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Anno E.V. 393 ou 398 [à margem]

Eremitas de S. Agostinho em Portugal por S. Profuturo, Paulo Orosio e outros, que sahirão da sua Escola passando-se às Igrejas transmarinas, ainda em vida do Patriarcha; e depois pelos S.S. Donato, Nunto, e Romão. Etc.

Escolio 1º. Levão os nossos constantemente, que Profuturo pelos annos de 393 a 398 introduzira no territorio Bracharense o monachato de S. Agostinho, presidindo na igreja S. Siricio e Anastacio I, e na Lusitania governando Didimo e Veriniano em nome de Theodosio o Grande. S. Possidio, na vida de S. Agostinho cap. 11, diz expressamente, que o Instituto Eremitico não cabendo n’Africa se derramara nos paizes transmarinos, na Italia, Espanha e França etc. e que os discipulos d’Agostinho, seguindo o exemplo do Mestre, instituirão mosteiros onde poderão: “Similiter et ipsi ex illorum sanctorum

proposito venientes, Domini Eclesiis propagatis, monasteria instituerunt.” O Catalogo

da Ordem affirma ser tradição, que S. Profuturo fundara no districto de Braga: “In

territorio Braccharensi monasterium unum fundatum traditur à Profuturo.” Segue esta

tradição com outros, à quem se encosta, D. Rodrigo da Cunha na 1ª parte da Historia dos Arcebispos de Braga, dizendo: “S. Profuturo com Paulo Orosio [ 14v. ] fundarão

em Portugal em vida de S. Agostinho.”17 E exemplifica o texto, referido do Catalogo da

Ordem com o mosteiro de S. Martinho de Sande, junto do Rio Ave, que foi reedificado por Frutuoso em 658, e he hoje commenda da extincta Ordem de Christo.

Ate o Padre Carvalho o confessa, e com muito gosto cito neste ponto o seu depoimento por ter lugar a seu respeito aquelle – Habemus confitentem reum = “S.

Martinho de Sande, Reitoria da Mitra, diz elle, e Commenda de Christo, foi mosteiro d’Eremitas de S. Agostinho, que fundou pelos annos de 392 S. Profuturo Arcebispo de

17 CUNHA, Rodrigo da, 1577-1643 – Primeira parte, [-segunda] da Historia Ecclesiastica dos Arcebispos

de Braga, e dos Santos, e Varões illustres, que florecerão neste Arcebispado / por Dom Rodrigo da Cunha Arcebispo, & Senhor de Braga, Primàz das Hespanhas : offerecida a Serenissima Virgem Santa Maria de Braga. Em Braga: por Manuel Cardozo mercador de livros, 1634-1635. 2 vol.

Braga.18 Flavio Dextro na Chronica, anno 419, escreve: “Canali in Lusitania [ 15 ]

Monachi nigri ab annis 393”19. Sobre a qual clausula nota Jorge Cardozo: “Non dubito

quin fuerint Eremitae Agustinenses.”20 Se ja em 393 apparêcerão no Alemtejo Monges

negros, do que duvido, / a não ser Canal outra terra. V. Geogr. / quaes outros podrão [sic] elles ser? Benedictinos de modo nenhum, pois S. Bento não era nascido em 393, sendo que a maior antiguidade, que podemos dar ao seu nascimento, he o anno de 480.

Escolio 2º – Segundo a ordem chronologica da antiguidade da Religião Eremitica na Europa, vem a Italia em primeiro lugar; 2º Portugal em 393, 3º Hespanha em 400, 4º Hibernia em 425, 5º Alemanha nas Pannonias / Austria e Ongria / por S. Severino em 460, e finalmente na França em Limoges em 503.21 Ora os Italianos pertendem a

primazia sobre [ 15v. ] a mesma Africa, e ate sobre os mosteiros do Horto e de Tagaste, naquelles da Italia que Agostinho visitou e honrou com a sua presença, logo depois de baptisado; porque estes Monges o tomârão por seu Mestre, e recebêrão delle por escripto dictames sabios para seu regulamento, e analogos ao seu theor de vida. E o mais he, que dos nossos houve quem qualificasse esta opinião de: “Assertum verissimum sine dubio”.

