental, que apresenta correlação negativa com estas
variáveis.
Abou-Id (2005) evidencia a dificuldade atual de incluir os correlatos do comprometimento em
pesquisas sobre o tema, pois é extremamente complexa a determinação exata de quais são
esses fatores, pelo fato de eles estarem sempre à margem dos processos motivacionais
Com relação aos estudos do comprometimento organizacional que utilizam indicadores
comportamentais identificados como conseqüentes, Medeiros (2003) afirma que essas
pesquisas foram, de certa forma, negligenciadas no Brasil, onde ainda predominam pesquisas
que estudam a relação entre o comprometimento e seus antecedentes. Por outro lado, o autor
faz menção ao estudo de Chang (2001), que empregou na mesma pesquisa a variável
criatividade como antecedente e a variável comunicação como conseqüente do
comprometimento, produzindo assim um trabalho com relação de causa e efeito mais
complexo e abrangente.
As decisões relacionadas à manutenção ou abandono do emprego e a performance no trabalho
são os principais comportamentos que vêm sendo estudados como conseqüentes do
comprometimento atualmente. Nos estudos de Mowday et al. (1982), a redução nos níveis de
turn-over (rotatividade), é indicada como um dos grandes benefícios da manutenção de indivíduos comprometidos com a organização. Meyer et al. (2002) ratificam esse benefício,
indicando em sua pesquisa que o comprometimento sob as dimensões analisadas (afetiva,
instrumental e normativa), se correlaciona negativamente com o turn-over e com o
absenteísmo.
Em seu estudo sobre os conseqüentes do comprometimento, Borges-Andrade (1993) elucida
os principais pontos encontrados em relatos de pesquisas mais expressivos sobre o tema:
a) a baixa intenção de rotatividade;
b) a pouca intenção de mudar de empresa;
c) a pouca intenção de se procurar uma nova ocupação;
A performance no trabalho também é considerada como um importante conseqüente do
comprometimento. No entanto, Meyer et al. (2002) ressaltam em seu estudo que somente o
comprometimento afetivo apresenta correlação positiva com a performance, enquanto o
comprometimento instrumental possui correlação negativa. Ainda de acordo com este estudo,
o comprometimento afetivo se correlaciona negativamente com as variáveis stress e conflito
família-trabalho, ao passo que o comprometimento instrumental apresenta correlação positiva
com ambas as variáveis.
A busca por melhores indicadores de desempenho nas organizações atuais faz com que os
estudos sobre a relação entre o comprometimento como um de seus antecedentes se torne
fundamental. Com este estudo, buscou-se avaliar se realmente o comprometimento tem
associação direta com o desempenho, e com qual dimensão de comprometimento o
desempenho mais se relaciona.