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PARTE I. MARCO TEÓRICO

CAPÍTULO 2. PERSONALIDADE

2.3. Cinco Grandes Fatores da Personalidade (Big Five)

Os Cinco Grandes Fatores foram projetados para capturar os traços de personalidade que os indivíduos consideram mais importantes em suas vidas, tendo como propósito servir de previsão e controle, uma vez que ajudam a prever como elas se comportarão nas diversas situações (Pervin & John, 2004).

A teoria dos traços dispõe de diferentes modelos que variam em razão da quantidade, para tanto se tem observado que o modelo dos Cinco Grandes Fatores da Personalidade tem predominado nas pesquisas dos últimos anos, tanto a nível internacional (Duncan, Larson, & McAllister, 2014; Solomon & Jackson, 2014) quanto nacional (Andrade, 2008; Ferreira, 2008; Gonçalves, 2012; Mônego & Teodoro, 2011; Woyciekoski, Natividade, & Hutz, 2014).

Sua origem adveio a partir da perspectiva léxica e de análises fatoriais de vários testes e instrumentos de medida. A abordagem léxica diz respeito à utilização de termos extraídos do dicionário que possam representar a personalidade, enquanto que a análise fatorial corresponde à formação das dimensões da personalidade (Jonh & Srivastava, 1999).

Quanto à terminologia dos traços ou fatores, foi inicialmente proposto por William McDougall na década de 1930 e foram nomeados como disposition,

temperamento, temper intellect e character (Althoff, 2010). Com base neste estudo,

Thustone verificou empiricamente a adequação do modelo por meio de 60 adjetivos comuns e pôde encontrar cinco fatores, contudo este autor não deu sequência a seus estudos nesta área (Nunes, 2005).

Buscando ainda confirmar esse modelo, Fiske, (1949) e Norman (1963) identificaram empiricamente uma estrutura pentafatorial, denominada por Ernest Tupes e Raymond Christal (1962) como: extroversão ou surgency, cordialidade, confiabilidade,

estabilidade emocional e cultura (McCrae & John, 1992). Posteriormente, Norman (1967) modificou o nome dos fatores para extroversão, estabilidade emocional, amabilidade, conscienciosidade e cultura, e o nomeou de Norman’s Big Five (Barrick & Mount, 1991).

Com as descobertas e avanços científicos, McCrae, por sua vez, iniciou seus estudos a partir da década de 1970, mas foi em 1990 que se observaram os maiores avanços que possibilitaram tornar mais fundamentada sua compreensão acerca dos múltiplos traços. Assim, juntamente com Paul Costa, propuseram a Teoria dos Cinco Fatores (McCrae & Costa, 1990) e desenvolveram o Inventário dos Cinco Fatores da

Personalidade.

Esses autores consideravam que as diferenças comportamentais relacionadas aos cinco traços ou dimensões seriam representadas por uma base, preponderantemente biológica, logo, as disposições que os indivíduos possuem para se comportarem e sentirem de determinadas formas recebem pouca influência do ambiente (McCrae, 2010). Quanto a sua utilização empírica, surgiu com base em análises modelos tradicionais, a exemplo do 16-PF de Cattell e o PEN (Psicoticismo, Extroversão e Neutoricismo) de Eysenck (Jonh & Srivastava, 1999), os quais eram analisados de forma isolada ou em conjunto, mas cujas análises fatoriais, independente do modelo teórico adotado pelos autores, resultavam em cinco fatores. Desta forma, a partir de então, começou a surgir instrumentos fundamentados de acordo com os big fives (Gonçalves, 2012).

Além disso, o big five revela-se como um modelo consistente pelos seguintes aspectos: (1) estudos longitudinais e de observação cruzada demonstram que as cinco dimensões são disposições que se mantêm e se manifestam por meio dos padrões de comportamento; (2) as cinco dimensões podem ser encontradas em diversos modelos teóricos da personalidade e na linguagem usual; (3) tais dimensões também foram

encontradas em diferentes idades, sexos, raças e nacionalidade, ainda que possam variar em função da cultura; e, (4) os achados hereditários sugerem que as dimensões possuem uma base biológica (Costa & McCrae, 1992).

Originalmente, os cinco fatores de personalidade são representados pelas iniciais OCEAN (Openness to experience, Conscientiousness, Extraversion, Agreeableness e

Neuroticism). No contexto brasileiro, apesar de existir algumas variações, comumente

vêm sendo descrito como extroversão, conscienciosidade, neuroticismo, amabilidade e abertura à experiência (Silva & Nakano, 2011).