Todavia, posto que se governassem pelas maximas de Agostinho depois daquella visita e hospedagem, não professârão a sua Regra senão do anno de 405 por diante, quando Inocêncio I os mandou viver debaixo da mesma, que acabava de approvar. 427

Eremitas em Lorvão freguesia do Bispado de Coimbra, por tempo de 500 ate 927, e depois ainda de mistura com os Cluniacenses. Romano Pontifice Celestino I, no Imperio Theodosio o Moço, em Portugal Rechila-Suevo.

Escolio 1º. Assim com todos os nossos chronologos o Padre Mestre Purificação22

na – Antiga Provincia de Portugal dos Eremitas de S. Agostinho. Porem o Padre Carvalho

18 V Dizem os nossos que pela deposição de Paterno Bispo de Braga fôra eleito em seu lugar em hum concilio

de Toledo S. Profuturo pelos annos de 393 à 398. Com tudo o folheto intitulado – Serie Chronologica dos

Prelados conhecidos de Braga, impresso em Coimbra em 1830, traz Profuturo em 538 entre Balconio

e Lucrecio, e Paterno da-o Bispo de Braga pelos annos de 400. Com ninguem se autoriza. O nosso Purificação adduz huma Carta de S. Agostinho, he a 140, escripta a um certo Profuturo, seu discipulo. / Onde escrevo não posso verificar esta allegação /. Pode ser que seja este o Fundador e introdutor da Eremitica na Provincia Bracharense, outro distincto do Bispo, que governou a igreja de Braga em 538, e talvez substituto de Paterno, // emquanto não foi restituido, se he que o foi; a ser certo o que diz o mencionado Escriptor. Advirto, que na Sala do Paço Arcebispal de Braga, chamada dos Arcebispos, ve-se o Retrato de Profuturo em habito d’Eremita de S. Agostinho, nº 20; e não escondo que estes Retratos forão mandados fazer pelo Snr. D. Fr. Agostinho de Castro, Frade da Ordem.

19 Trata-se de Flavio Lucio Dextro – Omnimodae historiae quae extant fragmenta cum Chronico M. Maximi.

Hispali: apud M. Clavigium, 1627.

20 CARDOSO, Jorge, 1606-1669 – Agiologio lusitano dos sanctos, e varoens illustres em virtude do Reino

de Portugal, e suas conquistas. Em Lisboa: na Officina Craesbeekiana, 1652-1744. 4 vol.

21 V Não affianço a exactidão precisa destas datas: mas e tao remota antiguidade e incuriosa em escrever as

memorias do tempo, ou porque o tempo as consumiu ou alterou, seguindo o preciso da historia merece o Historiador relevamento da exactidão chronologica, que lhe não he possivel.

na Corografia23 diz, que o mosteiro de Lorvão fora fundado em vida de S. Bento por

12 Monges seus, mandados às Hespanhas para este fim, e que fora o primeiro desta Ordem em Portugal, como consta ajunta elle, d’huma memoria authentica do Cartorio de Lorvão, citada por Brito no Livr. 6 da Chronica. 24Dous homens doutos e versados nestas

materias decidirão qual destes [ 16 ] Escriptores seguiu melhor o caminho da verdade e deu com ella, e qual o juizo, que deveremos formar sobre a antiguidade do Instituto Benedictino na Hespanha e Portugal, e sobre a autoridade da Benedictina Lusitana, da qual foi Carvalho seguidor tão apaixonado e cego ate cair em contradições grosseiras, como aponto na Geografia art. – Rates.

Antonio Caetano do Amaral na sua mem. para a Histor. da Legisl. e Costumes de Portugal à pag. 193, escreve: “A necessidade de / dar ãos mosteiros hum defensor / era

tanto mais facil de occorrer, quanto mais incerto era a Regra ou Instituto, que so lhes podia fixar a regularidade monastica.”25 Esclarece o fundamento desta supposição e o

confirma com a autoridade de Fr. Joaquim de S. Rosa de Viterbo: “Para mostrar, continua,

que os mosteiros nesta epocha / 900 / não seguia o aqui a Regra de S. Bento, allega /

o Santa Rosa / as disposições dos concilios diametralmente oppostas à mesma Regra;

e fallando do mosteiro de Crestuma... mostra particularmente, que este mosteiro tinha observancias avessas da Regra Benedictina, e assevera: – que dentro dos limites do que

hoje he reino de Portugal não houve mosteiro algum em que se guardasse unicamente a Regra de S. Bento antes do Concilio de Coyança de 1050.26 Sendo igualmente [ 16v. ]

certo, que ate nos documentos verdadeiros, legitimos e incontestaveis de Lorvão: onde tao antiga se jactava a Regra de S. Bento só no anno de 110127 se acha della a primeira

noticia pela doação da Igreja de Molelos feita pelo sacerdote Ermigio ão Prior Eusebio. Todos os mais monumentos, que o Autor da Benedictina28 e o Doutor Senhor Manoel da

