• Nenhum resultado encontrado

6. Embarcações e artes de pesca

6.2. Catraia Fanequeira

“Filiados neste tipo de construção (poveiro), surgem diversas embarcações de dimensões menores e de execução um pouco mais simples do que a da lancha. Estas embarcações, normalmente designadas localmente por “Barcos” e por “Catraias” destinavam-se à pesca costeira, com pouca autonomia uma vez que atuavam junto dos portos de abrigo de onde eram originários, com exceção das safras do pilado ou de alguma arribada forçada noutro porto” (FELGUEIRAS, BAPTISTA 1993: 38/39). Atualmente existem quatro catraias fanequeiras. Uma é a que se encontra no Museu Memórias da Nossa Terra, de Vila Chã – a Mestre Lourenço, exemplar construído pelo Mestre Benjamim em 2010, no decurso de um workshop internacional, com o apoio da Mútua dos Pescadores. Foi a analisada para este relatório. Uma outra é a Senhora da

Agonia, atualmente está registada no Clube de Vela de Viana do Castelo,que foi

oferecida pela associação Barcos do Norte. Esta é uma embarcação construída por volta do ano de 1977 e que, em 1998, quando foi descoberta por João Baptista, estava inativa e guardada. Foi depois feito um projeto de recuperação.

Apesar de ter sido informada da existência de quatro catraias fanequeiras tradicionais, das outras duas, ignoro o paradeiro e qual a sua história/origem. Há ainda uma catraia

78

fanequeira com alterações para ser motorizada – sem a enora e com a ré cortada para levar os motores - que está em depósito no Museu Memórias da Nossa Terra, mas não tenho a certeza se será alguma das que me foram referidas.

A pesca com estes pequenos barcos gerava também toda uma rede de infraestruturas de apoio, desde os estaleiros, ao mercado depeças de substituição, abastecimento, etc.

Dos estaleiros artesanais, que se situavam junto a estas comunidades do litoral e fizeram sua principal atividade a construção destes pequenos barcos,existe em Vila Chã pelo menos vestígios de um. Atualmente usado como habitação, mostra uma garagem que manteve a entrada própria dos estaleiros: o formato arredondado e as reentrâncias nas ombreiras para poder passar a parte mais larga do barco, como se vê na fotografia 2 do anexo.

A catraia,que se adaptou muito bem à pesca nos limpos, veio substituir um grande número de outro tipo de embarcações, tanto a mais pequena no pilado como a maior para a pesca do “alto” (FELGUEIRAS, BAPTISTA 1993: 53 - 55). Este barco, classificado como de pesca com redes de emalhar para pescarias marítimas costeiras, é de porte pequeno e dedica-se à pesca de subsistência, artesanal – “Captura de peixe a partir de pequenas embarcações com ou sem meios mecanizados para largar e alar a arte da pesca, com a finalidade de fornecer alimento para a comunidade local e de venda (ou troca por outras mercadorias) do excesso no mercado”. (INIP: 1988).

A Catraia Fanequeira de Vila Chã era, segundo Lixa Filgueiras, toda feita na freguesia, com os remos, um mastro e uma vela de pendão e com todos os seus apetrechos de pesca (FILGUEIRAS 1984).Usada tanto na pesca à linha como na pesca à rede, este autor avança os seguintes valores indicativos: comprimento de 4,10m; 400kg de capacidade; custo de construção de 20.000 escudos (em 1890 o custo estimado era entre 14.000 e 22.500 réis); duração média de 10 anos (FILGUEIRAS 1984).

A catraia que se encontra no Núcleo Museológico de Vila Chã tem 5,66 metros e a Sra. da Agonia tem 5,5metros de comprimento(BAPTISTA 2001: 19). Segundo um construtor de Vila Chã, se corretamente conservadas e bem tratadas, as embarcações duravam uma vida inteira e eram mesmo, como foi visto, passadas em testamento. O Mestre Benjamim disse-me também que, formalmente, esta embarcação é em tudo semelhante à catraia da sardinha, mas de menor dimensão.

