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[ 2 ] Perrexit ore maledico Petilianus in vituperationem Monasteriorum et Monachorum, arguens etiam me, quod genus hujus vita a me fuerit institutum: quod genus vitae omnino, quale sit, nescit: vel potius loto orbe notissimum nescire se fingit

Aug. Lib. 3 contra Petil. c. 401

La revolution française est la seule qui ait eu pour but de detruire d’abord la religion de l’Etat, puis que toute religion quelconque... mais toujours repoussée par une force surnaturelle, elle s’en prenoit aux ministre d’une religion qui resistait à ses attaques; elle se flattoit, avec une ironie barbare, de la detruire individuellement. Ce voeu, aussi absurde que feroce, fut souvent emis dans ses assemblées, dans ses journaux, et toujours accueilli avec les honneurs de la Seance ou de l’accolade.

Ferrand, Theorie des revolutions, Livr. 3,1.re Partie chap. 4. pag. 3412. [ 4 ]

Preambulo

Vendo-me junto dos cartorios do Convento da Graça de Lisboa e do da Provincia, no principio do triennio de 1832, lembrei-me d’ajuntar alguns materiaes para continuar a historia das cousas desta Provincia de Portugal, donde a deixou o P. Mestre Fr. Antonio da Purificação. Levava nisto dous fins, da minha instrucção particular, e de

1 Trata-se da obra Contra litteras Petiliani.

2 Ferrand, Antoine-François-Claude (1751-1825) – Théorie des révolutions rapprochée des principaux

événemens qui en ont été l’origine, le développement ou la suite, avec une table générale et analytique, par l’auteur de ″l’Esprit de l’histoire″. Paris: L.-G. Michaud, 1817. Obra que Domingos Vieira traduziria

ver se por este modo estimulava a mui fea e culpavel negligencia dos nossos chronistas modernos; os quaes, sendo eleitos em capitulo constantemente, vai por hum seculo, que não escreverão huma linha acerca da sua Corporação. Porquanto, julgava eu, que, à vista das achegas para o edificio promptas e juntas, não faltaria então quem se determinasse a levanta-lo, tendo menos que lutar com a sua preguiça, ou indifferença pelas suas proprias cousas.

Neste tempo, e em pouco mais do começo da minha tarefa, aconteceo a desgraça e a perda do reino pela invasão de D. Pedro d’Alcantara, ex Imperador do Brasil; o qual, depois de desmembrar esta colonia da mae Patria, entregou huma apos outra nas mãos dos Pedreiros Livres, e ao seu dispor. Em consequencia, devendo a seita encetar o ataque ão christianismo pela extinção das Corporações Religiosas, em nome do mesmo D. Pedro pos immediatamente em execução o seu [ 4 v. ] antigo plano, antes que por algum incidente imprevisto lhe escapasse outra vez a occasião oportuna, e à muito suspirada.

Nestas circunstancias perdi a esperança de me aproveitar do meu trabalho e adianta- lo, ou d’algum meu collega, segundo as minhas ideas e tenção, se aproveitar delle. Em huma aldea, e reduzido ãos poucos livros do meu uso, com esse escasso e imperfeito cabedal, que trouxe, e sem mais recursos à mão, que podia ja fazer? Alias não me julgava com capacidade bastante para desempenhar semelhante argumento, conhecendo, que a Historia requer mais ingenho, mais fineza de juizo e força de discernimento do que se cuida. Foram a sorte das nossas Livrarias e archivos, que dou por perdidos, o parecer-me obra da Providencia, que me occupava em tal assumpto e estudos na vespera de tamanha catastrofe da ordem social e religiosa, e porque o inimigo se não vanglorie e diga em sua ufania: “Exterminamo-lo da terra dos viventes e não ha mais memoria do seu nome:” tudo isto conjunctamente me instigou à dar alguma forma ãos meus apontamentos, e salvar por este modo das garras da barbaridade pessoas e cousas dignas de memoria, o nome enfim d’huma Corporação benemerita da Religião e da Patria.

Pelo que, estremados os meus commentarios, os arranjei em tres turmas da maneira seguinte. A primeira, com o titulo de Catalogo dos Priores Provinciaes, contem a sucessão destes [ 5 ] desde a reunião da Ordem, e a noticia da Familia Eremitico-Augustiniana anterior à esta epocha, depois que entrou em Portugal, com a relação dos Capitulos e suas leys principaes que fizerão, e o mais pertencente à historia desta Provincia que me pareceo digno de se relatar. Na segunda trato das fundações dos Conventos do Reino e Conquistas, com a informação das nossas missões d’Africa e Asia: mui sunccintamente, porque nesta parte colheu-me a expulsão desprovido ainda de cabedaes sufficientes, cuja aquisição deixei para ultimo; e a intitulo: Geografia partícula etc. Na terceira finalmente compuz hum Diccionario dos Varões: illustres em virtudes e lettras, que florecèrão nesta Provincia de Portugal, dando conta dos seus escriptos, e obras impressas. Declaro, que não fico por fiador nem porfio que fossem Augustinianos alguns Mosteiros e Communidades da antiga Provincia, que vão alistados nestes opusculos: mas não os omitti; porque, constando da sua existencia em tal seculo e anno, e sabida a epocha da introducção da Regra de S. Bento nas Hespanhas, toda a probabilidade he por aquelle Instituto Augustiniano, e o mostro contra os seguidores da Benedicta Lusitana de Fr. Leão

de S. Thomaz3 em muitos lugares da Geografia e deste Catalogo, e mais extensamente

no Escolio ão anno de 427.

Ora como peguei da pena pelo motivo forçoso acima indicado, não gastarei tempo em desculpar a imperfeição [ 5 v. ] destes Escriptos. Faça-o quem ambiciona o renome de Autor, e o merece. Com tudo o merecimento, que me resulta da boa vontade, por este effeito, para salvar do esquecimento a memoria abençoada da mãe que me educou, e á quem devo quanto sou e valho, este não o recuso, e peço que se me não denegue. Não a honrarei como filho sabio, mas como filho grato certamente. Pois nada mais procuro e nada mais quero, applicando-me os bens sabidos versos do nosso António Ferreira:

“Eu desta gloria só fico contente,

Que a minha terra amei, e a minha gente.” [ 6 ]

---//--- Ca p i t u l o p r i m e i r o