Rocha29, e o mesmo Fr. Bernardo de Brito nos offerecem, examinados à luz da presente

23 COSTA – Corografia.

24 BRITO, Bernardo de, 1569-1617, O. cist. – Chronica de Cister: onde se contam as cousas principais desta

religiam com muytas antiguidades, assi do Reyno de Portugal como de outros muytos da christandade.

Em Lisboa: por Pedro Crasbeek, 1602.

25 AMARAL, António Caetano do, 1747-1819 – Memorias para a historia da legislação e costumes de

Portugal. Há nova edição de 1945.

26 V Coyança, hoje Valença de S. João, villa de Hespanha da Diocese de Oviedo, bem que no reino de

Leão, conhecida pelo concilio citado, composto de Bispos, Abbades e Grandes do reino, e no reinado de Fernando I o Magno. Estabeleceo 13 Canones sobre a reforma da Disciplina Ecclesiastica, autoridade Episcopal, regras do monachato, decencia das igrejas e do clero, Ordenação do Officio divino, pureza da Religião, Justiça e Politica do reino. A determinação, à que se allude, he do capitulo 2º. “Ut omnes Abbates se et sanctimoniales suas et monasteria secundum B. Benedicti regunt statuta.”

27 V Se o Senhor Amaral não erra na citação, ha neste caso contradição em o Senhor Viterbo; pois assevera

este no Elucidario. “Que não aparece em Lorvão vestigio algum da observancia da Regra de S. Bento

ate o anno de 1501 da doação de Alderano.” // Logo ja antes de 1101 da doação do Sacerdote Ermigio.

Ora o anno de 1051 conforma-se mais com a data do Concilio de Coyança; bem que se não diga, que sua determinação tivesse logo effeito.

28 SÃO TOMÁS – Benedictina Lusitana.

29 ROCHA, Manuel da, 1672-1760, O. Cist. – Analysis benedictina: conclue por documentos, e razoens

Critica, se dissipão como fumo”. = Nas outras partes da Hespanha, accrescenta o Sr Amaral, se começou a introduzir a Regra Benedictina desde os principios do seculo 10, achando-se a primeira memoria disso no anno 905, e dahi em diante se vê hum ou outro mosteiro sujeito à dita Regra Mem. de Litter. Portuguesa. tom. 7º30

Ora esta chronologia pouco differe da do nosso chronista, [ 17 ] o qual affirma, e o demonstra em capitulo separado, que antes de 910, nem Regra, nem Instituto algum Benedictino houvera em Portugal, sendo que os primeiros desta Regra forão os Monges da Reforma de Cluni, que naquelle anno teve lugar em França. O mesmo Mabillon31 no

§ 6º da Prof. ão tom. 1º dos Ann. Ben. duvida, que no seculo 6º estivesse estendida a Ordem de S. Bento nas Hespanhas. Não so no 6º seculo não estava estendida, mas no setimo nas Hespanhas escassa noticia havia desta Regra, diz o Chronista Mor d’Hespanha D. Tomaz Tamayo: “Praesertim cum exigua Benedicti Ordinis noticia tempore Ildefonsi in Hispania fuerit.”32 S. Ildefonso morreo em 677.

No que accabo d’expor se pode julgar do conceito e peso, que merece o escripto seguinte, que o Purificação33 allega para prova da antiguidade dos mosteiros de Eremitas

da antiga Provincia de Portugal. He huma carta de Fr. Bernardo de Brito ão Sr. D. Fr. Aleixo de Menezes com data de 14 de Julho de 1616 e diz assim: “Por estes e outros

fundamentos, que tenho achado, estou persuadido, que os mais antigos mosteiros do P. S. Bento deste reino, e por ventura de toda a Hespanha [ 17v. ] forão Cluniacénses, e que todos os que lhe precederão forão conventos ou eremitorios da Sagrada Ordem dos Eremitas de S. Agostinho. Pelo menos acho que o forão no nosso Portugal os de S. Pedro das Aguias, de Salzedas, o de Pedrozo, o de Grijo, o de S. Marinha, junto ão Douro, o de Villar, o de Lorvão, e os de Thomar. E o mesmo entendo dos que houve na Comarca d’Alemtejo no tempo dos Godos. Dos quaes eu não tinha alcançado tanto conhecimento quando dei a luz a segunda parte da minha Monarquia, onde tomei com alguns por outro caminho, fiando das primeiras noticias.”34 etc.=

