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4 DO CURSO NORMAL AO CURSO DE PEDAGOGIA; DO CURSO DE PEDAGOGIA AO CURSO NORMAL: REENCONTROS NA CONSOLIDAÇÃO DE UMA

4.1 Novos lugares, novas experiências: a trajetória no INFES/UFF

do Estado do Rio de Janeiro (CEDERJ)11 para o curso de Pedagogia, uma vez que em São Fidélis funcionava um polo. Fui aprovado, no vestibular do CEDERJ, pela UENF, e logo iniciei meus estudos em fevereiro de 2017.

Na segunda semana de março, recebi um e-mail da Pró-Reitoria de Graduação da UFF com a confirmação de que havia sido selecionado para cursar Pedagogia no INFES e que deveria comparecer na data para realização da matrícula presencial. Eu mal podia acreditar! Em poucos dias levantei o máximo de informações possíveis sobre a cidade, sobre a qualidade do curso. Lá fui eu, “sem lenço e sem documento”!

4.1 Novos lugares, novas experiências: a trajetória no INFES/UFF

No dia 19 de março de 2017 efetuei minha matrícula na secretaria do Instituto. Também fechei um contrato de aluguel em uma república. A aprovação no CEDERJ havia me deixado feliz. Contudo, eu não podia acreditar que estaria realizando o sonho de ingressar em um curso presencial de universidade pública, mais ainda por ser relativamente perto de casa. Esse sentimento de felicidade se intensificou por compreender que historicamente mantenho vínculos com este modelo de ensino.

Logo no primeiro período participei de todas as atividades disponíveis (cursos de extensão, palestras, eventos culturais). Não demorou muito para que eu viesse a perceber que as experiências vividas no Curso Normal me trariam grandes oportunidades e vivências naquele novo lugar, mantendo minha identidade docente em construção.

Entretanto, nem tudo são rosas, pois não demorou muito para as dificuldades financeiras aparecerem. A vida acadêmica trouxe realidades e oportunidades que para um jovem de 19 anos seriam novas e desafiadoras. Contudo, segui em frente, pois a vida e as oportunidades de um estudante do interior requerem determinação e coragem, pois as oportunidades não são as mesmas que os grandes centros proporcionam. Sabia que não poderia contar com moradia estudantil, restaurante popular, que eram estruturas que o INFES ainda não dispunha. A vontade de seguir em frente e de alcançar meus objetivos me fez lutar para me manter na universidade,

11 O Consórcio CEDERJ reúne as universidades e instituições de ensino superior (IES) públicas, com o objetivo de proporcionar educação superior público, gratuita e de qualidade para todo o Estado do Rio de Janeiro, por meio de cursos na modalidade EAD (Educação a Distância). Disponível em: https://www.cecierj.edu.br/consorcio-cederj/.Acesso em 28 de março de 2021.

tendo consciente da conquista que tive e do papel que poderia desenvolver naquele espaço acadêmico. E assim foi.

As coisas pareciam melhorar. Iniciei o segundo período conquistando uma bolsa de extensão, focando cada vez mais o meu olhar na Escola Normal como possível campo de desenvolvimento de pesquisa. Digo “desenvolver”, porque mesmo havendo uma disciplina de Pesquisa e Prática de Ensino (PPE III, já citada anteriormente) que foca especificamente o curso Normal como campo de estágio, o espaço para debate sobre a Escola Normal ainda é muito escasso. Este fenômeno explica, de certa forma, porque muitos Pedagogos e futuros Pedagogos, principalmente os que não vieram deste modelo educacional, manifestam uma opinião enviesada sobre ele, sustentando alguns discursos prontos no meio acadêmico de que a Escola Normal é uma instituição ultrapassada, pelo fato de não a conhecerem em profundidade. Desta forma, demonstram desconhecer a realidade atual do Curso Normal, mesmo após a reformulação constante no Art. 62 da LDB nº. 9.394/96 ainda o manterem como formação mínima necessária para atuação nas áreas do magistério.