79

A catraia fanequeira tem de particularo encaixedo mastro no banco da proa, com um furo a que se chama enora, assentando sobre uma pia ou carlinga, que está junto à quilha, sem mais acessório nenhum(BAPTISTA 2001: 19).Há uma referência à existência de duas pias mas, na minha opinião, o problema prende-se com a nomenclatura, já que a carlinga tem dois furos, um junto ao outro, que servem para encaixar o mastro direito ou inclinado – como se verá - ehá autores que se referem a estes furos como “pias”. O facto de não ter telha, como outras embarcações, leva a que, por vezes, haja acidentes, visto que o mastro é inserido sem certeza de atingir o local apropriado de encaixe, pois não é possível vê-lo, e pode fraturar o casco provocando mesmo naufrágios (FILGUEIRAS 1995: 50). A vela é subida com recurso a um só moitão e a uma agulha que é posta no lado de que sopra o vento. Segundo o Mestre Benjamim, esta embarcação tem quatro remos – dois pequenos que ficam no quartel da ré e dois grandes, que vão para o quartel da proa. Mas há autores que defendem ter aembarcação de Vila Chãseis remos, com cerca de 2,85m,conduzidos por três pescadores (BAPTISTA 2001: 22). Os remos são constituídos por punho, taco – que também é chamado haste - e pá. Em Vila Chã, à haste chamam taco, pois tem um entalhe angular e contra-taco com o furo onde encaixa o tolete, que por sua vez encaixa na remadoura. Os remos têm a pá a direito, com cana (FILGUEIRAS 1995: 52).

A diferença entre o número de remos vem da observação das remadouras, pois estas são três de um dos lados (estibordo) e duas do outro (bombordo) – a diferença permite criar um espaço livre para que as redes sejam aladas sem engatarem e rasgarem. No entanto, foi-me dito que uma das remadouras do lado direito da embarcação ficava vazia, o que permitia intercalar e dar mais espaço aos remos grandes. A catraia fanequeira apresenta também o cáguedo, que não tem paralelo tão a norte mas apenas para sul da Afurada. Mais rápido e fácil de armar, permite uma melhor impulsão do remo, sendo possivelmente essa a razão para o seu uso(BAPTISTA 2001: 22).

Tal como as outras embarcações do tipo poveiro, a catraia fanequeira também é feita maioritariamente de pinho e de carvalho. Quando em terra, era posta ao contrário - daí que reforçassem a borda exterior (FILGUEIRAS 1995: 61/51) - assente sobre rolos de pinheiro para se poder desloca-la mais facilmente (BAPTISTA 2001: 20).Os seus aprestos são postos junto, a secar (FELGUEIRAS, BAPTISTA 1993: 61).

Apesar de haver autores que defendem que a catraia era de construção muito doméstica, feita pelos próprios donos (BAPTISTA 2001: 20), a verdade é que Vila Chã tinha vários estaleiros e construtores navais, muitos requisitados, como se vê pelos

80

registos de embarcações. De facto, a grande maioria era construída localmente, pois havia um maior conhecimento da praia e das suas particularidades, e só em caso de grande necessidade recorriam a construtores de fora. Segundo um construtor naval, além das embarcações pedidas para locais próximos, chegaram a sair catraias para toda a costa portuguesa e até para o estrangeiro (África) e mesmo construtores para dar formação.

A catraia tem cerca de dezoito cavernas (mas podem ser dezanove, depende do construtor e do espaço que se deixa entre elas) e a décima é a caverna mestra. Assentam na quilha, são pregadas de cima para baixo e colocadas da proa para a popa (esta especificação faz depreender que nos outros locais de construção o processo é ao contrário) (BAPTISTA 2001: 20). Os braços são encaixados nas cavernas, metade no lado direito e metade no lado esquerdo da respetiva caverna. O tabuado tem a primeira tábua – a cinta – com 2,5cm de espessura e as restantes (por ordem: segunda, pequeno, fecho grande, sobrefundo e tábua de resbordo) com cerca de 1,5cm. A cobrir a cinta, exteriormente, está o verdugo, que é uma tábua de remate de meia-cana e, interiormente, apresenta duas ripas – as dragas. A primeira draga remata o apoio das remadouras (tal como nome indica, onde assentam os remos).