Não occultarei que o P. Mestre Purificação advertiu, depois da impressão da sua obra, que quem lhe subministrara este papel, assim como as allegações de Leão Pragense e Antonio Calense de Barreto o avisàra, que tinham vicio: e outrosi declara que veio à conhecer alguns defeitos no catalogo dos antigos mosteiros desta Província.35 Porem Manoel dos Santos. Epístola analytica / [Fr. Manoel da Rocha]. En Madrid: por la Viuda de Francisco del Hierro, 1732. Deixou manuscrito Portugal renascido, entretanto editado.

30 MEMORIAS de Litteratura.

31 MABILLON, Jean, 1632-1707 – Annales ordinis S. Benedicti. Lutetiae Parisiorum, 1703-1739. 6 vol.

Os volumes 5 e 6 foram editados após a morte por R. Massuet e E. Marténe.

32 TAMAYO DE VARGAS, Tomás, 1588-1641 – Historia general de España del P. D. Iuan de Mariana

defendida por el doctor Don Thomas Tamaio de Vargas contra las advertencias de Pedro Mantuano.

En Toledo: por Diego Rodriguez, 1616.

33 PURIFICAçÃO – Chronica. 34 PURIFICAçÃO – Chronica.

35 V Pois disto somente se retratou o nosso chronista com aquella candura, que era propria da sua virtude

e caracter; // mas não se retratou de tudo quanto escrevera na Chronica, como sem pejo affirma o P. Mestre Prazeres da Ordem de S. Bento. / Nas Empresas. / Por este procedimento ficão merecendo major

qualquer que seja o vicio da mencionada Carta e o defeito do Catalogo, com tudo contem estes papeis substancialmente a verdade; e pelo menos não se mostra o contrario com melhores fundamentos, nem tão bons, como tem por si a existencia daquelles mosteiros no Instituto Eremitico. Eu também não porfio como disse no preambulo, tendo por mim somente a [ 18 ] autoridade do Catalogo antigo. Lembro aqui, que o chronista Brito se correspondia nestas materias assim como o Senhor D. Fr. Aleixo, como com o seu predecessor D. Fr. Agostinho de Castro.

Escolio 2º – Não me persuade ser verdade e inteiramente exacto, que no seculo 6º começasse na Hespanha a vida [ 18v. ] Cenobitica ou Commum, como julga provavel o Senhor Amaral / Vida de S. Fructuoso36 / sobre a autoridade de Marianna: “Ante sextum

saeculum Monachi, quorum mentium in Actis Conciliorum Hispaniensium extat, aut nulla votorum religione constricti erant, aut per Silvas dissipati vitam agebant solitudinis.” =

De Eb. Hisp. lib. 5. Cujo parecer corrobora com S. Ildefonso, fallando de Donato no Cap. 4º da Obra – De Vir Illustr.37 Dou o texto por inteiro: “Donatus ex professione et opere

Monachus, cujusdam eremitae fertur in Africa extitisse discipulus. Hic violencias [sic] arbarum gentium imminere conspiciens, atque ovilis dissipationem, et Gregis Monachorum pericula pertimescens, fere cum septuaginta Monachis, copiosisque librorum codicibus navali vehiculo in Hispaniam commigravit: qui ab illustri religiosaque foemina Minchoea, subsidiis ac rerum operibus ministratis Servitanum monasterium visus est construxisse. Is prior in Hispaniam monasticae observatiae usum et regulam dicitur adduxisse.”

