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PARTE II. ESTUDOS EMPÍRICOS

CAPÍTULO 4. PERSONALIDADE, VALORES HUMANOS E ESTRATÉGIAS DE

4.1. Método

4.1.1. Delineamento e Hipóteses

Trata-se de um estudo correlacional, de natureza ex post facto. Pretende-se, então, conhecer os correlatos e o poder preditivo dos traços de personalidade, das subfunções valorativas e estratégias de resolução dos conflitos, além de verificar a influência das variáveis sociodemográficas nas estratégias de resolução dos conflitos conjugais. Assim, com base na literatura e nos objetivos do estudo, formularam-se as hipóteses descritas a seguir.

Hipóteses referentes às dimensões das estratégias de resolução dos conflitos conjugais e as variáveis sociodemográficas.

H1. Haverá diferença entre sexos. As mulheres pontuarão mais na estratégia ataque, enquanto que os homens pontuarão mais na estratégia evitação.

H2. Haverá diferenças entre as jornadas de trabalho. As pessoas com maior jornada de trabalho até oito horas/diária pontuarão mais na estratégia de acordo, e as que tiverem acima de oito horas/diária pontuarão mais nas estratégias evitação e ataque.

H3. Haverá diferenças quanto ao tipo de união. As pessoas que forem casadas oficialmente pontuarão mais em estratégias de acordo, enquanto que as que moram juntas/coabitação pontuarão mais em estratégias de evitação e ataque.

H4. Haverá diferenças entre as faixas etárias. As pessoas com até 35 anos apresentarão mais estratégias de evitação e ataque, ao contrário das que tiverem acima de 36 anos apresentarão mais estratégias de acordo.

H5. Haverá diferenças entre o tempo de união. As pessoas que estiverem até 8 anos de tempo de união pontuarão mais em estratégias de evitação e ataque, e as que tiverem acima de nove anos pontuarão mais em estratégias de acordo.

H6. O tempo de serviço profissional se correlacionará negativamente com a estratégia

evitação e ataque.

H7. O nível de religiosidade se correlacionará negativamente com a estratégia evitação e

ataque.

Hipóteses referentes aos correlatos e predições dos traços de personalidade e das subfunções valorativas na explicação das estratégias de resolução dos conflitos conjugais.

H8. A estratégia acordo se correlacionará positivamente com os traços extroversão,

abertura à experiência, amabilidade e conscienciosidade.

H9. A estratégia acordo será explicada positivamente pelos traços abertura à experiência, extroversão e amabilidade.

H10. A estratégia ataque se correlacionará positivamente com o traço neuroticismo. H11. A estratégia ataque será explicada positivamente pelo traço neuroticismo.

H12. A estratégia evitação se correlacionará negativamente com o traço amabilidade.

H13. A estratégia evitação será explicada negativamente pelo traço amabilidade.

H14. As subfunções que compõem o tipo de orientação pessoal (experimentação e

realização) se correlacionarão positivamente com as estratégias ataque e evitação.

H15. As subfunções que compõem o tipo de orientação central (suprapessoal e existência) explicarão positivamente a estratégia acordo.

H16. As subfunções que compõem o tipo de orientação social (interativa e normativa) se se correlacionarão positivamente com a estratégia acordo.

4.1.2. Participantes

Contou-se com uma amostra por conveniência (não probabilista), composta por 252 pessoas da população geral da cidade de João Pessoa (PB). Como critério de inclusão: ser casado oficialmente ou coabitação (morar juntos), em um relacionamento heterossexual, há mais de dois anos. Não foram adotados critérios de exclusão.

Sendo assim, a amostra contou com 70% casados e 30% que coabitavam com o companheiro (a) há mais de dois anos de relacionamento, sendo a maioria composta por mulheres (57,1%). A idade média geral foi de 38,3 (DP = 10,87), especificamente para homens foi de 40 anos (DP = 10,80), variando entre 20 a 61 e para mulheres foi de 37ª anos (DP = 10,80), variando de 20 a 66. Possuíam filhos (62,7%), se declararam de classe média (67,5%), com renda familiar de R$ 2.641,00 a 5.280,00 (30,9%), que se consideraram muito religiosos (31,6%), do primeiro casamento (73,4%), com tempo de união de “acima de 10 anos” (51,2%), seguido de “entre 5 anos a 6 anos (17,2%). Quanto à escolaridade, (39,3%) possuíam ensino superior completo. A maioria dos participantes (70,2%) exerciam alguma atividade renumerada, com jornada de trabalho acima de 8 horas/diária (66,5%).

4.1.3. Instrumentos

Os participantes responderam um livreto contendo os instrumentos descritos a seguir:

Conflict Resolution Behavior Questionnaire (CRQB – Anexo II). Elaborado originalmente em língua inglesa por Rubenstein e Feldman (1993), o qual busca avaliar a

frequência com que são utilizados determinados comportamentos na resolução de conflitos. O instrumento é composto por 22 itens e foi adaptado para o português (Brasil) por Delatorre e Wagner (2015), e assim como o original, é composto por três dimensões:

Evitação (itens 1, 7, 9, 10, 13, 16, 17, 18 e 19; e.g., item 7 “Me fecho e fico distante do

meu companheiro”), Ataque (itens 2, 4, 11, 12, 14, 15, 20 e 22; e.g., item 15 “Digo ou

faço algo para magoar o outro”) e Acordo (itens 3, 5, 6, 8 e 21; e.g., item 6 “Escuto o

que o outro está dizendo e tendo compreender”), os quais são respondidos em uma escala tipo Likert, variando de 1 (Nunca) a 5 (Sempre). A versão adaptada apresentou alfas de

