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Aparelhos que impulsionam novidades

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CAPÍTULO II – AS NOVAS MÍDIAS SÃO DIGITAIS, INTERATIVAS E MÓVEIS

1.3. Aparelhos que impulsionam novidades

No ambiente da convergência tecnológica, os celulares são considerados suportes que contemplam a essência da hipermídia e da mobilidade. Dos simples aparelhos de comunicação interpessoal às modernas plataformas de transmissão de conteúdos, os telefones

podem ser considerados um reflexo do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação.

O primeiro aparelho de telefone brasileiro foi instalado em 1877 na cidade do Rio de Janeiro2. De lá para cá o setor mudou radicalmente, impulsionado pelo surgimento da comunicação por satélite, da fibra ótica e da telefonia móvel.

A primeira cidade brasileira a ter um telefone celular em uso foi o Rio de Janeiro, em 1990. Três anos depois, em 1993, foi inaugurada a telefonia móvel celular em São Paulo, considerado o último dos grandes mercados do mundo a aderir a esta tecnologia3.

A primeira geração de aparelhos celulares utilizava sinal analógico4, tinha modelos que pesavam de três a dez quilos, que consumiam muita bateria, e apresentava baixa qualidade de voz. Apesar dessas características que desabonavam o produto, a população demonstrou grande interesse pelos aparelhos, o que estimulou os fabricantes a produzir exemplares menores e com maior qualidade tecnológica.

Em 1998 foram ativados, na cidade de São Paulo, os primeiros celulares digitais, considerados a segunda geração de aparelhos5. Neste momento, o país começou a utilizar a tecnologia GSM (Global System for Mobile Communication). Um dos sistemas mais utilizados em todo o mundo e que garante maior segurança para o usuário, já que o aparelho só é liberado para o uso após o reconhecimento de senha.

A terceira geração de celulares brasileiros aparece em 2007 quando a Anatel, agência reguladora do setor, realizou um leilão para o uso das frequências de telefonia celular 3G no Brasil. Esta nova tecnologia permitia o inédito acesso à banda larga móvel, transformando o celular em um aparelho multimídia capaz de transmitir dados.

Atualmente, a tecnologia 4G está em desenvolvimento, implantada em fase de testes em países asiáticos. O grande diferencial dessa nova geração é o aumento da capacidade e velocidade na transmissão de dados, algo extremamente importante já que dados mercadológicos apontam para uma limitação da atual banda, o que não condiz com as expectativas e usos dos consumidores.

2 Informação obtida no site da Fundação Telefônica. Disponível em:

<http://www.fundacaotelefonica.org.br/Museu/Linha-do-tempo.aspx>. Acesso em 10 dez 2009.

3 Idem 2

4 No sistema analógico os dados são enviados da mesma maneira que as palavras foram faladas. Já no sistema

digital, a voz é convertida em uma série de números ou dígitos (chamados de combinação binária). Nos dois sistemas a voz é enviada por ondas de rádio, mas o sistema analógico é muito mais suscetível a ruídos e interferências.

A transmissão de dados em mídias móveis acontece por meio de tecnologias wireless, ou redes sem fio. Por exemplo, para acessar e-mails via celular é preciso que uma rede sem fio esteja disponível. No Brasil existem três modelos de rede wireless como explica Lucena (2009, p. 55-56).

A rede WLAN (Wireless Local Área Network ou rede sem fio local) é uma rede que utiliza ondas de rádio ou infravermelho para realizar a conexão de Internet. Foi a primeira tecnologia deste tipo a ser utilizada no país para acesso à Internet via notebooks. Wi-Fi (Wireless Fidelity ou fidelidade sem fios) é uma tecnologia que utiliza um protocolo definido pelo IEEE (Institute of Eletrical and Eletronics Engineers) que utiliza faixas específicas de frequência para a transmissão de dados. Para que um dispositivo tenha acesso à rede Wi-Fi é preciso que um ponto de acesso esteja instalado em sua proximidade e que o celular, ou notebook, esteja habilitado para se conectar em redes sem fio. No mundo todo, inclusive no Brasil, é crescente o número de locais públicos com acesso à rede Wi-Fi. Já a rede Wi-Max (Worldwide Interoperability for Microwave Acess ou Interoperabilidade Mundial para Acesso em Micro-ondas) é uma versão aprimorada da rede Wi-Fi, pois possui um maior alcance, cerca de 50 km, e tem como objetivo atender regiões metropolitanas. Algumas cidades brasileiras testam essa tecnologia, oferecendo acesso à Internet para toda população (LUCENA, 2009, p. 55-56).