O autor também defende que a catraia, ao contrário do que era dito, tem alcatrate/talabordo,o que foi confirmado pelo Mestre Benjamim. Trata-se de uma tábua que fecha o cimo das bordas,deixando a cabeça dos braços, e que encosta ao verdugo, sendo por isso difícil até distingui-las (BAPTISTA 2001: 21). Tem ainda boçardas (em Vila Chã são cangas) que são curvas e reforçam o talabordo junto à roda de proa e cadaste e, no seguimento deste,vem uma espécie de prateleira – a

paneirinha(FILGUEIRAS 1995: 48/50).Na segunda draga são então colocados os

bancos, que ficam seguros por dois gatos em cada extremidade. Depois de construídos, tal como a maioria das embarcações (mesmo as caravelas, naus e afins), os barcos de pesca eram protegidos por uma mistura de óleo de peixe e de breu, por vezes com corantes acrescentados para lhes dar cor. Aplicava-se com um escopeiro (BAPTISTA 2001:21).

A catraia tem cinco bancos. O primeiro, a contar da vante, é chamado sobresselente e protege na hora de varar a embarcação, é uma estronca de segurança. O segundo é chamado, em Vila Chã, banco da proa, ou também banco da tosta – é o que tem a enora. O terceiro conhece-se localmente como segundo de proa, ou é também chamado meio da proa, o seguinte será o meio da ré, ou, noutros locais, segundo da ré, e o último

81

designa-se banco da ré (BAPTISTA 2001: 21).No interior, o barco tem efetivamente 3 divisões, separadas pelas panas, ou, como explicaOctávio Lixa Filgueiras, a catraia muitas vezes não tem mesmo estas panas de divisão no esgotadouro (FILGUEIRAS 1995: 50).O Mestre Benjamim referiu que, nas catraias que ele construiu, era deixada uma pequena abertura num dos lados inferior das panas – as boieiras - para passar a água até à traseira da embarcação, que é a parte mais baixa da mesma, onde o mestre/arrais estava e a retirava com a ajuda do vertedouro. Mas há autores que dizem que a catraia não tem boieiras e que era a divisão do meio, entre a caverna mestre e a 1ª de vante, que era chamada de esgotadouro, a parte mais plana do fundo (e que era mais plana que as restantes) e de onde a água era retirada e onde o peixe era colocado (FILGUEIRAS 1995: Glossário).

Mestre Benjamim também afirma que a catraia fanequeira tem alefriz, que é onde encaixam as cintas na roda de proa. Mas, esta peça depois da catraia montada não é visível, pelo que não pude confirmar. Outros autores dizem que, além de não ter alefriz, também não possui coral ou sobrequilha(BAPTISTA 2001: 20).

À proa há, em cima da canga, as goivas/gaivas, que são peças pregadas, com um pequeno rasgo, em formato de v, por onde passa um cabo de ferro e o cabo de rede à popa(BAPTISTA 2001: 21). O Mestre Benjamim ainda acrescenta que a catraia tem, lateralmente, duas peças, uma em cada lado, na parte de baixo, para proteger o costado e dar mais estabilidade ao barco quando no mar – as bolinas.

O leme desta embarcação é bastante grande em relação à altura do barco e ultrapassa muito a cota da quilha (FILGUEIRAS 1995: 52), sendo constituído por uma única peça com cerca de 1,68m de altura e 0,32m de largura. Está dividido em cachola e

porta ou leme e, para se poder conduzir, tem o punho ou a cana do leme(BAPTISTA

2001: 22).

O mastro e a verga são feitos de dois troncos de pinheiros esculpidos até à forma e tamanho desejados. O mastro tem 5m de altura e pode sererguido inclinado, como já se viu,com a ajuda da posição dos furos da carlinga ou então através de cunhas.A verga tem cerca de 6,50m(BAPTISTA 2001: 22)e fica presa ao mastro pelos caçoilos, que são peças ovais com um furo, que auxilia a vela a ser arreada.Como já foi referido para o tipo poveiro, trata-se de uma vela uma latina de pendão, ou seja, é umpano triangular que fica hasteada tipo pendão pela verga. É formadaa partir de pequenas tiras de pano de algodão cru – as folhas - que são cosidas entre si; podem ter uma coloração acastanhada, por ser encascada(BAPTISTA 2001: 22). A testa é o lado da frente da

82

vela, sotavento é o lado de trás – de onde vem o vento– e a esteira é o lado de baixo (FILGUEIRAS 1995: 53).