Cronbach de 0,74 (ataque), 0,79 (acordo) e 0,69 (evitação; Delatorre & Wagner, 2015). Inventário dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade (Anexo III). Elaborado

originalmente em língua inglesa por John, Donahue e Kentle (1991), composto por 44 itens. Adaptado para o contexto brasileiro por Andrade (2008), contando com uma estrutura de 32 itens, com coeficientes de fidedignidade (λ2 de Guttman) que variaram de 0,68 (Abertura e Conscienciosidade) a 0,76 (Extroversão). Contudo, em razão da aplicação de outros instrumentos, optou-se no presente estudo, por uma versão reduzida composta por 20 itens que questionam como o indivíduo se percebe (Eu me vejo como

alguém que...). Os itens são estruturados de acordo com os cinco grandes fatores: Abertura à experiência (e.g., item 14 “Tem uma imaginação fértil”); Conscienciosidade (e.g., item 10 “Faz as coisas com eficiência”); Extroversão (e.g., item 12 “É cheio de energia”); Amabilidade (e.g., item 8 “É prestativo e ajuda os outros”) e; Neuroticismo

(e.g., item 15 “Fica tenso com frequência”) e são respondidos em escala tipo Likert, que

variam de 1 (Discordo Totalmente) a 5 (Concordo Totalmente).

Questionário dos Valores Básicos (Anexo IV). Elaborado por Gouveia (1998)

inicialmente com 66 itens, posteriormente após ajustes psicométricos foi reduzido para 24 itens e atualmente, é composto por 18 itens, o qual será utilizado no presente estudo

(Gouveia, 2003; Gouveia, Milfont, & Guerra, 2014). Apresentando dois descritores para cada um dos valores, por exemplo, o valor Saúde (item 9 “preocupar-se com sua saúde

antes de ficar doente; não estar enfermo”) e o valor Emoção (item 5 “desfrutar

desafiando o perigo; buscar aventuras”) sendo então, igualmente organizados entre as

seis subfunções valorativas e respondidos por meio de uma escala de sete pontos que varia de 1 (Totalmente não importante) a 7 (Extremamente importante), na qual o indivíduo avalia em que medida considera cada valor importante, enquanto princípio-guia de sua vida. Este instrumento apresenta comprovações de sua estrutura fatorial e consistência interna a nível nacional e internacional, apresentando especificamente para o contexto brasileiro alfas variando de 0, 48 (interativa) a 0,63 (normativa), e o índice de homogeneidade com amplitude de 0,24 (interativa) a 0,38 (normativa); além de apresentar bons indicadores de ajustes [χ²= 949,75, GFI=0,92, CFI= 0,81; RMSEA= 0,07 (90% IC= 0,07-0,08)] (Medeiros, 2011).

Questionário Sociodemográfico (Anexo V). Composto por perguntas que visam

caracterizar a amostra e verificar a relação e influência com as dimensões do CRBQ. As perguntas correspondem à escolaridade, idade, tempo de união, sexo, horas de trabalho diário e estado civil, tempo de serviço profissional e nível de religiosidade.

4.1.4. Procedimento

A princípio, o projeto foi submetido à Plataforma Brasil para ser avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Paraíba. Posteriormente, após a aprovação do Comitê: CAAE: 53707116.2.0000.5188 (Anexo VI), elaboraram-se os livretos na versão lápis e papel, seguido de um treinamento prévio com quatro voluntários.

Para a aplicação, optou-se por locais públicos (e.g., shoppings, praças, universidades) e as pessoas, ao serem convidadas a participar, eram informadas acerca do objetivo da pesquisa, da garantia do anonimato das respostas, da possibilidade de desistirem da participação do estudo a qualquer momento, sem sofrer nenhum tipo de constrangimento, assim como, das instruções para responderem. A aplicação teve duração média de 20 minutos.

Assim, após consentirem a participação, assinavam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Anexo I), baseado nos preceitos éticos vigentes para a realização de pesquisas com seres humanos, defendidos pela Resolução nº. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

4.1.5. Análise de dados

Utilizou-se o pacote estatístico IBM SPSS (versão 21). Realizaram-se análises descritivas para caracterização da amostra; análises de correlações de r Pearson, que tiveram por finalidade conhecer a relação entre os traços de personalidade, as subfunções valorativas e as dimensões do CRBQ; análises de regressões lineares múltiplas (método stepwise), que tiveram por intencionalidade conhecer o poder preditivo dos traços de personalidade e das subfunções valorativas nas estratégias de resolução dos conflitos conjugais.

Para além disso, executaram-se análises de MANOVA’s para aferir se existiam diferenças das médias dos grupos quanto a outras variáveis sociodemográficas (sexo, escolaridade, idade, tempo de união, jornada de trabalho e estado civil) e correlações de

r Pearson para verificar a relação entre as dimensões do CRBQ e as variáveis

A fim de formar grupos para análises, algumas variáveis contínuas foram categorizadas. Para a idade foram criados grupos: jovem adulto (até 35 anos), adulto maduro (36-59 anos) e idoso (60 anos ou mais); tempo de união foram criados grupos: 1 (2 até 4 anos), 2 (5 até 6 anos), 3 (7 até 8 anos), 4 (9 até 10 anos) e 5 (acima de 10 anos). 4.2. Resultados

A apresentação dos resultados será subdivida, seguindo a disposição de acordo com os objetivos do presente estudo.

4.2.1. Estratégias das resoluções dos conflitos conjugais: relações e influências das