Outra forma de acessar a Internet e realizar a transmissão de dados por celulares é utilizar os pacotes de serviços oferecidos pelas operadoras de telefonia móvel. Neste tipo de serviço, as operadoras oferecem pacotes de dados com taxas de frequência e preços pre- determinados.

O Brasil possui, atualmente, seis operadoras de telefonia móvel6: Vivo, Claro, Tim, Oi, CTBC e Sercomtel. A Claro é a operadora que possui maior participação no mercado (39,83%), seguida pela Vivo (32,10%), Tim (22,26%), Oi (5,47%), CTBC (0,33%) e Sercomtel (controlada pela Prefeitura Londrina Copel, com 0,02%). A tecnologia GSM é predominante no Brasil e somente a Vivo tem o CDMA como tecnologia principal, contando com uma rede GSM adicional. Cada uma dessas operadoras oferece um tipo de pacote de dados e cabe ao usuário escolher a melhor opção em relação à banda e ao preço.

A popularidade dos aparelhos celulares entre os brasileiros pode ser observada em dados divulgados pela Anatel7. Em novembro de 2010, o Brasil possuía 197,5 milhões de celulares, o que corresponde a 101,96 celulares a cada 100 habitantes. Vale destacar que cidades como Salvador, Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Florianópolis, Campos, Goiânia, Cuiabá, Rio de Janeiro, Campo Grande, Curitiba e São José dos Campos possuem mais de um aparelho por habitante.

O desenvolvimento da indústria de aparelhos celulares pode ser considerado uma amostra do interesse dos consumidores em adquirir novidades tecnológicas. Esse universo com tendência de crescimento desperta nos consumidores (por meio de ações publicitárias) o interesse em explorar as múltiplas funções de cada modelo. Câmera fotográfica com boa resolução, acesso à Internet, possibilidade de transmissão de texto, vídeos e fotos e acesso facilitado às redes sociais, como Orkut e Facebook, são alguns dos atrativos que os aparelhos oferecem e que encantam os consumidores.

No ambiente de celulares multifuncionais os smartphones despontam como os de maior interesse. Bittencourt (2009, p. 1), elucida os diferenciais desse tipo de aparelho:

Os smartphones, ou telefones inteligentes podem efetuar ainda, mais funções do que outros telefones móveis, como ter disponível um GPS, ou um editor de documentos, fazer filmes e enviá-los ao vivo diretamente para alguém, fazer uma vídeo chamada ou monitorar a casa quando a pessoa está ausente. (BITTENCOURT, 2009, p. 1).

Todas essas funções podem ser consideradas os motivos para o crescimento das vendas desse tipo de celular. Segundo o site Teleco8, só no terceiro trimestre de 2010 foram vendidos 81,10 milhões de smartphones no mundo; de acordo com os analistas, a demanda por aparelhos móveis convergentes continua em crescimento e as empresas que lideram o setor são a Nokia, a RIM e a Apple.

Lemos (2007b, p. 25) avalia as múltiplas funções apresentadas pelos atuais aparelhos de celular e considera-os como dispositivos capazes de realizar diferentes tarefas, chamando-os de Dispositivos Híbridos Móveis de Conexão Multirredes:

A denominação de DHMCM permite defini-lo melhor e com mais precisão. O que chamamos de telefone celular é um Dispositivo (um artefato, uma tecnologia de comunicação); Híbrido, já que congrega funções de telefone, computador, máquina fotográfica, câmera de vídeo, processador de texto,

7 Informações disponíveis em: <http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do> Acesso em: 21

dez.2010.

GPS, entre outras; Móvel, isto é, portátil e conectado em mobilidade funcionando por redes sem fio digitais, ou seja, de Conexão; e Multirredes, já que pode empregar diversas redes, como: Bluetooth e infravermelho, para conexões de curto alcance entre outros dispositivos; celular, para as diversas possibilidades de troca de informações; Internet (Wi-Fi ou Wi-Max) e redes de satélites para uso como dispositivo GPS. (LEMOS, 2007b, p. 25).

