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7. Tipos de Aparelhos

7.2. Aparelhos usados em Vila Chã no séc XIX

Os aparelhos usados em Vila Chã no fim do séc. XIX, segundo o Inquérito de Pesca de 1890 (ALMEIDA, ROQUETE 1890: 139), eram as redes do pilado ou arrasto do pilado, as redes da pescada, as redes da sardinha, as rascas para peixe, as rascas da lagosta, os lagosteiros, as linhas de pesca e diversos instrumentos de apanha de plantas marinhas, num total de:

18 redes do pilado 370 redes de sardinha 130 lagosteiros

250 linhas de maior valor

480 linhas ditas das outras (menor valor).

Dizem os autores que as redes de arrasto do pilado tinham o formato de um saco com cerca de 3 ou 4 metros de comprimento e a boca estendia-se por cerca de 10 a 12 metros. As mangas laterais apresentavam 30metros de comprimento e vão dos 3,50metros de altura, no centro, para o 1,50metro, nas pontas. Os tralhos eram de cortiça, postos de 50cm em 50cm e de tijolos pequenos de 10cm em 10cm. O fio seria bastante grosso mas a rede apenas durava uma temporada de pesca. Requeria seis a oito homens e duas embarcações, sendo que uma ficava fundeada e a outra ia navegando em círculo e largando a rede até chegar junto à que está fundeada. As duas embarcações depois puxavam a rede em conjunto e, devido à tralha de tijolos que levava, vinham sempre rente ao fundo.

As redes de pescada, semelhantes às usadas na Póvoa de Varzim, tinham 50 metros de comprimento e cerca de 4,80metros de altura e requeriam um grande número de pescadores, de dezoito a vinte e seis homens, mas diferiam no tamanho, pois as usadas em Vila Chã não passavam dos 4metros de altura. As companhas reuniam nove pessoas e a cada sete dias as redes eram trocadas, para aumentar a sua durabilidade. Lançavam- se a diferentes distâncias da costa. Um quartel é o nome de cada pano e a um par de panos chamava-se rede (ALMEIDA, ROQUETE 1890: 138).

As redes da sardinha são feitas localmente ou compradas a poveiros, muito semelhantes às redes de pescada. Trabalhavam-nas de dois a cinco pescadores, sempre usadas com o ganhapão (também conhecido para rapichel) (ALMEIDA, ROQUETE 1890: 139). A sua utilização era mais frequente de abril a setembro, isoladamente ou organizadas em grupo até sete redes (INIP: 1985).

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As rascas para peixe, conhecidas por rascas do limpo na Póvoa de Varzim, ali mediam 115 metros de comprimento e cerca de 7 metros de altura. A malha era de 0,115metros e o aparelho lastrado com pedra miúda. Em Vila Chã a altura da rede não ultrapassa os 4 metros e a malhagem os 0,135metros, sendo normalmente usadas em grupos.Estas redes tiveram uma grande evolução sendo que, em 1985, têm um lugar privilegiado na pesca artesanal (INIP: 1885).As rascas da lagosta eram as de peixe que eram já bastante usadas. Os lagosteiros, muito característicos de Vila Chã, empregavam nesta pesca redes usadas e um arco de ferro (em qualquer estado) (ALMEIDA, ROQUETE 1890:139),possivelmenteuma espécie de galricho.

As linhas de pesca dividiam-seem dois – as destinadas a espécies maiores e as das espécies mais pequenas, estas últimas conhecidas por linhas da faneca. Isto define a robustez das linhas e dos anzóis (INIP: 1885). As de espécies maioreseram de 50 ou 80 metros de comprimento e podiam juntar-se até fazer 150 ou 250 metros de comprimento, tendo depois um ou dois anzóis. Usavam de três a cinco pescadores e eram feitas de linho. As da faneca, com um comprimento de 40 a 50 metros,possuíam de cinco a doze estropos,eram lastradas por ferro ou pedra, usadas no fundo e manuseadas por dois a quatro pescadores (ALMEIDA, ROQUETE 1890: 139).

Para a apanha das plantas marinhas foram registados instrumentos iguais aos usados na lavoura (como já foi visto esta arte começa com os lavradores que usam o que estão habituados a manusear), como foices ou segadores e a graveta, que tem “40 dentes de massaranduba” (ALMEIDA, ROQUETE 1890: 139) numa única fila feita em carvalho e com o cabo em pinho.

No início do séc. XVIII, segundo Lacerda Lobo, as artes e aparelhos seriam: a rasca, que tinha cinco pares e meio de malha, largura de 3 braças, ou seja, mais de 6,5metros, e o comprimento a atingir as 78 braças, ou seja, cerca de 173 metros; a saramona, com dezoito pares de malhasde vinte e oito linhas quadradas, 60 braças de comprimento e 3 de largura (133metros e mais de 6,5metros respetivamente), muito usada para a pescada; zangarelha, por sua vez com 17 pares de malhade duas polegadas e cinco linhas quadradas, o comprimento atinge 60 braças (133metros), usada na costa para pescada, ruivos, gorazes; as sardinheiras tinham 150 malhas com 10 linhas quadradas cada, atinge as 15 braças de comprimento ea altura são 3,5 braças (33,3 x quase 8 metros); o tresmalho das maragotas, de três panos, um central e dois laterais,malha tem 7in2, atinge 20 braças de comprimento e 1 braça de altura, (45 x 2,20 metros); o tresmalho das tainhas, de um só pano, tem 40 malhas, com 22 linhas

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quadradas cada, com 12 braças de comprimento (26,4 metros); o aparelho de anzóis, conhecido como espinhel, lançado nas zonas rochosas para capturar diversos peixes, dependendo do anzol que esteja a ser usado, tem 100 braças de comprimento (220 metros) e leva cerca de 200 anzóis presos por linhas com cerca de 1,10metro (LOBO 1789-1815: 291 - 294).