Suppoem, que o tempo das violencias, à que allude S. Ildefonso, fora nos fins da perseguição movido por Frasamundo, morto em 532, ou na de Gilimer, que reinou de 530 à 534; e suppoem ao mesmo tempo que de 524 ou 534 so data a sahida dos Eremitas Africanos à fundar Mosteiros. A invasão Vandalica começou em 428, e logo os nossos Eremitas se virão obrigados à fugir para onde cada hum pode mais commodamente. O livro geral do Registo da Ordem à fol. 210 dâ a Origem dos [ 19 ] Eremitas de S. Agostinho na Ethiopia em 457, aqui plantados pelos refugiados d’Africa. S. Possidio contemporaneo de S. Agostinho, e que lhe assistiu na morte, e que tambem fugiu d’Hipponia, pela mesma causa, para a Apulia com outros companheiros, falla desta dispersão, e da fundação de mosteiros por estes, e por outros ja antes deste acontecimento: – Ex illo conturbernio

venientes – cujo texto produzi acima.

credito, e mais qualificadas as opiniões, que não retractou. Não retractou elle, que antes da invasão dos Mouros e perda das Hespanhas não houverão Frades Bentos em Portugal. – que os primeiros forão da Reforma de Cluni, e que Santos Monges e mosteiros desde o fim do século 4º (pois não consta que outra Regra ou Instituto tivesse entrado em Portugal e vogasse) não podião ser senão de S. Agostinho. Por este procedimento, repito, vimos à conhecer o caracter sincero e desapaixonado do Escriptor Augustiniano, e a verdade com que disse de si mesmo: “Não he nossa tenção persuadir falsidades, ou avaliar as

cousas por mais certas do que merecem seus fundamentos. Antes com toda a circunspecção possivel nos esmeramos em buscar a verdade, e segui-la.” E pela sua Critica depoem os dous citados Antiquarios

Antonio Caetano do Amaral, e Fr. Joaquim de S. Roza de Viterbo.

36 BRANDÃO, Caetano, 1740-1805, OFM, ed. lit. – Vida e regras religiosas de S. Fructuoso Bracarense

: impressas pela primeira vez, neste Reino / com traducção em vulgar e notas de mandado do... D. Fr.

Caetano Brandão. Lisboa: Impr. Regia, 1805..

Fundou sim, S. Donato, ainda vivo em 570, o mosteiro Servitano junto à Xativa do Reino de Valença, como escrevem S. Ildefonso e João de Valclara; fundârão depois delle S. Nunto, e outros discipulos seus: “S. Nunctus et alii, qui ex disciplina S. Donati,

extruxerunt monasterium Caulianum propre Eremitam, de quo Paulus Diaconus agit; /

Luiz dos Anjos38 em as Not. manuscritas às Centur. do P. Roman / porem antes destes

Profuturo, Paulo Orosio, Paulino, Romão, e outros espalhàrao nas Hespanhas o Instituto monastico de S. Agostinho: “Similiter et ipsi ex illorum Sanctorum proposito venientes,

Domini Eclesiis propagatis, / entende as igrejas transmarinas / monasteria instituerunt.”

Possidio. Portanto não foi S. Donato o primeiro que introduziu a vida Cenobitica com a Regra de S. Agostinho nas Hespanhas; mas o primeiro que a introduziu – loclupetiorem,

mitioremque – como interpreta S. Maximo39 Bispo de Saragoça na Chron. Era 613:

ou como o mesmo Mabillon40, que sabia distinguir Monge d’Anachoreta, explica:

“Severiores Monachis praescripsit leges.” – o que [ 19v. ] suppoem Monges ja em vida Regular e commum, e não simples anachoretas – per silvas dissipatos – e sem disciplina e subordinação alguma: – leges severiores –.

Ora assim deve ser entendido S. Ildefonso e os Concilios da Hespanha, que primeiro fizerão menção do estado monachal, e anteriores muitos annos ãos S.S. Donato e Ildefonso. O Can. 6º do Concilio de Saragoça de 380 diz assim: “Si quis de clericis...