O uso da vela foi substituído pela motorização fora de borda (BAPTISTA 2001: 22) e os barcos aumentaram ligeiramente de tamanho, já em meados do séc. XX (FILGUEIRAS 1984). Isto é também fruto do desenvolvimento dos caminhos de ferro e da indústria conserveira então ocorrido, que arrastam o setor da pescapelo aumento da procura que tem que ser respondida com mais produção (FILGUEIRAS 1981: 346).

Entre a Póvoa e Matosinhos usava-se ainda um outro pequeno barco do tipo poveiro, chamado de miranço. Refiro-me aqui a esta embarcação pois é um barco pouco largo e com a popa e a proa virtualmente simétricas mas “ (…) nos pormenores, o miranço segue de perto os do barco da faneca de Vila Chã” (FILGUEIRAS 1995: 51). Era usado a par da catraia, em Lavra, e assistia na apanha do pilado. A catraia por sua vez é descrita como “o barco de pesca por excelência” em Lavra, e Lixa Filgueiras ainda adianta mais dizendo que é bastante pequena, tripulada apenas por um par de pescadores, no entanto refere que apanha, além de outras coisas, a faneca, a sardinha e o congro (FILGUEIRAS 1995: 26).

O miranço é também construído em Vila Chã, de pinho e quilha de carvalho, e tem uma duração aproximada de 5 anos. É claramente inferior em robustez à catraia, tendo uma duração aproximadamente de metade dos anos desta. Usa dois remos e pode levar até quatro pescadores (FILGUEIRAS 1995: 26). Nestes barcos a altura da quilha à borda é menor do que o tamanho da boca a meio da embarcação, sendo por isso que saía de lado dos estaleiros (FILGUEIRAS 1995: 56/57).

Em Vila Chã, ao tempo do Inquérito de Pesca de1890, havia: 26 miranços

20 barcos de corte de sargaço 23 catraias

No final do século XVIII Lacerda Lobo reportara: 16 lanchas

52 batéis

Para a apanha do sargaço usavam-se barcos, jangadas e masseiras. Os primeiros mais vulgares do rio Douro ao Ave e aqui quase em exclusivo; as segundas usam-se mais do rio Ave ao Lima e por fim as masseiras predominavam entre o rio Lima e o Minho (OLIVEIRA, GALHANO, PEREIRA 1990: 92).

83

A sul da Apúlia, onde se encontra Vila Chã, a embarcação mais usada para o sargaço é a catraia do tipo poveiro. É como um barco poveiro mais pequeno, medem cerca de 4,50 a 5,50metros, e tem construção simplificada. Acabam por ser muito bem aceites em vário locais, devido à facilidade de manobra, e acabam por substituir o barco de fundo chato, muito usados na Apúlia e em Fão (OLIVEIRA, GALHANO, PEREIRA 1990: 94/ 96). Esta pequena embarcação tem roda de proa e de popa, fundo chato - também chamado fundo de prato - e normalmente não tem leme, sendo usada para pesca costeira. Há ainda um barco semelhante mas que tem normalmente a popa cortada, empregue para o sargaço (OLIVEIRA, GALHANO, PEREIRA 1990: 94).

Para a apanha do pilado, a Norte do Douro, usa-se embarcações do tipo da lancha poveira mas, da Póvoa para o Norte,prefere-se o barco do pilado, e da Póvoa para o Sul – onde se encontra Vila Chã – usa-se o miranço. A diferença entre estes dois modelos é a seguinte: o miranço tem linhas mais simples, torna-se mais leve do que o barco do pilado e as suas duas metades (proa e popa) são bastante simétricas, como já foi referido, enquanto o outro tem a ré notoriamente mais alargada. O tabuado e o cavername são ligeiros (OLIVEIRA, GALHANO, PEREIRA 1990: 156), as dragas e o verdugo muito subtis, sendo que este último é apenas o engrossamento da tábua superior. A nível do tabuado esta embarcação tem a cinta, a segunda, a de fecho pequeno e a do grande, a de sobrefundo e a de fundo. Além das cavernas, tem quatro enchimentos a ré e três na proa. Os bancos do miranço são quatro, todos seguros pelos gatos.O de proa, onde é colocado o mastro, o segundo da proa, o segundo da ré, onde é colocado o molinete e o banco da ré. Tem também a paneirinha, que é uma espécie de prateleira triangular junto á ré, que é considerada um banco extra (OLIVEIRA, GALHANO, PEREIRA 1990: 158). Entre a draga de baixo e o costado há as chumaceiras/castanholas que têm, por baixo, os toletes onde vão entrar as remadouras. O mastro está preso à carlinga e a embarcação é dividida em três compartimentos, através das panas. Era impulsionada por uma vela latina e protegida por uma mistura de sebo e resina – uma espécie de breu -, aplicada em quente, não sendo pintada (OLIVEIRA, GALHANO, PEREIRA 1990: 158). Como foi dito anteriormente, é uma embarcação com bastantes semelhanças com a catraia fanequeira de Vila Chã.