Ademais, o big five é um modelo hierárquico de personalidade, comumente medido em dois níveis: (1) O nível inferior, é composto por traços específicos denominados de facetas; e, (2) o nível superior, formado pelos cinco fatores amplos. Assim, ao ser avaliado, a informação mais importante que o indivíduo terá será a sua posição em relação aos cinco fatores (McCrae, 2006). Dito isto, a seguir serão detalhados os cinco fatores amplos e as facetas que compõe cada traço.

1. Abertura à experiência (Openness to Experience, Intellect). Também conhecido como Cultura ou Intelecto. Esta dimensão corresponde à capacidade e complexidade da imaginação humana ou a autopercepção de suas capacidades (Benet-Martínez & John, 1998). Indivíduos que pontuam alto nesta dimensão, geralmente, são francos, criativos, artísticos, tem uma imaginação e curiosidade fértil, além de interesses culturais. Já os que pontuam baixo tendem a serem superficiais, comuns ou simples (Friedman & Schustack, 2004). As facetas que o representa são: fantasias; estética; sentimentos; ações; ideias e valores (Nunes, Hutz & Nunes, 2010).

2. Conscienciosidade (Conscientiousness). Também denominada como escrupulosidade ou realização, corresponde à estabilidade motivacional. Assim, indivíduos que pontuam alto nesta dimensão tendem a apresentar características como

organização, persistência, controle e motivação. Por outro lado, os que pontuam baixo tendem a apresentar características como negligência, preguiça, sem metas claras e irresponsabilidade (De Young & Gray, 2009; Nunes & Hutz, 2007). As facetas que o compõe são: competência; ordem; responsabilidade; esforço para êxito; autodisciplina e deliberação (Nunes, Hutz, & Nunes, 2010).

3. Extroversão (Extraversion ou Surgency). Também conhecido como Expansão. Esta dimensão corresponde à atividade e energia, dominância, expressividade e emoções positivas (Benet-Martínez & John, 1998). Aqueles que pontuam alto, geralmente, são sociáveis, comunicativos, otimistas, espontâneos e alegres. Em contrapartida, os que pontuam baixo tendem a serem tímidos, centrados em si mesmo, sérios e sentem-se bem quando não estão na companhia de outros (McCrae, 2011). As facetas que o representa são: nível de comunicação; altivez; assertividade e interações sociais (Nunes, Hutz, & Nunes, 2010).

4. Amabilidade (Agreeableness). Também conhecido como agradabilidade ou socialização. Esta dimensão diz respeito à qualidade das relações interpessoais, isto é o quão prestativo e altruísta são com os demais. Assim, indivíduos que pontuam alto nesta dimensão tendem a apresentarem comportamentos pró-sociais, são agradáveis, amáveis e afetuosos. Por outro lado, os que pontuam baixo geralmente são frios, indelicados, hostis, invejosos e egoístas (Friedman & Schustack, 2004). As facetas que o representa são: amabilidade; pró-sociabilidade e confiança nas pessoas; (Nunes, Hutz, & Nunes, 2010).

5. Neuroticismo (Neuroticism ou Emotional Stability). Corresponde ao ajustamento emocional e instabilidade ou afetos negativos. Os indivíduos que pontuam alto nesta dimensão tendem a experimentar com maior frequência a irritabilidade, melancolia, vergonha, nervosismo, sensibilidade a ameaças, tensão e preocupação excessiva. Já os que pontuam baixo geralmente são independentes, despreocupados,

calmos e estáveis emocionalmente (De Young & Gray, 2009; McCrae, 2011). As facetas que o compõe são: vulnerabilidade; desajustamento psicossocial; ansiedade e depressão (Nunes, Hutz, & Nunes, 2010).

Para Jonh e Srivastava (1999) tais traços representam a personalidade no nível mais elevado de abstração, em que cada um comporta, resumidamente, um extenso número de características diferentes e singulares. Assim, espera-se que os indivíduos alternem entre as cinco dimensões durante os anos de vida (Andrade, 2008).

Logo, a partir da descrição dos traços pode-se dizer que se constitui um avanço conceitual e empírico, na medida em que descrevem os aspectos básicos do indivíduo de forma consciente, parcimoniosa, replicável e integradora (Hutz et al., 1998, Monteiro, 2014). Para além disso, tal modelo propõe uma investigação da personalidade humana de forma simples e geral, contando assim, com evidências de adequação, universalidade e

transcultural. Deste modo, para evidenciá-lo ainda mais, a seguir serão descritos alguns estudos que relacionam os traços de personalidade e as estratégias de resolução de conflito.