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Capítulo II – O grito dos excluídos: literatura de testemunho, trajetórias e

2.2. Presos políticos

2.2.4. Antonio Maciel Bonfim

Antonio Maciel Bonfim nasceu em fevereiro de 1905, na Bahia, filho de camponeses. Segundo o Dicionário Histórico-Biográfico, Bonfim foi militante da Liga de Ação Revolucionária (LAR) na Bahia. Essa liga foi fundada por Prestes quando esteve em Buenos Aires, em maio de 1930, mas durou apenas até a Revolução de 1930.212

No início de 1932, ele foi preso na Bahia e condenado à deportação no Uruguai, porém conseguiu fugir enquanto estava no Paraná, a caminho da deportação. Do Paraná enviou uma carta para o Comitê Central (CC) do PCB explicando ser um membro do LAR que havia fugido e pedindo filiação ao partido. Desconfiados do fato da organização já ter sido extinta e de ninguém conhecer a pessoa, o CC decidiu arquivar o pedido.213 Segundo conta Leôncio Basbaum em suas memórias, a carta parecia muito suspeita para eles darem algum crédito.214

Ainda em 1932, Bonfim foi preso e em novembro encaminhado à Ilha Grande, quando conheceu Leôncio Basbaum pessoalmente. Por causa da carta e das atitudes de Bonfim, ele foi “congelado” por alguns dias, por suspeita de ser agente da polícia. Depois, por ser “bom de papo”, ele foi admitido como convivente, mas não participava das reuniões do coletivo. Quando chegou, foi encaminhado para a olaria, justamente de onde iria sair um grupo de fugitivos do qual Basbaum fazia parte. Como ele ainda era visto com desconfiança, o plano de fuga foi interrompido. Em seu livro, Basbaum lamenta o fato deles215 terem fugido sem chamá-lo. Anos depois, Bonfim disse a Basbaum que surgiu uma oportunidade e que eles deveriam fugir logo, que não tinham tempo para chamar outros presos.216

Em 1933, Antonio Maciel Bonfim se filiou ao partido comunista, e foi para um curso de formação administrada pelo Bureau Sul-Americano da Internacional Comunista com Lauro Reginaldo da Costa. Nesta passagem pelo Uruguai, Bonfim procurou Prestes para elogiar seu manifesto publicado no mesmo ano.217 Pouco depois, Lauro Reginaldo da Costa foi indicado para ser secretário do partido, mas por motivos

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Como era necessário na época da clandestinidade, Bonfim tinha vários apelidos, como Américo de Carvalho, Andrade, Fernandes, Queiróz, Tavares e, o mais conhecido deles, Miranda.

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Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. 213

Idem. 214

BASBAUM, op. cit,, p.138 215

A saber; Antonio Maciel Bonfim, Desidério e Caetano Machado. Fugiram com a ajuda de soldados, que entregaram roupas novas, dinheiro, e disseram o melhor caminho de fuga. LIMA, op. cit,, p.169. 216

BASBAUM, op. cit,,139; Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. 217

de doença ele não pôde aceitar o cargo, que foi entregue a Bonfim.218

Em 1934, Bonfim foi para Moscou como chefe da delegação do PCB no que acabou sendo a III Conferência dos Partidos Comunistas da América Meridional e do Caribe. Lá ele fez grande exaltação à militância comunista no país, afirmando que o Brasil se encontrava no momento ideal para um movimento revolucionário e convencendo a conferência de que o PCB deveria começar a preparar o movimento armado.219

Depois da insurreição de 1935, em 1936, Antonio e sua companheira Elvira Capelo Coloni, conhecida como Elza Fernandes ou Garota, foram presos, no Rio de Janeiro. Como eles foram presos com vários documentos do secretariado do partido, a polícia manteve-os presos e sob tortura para que denunciassem os companheiros.220 Segundo Bonfim, ele foi violentado por quatro dias seguidos, era obrigado a ficar em pé o tempo todo, comia a cada 24 horas, ficou em um cômodo em que tinha que ficar sempre em movimento, parando apenas para ser espancado, perdeu um dos rins por causa das torturas, levou choques e foi “executado” com balas de festim diversas vezes.221

Sua companheira, Elza, foi acusada pelo partido de ter denunciado vários militantes, inclusive Rodolfo Ghioldi, e por isso, foi assassinada a mando dos comunistas. Bonfim afirmou em uma carta para o irmão de Elza que ela não entregou Rodolfo Ghioldi à polícia, como estava sendo divulgado pelos jornais.222

Por causa da participação no levante, em 1937, Bonfim foi condenado pelo Supremo Tribunal Militar a quatro anos e quatro meses de prisão.223 Em 1938 ele foi transferido para o presídio de Fernando de Noronha, onde conviveu com Gregório Bezerra, segundo consta em suas memórias. Gregório lembrava a decepção que foi a convivência com Bonfim naquela época. Gregório admirava Antonio por já ter sido o maior nome da hierarquia partidária brasileira e por escrever ótimos artigos no jornal A Classe Operária, por isso via nele uma pessoa que podia ajudá-lo a aprender mais sobre marxismo. Porém, Bonfim acreditava que a prática era o importante e que muitos marxistas não praticavam nada, embora teorizassem. Ainda segundo Bezerra, a maior preocupação de Antonio na prisão era fazer intrigas entres os militantes presos e, até

218

Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. 219

Idem. 220

Idem. 221

ROSE, op. cit,, p.101. 222

Ibidem, p.102. 223

conseguiu apoio de alguns companheiros, gerando uma divisão no coletivo.224

Em 1940, Antonio Maciel Bonfim foi transferido para o Rio de Janeiro por causa do problema nos rins, por isso, ele não voltou à Ilha Grande no momento da transferência da colônia de Fernando de Noronha. Foi solto em 1945, com a anistia e voltou para a Bahia para morar com os parentes. Lá, chegou a formar um sindicato católico, sem ligação com o partido, mas morreu um pouco depois, ainda na década de 1940, em consequência dos maus tratos que recebeu na prisão.225