Analisando os registos de entradas no porto, os registos de embarcações construídas e as matrículas de barcos chega-se a duas conclusões imediatas. A primeira é que grande parte dos barcos construídos nesta zona, o eram por construtores de Vila Chã; e que, se considerarmos os diferentes autores, a maior parte das embarcações

84

podem ser classificadas como catraias pequenas ou fanequeira, batéis ou miranços – estes barcos têm diferenças entre eles mas apenas com as medidas não é possível saber qual é exatamente.

O registo mais antigo de uma embarcação é de 1908 e foi pedido ao Mestre Lourenço Gonçalves Caseira, na mesma altura trabalhava também o Mestre Manuel Francisco Caseira e mais tarde António Francisco dos Santos. De 1908 a 1920, as embarcações eram pedidas a estes construtores navais e apenas um pescador de Vila Chã foi encomendar uma embarcação fora, todos os outros fizeram construir os seus barcos localmente. Há ainda cerca de quarenta e nove registos de pescadores de outras freguesias que mandaram construir os seus barcos a estaleiros de Vila Chã. Por exemplo em Labruge, na praia de Moreiró, não tem sítio para sair para pescar e portanto vêm a Vila Chã.

A partir de 1920 surgem novos construtores navais: Mestre Manuel Francisco dos Santos Conde e Manuel Francisco dos Santos Conde Júnior, Manuel Francisco Salgueiro, Manuel Gonçalves Caseiro e José Joaquim de Miranda. Até 1931 mantem-se a primazia dos construtores de Vila Chã. Excetuando-se um caso, há sessenta e um compradores locais e o mesmo número de compradores de freguesias de fora a vir construir a Vila Chã.

Já em meados do séc. XX trabalhavam o Mestre Armando dos Santos Conde e o Mestre Benjamim dos Santos Moreira. Por esta altura surgem também mais compras a particulares.

Segundo os Registos de Embarcações, entre 1883 e 2003 foram construídas aproximadamente 682 embarcações por mestres vilaplanenses. A maioria delas tem como força motriz a vela e/ou remos e só próximo dos anos 70 do séc. XX é que apareceram as construídas para levar motor. No período de transição, muitas catraias eram adaptadas para poder levar o motor, sendo-lhes cortada a ré e alterados os bancos, pois deixa de ser necessária a vela. Finalmente passam a ser construídas já com o motor e desaparece a madeira, passando-se a usar unicamente a fibra. Eram também construídos barcos maiores, de convés, antecedentes das traineiras mas a remos – os traineiruços – segundo o Mestre Benjamim.

Como já foi dito anteriormente, havia pequenas embarcações que eram deixadas em herança, no entanto, há também várias embarcações que foram abatidas ou vendidas para se comprar outras, maiores e mais modernas, ou por qualquer outro motivo,

85

especialmente em tempos mais recentes pois, à partida, as pessoas tinham maior desafogo económico para investir.

Atualmente em Vila Chã, pelos registos de embarcações, há nove barcos a pescar (Praia de Vila Chã; Glória Maria/ Rainha dos Mares; Manuel Sérgio; Graça Maria, Sr. dos Mares; Senhora dos Remédios; Rumo à Glória; Rainha Sta. Isabel/ Sta. Isabel e Pai Herói) o que dá emprego a cerca de vinte pescadores – destes, duas são mulheres mas, como já foi mencionado, não implica que pesquem efetivamente. Estas embarcações são mais aproximadas, em tamanho, às catraias grandes ou lanchas poveiras e são todas motorizadas. Um pescador antigo comentou que,actualmente, as embarcações são bastante mais potentes, cada uma leva quase tanto peixe como várias das antigas, em madeira.

Documentos relacionados