As mudanças comportamentais que esses aparelhos provocam na sociedade são intensas. Há poucos anos o objetivo das pessoas em ter um celular era poder fazer e receber ligações em qualquer local, hoje os interesses no uso dos aparelhos aumentaram bastante. Pesquisa do CGI.br9,em 2009, descreve a forma como a população brasileira, de área urbana, utiliza o celular: 99% das pessoas utilizam para falar, 59% para enviar ou receber mensagens de texto, 25% para enviar ou receber fotos ou imagens, 25% acessam músicas ou vídeos, 6% acessam a Internet e 4% realizam outras atividades (como jogos).

O principal público que explora todas as potencialidades dos celulares são os jovens e as crianças. Pesquisa realizada pela Universidade de Navarra, na Espanha, em parceria com a Fundação Telefônica, por meio da ONG EducaRede10, chamada “A Geração Interativa na Ibero-América – crianças e adolescentes diante das telas” avalia que:

O celular é a telinha com o maior índice de aceitação e utilização pela Geração Interativa ibero-americana. Junto com a televisão, é a tecnologia mais difundida entre as crianças e jovens, sendo considerado um elemento básico de identidade para eles. O celular é muito mais do que um aparelho para fazer ligações, recebê-las ou enviar mensagens. A Geração Interativa caracteriza-se pelo uso multifuncional do celular, com um claro predomínio do aspecto lúdico neste sentido. (A GERAÇÃO INTERATIVA NA IBERO-AMÉRICA, 2009, p. 109).

A pesquisa aponta que o Brasil é o terceiro país mais precoce na posse de telefone celular entre crianças de 6 a 9 anos, sendo que 50% delas já possui um aparelho próprio. Nessa mesma faixa etária, a pesquisa apontou que, de maneira geral, o principal uso do celular é para jogar, seguido de falar e enviar SMS. (A GERAÇÃO INTERATIVA NA IBERO- AMÉRICA, 2009, p. 113).

O estudo afirma, ainda, que:

À medida que a Geração Interativa cresce, as possibilidades de dar uso multifuncional ao celular também aumentam. Ou seja, a telinha adquire uma nova utilidade e se transforma em algo mais do que um telefone em cinco aspectos básicos: • Comunicação. É a função principal, já que 80% afirmam utilizá-lo para ligar ou receber ligações; 77% costumam enviar

9 Informações disponíveis em: <http://www.cetic.br/usuarios/tic/2009/index.htm> Acesso em: 15 abr.2010. 10 Disponível em < http://www.educarede.info/biblioteca/LivroGGII_Port.pdf>. Acesso em: 28 nov.2009.

mensagens de texto e 14% participam de chat através do celular. •Conteúdos. [...] A metade dos jovens, independentemente do gênero, utiliza-o para ouvir música. Também é útil para ver fotos e vídeos em 47% dos casos [...] • Lazer. Dando continuidade a uma atividade iniciada desde que eram pequenos, 52% continuam utilizando o celular para jogar. [...] •Criação. A constante inovação tecnológica permite dotar os celulares de um maior número de acessórios. Entre todas as novidades, a mais usada pela Geração Interativa é a possibilidade de fazer fotos (50%) ou gravar vídeos (45%). [...] • Organização. O celular serve como relógio para mais da metade das crianças. 46% vão um pouco mais além e afirmam que utilizam o celular como agenda eletrônica [...]. (A GERAÇÃO INTERATIVA NA IBERO-AMÉRICA, 2009, p. 111-115).

Apesar do grande destaque que o público jovem ocupa no segmento de comunicação móvel, eles não são considerados os únicos consumidores. Pessoas de diferentes faixas etárias e de diferentes ocupações, variando entre empresários, executivos e donas de casa, também exploram as possibilidades de comunicação oferecida pelos celulares, como explicam Román, Gonzalez-Mesones e Marinas (2007, p. 26):

O público para esse tipo de conteúdo é mais amplo do que se possa imaginar e não se trata só de jovens, pois estende-se até 35 anos de idade, e, em alguns casos, públicos mais velhos ainda, grupo que aumenta à medida que passam os anos. Em razão de sua natureza, os serviços móveis de valor agregado tendem a perpetuar-se, já que a probabilidade de que o usuário acabe se acostumando a utilizá-los é grande. É este mesmo hábito que prevalece no mundo do mobile marketing, motivo pelo qual em alguns casos fica difícil de separar o mundo dos conteúdos móveis de projetos de

marketing no celular. (ROMÁN, GONZALEZ-MESONES E MARINAS,

2007, p. 26).