Quadro 12 Associação das embarcações aos aparelhos e tipos de pesca Pesca do Alto Pesca Costeira

Barcos Lanchas Bateis e Catraias Grandes Catraias Pequenas Aparelhos de rede de emalhar, de fundo Volantas; Zangarelha; Rasca Rasca Aparelhos de rede de emalhar, de superfície Sardinheira Branqueira; Tresmalho Aparelhos de rede de envolvente de arrastar Nassa Chincha; Arrasto do Pilado; Mugiganga; Rede de Barguear; Nassa da Faneca; Bosca; Camaroeiro; Ganapão; Chumbeira; Aparelhos de muitos anzóis Espinhel do

Alto Espinhel; Estralho Aparelhos simples de anzóis ou fisga Fanequeiro; Congreiro; Xarrasca; Arpão ou Fisga Fanequeiro; Bicheiro; Grateia; Espantalho Fonte: (Filgueiras, 1995)

O peixe, depois de apanhado tinha que ser conservado. Especialmente quando ia para o interior, pois só há relativamente poucos anos é que consegue chegar lá com a rapidez necessária para preservar as condições próprias para consumo. No final do séc. XVIII, o peixe – normalmente as pescadas e sardinhas - seria preparado, salgado e seco pelas chamadas regateiras em Vila do Conde. O peixe era aberto e as entranhas retiradas e era depois lanhado - escalado - e lavado. Depois, por cada doze pescadas, era posto

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um alqueire de sal e deixavam-se assim durante um dia. No fim da salga eram de novo lavadas e postas a secar. As entranhas que tinham sido retiradas ao peixe seriam aproveitadas para fazer azeite – o sail – sendo postas ao sol ou aquecidas ao fogo com um vaso de barro (LOBO 1789: 298/299/300).

7.2.1. Aparelhos identificados em Vila Chã desde a segunda metade do séc.

XX

Hoje em dia, em Vila Chã há uma grande variedade de aparelhos de pesca, circunstância própria da pesca artesanal.

Na obra A Pesca Artesanal Local na Costa Continental Portuguesa, referente ao ano de 1995 há um quadro síntese, que aqui reproduzo, das artes mais usadas neste porto e nos outros inscritos em Vila do Conde:

Quadro 13 Artes de Mar

Usadas Licenciadas

Palangre Palangre de Fundo Rede de emalhar de deriva Rede de emalhar de deriva Rede de emalhar de fundo Rede de emalhar de fundo

Sombreira Sombreira (autorização temporária em ’95)

Rede de tresmalho de fundo Rede de tresmalho de fundo

Covo Covo

Bombo Bombo

Bosca

Alcatruz Alcatruz

Rede de Cerco Rede de Cerco Mugiganga

O palangre continua a ser como o descrito por autores no século anterior, mas agora, além de ser iscado com sardinha, cavala e lula, é também usado isco artificial. Apanha fanecas e robalos, com o anzol fino, e congro, moreia e seláceos (raia, por exemplo), com o anzol grosso. Usa-se por todo o litoral.

Ambas as redes de emalhar e o tresmalho mantém as características gerais descritas anteriormente, as primeiras têm “monofilamento sintético” enquanto os tresmalhos têm “polifilamento”, ou seja, o fio é sintético com número diferente de filamentos. A

100

malhagem muda – 80mm é o valor mínimo para a de emalhar e 100mm para o tresmalho. É ainda a usada em toda a costa, apesar de, devido ao seu tamanho, ser considerada prejudicial. A sardinheira – rede de emalhar de deriva usada para a sardinha – é das mais conhecidas. No fim do séc. XX, o tresmalho de deriva foi proibido (FRANCA, MARTINS, CARNEIRO1998: 99).

O covo mais comum é agora em metal com rede sintética, lastrado com pedras ou mesmo cimento e usa-se muitas vezes em teia – ligados. A bosca é descrita como o covo, mas mais pequeno. A sua malhagem mínima é de 30mm. O bombo é também uma armadilha, cilíndrica, constituída por dois aros metálicos e rede sintética. A malhagem mínima é de 18mm. Esta armadilha tem quatro peças em madeira, com o objetivo de a esticar para manter a forma cilíndrica. O alvo principal é o camarão- branco (FRANCA, MARTINS, CARNEIRO1998: 39). Por fim temos o alcatruz, que são potes em barro – atualmente só se usam em plástico – colocados com recurso a pequenos cabos – alfoques - num cabo principal, a intervalos regulares. Não se iscam, o polvo abriga-se neles(FRANCA, MARTINS, CARNEIRO1998: 44).

A rede de cerco tem agora uma malhagem mínima de 16mm, medidas-limite – 300m de comprimento e 60m de altura para pesca local – e não pode ser usada em baixios ou muito próximo da costa (FRANCA, MARTINS, CARNEIRO1998: 49).Sombreira é uma pequena rede retangular com malha de 18mm. Ala-se pela tralha de peso, formando um saco quando é recolhida.

No fim do séc. XX, a rede do pilado continuava semelhante ao que fora descrita por autores no século anterior, com a abertura feita por uma vara de metal que era arrastada no fundo. Por fim a mugiganga ou bugiganga mantém também as características descritas anteriormente, mas por vezes é lastrada com correntes de ferro. Podia usar mais do que um barco (FRANCA, MARTINS, CARNEIRO1998: 55). Em conversa com um pescador local, ele referiu que esta rede foi proibida pelas autoridades que passaram a só autorizar as redes de sombra, que será o mesmo que a sombreira, para o camarão, mas que, como esta tem a malhagem muito pequena, captura mesmo camarões muito novos.

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