Afirmo que os que fazem tais críticas são educadores e futuros educadores que não tiveram contato com ela especificamente, pois a turma de Pedagogia ainda permanece composta majoritariamente por estudantes Normalistas. Nela é possível identificar aqueles que são provenientes do Curso Normal em Nível Médio dos demais, por meio diferentes elementos que constituem esta formação, como por exemplo a condição de dialogar sobre educação, o conhecimento prévio dos conteúdos trabalhados nos primeiros períodos e a desenvoltura ao se comunicar, que são traços nítidos de professores em formação continuada. E mesmo que não quiséssemos, eles transpareceriam em diversos momentos e atividades disciplinares. É impossível negá-los ou escondê-los. Mesmo assim, eu só pude conversar e pesquisar mais profundamente sobre o campo da formação de professores no Curso Normal, quando no 5º Período me inseri no Programa de Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), coordenado pelo Professor Dr. Diego Chabalgoity.

A universidade pública se sustenta em um tríplice pilar: Ensino, Pesquisa e Extensão.

Ao adentrar o solo federal, passei aos poucos a compreender o significado e importância da extensão para a universidade, notadamente para a UFF, que se configura como o braço importante para alcançar diretamente a sociedade em que ela está inserida. Extensão é a compreensão que a universidade tem, neste tripé de responsabilidades, a missão de trabalhar para a comunidade a qual ela pertence.

Neste sentido, a reflexão de que meu papel, enquanto educador em formação é melhorar a qualidade do ensino público para a sociedade possibilitou, desde o Ensino Fundamental, na

continuidade desta caminhada até o Ensino Médio e à universidade. Essa trajetória de formação – e formação docente, que foi financiada por meio de impostos cobrados de milhares de pessoas - muitas que nunca puderam frequentar os bancos escolares e talvez jamais tenham acesso a uma universidade pública-, nutriu meus pensamentos e me cingiu de coragem até à universidade.

Ao fincar os pés no PIBID, por lá fiquei por18 meses sob a orientação do Prof. O Dr.

Diego Chabalgoity, me inserindo na realidade do curso Normal no Colégio Estadual Ruy Guimarães de Almeida, localizado no centro de Santo Antônio de Pádua, em intensa interação com professores e alunos normalistas, em diversas atividades naquele colégio e no INFES.

Imerso naquele universo escolar, pude perceber as diferenças culturais entre o currículo que era trabalhado e vivenciado naquele município e as vivências proporcionadas por minha formação no Colégio Estadual de São Fidélis. Embora municípios próximos e que guardam semelhanças estruturais de uma rede escolar, o olhar atento me fez identificar as diferenças entre o currículo oferecido e aquele que é praticado.

Mesmo em um estado da federação não tão extenso territorialmente, como o Rio de Janeiro, e entre distâncias municipais tão pequenas, as influências regionais são nítidas em nosso interior fluminense, que mescladas às experiências de vida, proporcionam à formação da identidade docente diversos matizes. Isto prova que tal identidade, enquanto experiência singular, também é marcada por diferenças entre lugares - físicos e sociais, conforme sugere Bourdieu (2008), e não somente por fatores individuais e coletivos em um mesmo espaço. Na verdade, já naquela época eu tinha desconfianças desta leitura. Mas tornando a frisar, como aprendi em minha formação que pesquisador não pode anteceder as respostas antes mesmo de adentrar ao campo de pesquisa, tive que percorrer os caminhos da pesquisa, que me levaram mais adiante.

Com tantas questões e uma curiosidade extrema, defini meu tema de pesquisa: haveria de pesquisar sobre o curso Normal. Entretanto, qual seria o recorte? Foi então, que ao pensar sobre a minha trajetória de formação docente e a relação com minha identidade docente, entendi que deveria estudar os elementos identitários da formação docente no curso de formação de professores em Nível Médio na modalidade Normal no interior fluminense. Isto porque ao entrecruzar minhas experiências com a participação no PIBID, percebi o quanto o curso Normal ainda é importante para os municípios do interior fluminense.