No mundo todo, a popularidade dos celulares é muito grande e os dados sobre a presença dos pequenos aparelhos na sociedade são bastante significativos. A Associação Internacional da Indústria de Telecomunicações Sem Fio11 previu que até o final de 2009 deveriam existir 4,9 bilhões de assinantes de serviços móveis no mundo e que dos atuais 4,1 bilhões de aparelhos, 600 milhões estariam na China e 300 milhões na Índia. Na Coreia do Sul e no Japão 85% das pessoas possuem dispositivos 3G e mais de 25% utilizam conteúdos e serviços móveis com frequência. Para se ter uma ideia do que esses números representam para os produtores de conteúdo, cinco dos dez livros best-sellers japoneses de 2008 foram escritos para celulares, com frases curtas.

No aspecto comportamental, é interessante observar a análise que Ahonen (2009, p.77- 82) faz das mudanças que ocorreram nas relações sociais com o uso do celular. Em sua análise, o consultor desenvolveu uma teoria chamada de “os 8 Cs do celular”.

O primeiro C é o de Comunicação que ocorre pela essência dos aparelhos, o de permitir que pessoas se comuniquem. O destaque nesse tópico é que nos primeiros aparelhos a comunicação acontecia por meio da fala e hoje pode acontecer por meio da transmissão de dados.

O segundo C é o de Consumo, pois os aparelhos permitem que seus usuários consumam produtos, vídeos, músicas e outros itens digitais. Neste ponto o consultor avalia que o celular pode ser considerado a sétima mídia, aparecendo na sequência dos produtos impressos, áudio, cinema, rádio, TV e Internet.

A Conta bancária e o crédito formam o terceiro C. Por meio dos aparelhos móveis é possível acessar bancos e fazer transações bancárias. Essa prática é bastante difundida em países desenvolvidos como o Japão e a Coreia do Sul e está em fase de desenvolvimento e crescimento no Brasil.

O quarto C se refere ao assunto principal dessa pesquisa, os Comerciais. As possibilidades de ações publicitárias oferecidas pelos celulares são variadas e cada vez mais interativas e envolventes para o consumidor.

A Criação de conteúdos é o quinto C e é possibilitada pelas funções multimídia dos aparelhos que permitem ao usuário fazer filmes, enviar notícias, criar músicas, entre outras atividades.

As Comunidades aparecem no sexto C e aí estão pelo fato dos celulares permitirem o acesso a redes sociais. Existem aparelhos que possuem acesso facilitado às redes sociais, por meio de softwares específicos.

O sétimo C é o de Cool, que significa estar na moda. Ter um aparelho moderno, de uma marca famosa é capaz de garantir status ao seu usuário.

O oitavo e último C é de Controle, já que os aparelhos podem funcionar como um controle remoto de vários objetos e utensílios.

A fim de aprofundar um pouco mais esta análise, esta pesquisa acrescentará outros dois Cs, o de Comportamento e de Comodidade.

O Comportamento aparece, pois, as pessoas modificam seus hábitos pela facilidade de comunicação proporcionada pelos aparelhos. O envio de mensagens de texto e e-mails a

qualquer hora e de qualquer lugar fazem com que muitas pessoas fiquem conectadas a esses aparelhos a maior parte do seu dia. O contato social por meio dos celulares passa a ser realizado com mais frequencia que o próprio contato pessoal. É possível encontrar pessoas, especialmente adolescentes, que passam mais tempo enviando mensagens e interagindo com redes sociais pelo celular do que participando de atividades pessoais com amigos e familiares.

O C de Comodidade é acrescentado, pois, com os celulares a execução de muitas tarefas se tornou mais prática e rápida. A localização de um restaurante, de uma loja, o acesso às notícias e até mesmo a interação social podem ser realizadas com o mínimo esforço, ou com o simples movimentos dos dedos.

Vale destacar, ainda, que o último C proposto por Ahonen, Controle, pode ser entendido também como uma nova ferramenta para o controle das pessoas, já que com o uso dos sistemas de GPS e de envio de dados e informações as pessoas e seus hábitos tornam-se facilmente rastreáveis.

Essa proposta de Ahonen aponta os campos em que as mudanças sociais realmente acontecem. A essência de cada uma delas está diretamente ligada à funcionalidade dos aparelhos, contudo, a apropriação e utilização pessoal é que colocam os celulares como impulsionadores de um novo desenho social capaz de modificar a construção dos laços relacionais.

