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PARTE I. MARCO TEÓRICO

CAPÍTULO 2. PERSONALIDADE

2.1. Antecedentes históricos dos estudos sobre a personalidade

Personalidade é uma das palavras que não somente desperta a atratividade das pessoas em geral, mas também assume vários significados populares que, de certa forma, correspondem aos conceitos apresentado pelos estudiosos do tema. Por vezes, a personalidade é associada às habilidades sociais, sendo avaliado o quanto o indivíduo consegue formar reações positivas ou negativas nas demais pessoas e em diferentes situações. Em outros momentos, é avaliada por meio de uma impressão que o indivíduo atribui aos demais (Hall, Lindzey, & Campbell, 2000).

Pode-se, então, dizer que, para o senso comum, a personalidade pode ser avaliada pela impressão que causa e/ou pela eficiência em produzir reações positivas ou negativas na sociedade, por exemplo, “personalidade agressiva” ou “personalidade tímida”. Isso ocorre na medida em que as pessoas, ao observarem, selecionam no outro a qualidade mais evidente naquela situação e assim, formam uma impressão geral a partir de características isoladas.

Os estudos primordiais acerca da personalidade tiveram um percurso diferente das demais áreas da psicologia, pois se utilizavam mais do uso da intuição, fato que

demonstrava o pouco ou inexistente rigor científico. O estudo da personalidade teve início a partir de observações clínicas, sendo Freud, a partir das contribuições de Charcot, Janet, Jung e McDougall, o primeiro autor a sistematizar uma teoria da personalidade (Friedman & Schustack, 2004).

As fortes influências acerca do estudo da personalidade foram marcadas por importantes contribuições de alguns teóricos. Entre estes, destacam-se os estudos de Freud, o qual se interessou por investigar a personalidade anormal. Em seus trabalhos psicoterapêuticos, Freud buscou observar o poder das pulsões sexuais reprimidas, visando com isso o tratamento das doenças mentais.

Os teóricos da Gestalt também desempenharam um importante papel ao compreenderem que o comportamento deveria ser analisado em sua totalidade e não de forma fragmentada. Já a psicologia experimental e a teoria da aprendizagem merecem destaque por proporcionarem pesquisas com um maior rigor metodológico, dispondo de maior preocupação sobre os fundamentos de construção de uma teoria e uma análise mais minuciosa das alterações comportamentais.

A psicometria, por sua vez, também causou importantes mudanças na forma de analisar o comportamento humano. A partir da técnica da análise fatorial, os estudiosos buscavam mensurar e investigar as diferenças individuais. Desenvolvida na década de 1930, a técnica da análise fatorial trouxe, não somente avanços para o estudo científico da personalidade, mas também para a abordagem dos traços, a qual será detalhada a posteriori, em outra parte da presente dissertação (Pervin, 1978).

Dito isto, nota-se, então, que desde o século passado os pesquisadores têm dedicado seus estudos em compreender as diferenças individuais. Todavia, somente no final da década de 1930 nos Estados Unidos, o estudo da personalidade, enquanto disciplina, foi formalizado e sistematizado, em razão das pesquisas de Gordon Allport

(1937), intitulada Personality: A Psychological interpretation e da obra de Henry Murray (1938) Explorations in personality (Andrade, 2008; Monteiro, 2014).

Allport (1937), por meio de um estudo exaustivo acerca das definições para personalidade, reuniu quase cinquenta definições diferentes. Dentre estas, destaca-se a

biossocial, a qual corresponde ao “valor da impressão social” que o indivíduo provoca a partir das reações observadas nos outros. Assim, pode-se dizer que a personalidade do indivíduo é definida com base nas percepções formadas pelas demais pessoas.

Contudo, por contestar fortemente essa definição, Allport tomou por base a

definição biofísica, a qual considera a personalidade a partir de características ou

qualidades do sujeito, em que parte é orgânica e a outra é observável. Outra definição por ele encontrada foi a globalizante ou do tipo coletânea, que faz uso do termo personalidade para inserir tudo aquilo que diz respeito ao indivíduo, assim, a partir de enumeração, elenca-se os conceitos mais importantes e que melhores descrevem a pessoa e, com isso formula-se a personalidade da pessoa (Hall, Lindzey, & Campbell, 2000).

Murray, por sua vez, possuía um grande interesse pelos determinantes dos fatores biológicos e apreciava a complexidade individual do organismo humano. Seu foco de estudo ou da sua teoria estava em compreender toda a complexidade do indivíduo (Epstein, 1979). É interessante destacá-lo, pois ele promoveu uma nova forma de estudar a personalidade, conceituando-a como uma interação entre determinantes individuais e ambientais.

Entre as várias definições propostas por Murray sobre a personalidade, os principais destaques podem ser resumidos da seguinte forma: (1) refere-se a um conjunto de eventos que compõe toda a vida do indivíduo, sendo então o agente governador de cada pessoa; (2) as características são duradouras e recorrentes do comportamento; e (3) sua localização encontra-se no cérebro (Hall, Lindzey, & Campbell, 2000).

Os autores supracitados afirmam ainda que a personalidade é comparada aos aspectos individuais, isto é, corresponde às características específicas de cada pessoa, tornando-a diferente de todas as demais. Além disso, defendem também que a personalidade diz respeito à essência da condição humana, logo se refere à parte mais destacável do indivíduo.

Em síntese, pode-se conferir que, independente da definição adotada pelo pesquisador, uma teoria da personalidade é formada por uma junção de características referentes ao comportamento humano, associado a regras para relacionar tais características e definições que possibilite sua comprovação por meio de investigações empíricas ou observáveis.

Vale ressaltar que no estudo da personalidade, destacam-se as abordagens psicodinâmica, fenomenológica e cognitiva, as quais serão brevemente descritas a seguir.

(1) Psicodinâmica. Fundamentada pela teoria psicanalítica, a qual seu principal defensor é o Sigmund Freud. Essa abordagem assegura que o comportamento é provocado por impulsos conscientes, com base biológica, que exigem gratificações. Seu foco principal era o estudo e tratamento das personalidades anormais (Ludin, 1977).

(2) Fenomenológica. Respaldada de acordo com o conceito estrutural do eu, a qual tem como figura principal Carl Rogers. Esta abordagem compreende a personalidade como algo que tem como característica fundamental a mudança, sendo então, evidenciada por um processo contínuo, de construção (Pervin, 1978).

(3) Cognitiva. Um de seus representantes mais destacado foi George A. Kelly, o qual propôs uma teoria da personalidade baseada em uma visão filosófica, denominada de alternativismo construtivo. Para ele, a personalidade era um sistema de construtos que possibilitaria que as pessoas se diferenciassem das demais, a partir do modo de perceber ou construir a realidade.

Nesse sentido, embora as informações acima descritas sejam importantes, a personalidade vem sendo amplamente estudada a partir da Teoria dos Traços, a qual será detalhada a seguir, considerando sua relevância para a presente dissertação.