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4 AS ORGANIZAÇÕES ESTUDADAS

4.3 APAE DE PASSO FUNDO

a) Dimensão histórica

A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) é resultado da iniciativa de uma pessoa em favor da inclusão social, o qual constituiu-se num movimento destacado em nível nacional pelo pioneirismo. Em 1954, no Rio de Janeiro, motivado por Beatrice Bemis, mãe de uma criança portadora de Síndrome de Down, recém-chegada ao Brasil dos Estados Unidos da América, a qual surpreendeu-se por não haver no país movimento que contemplasse tais organizações com cunho de inserção dos especiais na sociedade (APAE BRASIL, 2015; FENAPAES, 2015).

Beatrice Bemis motivou um grande grupo de pais, amigos, professores e médicos de excepcionais, e assim fundou a primeira APAE no Brasil. A entidade, com prédio e sede provisórios, constituiu duas classes especiais com vinte alunos, porém a escola cresceu e seus alunos também. Estes tornaram-se adolescentes e geraram necessidade de realizar atividades complementares que promovessem o desenvolvimento da criatividade e de capacidades profissionais (APAE BRASIL, 2015; FENAPAES, 2015).

Desta maneira, surgiu por iniciativa da professora Olivia Pereira a primeira oficina de carpintaria para deficientes no Brasil. Ao final de 1962, já haviam doze APAEs no estado de São Paulo, e outras quatro espalhadas pelo país. No Rio Grande do Sul a primeira APAE foi fundada na cidade de São Leopoldo em 1961, segundo dados da FENAPAES (2015) as três primeiras APAEs fundadas no Brasil estão representadas na Tabela 2 (APAE BRASIL, 2015; FENAPAES, 2015).

Tabela 2 – As três APAEs pioneiras no Brasil.

Ano de Fundação Cidade Estado

1954 Rio de Janeiro RJ

1955 Brusque SC

1956 Volta Redonda RJ

Fonte: Adaptado de FENAPAES, 2015.

Em 1962, pela primeira vez houve um encontro nacional para discutir as questões relativas às pessoas portadoras de deficiência (OLIVEIRA, 2012). Reuniram-se médicos, familiares de deficientes, técnicos da área da saúde, deficientes para discutirem a necessidade de criação de um órgão/organismo com representatividade nacional. A ideia inicial foi criar um Conselho e após a Federação de APAEs, prevalecendo a última ideia, com sede em Brasília (DF). A Federação é uma organização civil caracterizada por ser filantrópica de caráter cultural, assistencial e educacional, congrega filiadas APAEs e outras entidades semelhantes. Sua missão é promover e articular ações que defendam os direitos das pessoas com deficiências e necessidades especiais, também como representar o movimento apaeano perante órgãos nacionais e internacionais, com perspectivas de inclusão social de seus usuários (OLIVEIRA, 2012; APAE BRASIL, 2015; FENAPAES, 2015).

As APAEs representam o maior movimento filantrópico do país e do mundo na área de atuação, constituídas por pais e amigos de alunos com necessidades especiais, voluntários e funcionários especializados (APAE BRASIL, 2015; FENAPAES, 2015). Segundo dados do Censo IBGE 2010, no Brasil há 23,9% da população nacional com necessidades especiais, totalizando mais de 45 milhões de pessoas, sendo 26,5% são do gênero feminino. Os portadores de necessidades especiais são categorizados por tipo de deficiência, sendo 18,6% portadores de deficiências visuais, 7,0% são deficientes motores, 5,1% são deficientes auditivos e 1,4% são portadores de deficiência mental e/ou intelectual (OLIVEIRA, 2012).

Com essa perspectiva, de congregação de voluntários em torno de “especiais”, é que foi construindo o símbolo das APAEs. Conforme mostra a Figura 16, o símbolo destas organizações é o desenho de uma flor (“o especial”) ladeada por duas mãos desniveladas, uma mão em posição de amparo e a outra mão representando a proteção.

Figura 16 – Símbolo das APAEs.

Fonte: APAE Brasil (2015).

No contexto local, atua a APAE de Passo Fundo, uma instituição civil, filantrópica, de caráter assistencial, educacional, cultural, de saúde, de estudo e pesquisa e desportivo, sem fins lucrativos. Com os mesmos propósitos da APAE Brasil, a APAE de Passo Fundo atua para a inclusão social da pessoa com deficiência, realizando diversas atividades que envolvem os alunos da educação infantil, educação de jovens e adultos e grupos de convivência. Nestas atividades também estão envolvidos os membros dos clubes de Rotary, os quais geralmente ocupam os cargos de presidente e de conselheiros, e os membros da sociedade em geral, os quais atuam como voluntários nos eventos realizados para arrecadar recursos financeiros.