Monachum videri voluerit esse magis quam clericum, de Ecclesia repellendus, ut nisi...

etc. Estranha nos Clerigos, enfesados de Priscillianismo, o affectarem no vestido a pobreza monachal, isto he d’Instituto monachal, e não de homens solitarios e escondidos nos matos, como diz Marianna. E 5 annos depois na Carta do Papa Siricio à Himerio Bispo de Tarragona se falla de Monges Regulares, mas que por isso não erão excluidos dos Officios Clericaes, nem inhaveis por sua profissão para o Ministerio Ecclesiastico: “Monachos quoque, quos tamen morum gravitas, et vitae ac fidei institutio sancta

commendat, Clericorum Officiis adgregari et optamus, et volumus.” Tão claramente

ou ainda mais, falla de Religiosos, como Profissão differente dos Clerigos, o Toletano do anno de 400: = “Si quis de potentibus Clericum... aut Religiosum expoliaverit. = Si

quis Laicus abstinetur, ad hunc vel ad domum ejus Clericorum vel Religiosorum nullus accedat.” Can. 11. Semelhantemente na Epistola do Papa Zozimo à Hisichio Bispo de

Salona na Dalmacia de 22 de [ 20 ] Fevereiro de 418, e no Concilio de Tarragona de 516 Can. 1º. Pois o Senhor Amaral viu estes textos e os produz; / Vida de S. Martinho Dumiense, pag. 11841 / mas pareceu-lhe mais provavel o que a mim me não parece, que

elles fallão no sentido de Marianna, cujas palavras deixo transcriptas, e as transcreveo Thomassini42.

38 Refere-se ao cronista agostinho P. Hierónimo Román (1536-1597), comentado por Luís dos Anjos. 39 MAXIMO, Marco – Continuatio Chronici … ab anno ch. 430 usque ad 612. Matriti, 1652. 40 MABILLON – Annales.

41 Vida, e opusculos de S. Martinho Bracarense impresssos... por cuidado e ordem D. Fr. Caetano Brandão ;

Collecção de canones ordenada por S. Martinho Bracarense. Lisboa: Na Typ. da Academia Real das Sciencias, 1803.

--- 448

Eremitas de S. Agostinho d’hum e outro sexo em Nabancia de 448 ate 653 pelo menos. / V. Dicc. art. Celio / – Rom. Pontif. S. Leão Magno, no Imp. Theodosio, Marcião; e em Portugal Reciario, Suevo.

--- 449

Eremitas de S. Pedro de Rates, em 449, ou mais antigos, como suspeita o Senhor D. Fr. Aleixo de Menezes. – Rom. Pontif. S. Leão Magno – Theodosio, Marciano – incerto.

--- 450

Freiras Eremitas em Caria, junto do Lugar de Vide de 450 ate 983. Forão transladadas para o pe de Trancoso. – Rom. Pontif. Leão Magno – Theodosio, Marciano – incerto.

--- 472

Eremitas perto de Viseu em Ossel ou Ossella não longe desta Cidade em 472. – Rom. Pontif. Simplicio. – Leão – incerto.

--- 540

Eremitas no Alentejo em 540, por S. Romão, que morreo em 546 in agro Auriquesi. – Rom. Pont. Vigilio – [ 20 v ] Justiniano – incerto.

Escolio. – O Catalogo da Ordem relata varios Eremitorios ou Conventos da Ordem nesta Provincia sem nomear o local, ignorado por incuria d’Antiguidade pouco curiosa; mas affirma haver tradição de ter sido o Alemtejo mui povoado dos nossos Eremitas, e que as guerras continuas, e sempre mais pesadas nesta parte do reino, os destruirão e fizerão esquecer ate a sua localidade.

--- 561

Eremitas na Serra d’Arga na Provincia do Minho, de 561 à 982. – Rom. Pont. João III – Justiniano – Theodemiro.

--- 565

Eremitas em Moure no Reconcavo de Monte Brito junto ão Castello de Barbude da Comarca de Braga, em 565. – Rom. Pont. João III. – Justiniano. – Theodemiro.

--- 566

Eremitas em S. Fins junto à raia da Galiza em 566, mas segundo os nossos de 604 por diante. / V. Geogr. / Parece ser o antigo mosteiro de S. Fins das Frestas no sitio denominado hoje S. Fins o Velho. – Rom. Pont. João III. – Justiniano. – Theodemiro.

--- 568

Eremitas em Azere: conforme a data do P. Carvalho43 em 568. – Rom. Pont. João III.

– Justiniano. – Theodemiro. Segundo os nossos porem em 619. [ 21 ] 569

Eremitas em S. Claudio, de 569 ate 982, e em S. Salvador da Torre. Rom. Pont. João III. – Justiniano. – Miro ou Ariamiro.

--- 584

Eremitas não longe de Merida junto da Igreja de S. Eulalia em 584 ate a invasão dos