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4 DO CURSO NORMAL AO CURSO DE PEDAGOGIA; DO CURSO DE PEDAGOGIA AO CURSO NORMAL: REENCONTROS NA CONSOLIDAÇÃO DE UMA

4.2 Antigos propósitos, novas imersões

Em 2018, movido pela necessidade de estar nos espaços de debate políticos - que foi incutida em mim desde os quatro anos de atuação no Grêmio Estudantil, montei uma chapa e concorri para o Diretório Acadêmico Maria Tereza Scotton, do curso de Pedagogia do INFES A chapa foi eleita. Tomamos posse no mesmo ano em uma gestão que foi totalmente renovada.

No ano de 2019, iniciei minhas pesquisas e estudos sobre a história da formação docente no interior fluminense, com a finalidade de compreender a construção da identidade docente.

Com orientador definido, já havia traçado um plano de ação, já tendo, inclusive, feito contato com meu público de interesse para marcar as entrevistas, pois tinha a intensão pesquisar sobre a formação da identidade docente considerando os cursos Normais de São Fidélis e Santo Antônio de Pádua. Contudo, este processo foi impedido pela pandemia COVID-19. A impossibilidade de contato me estagnou. Perdi minhas perspectivas de trabalho: esfriei! Como falar de identidade, de formação docente, de diferentes lugares e vivências sem poder estar neles, visitá-los, conversar com seus sujeitos?

Um dia, compartilhando esta situação com um grupo de amigos pelo WhatsApp, uma grande e querida amiga, Luisa Elias me elucidou um olhar. Embora meu campo físico de pesquisa estivesse inalcançável, meu público de interesse não havia parado. As escolas que eu gostaria de ter contato não encerraram suas atividades: como nós, da universidade, elas mudaram suas lógicas de funcionamento, mas permaneciam funcionando remotamente. Se elas estavam realizando este movimento - disse aquela amiga - por que eu não poderia realizar também? Epifania!

Que arrogância a minha ignorar todos os processos de adaptabilidade das escolas, fechar os olhos para os movimentos criados neste locus! Conforme assevera Bragança (2001, p.112),

“São lugares e objetos que trazem marcos e que nos ajudam a evocar os acontecimentos que testemunharam: a rememoração do passado traz fatos marcados por um espaço e um tempo determinados”. E eu só precisava disso: rememorar, reviver, descrever, narrar e refletir sobre os olhares do passado e do presente, compreendendo dentro de mim mesmo a formação de minha identidade docente, revivendo, revisitando, compreendendo e trazendo para o real.

A partir desta conversa reorientei o meu olhar a perceber os mecanismos acionados pelas escolas que eu tinha contato virtual. São melhores, são piores que os presenciais? Não sei, e nem é o objetivo deste trabalho investigá-los. Mas que são em si, estratégias que merecem ser registradas, isso são!

Com o início do período remoto na UFF prestes a iniciar na segunda semana de setembro de 2020, houve necessidade de se rever a oferta da Disciplina Pesquisa e Prática de Ensino III, cujo estágio é realizado no Curso Normal, devido à realidade pandêmica, pois era necessário compreender como essa prática seria possível em um ambiente virtual. Assim, eu não pude realizar a disciplina. Contudo, o professor Fernando Paiva, meu orientador de TCC, que lecionaria aquela disciplina, modificou seu planejamento para oferecer em seu lugar a disciplina

“Escola Normal e disciplinas pedagógicas”. Foi então que o professor me convidou a ser seu monitor voluntário, a planejar com ele a disciplina e a antever o alcance que poderia ter.

Como o professor Fernando Paiva também havia criado em 2019 o projeto “Conversas com normalistas no interior fluminense”, com o objetivo principal de aproximar o Curso Normal em Nível Médio do curso de Pedagogia e as licenciaturas do INFES, com a finalidade de criar uma rede de colaboração entre esses dois espaços, ele pensou em realizar encontros virtuais com alguns colégios das regiões serrana e noroeste fluminense que ofereciam o curso Normal, já que as escolas rede estadual estavam funcionando com atividades virtuais remotas.

Para auxiliar no desenvolvimento tecnológico, visto que a disciplina seria oferecida virtualmente, o professor convidou o servidor técnico-administrativo Adriano dos Santos Campos, que colaborava com ele no projeto desde sua criação, em 2019. Assim, após algumas reuniões, decidimos que entraríamos em contato com alguns colégios procurando marcar as participações virtuais. A ideia inicial – que fora a que permaneceu – seria unir a turma da disciplina “Escola Normal e disciplinas pedagógicas” às turmas de terceiro ano do Curso Normal desses colégios previamente contactados.

Mas havia uma dificuldade: precisávamos testar o modelo. E como fazê-lo, visto que não tínhamos contatos suficientes com os colégios, e naquele momento, devido ao momento pandêmico não tínhamos condições de manter contato com a Coordenação Regional do Noroeste Fluminense, que fica em Itaperuna, e nem com a Coordenação do Curso Normal em Nível Médio da Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC)? Pois a nossa dificuldade foi a solução do meu impasse investigativo!

Aprendemos com Perrenoud (2001) que o processo de ensinar muitas vezes exige do professor agir na urgência e decidir na incerteza. E a construção de uma identidade docente e sua compreensão exige muitas vezes que suas origens sejam revisitadas, trazendo novas possibilidades de formação. Portanto, naquele momento era preciso agir sem muito tempo para pensar e pensar sem muito tempo para agir. Desta forma, sabendo de minha ligação histórica com o Colégio Estadual de São Fidélis, o professor Fernando sugeriu que eu entrasse em contato com a coordenação do Curso Normal, fazendo um convite para que pudéssemos realizar um

encontro com os alunos e os professores daquela Unidade, que serviria como modelo para as próximas atividades, visto que o projeto era realizado apenas com alunos de Cursos Normais das regiões serrana e noroeste fluminense, e o C.E. de São Fidélis se encontra na região Norte Fluminense. Esse encontro, como dissemos, seria um modelo para que pudéssemos testar a eficácia da atividade, visto que a turma da disciplina não participaria.