As mudanças provocadas pelo uso de aparelhos móveis atingem não só os aspectos pessoais, mas também o profissional. É crescente a exigência das empresas para que seus profissionais estejam disponíveis a qualquer hora do dia, tornando esses equipamentos indispensáveis no cotidiano das grandes cidades. Essa popularização dos aparelhos é de grande importância para a área da comunicação mercadológica como afirmam Román, Gonzalez-Mesones e Marinas (2007, p. 3):

Assim, a mobilidade representa um formidável campo de inovação e criatividade para o marketing, não só do ponto de vista tecnológico como também de comportamento, estética e estilo de vida que ela proporciona. Nesta dinâmica da mobilidade e nomadismo, o celular tem uma personalidade dupla: “o laço que libera” e “um fio invisível cada vez mais difícil de cortar para o indivíduo sem fio”, segundo pesquisa da Motorola. É utilizado cada vez mais em nossa vida, e por isso se tornou um objeto imprescindível, quase alienante.

Por gerarem novas formas de comportamento e relações sociais, as mídias móveis demandam novas normas sociais. Conversar sobre assuntos pessoais, ouvir música, assistir

TV, se divertir com jogos ou acessar a Internet são atividades que devem ser realizadas levando-se em conta o local onde elas são realizadas. A possibilidade de estar conectado em qualquer lugar, podendo este ser público e compartilhado, requer especial atenção para que as pessoas não se tornem inconvenientes ou desagradáveis. Sobre essa adequação do uso de mídias móveis em ambientes públicos Castells et.al (2004, p. 97) apontam:

Em termos de comportamento ético, pode-se dizer que agora estão desenvolvendo as noções de "m-etiqueta" (etiqueta mobile) e outras estratégias de enfrentamento para lidar com a invasão, agora inevitável, das comunicações wireless em espaços públicos. São as normas do protocolo sobre desenvolvimento adequado em locais como bibliotecas, teatros, restaurantes, locais de culto etc. Alguns destes efeitos são de autorregulação, outros são iniciados por instituições sociais12. (Castells et al., 2004, p. 97,

tradução da autora).

O autor ainda avalia que as ferramentas de identificação e de rastreamento passaram a ser utilizadas no cotidiano das pessoas não apenas com a finalidade de encontrar uma loja ou localizar mais facilmente o número de telefone de um amigo, mas também para que possam seguir passo a passo, numa espécie de jogo de espionagem, o que fazem seus filhos, cônjuges ou funcionários.

Embora existam as ansiedades mais amplas sobre segurança e privacidade no contexto das redes de comunicação sem fio, a um nível mais individual é possível ver as adaptações de comunicação sem fio serem usadas para invadir a privacidade dos outros. Cônjuges e parceiros utilizam, cada vez mais, dispositivos de comunicações móveis para checar as atividades de seus parceiros 13. (Castells et al, 2004, p. 98, tradução da autora).

Pela sua capacidade de atuação no campo do rastreamento e da localização, os celulares garantiram uma posição privilegiada entre um novo tipo de mídia, a chamada mídia locativa. Dispositivos capazes de realizar conexões sem fio, como notebooks, netbooks, GPS, palms e os próprios celulares passaram a ser utilizados para produzir e transmitir informação sobre lugares ou objetos específicos. Lemos (2007a, p. 1) explica o que é esse novo conceito de mídia:

12 Texto original: In terms of ethical behavior, one might say there are developing now notions of “m-etiquette”

(mobile etiquette) and other coping strategies to deal with the now unavoidable intrusion of wireless communications into public spaces. Norms are developing about appropriate protocol in places like libraries, theatres, restaurants, places of worship etc. Some of these are self-regulatory effects; others are initiated by social institutions.

13 Texto original: While there exist the broader anxieties about privacy and security in the context of wireless

communication networks, at a more individual level one can see adaptations of wireless communication uses to invade the privacy of others. Spouses and partners increasingly use mobile communications devices to check up on their partners’ activities.

Podemos definir mídia locativa (locative media) como um conjunto de tecnologias e processos infocomunicacionais cujo conteúdo informacional vincula-se a um lugar específico. Locativo é uma categoria gramatical que exprime lugar, como “em”, “ao lado de”, indicando a localização final ou o momento de uma ação. As mídias locativas são dispositivos informacionais cujo conteúdo da informação está diretamente ligado a uma localidade. Trata-se de processos de emissão e recepção de informação a partir de um determinado local. Isso implica uma relação entre lugares e dispositivos

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