A APAE Passo Fundo foi idealizada por Alice Sana Costi, uma mulher ativa e empreendedora, casada com um empresário igualmente empreendedor, sempre preocupada com o bem-estar da comunidade local. A primeira reunião, de constituição da organização social, foi realizada em 1967, nos salões de festas do Clube Comercial, momento em que Alice reuniu um grupo de “senhoras da sociedade” com a finalidade de fundar uma “escola para crianças excepcionais” filiada à APAE Brasil (Relato APF02). Naquela oportunidade, foi fundamental a capacidade de liderança de Alice, bem como sua influência na sociedade local, para arrecadação de recursos necessários para viabilizar o projeto.

Sob a liderança de Alice, a APAE Passo Fundo consolidou-se como referência para as demais APAES do Rio Grande do Sul. As diretrizes estratégicas eram: (a) instalar uma escola de educação especial e centro técnico especializado para tratamento de estimulação; (b) reabilitar as pessoas com deficiência. Para tanto, o trabalho de inclusão social foi intenso desde o início, com ações diversificadas, como: (a) instalando a escola “O Sorriso de Amanhã”, nas dependências da APAE Passo Fundo; (b) editando a revista O Cuidador; (c)

realizando desfile de carnaval nas ruas de Passo Fundo. Tais ações foram fundamentais para efetivamente incluir e desmistificar a imagem negativa da pessoa com deficiência na sociedade.

Em 2015, com uma equipe multiprofissional nas áreas da psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia, psicopedagogia, pedagogia e serviço social, a APAE Passo Fundo atende mais de 300 pessoas com deficiências (intelectual e/ou múltiplas), cujas políticas de atendimento são nas áreas de educação, saúde e assistência social. E, os objetivos organizacionais são favorecer e qualificar os serviços ofertados, garantindo o direito das pessoas com deficiência.

b) Dimensão Estrutural

A APAE Passo Fundo está instalada numa área de 6.232 m2 construída onde se concentram as instalações da mantenedora e uma unidade de atendimento (UA), com escola e centro de saúde (APF02). Nesse espaço físico atuam 70 funcionários e 17 voluntários, os quais são profissionais de diferentes áreas do conhecimento (professores universitários, servidores públicos federais, empresários, outros) e que integram a diretoria atual.

Os setores estão divididos em recepção, salas para atendimentos socioassistenciais, administrativos, telemarketing, sala de oficinas, salas de aula, sala de recursos didáticos pedagógicos, sala dos coordenadores, consultório médico e odontológico, sala de atendimentos grupais (Psicologia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional, Fisioterapia), conjunto de sanitários adaptados, secretaria geral, refeitório, cozinha, sala de materiais, área de serviço, depósito para armazenagem de alimentos, lavanderia, dois parques infantis, uma quadra poliesportiva coberta, uma sala de atividades culturais e dança, uma sala de informática, uma piscina aquecida para atividades de hidroterapia e outra em área aberta para atividade de lazer e recreação (APAE DE PASSO FUNDO, 2014).

Com vistas a ter uma gestão, a estrutura organizacional, no nível estratégico, é formada por voluntários da sociedade civil e está assim constituída:

 Um presidente;

 Um Vice-Presidente;

 Quatro Diretores (Diretor Secretário, Diretor Financeiro, Diretor de Patrimônio e Diretor Social);

 Conselho Fiscal, formado por três conselheiros efetivos e três suplentes;

Como se observa na Figura 17, a estrutura física atual da APAE Passo Fundo é considerada pelos seus membros como adequada às necessidades atuais, pois possibilita o desenvolvimento de todas as atividades definidas, como constam nos demonstrativos contábeis apresentados no Relatório de Atividades da APAE de Passo Fundo (2014), incluindo a manutenção predial. O Centro de Aprendizagem Rural (CAR), no entanto, funciona em um local cedido por voluntários, no qual são desenvolvidas as atividades de equoterapia.

Figura 17 – Estrutura operacional da APAE Passo Fundo

A APAE Passo Fundo conta com as campanhas e verbas governamentais para manter os funcionários, o patrimônio e sua manutenção, realizam brechós, eventos gastronômicos entre outros. Com 320 alunos usuários participantes, a organização oportuniza atividades que promovem a socialização, integração e melhoria da qualidade de vida. As famílias recebem fortalecimento e apoio, no sentido de assegurar os direitos à cidadania.