Assim como planejamos, o contato telefônico foi feito a coordenadora do Curso Normal, professora Thereza Solange Cesário, uma querida professora de minha época de estudante daquele curso, que acatou prontamente a ideia. Ao explicarmos a ela como a programação seria realizada, ela ficou ainda mais feliz, visto que atenderíamos também a uma demanda do Curso devido à dificuldade que os alunos estavam em cumprir o estágio na disciplina “Prática Pedagógicas e Iniciação à Pesquisa”, que era realizada às sextas-feiras.

Com tudo explicado e acertado, o professor Fernando Paiva, então, ligou para a coordenadora e também para a diretora da Unidade, professora Maria Helena Cruz Coelho, que não hesitou em aceitar o convite. Desta forma, por impossibilidade de realizarmos o encontro na sexta-feira, o mesmo foi marcado para o dia 17/09/2020, uma quinta-feira, das 8h às 10h, no horário da disciplina “Sociologia da Educação”, que ainda era ministrada pelo professor Fábio Alonso. Quantos reencontros! Quanta satisfação!

Figura 18 – Arte do Webinário

Figura 19 - Programação do Encontro “Conversas Com normalistas do CESF, em 17/09/2020

Naquele dia, em momentos conturbados de pandemia, mal poderia imaginar que eu que estaria sendo consolidado não somente um encontro entre dois lugares de formação docente, como também a certeza do meu encontro identitário com a formação de professores no Curso de Pedagogia.

A conversa entre os alunos da disciplina “Escola Normal e disciplinas pedagógicas”, alunos e professores das turmas 3001 e 3002 do Curso Normal do Colégio Estadual de São Fidélis ocorreu no dia e horário de forma magistral. O colégio enviou o link para a sala virtual pela plataforma Google Meet. Estiveram presentes 52 alunos do curso Normal, a coordenadora, a diretora do colégio e seis professores do curso Normal. Inicialmente, a diretora deu as boas-vindas, que foram agradecidas pelo prof. Fernando Paiva. Logo após, eu fiz uma apresentação sobre o INFES e os cursos oferecidos; sobre a formação continuada do professor nas licenciaturas e no curso de Pedagogia; e sobre as possibilidades de atuação do Pedagogo para além do espaço escolar. Por último, o servidor técnico-administrativo Adriano dos Santos Campos nos conduziu a uma viagem virtual nostálgica pelas dependências do Instituto.

Ao findarem as apresentações, os alunos de ambas as instituições, professores, coordenação e direção do CESF se integraram e os alunos do Curso Normal e professores fizeram várias perguntas, sobre a realidade na universidade, possibilidade de carreira no curso de Pedagogia e nas licenciaturas e também sobre a vida na universidade, sistema de bolsas, cotas e outras mais.

Sem dúvidas, para além da possibilidade de integração entre a universidade e o curso Normal, o momento mais emocionante foi vivido por mim, ao rever meus antigos professores e poder interagir com eles e os alunos de minha unidade de formação inicial, o Colégio Estadual de São Fidélis, que estavam ali. Para os alunos normalistas, foi uma oportunidade única que serviu de incentivo para que não desistissem da caminhada. Para os professores, foi a oportunidade de se certificarem de que seus esforços tinham valor. Falo isto devido às diversas mensagens que foram escritas no chat. E para mim, aquele momento representou, além do encontro com pessoas queridas, que consolidaram minha formação como educador, a certeza de que também estava e estarei selando a minha identidade de professor, ao reviver minha história e trajetória naquele singular encontro feliz de tantos significados.

A atividade planejada para a disciplina seguiu o seu curso. O reencontro com os professores do C.E. de São Fidélis ainda nos proporcionaram contatos com professores e alunos de cursos normais de outras unidades das regiões serrana e noroeste fluminense. A cada encontro realizado conseguíamos novos contatos, e assim fomos criando uma rede de relacionamento muito profícua.

Realizamos, além do primeiro encontro, outros cinco encontros virtuais, todos às sextas-feiras, no horário das 14h às 16h, que era o horário de nossa disciplina. Foram realizados encontros com dois colégios estaduais da região serrana (C.E. Casimiro de Abreu, localizado no município de Casimiro de Abreu; e C.E. Maria Zulmira Torres, localizado no município de Cantagalo) e três com colégios estaduais na região noroeste fluminense (C.E. Miguel Couto, localizado no município de Varre-Sai; Instituto de Educação Eliana Duarte da Silva Breijão, localizado no município de Porciúncula; e C.E. Frei Tomás, no município de Itaocara).

Para além da compreensão sobre as diferenças regionais e peculiaridades de formação existentes em cada município no tocante à formação de professores, a importância da escuta nesses encontros se mostrou presente pela compreensão de que os sujeitos atuantes da história não são alheios a ela, e sim os responsáveis pela mesma. Ao escutar as falas escritas e audíveis dos alunos e professores do Curso Normal em diferentes instituições e regiões, pudemos compreender que nossas histórias de vida e identidades são construídas nas relações que são humanizadas e estabelecidas em diferentes momentos, sejam eles físicos ou virtuais.